A névoa matinal cobria as ruas estreitas e os becos sinuosos da periferia de Iwagakure. A bruma conferia um ar de mistério à paisagem, obscurecendo os contornos das montanhas e os limites da vila. Era cedo, e o som abafado de passos ecoava pelo chão de pedra irregular enquanto Biskka avançava com passos controlados e atentos. Seu uniforme ajustado movia-se em harmonia com seu corpo, que parecia uma extensão natural da vigilância que a missão exigia. A periferia da Vila da Pedra não era tão movimentada quanto o centro. Casas humildes e oficinas desgastadas alinhavam-se em fileiras tortas, formando pequenos labirintos entre as construções. Em certos pontos, a vegetação rasteira começava a invadir os caminhos, reivindicando espaço nas bordas do território humano. Era um lugar tranquilo na maioria das vezes, mas vulnerável por sua proximidade com áreas menos controladas do País da Terra.

Os olhos da Genin varriam cada detalhe ao seu redor, analisando formas, sombras e movimentos. Os habitantes locais estavam apenas começando suas rotinas. Algumas portas rangiam ao serem abertas, revelando pessoas simples com olhares cansados, carregando baldes de água ou empurrando carrinhos com mercadorias. Ela acenava com a cabeça ocasionalmente, uma figura familiar para muitos ali. Mesmo jovem, sua presença transmitia uma sensação de segurança. Conforme se afastava das ruas principais e adentrava os becos mais profundos, o ambiente mudava gradualmente. As construções tornavam-se mais rústicas, algumas quase em ruínas, enquanto o silêncio crescia. O som distante de martelos em ferreiros e conversas abafadas se dissipava, substituído pelo ocasional estalar de galhos ou o sopro do vento passando entre as rochas.

Então ela subiu em uma elevação natural que oferecia uma visão ampla do setor. O topo da formação rochosa era um ponto estratégico para vigiar a movimentação nas proximidades da vila e ao longo das trilhas que levavam a áreas externas. Com um movimento ágil, ela saltou para um ponto mais alto, onde sua visão alcançava os limites da periferia. O sol começava a atravessar a névoa, projetando raios dourados sobre o cenário cinzento das montanhas. De cima, ela notou algo incomum: pegadas recentes marcavam um pequeno caminho que serpenteava por entre arbustos e rochas. Não era uma trilha frequentemente usada pelos moradores, e as marcas pareciam frescas, indicando que alguém havia passado por ali na noite anterior ou ao amanhecer. Suas sobrancelhas franziram enquanto analisava o padrão das pegadas. O espaçamento indicava que a pessoa carregava algo pesado ou estava apressada.

Descendo com fluidez, Biskka seguiu as marcas. Seus passos eram leves, e cada movimento refletia seu treinamento. Ela fazia parte do ambiente ao seu redor, movendo-se sem perturbar as pedras soltas ou o cascalho que poderiam denunciar sua presença. O vento trazia consigo o aroma metálico característico da terra e um leve cheiro de madeira queimada, algo fora do normal para aquela região. Depois de caminhar por alguns minutos, ela chegou a um pequeno aclive onde uma clareira se abria. No centro, restos de uma fogueira recente ainda fumegavam, cercados por pedras organizadas de forma improvisada. Ao redor, havia sinais claros de atividade humana: um saco de tecido desfiado, restos de comida e uma corda amarrada a uma árvore próxima. Tudo indicava que alguém havia acampado ali.

Ela aproximou-se cuidadosamente, os sentidos em alerta máximo. Apesar de o local estar aparentemente vazio, o calor residual das cinzas na fogueira sugeria que os ocupantes haviam partido há pouco tempo. Ela inspecionou os arredores, percebendo que os rastros continuavam, levando para mais fundo na vegetação.

O ar tornou-se mais pesado enquanto ela avançava. As árvores e arbustos densos dificultavam a visibilidade, forçando-a a desacelerar e confiar mais em seus outros sentidos. Ao longe, o som de vozes chegou a seus ouvidos, abafado pela espessura das plantas. O coração da garota acelerou, mas ela manteve a calma, aproximando-se ainda mais. A clareira seguinte revelou algo que a fez apertar o punho ao redor da empunhadura de sua espada. Três homens estavam reunidos em volta de um pequeno baú, suas expressões concentradas enquanto examinavam o conteúdo. Eles não eram habitantes locais, isso era claro; suas roupas eram gastas, mas não adequadas ao trabalho rural, e as armas rudimentares penduradas em seus cintos indicavam intenções mais sombrias.

Biskka permaneceu oculta entre as sombras das árvores, observando. Seu objetivo principal era patrulhar e relatar, não agir, mas ela sabia que cada segundo que passava era uma oportunidade para os homens terminarem o que estavam fazendo e desaparecerem. Ela precisava de informações concretas antes de tomar qualquer decisão. Enquanto os observava, percebeu que um dos homens segurava algo brilhante na mão. Era uma pedra preciosa, reluzindo à luz que filtrava entre as folhas. O baú parecia estar cheio de pedras similares, confirmando as suspeitas de que esses homens poderiam estar envolvidos no contrabando que assolava a região.

Ela optou por recuar, movendo-se com a mesma destreza com que havia chegado até ali. Cada passo era calculado para não fazer barulho, e ela manteve os olhos nos três até que a vegetação os ocultasse completamente. Assim que voltou à segurança da clareira anterior, ela acelerou o ritmo, retornando à periferia com o máximo de rapidez que ainda lhe permitia manter a discrição. Ao chegar à borda da vila, Biskka encontrou um ponto elevado novamente para realizar mais uma varredura visual, garantindo que nenhuma outra movimentação suspeita estivesse ocorrendo. Satisfeita com sua análise, ela seguiu para o Quartel-General, onde relatar suas descobertas seria sua prioridade.

Considerações: