O professor Koro atravessou pesadamente através das duas grandes cerejeiras, cujas folhas dançavam graças a brisa matutina, marcando seu caminho pelas folhas quebradas e manchadas de graxa através do campo. Estava em silêncio e a expressão nada amistosa tornava difícil a comunicação aberta. Seus olhos vazios percorreram os jovens que o seguiam, igualmente silenciados pela autoridade do professor, e em seguida retornaram a prancheta. A caneta deslizou como se estivesse esboçando um desenho ou mesmo um simples rabisco, mas na verdade era apenas a chamada.

— Konno Yuuki. Akabane Karma! — a voz do tutor parecia amplificada por grandes megafones, chicoteando a coragem dos escolhidos e aumentando a tensão no ar. O calendário marcava 22 de julho, o dia do exame genin. Diferentemente dos outros anos, nossa prova era um combate aberto. Obtinha a patente de um genin aquele que vencesse o combate, incapacitando, levando a desistência ou mesmo matando o seu oponente. Como se tivessem ensaiado, ambos a menina e o rapaz engoliram em seco. Seus corpos tremiam e a coragem parecia escapar de sua garras. O Sensei suspirou pesadamente, como um segundo e ultimo aviso, e eles decidiram seguir suas ordens.

Fizeram seu caminho vagarosamente através das pétalas a enfeitar harmoniosamente o solo. Seus olhos se encontraram e foi posta a prova as suas convicções. Somente um sairia vitorioso e obteria a almejada patente. O outro estava fadado a experimentar o sabor amargo do fracasso e a vergonha que traria a sua família. Na melhor das hipóteses, morreriam ali, livres do peso na consciência e da depressão. Koro era uns cinquenta centímetros maior que os dois — alto mesmo para os shinobi de sua idade, daí o apelido "Montanha" — e isso o fazia parecer uma monstro perto das crianças. Pigarreou e colocou o punho fechado sobre a boca — Comecem! — anunciou, firmemente, ao passo em que se afastou, ficando próximo aos demais alunos.

Karma era astuto, um mestre em combate corpo a corpo. Sua força bruta se destacava entre os alunos da classe 3-E e sua mente estrategista o tornavam um dos maiores desafios. Haviam boatos de que ele já havia até mesmo recebido sua bandana shinobi por já o considerarem um genin aprovado. Ele moveu a mão sorrateiramente para a bolsa escondida em suas costas e de lá saiu uma lâmina de ferro, notavelmente afiada e cuja luz reluziu em filetes luminosos que incomodaram momentaneamente a Yuuki. Ela levantou os braços em guarda, mas ele já esperava por isso. Avançou como um predador sobre sua caça e desferiu um chute lateral direto na barriga desprotegida da garota. Ela rodopiou através do ar e sem ar, a saliva escapou de sua boca em um pulo. Caiu alguns metros atrás, próxima aos demais estudantes.

— Yuuki-kun, vamos lá! Desiste logo. Eu não quero ter que te machucar mais. — Karma era tão convencido de si mesmo que se quer respeitava seus oponentes. Não era a favor da violência, mas não media esforços para punir os que entram em seu caminho. Colocou o dedo indicador dentro do espaço da adaga e a girou, como um convite a menina caída no chão. Como quem havia acabado de ser atropelada, ela se ergueu com dificuldade, cambaleante. Priorizou reorganizar seus sentidos e então, também sacou uma adaga. Karma é forte e inteligente. Não sou capaz de vence-lo em um combate corpo a corpo, mas tenho certeza de que deve haver outra... maneira, pensou a futura espadachim escarlate. Ela não precisava ser tola o bastante para vence-lo em sua própria área de domínio.

— Eu só preciso te... matar. — o que deveria ser um pensamento subconsciente e oculto tornou-se uma frase clara e em bom som. Os pelos de Koro se eriçaram e ele pensou em interromper o duelo — era o mais correto a se fazer. Infelizmente não o fez, para o terror de Karma. Yuuki sorriu, o que era fora do comum diante de sua situação de batalha. Caminhou contra o rapaz, completamente normal, com a guarda aberta, como se estivesse andando na escola. Diante do evento, Karma se manteve parado, assustado, sem compreender o que estava ocorrendo. Foi só então quando a lâmina da pequena, até então sem uma gota de intenção assassina desenhou um arco no ar, que ele percebeu. Percebeu que não estava lutando por uma patente, mas por sua vida.

O choque do momento, entretanto, o fez perder seu balanço, o ideal para o próximo movimento da menina. Ela acertou a perna cujo peso mais sustentava e o fez ceder. Seus dedos se envolveram no casaco dele e sua faca correu contra sua garganta. Karma teve o reflexo de colocar sua adaga contra o golpe, liberando faíscas de energia cintilante pelo ar. Ele procurou cair de bunda no chão, mas a estranha menina se envolveu sobre seu corpo como uma cobra, paralisando seus braços com as próprias pernas e colocando-o deitado sobre seu corpo. Os braços dela envolveram o pescoço do rapaz, como um abraço, mas a faca permaneceu ali, parada, milímetros de seu pescoço. A batalha estava encerrada.

Koro não perdeu tempo. Não era inteligente estender uma batalha tão séria quanto aquela e ao perceber a posição de desvantagem de Karma, se apressou a separar os alunos. O exame estava encerrado, ao menos para os dois: Yuuki Konno era a vencedora.