A noite chegou a Konoha lentamente e eu estava saindo de casa para caminhar e respirar ar puro. Não era muito comum me ver saindo sozinha naquele horário, apenas quando Raika me pedia para comprar alguma coisa de urgência para casa, mas esse não era bem o meu caso. Desde que voltamos de missão na academia ninja, a mulher havia ficado bem diferente comigo ao longo do dia, pois a mesma não me explicava o que de fato aconteceu após um súbito desmaio em decorrência da forte carga de adrenalina momentânea. Já fazia um dia desde o ocorrido e, para ajudar a me acostumar aos ritmos de missões, nossa liderança me escalou para uma missão simples naquela noite de outono. — Hoje é só lavar pratos e talheres em um restaurante… Pelo menos eu não tenho que correr atrás de ninguém na escuridão. — Pensei, enquanto caminhava sozinha, me recordando do dia anterior, onde eu havia perseguido um sequestrador de criança. Minhas roupas eram as mesmas de sempre e trazia comigo também minha bolsa de acessórios, caso precisasse agir de repente.

Quando finalmente cheguei ao restaurante mencionado no pergaminho que recebi em casa mais cedo, foi que eu vi que o mesmo estava quase fechando. Eu estava inclusive um pouco adiantada para a tarefa, visto que eu apenas necessitava chegar após seu término.

— Olá, moça. Boa noite. Você é a Terumi? — A jovem de cabelos presos por uma touca de rede de pescador perguntou, simpática. Ela se aproximou sem seguida.

— Sim, sou eu. Você deve ser Ayame. — Desviei o olhar na direção oposta, estava sem jeito, pois a mulher tinha uma beleza tão grande e uma simpatia tão genuína que eu não sabia exatamente como me portar em sua presença.

— Sim, sou eu, lembro de ter mencionado no pergaminho meu nome. Você tem boa memória. Seja bem-vinda. Você está um pouco adiantada, gostaria de comer algo antes de começar a trabalhar? É por minha conta. — Ela continuou sorrindo, como se estivesse muito feliz ao me ver.

— Eu agradeço, mas eu já comi em casa… Se quiser, posso começar mais cedo… — Me aproximei do balcão de atendimento, tentando enxergar além dele, alguma parte que precisasse de organização imediata.

— Entendo. Neste caso, me acompanhe, irei te mostrar sua tarefa. Por aqui, por favor. — Ela me apontou gentilmente para que eu entrasse com ela, para a cozinha. — Peço somente que vista esta touca antes, por favor, trabalhamos com alimentos e precisamos manter os alimentos livres de fios de cabelo. — Concluiu, me dando uma caixa com algumas toucas descartáveis e me direcionando até a cozinha.

Não demorei para pegar uma touca e logo eu acabei abrindo-a e colocando-a em minha cabeça. Ajustei os meus cabelos para que ficassem bem presos dentro da touca em formato de rede de pesca e comecei a seguir minha patroa naquela missão. Meus pés me levaram finalmente à cozinha, onde havia uma louça imensa para ser lavada e uma quantidade enorme de panelas para serem esfregadas com a esponja de aço. A noite parecia que iria se estender por incontáveis horas de limpeza.

— Preciso que lave os pratos, os talheres e esfregue essas panelas. Leve o tempo que for. — Ela concluiu a instrução apontando-me as tarefas e os utensílios que usaria para limpar tudo.

Para começar, deixei de molho todas as panelas que estavam sujas dentro daquela pia profunda de aço inoxidável, aproveitando para despejar em seu interior uma quantidade considerável de removedor de gordura. Enquanto eu deixava o material agir, dei atenção aos copos, pois estes eram os mais simples de serem lavados e também os mais delicados, o que me liberaria algum espaço na pia e minimizaria as chances de cometer algum acidente. Com uma bucha macia, utilizei detergente para ensaboar os copos, um a um, sempre deixando-os ao meu lado para que pudesse enxaguar todos de uma vez, no final daquela limpeza, para economizar água. Vez ou outra, eu apenas adicionava um pouco mais de detergente e água, para me certificar de que todos os copos cristalinos ficassem bem limpos. Alguns minutos se passaram, depois de todo o trabalho de lavagem, eu passava cada copo um por um embaixo da água, para retirar resíduos e espuma sobre eles. Ayame aparecia algumas vezes, me visitando periodicamente na cozinha, para ver se eu estava bem. Alguns funcionários que passavam ali, como a cozinheira e a garçonete, me elogiavam frequentemente, pela dedicação e capricho com tudo que eu fazia. Alguns elogios, inclusive, me deixavam com o rosto frequentemente vermelho de vergonha, pois em alguns casos me sentia paparicada demais, como se eu tivesse uma cara de princesa que nunca havia feito aquilo antes.

Ao terminar de lavar, enxaguar e secar todos os copos, Ayame me ajudou a guardar todos em uma prateleira extensa e bem cuidada. Não havia nada fora do lugar naquela cozinha, pois tamanha era a dedicação de todos ali. Os funcionários pareciam amar e eu me senti leve, embora estivesse fazendo uma tarefa bem chata. De volta às panelas, fui finalmente esfregar a parte interna delas. Ariando uma a uma, até que meu rosto pálido voltasse a ficar visível em meio às bolhas de detergente. Depois de esfregar bem, levava-as para baixo da torneira e, em seguida, eu entregava a Ayame, que me ajudava novamente a secar tudo. Alguns minutos se tornaram horas, pois sempre chegavam mais e mais utensílios para serem devidamente limpos, secos e armazenados, mas eventualmente, ao chegar ao restaurante, a demanda finalizou. Havia passado algumas horas naquele local, mas tudo estava finalmente concluído.

— Bem, acho que você trabalhou muito bem hoje. — Disse a mulher, me olhando orgulhosa, novamente com um sorriso no rosto.

— Obrigada pela noite. Até que foi divertido sair de casa um pouco. — Confessei. Raika havia ficado estranha desde a última missão e eu estava incomodada com isso. Aproveitei que estávamos todos na frente da loja para remover a touca de minha cabeça, soltando meus cabelos que caíram, pesadamente, em minhas costas.

— Que bom que gostou, querida. Irei te elogiar bastante na hora de relatar como foi sua missão conosco. Por ora, volte para casa em segurança. — Ela disse, me acenando com a mão esquerda.

Girei em meus calcanhares, pronta para ir, entretanto, Ayame me chamou novamente.

— Aliás, Terumi. Obrigada por resgatar Hikari ontem. Ela é minha sobrinha, estou muito grata que pude conhecer você. — A mulher continuava sorrindo, mas desta vez, seu rosto estava levemente úmido, pois até lágrimas tinham escorrido pelo canto dos olhos.

Eu não tive reação, tão pouco palavras para descrever o que sentia, mas ao olhá-la assim, em meu íntimo, fiquei feliz, pois era gratificante saber que alguns moradores em Konoha reconheciam meus feitos. Eu experimentava pela primeira vez o gosto do “reconhecimento” por ter escolhido ser uma ninja. Fui embora, em silêncio completo, mas com o peito aquecido pelo sentimento de bem-estar. Minha missão havia terminado.  

Considerações Finais: