O calor escaldante de Sunagakure não era novidade para mim, mas naquela tarde, a temperatura parecia carregar algo além do usual. Enquanto ajustava a bainha de minha espada, um mensageiro encapuzado se aproximou de forma furtiva, entregando-me uma mensagem lacrada com o selo do ancião. A presença dele já indicava que algo importante estava por vir. O pergaminho, simples e direto, continha apenas uma instrução: "Encontre-me na caverna oculta ao sul, ao pôr do sol. Venha sozinho." Minhas suspeitas sobre a natureza do chamado surgiram imediatamente. O ancião não costumava recorrer a artifícios tão misteriosos sem um propósito claro. Resolvi me preparar, recolhendo minhas armas e confirmando o bom estado de meu equipamento antes de partir. A caverna ao sul era uma antiga passagem de contrabandistas, abandonada há anos, ou assim eu acreditava. O sol se punha, tingindo o horizonte com tons de laranja e vermelho quando alcancei a entrada. As sombras das dunas dançavam sob a luz que diminuía, criando uma atmosfera silenciosa e enigmática. Ao adentrar a caverna, encontrei o ancião sentado em um velho banco de pedra, a luz de uma lamparina tremeluzindo sobre seu rosto marcado pelo tempo. — Aizen, você chegou. — Sua voz ecoou, grave e cheia de intenções ocultas. — O que é tão importante que exigiu este sigilo, ancião? — perguntei, mantendo meu tom respeitoso, mas direto. — Há algo que ameaça não apenas meus negócios, mas a estabilidade das áreas comerciais de Sunagakure — começou ele, gesticulando para que eu me sentasse. — Uma gangue de contrabandistas tem causado caos, interferindo em rotas essenciais e desestabilizando alianças delicadas. Eles são bem organizados e cruéis, mas acredito que você seja a pessoa certa para lidar com isso. Fiquei em silêncio, absorvendo cada palavra. Era incomum o ancião recorrer diretamente a mim para um problema tão específico. — Por que eu? — indaguei, buscando entender as implicações. — Porque você tem habilidades que ultrapassam a força bruta. Você é estrategista, Aizen, e além disso, eu confio em você. Considere isso um favor pessoal.

Seus olhos carregavam algo mais profundo do que confiança: a certeza de que eu cumpriria a tarefa. Não havia espaço para recusa. — E o que exatamente você espera de mim? — pressionei, cruzando os braços. — Neutralize-os. Acabe com suas operações e traga os líderes para mim. Não quero apenas resolver este problema temporariamente; quero desmantelá-los por completo. Ele fez uma pausa, olhando-me de maneira calculista, antes de continuar: — Sei que seus olhos, o Kerutsugyan, têm evoluído. Esta missão será uma oportunidade para testá-los e, quem sabe, levá-los a outro nível. Essa afirmação fez meu sangue gelar por um momento. O ancião sempre parecia saber mais do que dizia. Balancei a cabeça lentamente, aceitando a missão. — Onde eu começo? — perguntei, levantando-me. — Eles têm uma base de operações temporária no distrito sul da vila, camuflada como um depósito. Use isso como ponto de partida. Com essas instruções, o ancião entregou-me um pequeno mapa e um pergaminho adicional, selado com seu emblema pessoal. — Isso é tudo o que você precisa saber. Cuidado, Aizen. Eles são perigosos, mas tenho plena fé em suas capacidades. Ao sair da caverna, meu olhar se voltou para o céu já escuro. Sabia que essa missão seria mais do que uma simples tarefa. O ancião não era um homem que fazia algo sem propósito. Essa missão era tanto um teste quanto um favor, e eu estava determinado a superar suas expectativas. Enquanto caminhava de volta para a vila, minha mente já trabalhava nos próximos passos: reconhecimento, infiltração e a eliminação sistemática dessa ameaça. Mais do que isso, havia um sentimento latente dentro de mim, como se essa missão fosse parte de algo maior, uma peça de um quebra-cabeça que eu ainda não conseguia decifrar. A missão não era apenas sobre acabar com os contrabandistas. Era uma oportunidade para provar, mais uma vez, que eu estava acima dos desafios impostos a mim. Era uma chance de fortalecer meu poder, de testar os limites do Kerutsugyan e, quem sabe, transcender ainda mais. Ao passar pelas ruas silenciosas da vila, senti uma determinação inabalável crescer dentro de mim. Esse era o início de algo que mudaria meu caminho. E eu estava pronto.

Sob o manto da escuridão, caminhei até o local indicado pelo ancião. O vento noturno soprava silenciosamente pelas ruas de Sunagakure, carregando consigo o aroma seco do deserto. A cidade adormecida ainda guardava uma inquietação em suas sombras. As informações que eu tinha eram escassas: uma gangue de contrabandistas operava ali, misturando-se aos comerciantes legítimos para mascarar suas atividades ilícitas. A poucos metros do suposto ponto de encontro, escolhi uma posição elevada e discreta, em cima de um prédio de barro. De lá, observava tudo. Meus olhos do Kerutsugyan ativados permitiam captar mínimos detalhes mesmo na penumbra. Pequenos sinais denunciavam atividades suspeitas: caixas sendo carregadas com pressa, um mercador entregando pacotes discretamente a um homem encapuzado, conversas abafadas em um canto da praça. Era evidente que algo estava errado. Os contrabandistas não eram simples ladrões; havia organização. Suas movimentações seguiam um padrão específico: carregamentos chegavam ao mesmo ponto, sempre guardados por dois ou três homens armados. A gangue parecia operar em turnos, trocando os vigias a cada poucas horas para não chamar atenção. Fiquei ali por horas, observando. Cada detalhe era importante. Uma palavra dita em voz alta, um gesto suspeito, até mesmo as expressões corporais de quem circulava pelo local. A paciência era uma arma tão letal quanto minha lâmina, e eu sabia disso. Enquanto a noite avançava, o fluxo de pessoas começou a diminuir. Apenas os verdadeiros envolvidos permaneciam, assumindo que estavam longe de olhares curiosos. Fiz uma análise detalhada do cenário: a praça central servia como ponto de distribuição, e o verdadeiro esconderijo parecia estar em um armazém próximo, cercado por pilhas de barris e caixas.

Em determinado momento, notei algo curioso. Um homem alto, com uma cicatriz no rosto e um manto desgastado, parecia comandar as operações. Ele falava com autoridade, gesticulando enquanto os outros o obedeciam prontamente. Aquele poderia ser um líder, ou pelo menos alguém com informações valiosas. A madrugada avançava, e o frio do deserto começava a se intensificar. Apesar disso, mantive minha posição, imóvel como uma sombra. Meu foco estava nas entradas e saídas do armazém. Um grupo de quatro homens se revezava para guardar o local, enquanto outros transportavam pacotes cuidadosamente embalados para dentro. Minha mente trabalhava a todo vapor, montando um quebra-cabeça com as peças que via. Se os contrabandistas usavam o armazém como base, neutralizá-lo seria o golpe decisivo. No entanto, havia o risco de reforços. Precisava de mais informações antes de atacar. Ao longe, o horizonte começou a clarear com os primeiros raios de sol. Eu precisava de um plano. Com a investigação noturna concluída, decidi me retirar para um local seguro. Havia coletado informações suficientes para estruturar uma abordagem inicial, mas também sabia que teria que improvisar. Antes de partir, gravei mentalmente o rosto de cada um que vi, especialmente do homem da cicatriz. Ele seria meu principal alvo durante o confronto. Ajustei minha capa, garantindo que nenhuma marca pudesse denunciar minha presença. A investigação havia sido longa e exaustiva, mas estava apenas começando. Enquanto o sol se erguia no céu, minha mente já trabalhava em como usar as informações colhidas a meu favor. A escuridão havia sido minha aliada, mas a verdadeira batalha estava prestes a começar.

Depois de uma noite inteira de vigilância, com o corpo cansado, mas a mente alerta, decidi que era o momento ideal para aprofundar minha conexão com o Kerutsugyan. Sabia que enfrentar a gangue exigiria não apenas força bruta, mas uma precisão inabalável em manipular chakra e criar genjutsus que pudessem virar o jogo a meu favor. Afastei-me para uma área isolada, um pequeno oásis com algumas árvores secas e arbustos, onde a fauna local seria meu ponto de partida. Meu objetivo era claro: compreender o fluxo de chakra em seres vivos e explorar como minha habilidade ocular podia interagir com ele de forma mais complexa. Sentei-me em posição de meditação, acalmando meu fluxo interno de chakra até que ele se alinhasse com o ambiente ao redor. Ativei o Kerutsugyan, permitindo que minha visão fosse tomada pelo brilho único que revelava os rastros de chakra na atmosfera e nos seres vivos próximos. Alguns pássaros descansavam nos galhos, enquanto pequenos lagartos se moviam pela areia, quase imperceptíveis. Escolhi como alvo um lagarto que se movia lentamente. Estudei o fluxo de chakra em seu corpo, identificando as correntes quase invisíveis que pulsavam de maneira sutil. Projetei meu próprio chakra em sua direção, tentando entrar em sintonia com o fluxo natural dele. Era como tentar afinar um instrumento desconhecido: um equilíbrio delicado entre força e suavidade. Ao primeiro contato, o lagarto se moveu abruptamente, claramente reagindo ao chakra que invadiu sua rede. Isso era esperado; a resistência natural precisava ser superada. Ajustei a intensidade, diminuindo a agressividade do fluxo e moldando-o para parecer mais orgânico. O lagarto começou a desacelerar, e logo parou completamente, caindo em uma ilusão simples que fiz para ele.

A primeira ilusão foi básica: o lagarto acreditava estar em um ambiente repleto de predadores. Observei sua postura rígida e movimentos cautelosos enquanto tentava reagir à ameaça inexistente. O Kerutsugyan permitiu-me não apenas criar a ilusão, mas também monitorar como o chakra do lagarto reagia. Era como observar um rio que mudava de curso ao encontrar uma pedra em seu caminho. Para o próximo passo, decidi aumentar a complexidade. Escolhi uma lebre que se alimentava perto de uma rocha, com movimentos rápidos e nervosos. Isso exigiria mais de mim, pois sua energia estava em constante movimento. Direcionei meu chakra, desta vez tentando moldar uma ilusão mais elaborada: a sensação de que a lebre estava presa em areia movediça. Inicialmente, a conexão foi instável. O fluxo de chakra da lebre resistia à minha interferência, e precisei ajustar a intensidade várias vezes. No entanto, após várias tentativas, senti quando meu chakra se sincronizou com o dela. A lebre começou a reagir como se seu corpo estivesse sendo puxado para baixo, lutando contra a ilusão com movimentos frenéticos. Esse exercício revelou uma verdade fundamental: o Kerutsugyan não era apenas uma ferramenta de manipulação, mas também de compreensão. Cada ajuste que fazia no fluxo de chakra, cada nuance que aprendia ao observar as reações dos alvos, aprimorava minha habilidade de criar genjutsus mais eficazes. Continuei praticando até o final da tarde, variando os alvos e experimentando ilusões de diferentes tipos. Um dos momentos mais desafiadores foi quando tentei induzir dois animais ao mesmo tempo em ilusões distintas. A divisão do foco era intensa, e a conexão com ambos os alvos quase se perdeu várias vezes. Mesmo assim, consegui prendê-los em ilusões por um breve momento, antes de liberar o controle. No final, minha mente estava exausta, como se eu tivesse corrido uma longa maratona. No entanto, o esforço valeu a pena. Sentia que meu domínio sobre o Kerutsugyan havia avançado significativamente, e estava mais confiante em usá-lo como uma arma crucial na missão que me aguardava. Ao entardecer, levantei-me, sentindo o peso do treinamento em meu corpo, mas também uma determinação renovada. O Kerutsugyan era parte de mim, uma extensão da escuridão que havia aprendido a aceitar e moldar como minha maior força. Com ele, sabia que o destino daqueles contrabandistas estava selado, agora tudo que precisara fazer era recuperar minhas energias durante o sono antes de comecar mais uma noite.