O calor escaldante de Sunagakure era como um velho conhecido: incômodo, mas previsível. Caminhando pelas ruas de areia fina, ouvi os sussurros dos aldeões ao longe, vozes indistintas mescladas com o som do vento que soprava partículas douradas pelo ar. No fundo, eles não passavam de peças no tabuleiro maior da vila, vivendo suas vidas insignificantes. E eu? Bem, minha ambição transcende tudo isso. Um mensageiro da administração me abordou mais cedo, ofegante, como se correr até mim fosse um esforço monumental. Ele entregou uma mensagem simples e direta: o gabinete do Kazekage requisitava minha presença. O tom formal era desnecessário, mas eu apreciei o toque de solenidade. Mesmo sendo apenas um genin, parecia que minha reputação começava a chamar atenção. Era um passo — pequeno, mas significativo.

Cheguei ao gabinete com passos calculados, minha mente já imaginando as possibilidades. O Kazekage não estava presente, é claro; lidar diretamente com genins era uma tarefa delegada a seus assistentes. Um dos seus subordinados, um homem de meia-idade com olheiras profundas, me esperava com uma expressão que misturava tédio e exaustão. "Aizen," ele começou, sem levantar os olhos completamente. "Temos uma missão para você. Não é nada complexo, mas é importante para a manutenção da ordem na vila. Um dos comerciantes locais relatou que um de seus carregamentos desapareceu no caminho para a feira do sul. Sua tarefa é simples: encontre os itens desaparecidos e garanta que eles sejam entregues ao destino. Parece que foram extraviados em algum ponto entre o mercado central e a entrada sul da vila." Por um instante, considerei a simplicidade da tarefa quase um insulto. No entanto, resisti à tentação de protestar. Missões assim, embora mundanas, eram oportunidades para provar algo mais. Além disso, algo me dizia que, mesmo nas tarefas mais triviais, há potencial para explorar. "Entendido", respondi com firmeza, escondendo qualquer traço de insatisfação. Controle é tudo, até mesmo sobre as próprias emoções.

Saí do gabinete com os detalhes da missão claros na mente. O carregamento consistia em ervas medicinais e tecidos importados, nada valioso o suficiente para atrair ladrões de verdade. Minha suspeita inicial era que alguém tivesse cometido um erro e que tudo estivesse jogado em algum canto esquecido. Simples. Resolvi começar investigando o mercado central. Ao chegar, a confusão habitual estava em pleno vigor: vendedores gritando para promover seus produtos, crianças correndo entre as barracas, e transeuntes barganhando com o fervor de quem não tinha nada mais importante na vida. Observei tudo com atenção, buscando algo fora do lugar. Conversei com o comerciante que havia reportado o incidente. Um homem baixo e robusto, com a testa suada e mãos calejadas, ele parecia mais preocupado em recuperar os bens do que em descobrir o que realmente havia acontecido. Sua descrição do carregamento foi detalhada, mas ele não tinha informações úteis sobre onde o extravio poderia ter ocorrido. Minhas buscas me levaram à entrada sul, onde os guardas que vigiam o portão foram pouco úteis. Eles confirmaram que o carregamento havia passado pela área, mas não prestaram atenção ao destino final. Frustração? Não. Isso seria um desperdício de energia. Preferi encarar isso como um desafio. Com o sol já começando a se pôr, decidi explorar os arredores. A entrada sul era relativamente movimentada durante o dia, mas agora o fluxo de pessoas diminuía, e a luz alaranjada das últimas horas iluminava as dunas próximas. Examinei os becos e áreas mais isoladas, procurando pistas — marcas de roda na areia, algo caído, qualquer indício. Foi então que, ao virar em uma curva estreita entre duas construções abandonadas, encontrei algo curioso: um pequeno pedaço de tecido preso em uma tábua solta. O material combinava perfeitamente com a descrição do carregamento. Sorri de canto, quase divertido. "Então, o que era para ser um simples erro talvez tenha outra explicação." Com a primeira pista em mãos, senti minha mente já trabalhando nos próximos passos. Havia algo mais nessa missão, algo além do que me foi informado. E isso, para mim, era o começo de algo muito mais interessante do que eu esperava.

A noite havia caído por completo, e a vila estava mais silenciosa do que o habitual. O calor do dia dava lugar à brisa fria que cortava as ruas de Sunagakure, como se a própria areia quisesse lembrar que, sob a superfície tranquila, havia sempre algo prestes a surgir. A missão simples se tornara mais interessante do que eu imaginava. O pedaço de tecido era a primeira pista que me afastava do caminho mais óbvio, e uma voz interna me dizia que havia mais por trás daquele desaparecimento do que apenas um erro de transporte. A curiosidade, minha eterna aliada, me impelia a seguir. Em vez de simplesmente retornar ao mercado e reportar os achados, resolvi tomar uma abordagem mais calculista. Espionar, observar. O comerciante não era o único envolvido nisso. Havia algo estranho no ar — uma sensação de que um genin comum nunca teria a chance de perceber, mas que eu, com minha mente afiada, poderia compreender. Voltei à entrada sul e me escondi nas sombras, à espera. A rua estava vazia, exceto por algumas figuras dispersas. O tecido que eu encontrara parecia deslocado, mas não em um sentido físico. Era como se tivesse sido deixado ali propositalmente, uma pista para quem soubesse procurá-la. A análise que fiz me disse o suficiente: algo estava acontecendo à margem das regras, fora do alcance dos olhos vigilantes da vila. Após uma hora, vi a figura que eu procurava. Um homem encapuzado, de passos leves, saindo discretamente de um pequeno edifício. A maneira como se movia — quase sem fazer barulho — indicava que ele era treinado. Era um assassino ou um mercenário, alguém que não pertencia àquela vila. Genins como eu não eram chamados para missões que envolviam esse tipo de figura. Esse homem, um mistério em si, não era alguém que eu poderia ignorar. Não hesitei. Segui-o à distância, minhas sandálias mal tocando o solo de areia. Não deveria fazer isso. Não era minha missão encontrar o responsável por um crime que nem os jounins pareciam se preocupar em investigar. Mas a minha obsessão por controle e poder me impulsionava a ver além do óbvio. Ele sabia algo que eu ainda não entendia. Ele se dirigiu para fora da cidade, para a área de dunas mais distantes, onde os ventos formavam colinas naturais que quase pareciam esconder segredos. À medida que nos afastávamos dos limites da vila, o ambiente mudava. O ar ficava mais denso, e a sensação de estarmos sendo observados se intensificava. E foi nesse momento que percebi algo crucial: ele não estava indo sozinho. Ao virar uma curva, vi uma silhueta se mover rapidamente entre as sombras. Era outro homem, mais alto, com uma espada à vista. Dois assassinos, ou talvez mercenários contratados para algum trabalho sujo. Eles estavam em uma missão de sangue — e eu, por alguma razão, fui escolhido para testemunhar. A adrenalina se misturou à cautela. Não era o tipo de confronto que um genin deveria buscar, e embora minha mente estivesse cheia de estratégias possíveis, uma parte de mim reconheceu que poderia ser tarde demais para voltar atrás. O que mais me inquietava, no entanto, era o fato de que, mesmo em uma missão aparentemente banal, eu havia esbarrado em algo que não deveria ser descoberto. Meu instinto de observação me disse que estavam indo em direção a um acampamento escondido nas dunas. Algo que parecia ser uma base temporária, possivelmente para atividades clandestinas. Eles não se preocupavam com vigilância, e isso indicava que não estavam apenas ali por um carregamento perdido. Meus dedos se fecharam em torno do kunai que sempre mantinha comigo, um reflexo instintivo. Não que eu tivesse intenção de atacar — isso seria imprudente. Mas, no fundo, algo me dizia que minha simples presença poderia ser uma ameaça para os dois homens. Se me percebessem, as coisas poderiam sair do controle de forma irreversível. Então, uma decisão: permanecer na sombra, invisível, e tentar entender o que estava acontecendo. Não estava preparado para lidar com assassinos ou mercenários experientes. Aquele não era o tipo de missão que um genin deveria enfrentar. Mas eu tinha uma vantagem que eles não possuíam: o controle. E enquanto eles seguiam em direção ao acampamento, eu sabia que estava prestes a entender algo muito maior do que um simples carregamento perdido. E assim, silencioso como a própria noite, continuei a observá-los. Porém, não podia ignorar a sensação crescente de que algo estava prestes a dar errado. Estava no limite de uma linha invisível — uma linha entre a segurança de uma missão simples e a turbulência que um erro de cálculo poderia causar. Não podia voltar atrás. O jogo estava em andamento, e eu era a peça que, talvez, tivesse jogado demais.

O vento cortante das dunas fazia as sombras dançarem de maneira inquietante, criando uma atmosfera carregada de tensão. O silêncio da noite era absoluto, mas eu não sentia a calma típica do momento. Meu corpo se movia por instinto, seguindo os assassinos com uma precisão meticulosa, mas minha mente não estava totalmente focada na missão. Algo estava errado, e eu não conseguia afastar essa sensação. Eles haviam chegado até o acampamento, mas não estavam sozinhos. Agora, ao observar mais de perto, percebi a figura de um terceiro homem, mais imponente, arrastando com ele dois jovens, um de cada lado, como se fossem mercadorias. Algo não estava certo — o modo como ele os tratava, a frieza em seus olhos. Eu os vi... os vi como eu uma vez fui visto. Não havia dúvida. Ele estava prestes a executá-los. As palavras do homem que liderava a cena eram frias, sem compaixão. "Levem-nos para o buraco. Eles não têm mais valor." Foi como se uma lâmina tivesse perfurado minha mente. A palavra ecoou como um eco distante, e em um instante, as memórias de meu irmão, de quando ele... de quando ele foi arrastado para aquele mesmo destino, voltaram com uma força brutal. Meu irmão... Respirei fundo, forçando a mente a retornar ao momento presente. A dor era física, como se uma corrente invisível tivesse apertado meu peito, me prendendo a um passado que eu ainda tentava controlar. Não. Não agora. Não mais. Eu tinha o controle agora. Eu não poderia ser distraído. Ativei a Hiding in Shadow Technique. O ar ao meu redor se tornou pesado e opressor, como se a própria escuridão me abraçasse e me ocultasse. Eu me fundi com a sombra próxima, perfeitamente camuflado. A essência de minha técnica era não apenas o ocultamento, mas a habilidade de observar sem ser visto, de controlar o campo ao meu redor com uma precisão letal. E agora, nesse momento de absoluta quietude, eu observava. Mas não me dei conta de um detalhe. Meu corpo, paralisado pelas memórias que ainda ecoavam em minha mente, fez um movimento involuntário. O som de areia sendo esmagada sob meu peso ecoou de forma estonteante. Como se o universo tivesse se detido por um segundo, todos os três homens congelaram e se viraram. "Quem está aí?" O homem com a espada perguntou, sua voz baixa, mas com um tom de ameaça. Ele se aproximou da sombra, e o medo me pegou por um momento, como se os olhos de minha vítima estivessem mais uma vez sobre mim. Eu estava paralisado pela lembrança do meu irmão, da sensação de impotência. Não. Não posso ser fraco. A respiração se fez mais pesada. A sombra me protegia, mas o que vi — as memórias de meu irmão, o seu destino trágico — ameaçavam me esmagar.


O homem se aproximou ainda mais, mais confiante de que estava diante de uma ilusão, e, como esperado, virou-se para dar ordem aos outros. Mas nesse momento, meu corpo se moveu de forma quase reflexa, com a precisão de uma lâmina em corte. Tudo que me motivava a se mexer era evitar que aqueles irmaos passasem pelo mesmo que eu, e com essa motivacao fiz meu corpo mexer cada musculo, cada fio, cada centimetro do meu corpo tinha que voltar a realidade. Sem hesitação, avancei da sombra, meu movimento suave como um predador que ataca sem dar margem à reação. Minha espada cortou o ar, atravessando o pescoço do homem que ousou se aproximar. O corpo caiu sem um som sequer, um reflexo da morte que já parecia ter me acompanhado antes, fez com que minha precensa se tornasse ameacadora atraves do sakki. Mas o outro não reagiu da mesma forma. O segundo assassino se preparava para lutar, enquanto o terceiro, o homem que havia trazido os irmãos, ainda estava distraído com o impacto da morte repentina de seu companheiro. A luta estava começando. Mas eu estava em um estado de alerta frenético, o estresse pós-traumático transformando o campo de batalha em uma tempestade de memórias e frustrações. O primeiro inimigo avançou com sem ao mesmo palpitar, uma lâmina reluzindo sob a luz da lua. Se caso eu estivese sob um estado normal da minha mente poderia evita-lo com facilidade, meu corpo que normalmente era agil estava mais pesado do que nunca, entao percebi que nao conseguiria combate-lo de frente. Teria que utilizar a minha habildiade em genjutsus. Mas a minha mente estava em outro lugar, incapaz de focar completamente. O som dos gritos, o peso do combate... tudo parecia um eco do que aconteceu no passado, no momento em que perdi meu irmão. Ele veio para o ataque novamente, dessa vez com uma fúria que desafiava minha postura calma. Ele era forte, mas nao era tao agil, e eu, tudo que tinha de fazer era apenas desviar de seus golpes ate achar uma abertura para chutar areia em seus olhos.

Ao fazer isso consegui uma abertura para coloca-lo em um genjutsu fazendo-o ver seus maiores medos atordoando o mesmo para que pudesse finaliza-lo com minha espada. Eu estava de pé sobre os corpos dos assassinos, meu corpo ainda tenso, respirando pesadamente após o confronto. O calor do estresse pós-traumático me envolvia como uma nuvem densa, turvando minha mente. Mas eu não podia perder o controle agora. A luta não estava terminada. O terceiro homem recuou, sua lâmina ainda tremendo nas mãos, o medo estampado em seu rosto. Ele sabia que sua vida estava por um fio, mas isso não o impediu de agir com uma crueldade ainda mais insana. Antes que eu pudesse reagir completamente, ele se virou rapidamente, cortando a garganta da primeira criança com um movimento brutal e frio. O sangue espirrou, um grito de agonia foi abafado, e o pequeno corpo tombou sem vida no chão, estilhaçando qualquer vestígio de esperança que eu poderia ter tido.