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A LUZ DAS TREVAS
Arco 02
Ano 27 DG
Inverno
Meses se passaram desde a missão de investigação ao Castelo da Lua, no País do Vento, que culminou na Batalha da Lua Minguante. Soramaru, o cientista responsável pelos experimentos, morreu em combate, assim como outros ninjas do lado da aliança. Após a missão ser bem-sucedida, mas carregando tantas mortes, Karma, o líder da missão, ficou responsável por relatar às nações o máximo de informações sobre a organização por trás dos crimes agora que estava com o selo enfraquecido e com isso ele revelou o verdadeiro nome dela: Bōryokudan. Ainda não tendo como fornecer mais detalhes, pois o selo se manteve, e precisando de mais pistas antes de investir novamente em uma missão, Karma saiu em missão em nome das Quatro Nações para encontrar o paradeiro dos demais membros da organização — e sua primeira desconfiança recaiu sobre Kumo.

O mundo, no entanto, mudou nestes últimos meses. Os Filhos das Nuvens concluíram a missão de extermínio aos antigos ninjas da vila e implementaram um novo sistema político em Kumo ao se proclamarem o Shōgun sobre as ordens não de um pai, mas do Tennō; e assim ela se manteve mais fechada do que nunca. Em Konoha a situação ficou complicada após a morte de Chokorabu ao que parece estar levando a vila ao estado de uma guerra civil envolvendo dois clãs como pivôs. Suna tem visto uma movimentação popular contra a atual liderança da vila após o fracasso em trazer a glória prometida ao país. Já em Kiri a troca de Mizukage e a morte de ninjas importantes desestabilizaram a política interna e externa da vila. E em Iwa cada dia mais a Resistência vai se tornando popular entre os civis que estão cansados demais da fraqueza do poderio militar ninja. Quem está se aproveitando destes pequenos caos parece ser as famílias do submundo, cada vez mais presentes e usando o exílio de inúmeros criminosos para Kayabuki como forma de recrutar um exército cada vez maior.

E distante dos olhares mundanos o líder da Bōryokudan, Gyangu-sama, se incomoda com os passos de Karma.
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SHION
SHION#7417
Shion é o fundador do RPG Akatsuki, tendo ingressado no projeto em 2010. Em 2015, ele se afastou da administração para focar em marketing e finanças, mas retornou em 2019 para reassumir a liderança da equipe, com foco na gestão de staff, criação de eventos e marketing. Em 2023, Shion encerrou sua participação nos arcos, mas continua trabalhando no desenvolvimento de sistemas e no marketing do RPG. Sua frase inspiradora é "Meu objetivo não é agradar os outros, mas fazer o meu trabalho bem feito", refletindo sua abordagem profissional e comprometimento em manter a qualidade do projeto.
Angell
ANGELL#3815
Angell é jogadora de RPG narrativo desde 2011. Conheceu e se juntou à comunidade do Akatsuki em fevereiro de 2019, e se tornou parte da administração em outubro do mesmo ano. Hoje, é responsável por desenvolver, balancear, adequar e revisar as regras do sistema, equilibrando-as entre a série e o fórum, além de auxiliar na manutenção das demais áreas deste. Fora do Akatsuki, apaixonada por leitura e escrita, apesar de amante da música, é bacharela e licenciada em Letras.
Indra
INDRA#6662
Oblivion é jogador do NRPGA desde 2019, mas é jogador de RPG a mais de dez anos. Começou como narrador em 2019, passando um período fora e voltando em 2020, onde subiu para Moderador, cargo que permaneceu por mais de um ano, ficando responsável principalmente pela Modificação de Inventários, até se tornar Administrador. Fora do RPG, gosta de futebol, escrever histórias e atualmente busca terminar sua faculdade de Contabilidade.
Wolf
Wolf#9564
Wolf é jogador do NRPGA desde fevereiro de 2020, tendo encontrado o fórum por meio de amigos, afastando-se em dezembro do mesmo ano, mas retornando em janeiro de 2022. É jogador de RPG desde 2012, embora seu primeiro fórum tenha sido o Akatsuki. Atua como moderador desde a passagem anterior, se dedicando as funções até se tornar administrador em outubro de 2022. Fora do RPG cursa a faculdade de Direito, quase em sua conclusão, bem como tem grande interesse por futebol, sendo um flamenguista doente.
Mako
gogunnn#6051
Mako é membro do Naruto RPG Akatsuki desde meados de 2012. Seu interesse por um ambiente de diversão e melhorias ao sistema o levou a ser membro da Staff pouco tempo depois. É o responsável pela criação do sistema em vigor desde 2016, tendo trabalhado na manutenção dele até 2021, quando precisou de uma breve pausa por questões pessoais. Dois anos depois, Mako volta ao Naruto RPG Akatsuki como Game Master, retornando a posição de Desenvolvedor de Sistema. E ainda mantém uma carreira como escritor de ficção e editor de livros fora do RPG, além de ser bacharel em psicologia. Seu maior objetivo como GM é criar um ambiente saudável e um jogo cada vez mais divertido para o público.
Akeido
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Havilliard
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Jhin
Tokubetsu Jonin
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The blacksmith

A lua se alçava, alta e fria, sobre a Vila da Folha, derramando uma luz prateada pelas sombras da noite, enquanto Jhin, sentado no chão de seu quarto, era envolto em uma sensação rara de serenidade. O pequeno espaço ao redor dele, onde repousavam as armas e seus poucos pertences, parecia alheio ao que dominava seus pensamentos. Afinal, era pouco comum ter esse tempo para si mesmo. Menos comum ainda era o tipo de questionamento que o rondava — o tipo de questão que vinha junto com a quietude, abrindo espaço para a reflexão sobre o passado.

Aos dezesseis anos, a carreira meteórica de Jhin já o havia levado de um Genin iniciante a um Tokujo respeitado. Muitos viam nessa ascensão um sinal claro de talento ou talvez uma boa dose de sorte. Mas Jhin sabia que havia muito mais ali. O peso das lembranças o havia, por muitos anos, atrasado, sufocado, amarrado com as correntes de um passado que, até pouco tempo, ele não ousava enfrentar: o dia da morte de seus pais. Ele havia tentado esquecer, deixar de lado o trauma da perda. Mas, de algum modo, superar o peso de suas memórias foi como abrir uma porta para algo mais profundo, mais poderoso. E a partir de então, cada passo dado em sua carreira shinobi parecia mais fácil, como se sua própria alma estivesse mais leve.

Naquela noite, porém, ele sentia uma pulsão diferente, uma faísca quase instintiva. Decidiu levantar-se e seguir esse impulso, descendo até um pequeno depósito da família. O espaço estava empoeirado e pouco iluminado, um relicário esquecido daquilo que um dia foi a vida de seus pais. Vasculhando lentamente, ele encontrou alguns objetos de sua mãe, uma pequena caixa com amuletos que ela usava, alguns pergaminhos envelhecidos. Aquilo era familiar, algo que lhe trazia a memória de uma ternura há muito perdida. Contudo, foi ao tocar um certo volume de couro desgastado que algo verdadeiramente chamou sua atenção.

O objeto estava coberto de poeira e se destacava entre os demais, com a firmeza de quem resistira ao tempo. Ele o limpou com cuidado, revelando aos poucos o que parecia ser um livro, embora, ao observar melhor, visse que não passava de uma coleção de anotações cuidadosamente compiladas. Na capa, estava estampado o símbolo de dois martelos cruzados, gravados em relevo, como um brasão. Havia algo de inusitado naquele símbolo, algo que não remetia a nada que Jhin reconhecesse.

Ao abrir as primeiras páginas, viu que o conteúdo estava escrito em uma língua estranha, com letras e runas angulosas que nada lhe diziam. Não eram os kanji do país do Fogo, e tampouco o som deles se alinhava a qualquer idioma que ele tivesse ouvido antes. As palavras ali eram um mistério completo, mas isso não o impediu de folhear. De página em página, os traços e as figuras começavam a lhe dar uma pista do que aquelas anotações poderiam conter.

Desenhos de fornos flamejantes, moldes de armas, partes de armaduras, marretas golpeando lâminas incandescentes — era inegável que aquelas anotações eram voltadas à forja. Eram instruções meticulosas, cuidadosamente registradas, mas que ainda assim escapavam à sua compreensão. Ao ver aquilo, uma centelha de entusiasmo e dúvida cresceu em Jhin. Que interesse teria seu pai na forja? E por que o guardara com tanto cuidado, naquela língua estrangeira, oculto do olhar dos curiosos?

A curiosidade crescia conforme ele se debruçava sobre as folhas, passando os dedos pelas figuras e contornos das lâminas, com a mente já imaginando o poder que residia em cada detalhe. As anotações, à primeira vista indecifráveis, despertavam nele algo que há muito ele não sentia: a vontade de saber mais sobre quem seus pais realmente eram. E essa seria, talvez, a primeira vez que ele se permitiria tal pensamento.

Enquanto folheava a última página, uma questão reluzente como o próprio aço começou a formar-se em sua mente: e se ele pudesse encontrar alguém que o ajudasse a desvendar aqueles mistérios? Se o pai possuía algum conhecimento sobre forja, talvez houvesse alguém, em algum lugar, que ainda mantinha o ofício vivo.

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The blacksmith

As primeiras horas da manhã eram um espetáculo silencioso de rotina e pressa pelas ruas de Konoha, e a vila pulsava ao ritmo frenético dos que corriam a serviço dos feudos ou das missões. Jhin, porém, atravessava o mercado em passos vagarosos e atentos, olhos sondando o movimento com uma expressão de quem estava mais perdido em pensamentos do que nos afazeres do cotidiano. Em suas mãos, o livro de anotações herdado de seu pai — uma relíquia cujas inscrições permaneciam misteriosas e indecifráveis, mas cujos desenhos, símbolos de martelos cruzados, o mantinham intrigado. Ele visitava cada tenda de artesãos e cada barraca de mercadores com o olhar ansioso de um homem que procura algo que nem sabe nomear.

A busca foi lenta. O primeiro ferreiro apenas franziu o cenho e resmungou algo incompreensível, gesticulando que as gravuras não lhe diziam nada. O segundo e o terceiro mercador olharam as páginas por um breve momento antes de dar de ombros e recusar-se a perder mais tempo. E ainda assim, a curiosidade de Jhin o impedia de desistir, como se algo, algum pressentimento obscuro, o empurrasse a continuar.

Foi então que alguém lhe apontou uma oficina, escondida nos fundos de uma viela sombreada, onde, diziam, vivia um ex-ferreiro chamado André, um homem recluso e marcado pelos anos, que preferia as sombras às festas e o som abafado do martelo ao alvoroço do mercado. Sem muita escolha, Jhin seguiu a indicação, chegando até uma oficina esquecida, onde o cheiro do ferro oxidado misturava-se ao de fuligem e couro envelhecido. André estava encostado em um banco, o olhar ausente, perdido na quietude de uma manhã que nada lhe pedia.

André.. de Astora? — Jhin quebrou o silêncio.

O velho ferreiro ergueu os olhos, dois faróis baços sob sobrancelhas espessas e grisalhas. Um leve aceno indicou que ele podia se aproximar, e Jhin, hesitante, estendeu o volume. André segurou o livro entre as mãos calejadas, seus dedos tateando a textura da capa como se houvesse algo mais além do couro.

Já faz tempo desde que me mostraram algo assim. — A voz do velho soou como o ranger de uma porta antiga.

Os olhos de Jhin se iluminaram, mas ele conteve a expressão, esperando o velho continuar. André estudou os desenhos dos martelos cruzados, e uma expressão de reconhecimento sombreou seu rosto, mas não sem uma certa reserva, como se ele tivesse avistado um eco distante de outra época.

Esse brasão… — murmurou ele, a voz soturna. — Martelos cruzados. Pertence a uma lenda antiga, uma história sobre dois irmãos… anões, dizem. Brok e Sindri, mestres de uma forja sem igual. Dizem que esses dois tinham a habilidade de moldar o metal com tanto fervor que podiam forjar armas capazes de ferir até deuses. Armas e armaduras que, nas histórias, parecem vivos, como se carregassem um fragmento de alma.

A mente de Jhin começou a fervilhar com perguntas, mas André levantou um dedo antes que ele as proferisse.

Não me pergunte de onde conheço essas histórias, garoto. Há coisas que transcendem este mundo. Esses dois, se é que existiram, não vivem aqui, e talvez nunca tenham vivido. São contos que os velhos contavam para assustar crianças ou alimentar sonhos dos jovens — ele lançou um olhar severo a Jhin — como você.

Jhin ficou em silêncio, absorvendo as palavras. A sugestão de que os anões eram seres de uma natureza tão misteriosa lhe causou um arrepio, uma pontada de desconfiança que era quase tanto uma rejeição quanto um apelo de sua própria alma em direção à verdade.

As runas — continuou André, enquanto passava as páginas com dedos lentos. — Essas escrituras… não são meros caracteres. Parecem-se com as runas que falam de energias, encantamentos e segredos gravados em metal e pedra. São sinais antigos, a linguagem dos antigos forjadores, talvez dos próprios Brok e Sindri, mas eu duvido muito, são só lendas, talvez nunca existiram

Jhin inclinou-se para mais perto, incapaz de esconder o interesse. André o fitou, avaliando a intensidade daquele jovem que segurava seu olhar com tanta firmeza. O Tokujo permaneceu em silêncio por um instante, enquanto o vento noturno soprava pela oficina, balançando levemente as velas e levando um sopro de fuligem ao ar.

Ele sabia que essa jornada poderia levá-lo por um caminho de incertezas e obstáculos. Mas o passado de seu pai, agora, parecia um mistério que ele não podia mais ignorar. E, mesmo que fosse apenas um fragmento de verdade que ele pudesse resgatar, aquilo talvez fosse o suficiente para desvendar, um pouco mais, a enigmática sombra que pairava sobre sua família.

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The blacksmith

O silêncio na oficina de André era denso e familiar, marcado pelo sutil ranger das tábuas envelhecidas e o distante bramido das forjas vizinhas, onde o som dos martelos era uma canção incessante. Jhin sentia a pressão do olhar do velho sobre si; uma mescla de curiosidade, de lembranças e de algum sentimento indefinido. Com dedos habilidosos, mas já trêmulos, André voltou ao livro, estudando as páginas de anotações com olhos que, embora cansados, ainda guardavam uma centelha viva de entendimento.

Estas... são runas da forja — murmurou André, mais para si mesmo que para o jovem Hyūga. As pontas de seus dedos varreram a superfície amarelada das páginas como quem toca uma lembrança adormecida. — Quem quer que tenha escrito isso, garoto, não era apenas bom. Era um mestre. As instruções aqui, os detalhes… não são para um aprendiz comum.

Jhin prendeu a respiração, sentindo o peso das palavras. A possibilidade insinuou-se em sua mente como uma fumaça densa e tentadora: seu pai… poderia ter sido um ferreiro? Um mestre na arte da forja? Mas por que nunca soubera? Ele mal conseguia imaginar o pai em uma forja, as chamas lambendo as pedras, o calor do ferro sendo domado sob golpes hábeis e calculados. A imagem tremulava em sua mente, vaga, como se surgisse através de uma névoa.

Desculpe, sou Hyuga Jhin — começou — Encontrei isso nas coisas de meu pai. Faleceu há muito tempo, nem me lembro mais de seu rosto — sua voz saindo hesitante — Poderia ser ele um ferreiro?

Quem sabe, rapaz. A ferraria tem seus próprios segredos, e nem todos têm a chance ou a coragem de desvendá-los. — André o interrompeu, a voz grave. — Mas — ele ergueu uma sobrancelha cética ao jovem Hyūga — não se deixe levar tão rápido. A forja exige uma devoção quase desumana. É um ofício de paciência, de disciplina. Se seu pai realmente foi um ferreiro e foi o autor dessas escrituras, não era um ferreiro comum e talvez tivesse motivos para manter isso escondido.

O velho se calou, deixando as palavras penduradas no ar, e voltou à leitura das runas. Jhin observava-o, incapaz de esconder o fascínio que o invadia. Ele tentou imaginar como seria aquele mundo de sombras e metal incandescente, onde o próprio tempo parecia ser moldado sob marteladas, onde cada golpe era uma luta e uma criação.

Finalmente, após um longo minuto, André fechou o livro e lançou um olhar avaliador sobre Jhin que não hesitou em questioná-lo.

Consegue traduzi-las? — André riu com dificuldades

As runas aqui escritas… Eu poderia traduzi-las para você, garoto — disse André, os olhos ainda pregados no jovem Hyūga, quase desafiando-o a recuar. — Mas me custaria um esforço e um tempo que eu já não tenho mais. É um trabalho meticuloso, e estas páginas contêm mais do que instruções. Elas falam da essência de forjar, do espírito que reside no ato de moldar metal. Traduzir cada parte delas seria quase um ato de recriação em si, entende?

O coração de Jhin acelerou. Ele estava prestes a fazer um pedido, mas as palavras do velho o deixaram inseguro. E então, André falou com a voz carregada de uma decisão firme, uma sugestão que ele nunca imaginou dar.

No entanto… — André pigarreou, os lábios contorcendo-se em algo entre um sorriso e um suspiro nostálgico. — Não posso negar que estou curioso. Já vivi muitas e muitas eras criança, e nunca ví nada igual... Faço-lhe uma proposta. Eu poderia lhe ensinar. Poderíamos explorar juntos o que há nessas anotações. Desde que você esteja disposto a aprender, a enfrentar as chamas da forja, o peso do martelo, a paciência das horas e o rigor de uma prática que não tolera distrações.

A proposta chocou Jhin. Ele fitou o rosto envelhecido de André, a expressão severa, mas curiosamente viva. Era como se uma chama adormecida dentro do velho ferreiro houvesse se reacendido, iluminando seus olhos com um brilho que Jhin só conhecia nos olhares dos homens em busca de propósito.

Jhin hesitou. Mas algo em seu interior o impulsionava a aceitar, como se o destino o convidasse a descer por um caminho perigoso e fascinante. Este não era um convite qualquer. Era um convite para pisar em um mundo oculto, onde o aço e o espírito se entrelaçavam, onde cada criação contava uma história, cada martelada selava uma promessa. Era uma chance de conhecer o pai — ou ao menos, conhecer aquilo que talvez o definisse.

Aceito — disse ele, a voz firme e sem hesitação. — Vou aprender o que quer que estas páginas tenham a me ensinar.

André soltou um longo suspiro, como se a resposta lhe trouxesse uma estranha mistura de cansaço e esperança.

Pois bem. Amanhã ao amanhecer, venha até aqui. E prepare-se, garoto, porque a forja não é um ofício que perdoa fraquezas.

Jhin apenas assentiu.

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The blacksmith

A velha oficina de André de Astora era uma relíquia do passado, um espaço sombrio e empoeirado no qual o ar parecia ter sido congelado no tempo. Pilhas de ferramentas esquecidas repousavam ao longo das paredes manchadas, cada martelo e cada bigorna como monumentos silenciosos de uma era em que aquelas mãos envelhecidas, mas ainda habilidosas, haviam moldado armas e armaduras. Ao centro, uma forja de pedra parecia uma fera adormecida; o braseiro apagado era uma boca desdentada que parecia ansiar pelo calor que há muito lhe faltava. A luz das brasas se esvaía como fantasmas de uma vida anterior, entrelaçando-se com o cheiro do metal enferrujado, do carvão gasto e de couro ressecado.

Nas prateleiras poeirentas, enegrecidas pelo tempo e pelo trabalho árduo, encontravam-se fragmentos de armaduras e lâminas quebradas, memórias distantes de combates e histórias sussurradas que talvez nunca fossem contadas. Cada canto da oficina parecia saturado de um misticismo que só poderia ser compreendido por alguém que tivesse vivido cada momento ali, alguém que, como André, conhecesse o metal como a própria carne. Era um lugar em que o aço, mesmo inerte, parecia vibrar ao toque, guardando segredos pesados demais para serem revelados.

Naquela manhã, André levou Jhin até o centro do local e lhe estendeu um martelo de cabo áspero, uma ferramenta que, embora simples, trazia em seu peso toda a promessa e o fardo do ofício.

Não pude deixar de notar sua bandana, ser um Shinobi não lhe ajudará em nada aqui. Hoje, garoto, você vai começar pelo básico — disse André com uma voz dura, porém paciente, que parecia ecoar pelas pedras da forja. — Não é apenas bater no metal. É entender que ele tem vontade própria, tem uma resistência que você precisa aprender a dobrar sem quebrar.

Ele colocou à frente de Jhin uma peça de ferro bruto, uma simples barra de metal que, ao seu olhar inexperiente, parecia não ter valor algum. André acendeu o braseiro, e o fogo, ao reacender-se, iluminou o rosto de ambos com uma dança infernal de laranja e vermelho. O velho estendeu a mão nodosa e indicou o ferro, instruindo Jhin a segurá-lo com uma pinça longa e a levá-lo até o calor abrasador das chamas.

A primeira instrução foi simples, mas pesada em sua exigência de paciência. André pediu que ele aquecesse o ferro até que este adquirisse a cor certa, um tom que o próprio Jhin ainda era incapaz de distinguir, mas que, segundo o ferreiro, revelava a temperatura ideal para ser moldado. Jhin, cauteloso, levou o ferro para dentro da fornalha e sentiu o calor subir até seus ossos enquanto esperava, observando a barra adquirir um brilho intenso e ameaçador. Ele então a colocou sobre a bigorna, e o primeiro golpe, dado com um braço hesitante e um martelo ainda estranho, ecoou pela oficina. O som que se seguiu era bruto, dissonante, uma nota irregular que parecia desagradar o próprio metal.

Isso não é forjar, garoto — repreendeu André, ajeitando o martelo na mão de Jhin com uma firmeza quase paternal. — Preste atenção. A forja é como uma canção. Cada golpe, cada batida tem de ressoar com o próximo.

Os primeiros dias de Jhin na oficina foram uma batalha silenciosa. Ele sentia o corpo se cansar rapidamente, e as mãos já começavam a endurecer com calos e bolhas. A cada dia, André o observava com o mesmo olhar crítico, aparentemente indiferente à dor e ao cansaço do jovem, insistindo para que ele aprendesse o ritmo da forja, não apenas a força. A paciência que André exigia parecia interminável, e Jhin sentia uma mistura de frustração e admiração pelo velho homem, que, de algum modo, via além de seus erros e hesitações. André não pedia menos do que o absoluto de seu aprendiz, e o jovem começava a perceber que, na forja, como no combate, ou você se entrega completamente, ou perde a essência do trabalho.

Com o passar dos dias, o calor do braseiro, que no início parecia insuportável, tornava-se um calor familiar, quase acolhedor. O barulho das marteladas, que antes era descompassado e irritante, começou a soar como uma música rítmica e hipnótica, uma trilha sonora que acompanhava os pensamentos de Jhin enquanto ele moldava o ferro bruto em algo com uma forma definida. Sentia-se parte do ofício, parte do próprio metal que batia e dobrava, e sentia-se conectado ao passado do pai, um pai que ele agora imaginava também envolto em calor e aço, moldando sua própria identidade a cada golpe.

Em uma noite, enquanto esfregava as mãos exaustas e cobertas de fuligem, Jhin finalmente deu voz a uma dúvida que o perseguia.

André-san… de onde veio o senhor? — perguntou ele, ainda ofegante. — O chamam de André de Astora, mas não reconheço esse lugar em nenhum mapa.

André, que normalmente respondia rapidamente, apenas ergueu o olhar e franziu o cenho. Havia algo em seus olhos que Jhin não conseguia decifrar, um brilho que poderia ser de nostalgia, mas também de algo mais sombrio, talvez de segredos que ele guardava com um zelo inexplicável.

Astora… — ele murmurou, como se a palavra tivesse um gosto raro, estrangeiro, que já não reconhecia. — Astora não é um lugar que você encontraria em qualquer mapa que conheça, não desse mundo. Não vou te cansar com histórias que talvez nunca entenda. Pode ser que um dia… — ele parou, dando uma leve risada seca e rouca. — Pode ser que um dia, talvez, você descubra sozinho.

O tom de André não deixava espaço para mais perguntas, mas a vaga resposta alimentava a curiosidade de Jhin. Ele sabia que o velho guardava segredos que iam além de sua habilidade com o aço e o fogo.


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Os dias na oficina de André passaram como uma tempestade de fogo e martelos. Jhin se entregava cada vez mais à arte da forja, e, com cada dia que passava, sentia-se mais preso àquele calor abrasador e ao ritmo monótono, porém reconfortante, das marteladas. Durante as primeiras semanas, seus erros foram muitos, e o suor que escorria por sua testa parecia ser um reflexo de cada tentativa falhada, mas também do esforço que colocava em cada golpe.

O ferro, em suas mãos, parecia resistente e implacável, mas com o tempo, a força de Jhin foi diminuindo e sua técnica melhorando. Ele aprendeu a reconhecer a suavidade do metal quando atingido no ponto certo, a sentir o momento em que a lâmina ou o pedaço de ferro respondia ao toque do martelo com uma vibração sutil. A oficina de André, com seus odores de queimado e fuligem, transformou-se em algo mais do que um simples local de trabalho. Tornou-se um campo de treinamento, um templo no qual Jhin forjava não só objetos de metal, mas sua própria evolução, seu próprio entendimento de si.

Forjar pequenos utensílios foi sua primeira verdadeira vitória. Começou com simples pregos e ferramentas pequenas, mas em cada peça ele via a marca de seu próprio crescimento. E logo começou a desejar mais. Sua mente se voltava para os desafios maiores, forjar lâminas, armaduras e outras peças complexas. A cada novo aprendizado, Jhin via-se mais distante do garoto que, uma vez, buscava apenas vingança e respostas.

Foi numa dessas tardes quentes, enquanto trabalhava com um pedaço de ferro grosso e resistente, que André interrompeu seu trabalho. O velho aproximou-se lentamente, com os olhos já marcados pela experiência de décadas, observando cada movimento do jovem.

Jhin, algo em você garoto — disse André, sua voz grave reverberando na oficina silenciosa, quebrando o som do martelo batendo no metal. — Você tem a força e a determinação, mas ainda precisa de algo mais. E esse algo… é tempo.

Jhin parou, a lâmina de ferro ainda em suas mãos, o corpo tingido pelo suor que misturava-se com a fuligem que cobria sua pele.

Tempo? — Jhin olhou para o velho, a expressão um tanto confusa, mas ao mesmo tempo expectante. — O que quer dizer com isso?

André aproximou-se mais, os passos pesados ecoando no chão de pedra. Ele observou o jovem com um olhar que parecia pesar cada palavra que sairia de sua boca.

Você já tem as mãos de um ferreiro, Jhin. Não posso negar isso. Mas a forja, meu amigo, não é só técnica. A forja, assim como o aço, forja o espírito. Você vai entender isso à medida que passar mais tempo aqui. Mais do que força, o que importa é paciência. E, por último, confiança no processo. Você não pode apressar as coisas. Isso é algo que você, mais do que ninguém, precisa aprender. Você se entregou à forja. Agora, ela vai te transformar.

Jhin olhou para suas mãos, agora calosas e sujas de carvão. Sentiu uma leve dor nos dedos, mas, de algum modo, isso não o incomodava mais. Ao contrário, uma sensação de satisfação começava a tomar conta de seu corpo. André estava certo. Ele havia forjado algo em si mesmo nos últimos meses, um aprendizado que ia além do simples domínio da técnica.

Para alçar voos maiores, garoto — André continuou, com um olhar mais suave, quase paternal —, você precisa continuar. Não é só o que você aprende aqui que importa, mas o que vai carregar consigo daqui para frente. Você não é mais só o Hyuga que apenas busca respostas para o passado. Você agora é um ferreiro. E, como tal, seu trabalho é eterno, como o metal.

André fez uma pausa, deixando as palavras reverberarem na mente de Jhin. Em seguida, ele se afastou e foi até uma pequena mesa de madeira, onde, entre pilhas de ferramentas e pedaços de metal, repousavam as escrituras que Jhin havia trazido do seu pai. O velho pegou o livro, agora mais familiar aos seus olhos, e estendeu-o para o jovem.

Aqui está o que você tanto procurava — disse André, com um leve sorriso de satisfação. — Eu traduzi essas runas. O que você procurar agora, estará aqui. Mais do que qualquer técnica, mais do que qualquer forja. Esse é o caminho do ferreiro. E você está pronto para seguir.

Jhin olhou para o livro com um misto de apreensão e ansiedade. As páginas pareciam agora mais familiares, não apenas como algo perdido, mas como algo que ele começava a entender. Ele segurou o livro com as duas mãos, sentindo o peso de sua importância. As escrituras não eram apenas palavras em uma língua estrangeira, mas um guia, um mapa para um caminho que ele começava a compreender.

Você… — começou Jhin, sua voz mais baixa do que o habitual, como se fosse difícil encontrar as palavras certas. — Você está me dizendo que tudo o que preciso saber sobre forja está aqui? Que tudo o que meu pai… tudo o que ele fez está escrito nessas páginas?

André não respondeu de imediato. Seu olhar era profundo, como se ele próprio estivesse refletindo sobre aquelas palavras.

Você encontrará tudo o que precisa, sim. E mais. Mas, lembre-se, garoto: o metal não é só matéria. Não é só ferro, aço, cobre ou qualquer outro. O metal também é espírito. O segredo está em saber moldá-lo, assim como você vai moldar seu próprio espírito.

Jhin olhou para o livro mais uma vez, a capa com o brasão dos martelos cruzados ainda estampada diante de seus olhos. Ele sentiu um peso crescente no peito, mas também uma energia nova, algo que o impulsionava. Ele agora tinha mais do que um simples objetivo. Ele tinha um propósito. E, mais do que isso, ele tinha o caminho a seguir.

Quando levantou os olhos para André, havia uma determinação silenciosa em seu olhar. O velho sorriu, não de forma triunfante, mas como se visse em Jhin um reflexo de si mesmo, um eco distante de algo que ele já soubera, mas que agora tomava uma nova forma.

Agora você é um aprendiz — disse André, com um tom que soava mais como uma constatação do que uma afirmação. — Mas o que você faz com isso… é com você. Adeus garoto.


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