Nas montanhas isoladas ao redor de Iwagakure, Biskka se preparava para o treinamento mais exaustivo que já enfrentara. A clareira onde estava oferecia uma vista ampla, com rochedos irregulares que refletiam a luz dourada do amanhecer. Esse local seria seu campo de batalha contra os próprios limites. À sua frente, um pergaminho antigo descrevia a técnica do Ki, um método avançado que exigia o domínio completo do Hachimon e um entendimento profundo da energia vital. O pergaminho era claro sobre o perigo: o uso do Ki sobrecarregava o corpo de maneiras que nem mesmo os Portões de Chakra faziam. Porém, era também a chave para um novo nível de poder, permitindo que Biskka transcendesse suas capacidades físicas. Inspirada, ela começou o treinamento com a abertura do Primeiro Portão, sentindo o fluxo de energia pulsar através de seu corpo como uma onda de calor.

Sua primeira tarefa era simples, mas crucial: controlar a energia liberada pelo portão sem perder o equilíbrio interno. A energia do Ki não era visível a olho nu, mas pequenas distorções no ar ao seu redor indicavam que ela estava lá. Biskka concentrou-se, sentindo o calor em suas veias aumentar enquanto seu coração batia com força. Ela começou com exercícios básicos, socos e chutes que se tornaram cada vez mais rápidos e intensos à medida que o Ki fluía. Os movimentos deixavam rastros sutis no ar, quase como ilusões. Cada golpe era mais forte do que o anterior, mas o esforço exigido era esmagador. O suor escorria pelo rosto enquanto ela mantinha a concentração.

Por horas, Biskka praticou sem descanso, aprendendo a dominar o fluxo de Ki com a mesma precisão com que controlava sua força física. Era apenas o começo.

Considerações:

O treinamento avançava, mas o tempo parecia se arrastar enquanto Biskka tentava, sem sucesso, acessar o estado descrito no pergaminho. O conceito do Ki era simples na teoria, mas na prática, provava ser uma tarefa monumental. Cada tentativa parecia esgotar mais sua energia, e a clareira estava repleta de marcas no chão, sinais das explosões descontroladas de chakra que surgiam toda vez que ela falhava em moldá-lo. Sentada com as pernas cruzadas, o suor escorrendo pelo rosto e os braços tremendo de esforço, ela respirava profundamente. As palavras no pergaminho ecoavam em sua mente: "O Ki não é força bruta, mas equilíbrio. Não é uma liberação, mas uma fusão." A frase parecia zombar dela. Equilíbrio? Como alcançar equilíbrio quando o próprio Primeiro Portão liberava uma torrente de energia impossível de conter?

Ela se levantou, o corpo exausto, mas sua mente ainda resoluta. Tentou mais uma vez. O chakra fluiu por seus tenketsus, pulsando como um rio em cheia. A sensação era poderosa, mas desordenada. Fechou os olhos e tentou guiar a energia, direcionando-a de forma a preencher seu corpo de maneira uniforme. Por alguns instantes, pareceu que estava funcionando. O chakra começou a estabilizar, e Biskka quase conseguiu sentir o Ki tomando forma. O ar ao seu redor até começou a tremer levemente, como o pergaminho havia descrito. Mas, em um instante, tudo desmoronou. A energia escapou de seu controle, explodindo para fora de seu corpo com um impulso desordenado.

Ela foi jogada para trás, caindo de joelhos e arfando.

— Droga! — murmurou entre os dentes cerrados, frustrada. — Por que isso não funciona?

Considerações:

Mas em sua frustração, ela percebeu algo. Cada tentativa parecia trazer um aprendizado novo, por menor que fosse. Dessa vez, o chakra havia se mantido estável por mais tempo, quase o suficiente para atingir o estado do Ki. O problema não era o conceito, mas o controle. Sua mente e corpo ainda não estavam completamente sincronizados. Ela respirou fundo, deixando a frustração se dissipar. — A-ainda... não! — murmurou para si mesma, sua voz trêmula. Não importava quanto tempo levasse ou quantas vezes precisasse tentar. Ela continuaria até que o Ki fosse despertado, pois sabia que o verdadeiro crescimento vinha do sacrifício e da persistência.

A noite avançava, e mesmo exausta, Biskka não tinha intenção de parar. O treinamento não era apenas sobre alcançar uma transformação; era sobre forjar algo dentro dela, algo que só seria conquistado ao enfrentar e superar seus próprios limites. A escuridão envolvia a clareira como um manto pesado, mas Biskka permanecia firme. Sua respiração estava irregular, cada músculo queimando de esforço, mas desistir não era uma opção. Ela limpou o suor da testa com o dorso da mão, encarando o pergaminho como se fosse um inimigo obstinado. "Equilíbrio...", murmurou, repetindo a palavra-chave como um mantra. Ela se levantou lentamente, seus pés firmes no chão, sentindo cada grão de terra sob suas sandálias. O pergaminho dizia que o Ki exigia mais do que energia; exigia uma conexão entre o físico e o mental, algo que só poderia ser alcançado ao abraçar o estado de harmonia interna. Era frustrante, pois o Primeiro Portão transformava seu corpo em um redemoinho de força, exatamente o oposto de tranquilidade.

Considerações:

Dessa vez, ela mudou a abordagem. Fechou os olhos, afastando os pensamentos de vitória ou progresso. O som do vento entre as árvores e o farfalhar das folhas tornaram-se sua única companhia. Deixou o chakra fluir, não como uma explosão, mas como uma onda, preenchendo cada parte de seu corpo. Era como caminhar em uma corda bamba, um passo em falso e tudo desmoronaria novamente. O ar ao seu redor começou a tremer, as distorções quase invisíveis começaram a se formar, como as ondulações em um lago calmo ao toque de uma gota d’água. Uma sensação nova surgiu em seu corpo, algo que ia além do puro poder bruto do Hachimon.

Biskka sentiu como se estivesse alcançando algo diferente. Era uma força que não vinha apenas da liberação do chakra, mas de sua integração em cada movimento, em cada célula de seu corpo. Seu coração disparou quando percebeu que o ar à sua volta estava sutilmente mais denso, os sinais do Ki finalmente emergindo. Mas então, como uma corrente puxando seus pés para o fundo, a energia fugiu de seu controle mais uma vez. O chakra desestabilizou-se, espalhando-se como um redemoinho selvagem. O impacto jogou Biskka ao chão, o ar escapando de seus pulmões em um gemido abafado.

Apesar da queda, ela sentiu algo diferente dessa vez. Progresso. Ainda que estivesse exausta e no limite, ela havia chegado mais perto do que nunca. Tocou a borda do que o Ki poderia ser, e isso reacendeu uma chama dentro dela. Sua visão estava turva de cansaço, mas seu espírito nunca fora tão forte. Lentamente, ela se levantou, limpando a poeira do corpo. Ela ergueu o pergaminho mais uma vez, lendo as instruções com atenção redobrada. O Ki não era apenas uma técnica; era uma fusão, uma sinfonia de controle e força. Sua mente e corpo estavam começando a entender a melodia, mas ela precisava ajustar o ritmo.

Com a determinação renovada, Biskka firmou a postura novamente, seu corpo gritando de cansaço, mas sua mente resoluta. — Só mais uma vez, eu sei que estou perto... — pensou. O treinamento seguia ininterrupto, e a clareira testemunharia sua evolução, fosse por sucesso ou pela força inquebrantável de sua persistência.

Considerações:

Biskka respirou fundo, fechando os olhos e ativando o Primeiro Portão mais uma vez. A sensação familiar de força percorrendo seu corpo foi imediata, mas desta vez ela não se deixou levar. Em vez de liberar tudo de uma vez, tentou moldar o fluxo, forçando o chakra a se alinhar com sua respiração e seus movimentos. De repente, uma sensação diferente tomou conta. Um calor começou a irradiar de seu núcleo, espalhando-se por seus membros como fogo líquido. O ar ao redor dela ficou mais denso, e, quando abriu os olhos, viu algo que nunca havia visto antes: uma leve aura dourada envolvia seu corpo.

Ela sentiu o calor dessa energia, algo que parecia não apenas força, mas equilíbrio. A aura tremulava como uma chama, e ela podia sentir o Ki correndo por suas veias, tornando cada movimento mais fluido, mais poderoso. Por um instante, sentiu-se invencível.

— É isso... — sussurrou, incrédula, enquanto a aura brilhava intensamente ao seu redor.

Ela levantou o punho lentamente, apenas para testar o que sentia. O movimento parecia natural, mas ao mesmo tempo sobre-humano, como se o mundo ao seu redor fosse mais lento. Sua respiração tornou-se mais controlada, e por um momento, tudo parecia se alinhar. Mas a estabilidade era frágil. A energia começou a vacilar, o calor tornando-se intenso demais para suportar. Logo sentiu o controle escapar como areia entre os dedos, e a aura dourada desfez-se em um piscar de olhos. O corpo dela cedeu, caindo de joelhos na terra fria. O impacto trouxe-a de volta à realidade, mas o sorriso que surgiu em seu rosto era inegável. Ela havia sentido o Ki, mesmo que por pouco tempo. Era real, e agora ela sabia que podia alcançá-lo novamente. O brilho dourado ainda dançava em sua memória, uma lembrança viva do que ela podia alcançar. E isso a irritava.

— PORRA!! — Bradou em frustração, parecia que nada mais poderia fazê-la mais forte. A raiva explodiu dentro dela, como um vulcão que esteve contido por muito tempo. Um grito gutural ecoou de seus lábios, carregado de frustração e determinação. Foi nesse instante que algo mudou. O chakra de Biskka se intensificou de forma abrupta, inundando o ambiente ao seu redor. Uma luz dourada envolveu seu corpo como chamas vivas, pulsando com a energia crua de sua alma. Seus cabelos ondulados começaram a mudar, erguendo-se para cima enquanto adquiriam um tom loiro brilhante. A aura dourada que antes parecia apenas uma ilusão agora era vívida, pulsante, como se tivesse vida própria.

Ela abriu os olhos, e o mundo parecia diferente. Cada detalhe ao seu redor era mais nítido, cada sensação mais intensa. O calor do Ki preenchia seu corpo, mas agora não era apenas força. Era foco. Era equilíbrio. A raiva que a havia levado até ali não se dissipava completamente, mas, em vez de dominá-la, agora parecia uma ferramenta. Ela entendia que aquela transformação era mais do que um estado de poder; era a expressão máxima de sua vontade, moldada pelas emoções que havia tentado suprimir por tanto tempo. A força que pulsava dentro dela não era apenas física, mas também emocional e mental. Era um reflexo de quem ela era, de tudo que havia enfrentado. Ela levantou os punhos, e o ar ao seu redor distorceu-se com o impacto de sua energia. Um sorriso de satisfação atravessou seus lábios.

Considerações: