—  A impulsividade sempre foi como um reflexo automático — algo que me arrastava antes mesmo de perceber que tinha dado o primeiro passo. Durante muito tempo, agir no calor do momento parecia necessário, como se a força bruta fosse a única resposta para manter o controle em meio ao caos. Mas essa necessidade já me custou tudo. Custou Ryo. Custou pedaços de mim que nunca mais vou encontrar.

Eu sei que não posso mais ser essa pessoa. Não porque quero mudar, mas porque não há outra escolha. Aquele impulso, aquela agressividade que antes me movia, não tem mais espaço aqui. Cada decisão impensada só me afunda mais, e, se continuar assim, não haverá nada no fim da linha — nem vingança, nem descanso. Apenas ruína.

Então, comecei a lutar contra mim mesma. No começo, é como sufocar um vício. Sinto a raiva fervendo no peito, pronta para explodir, mas forço minha mente a segurar. Um passo para trás, sempre. Conto as respirações até a vontade passar, mesmo que meus punhos fechem sozinhos e minha garganta arda com palavras que não posso dizer.

O processo é horrível. É como perder uma parte do corpo, como se algo vital estivesse sendo arrancado. Não sinto satisfação em resistir, só uma frustração amarga. Cada vez que seguro um impulso, parece que me torno menos humana, mais fria, mais distante. Mas, no fundo, entendo que essa frieza é o que preciso para sobreviver.

Certa vez, durante um treinamento, alguém me provocou. A velha Lil teria reagido na hora, cortando o problema pela raiz com aço ou fogo. Mas, desta vez, eu não me movi. Meu corpo inteiro gritou para atacar — uma adrenalina quase insuportável correndo pelas veias —, mas eu permaneci imóvel. Como uma estátua.

Não houve alívio quando passou.

Eu percebo que a impulsividade era uma corrente disfarçada de liberdade. Sempre achei que agir rápido era uma forma de controle, mas era o oposto. Era meu corpo controlando minha mente. Era uma fraqueza disfarçada de força. E agora, forço cada momento a passar sem reagir — não porque quero, mas porque não posso mais me dar ao luxo de ser escrava de mim mesma.

Com o tempo, a urgência começa a perder força. A raiva não some, mas não me comanda mais. Ela é uma cicatriz que dói, mas que não se abre novamente. Cada vez que resisto, sinto um pedaço daquela Lil impulsiva morrer um pouco mais. É como despir camadas antigas, uma a uma, até restar apenas o necessário. Não estou mais tentando vencer nada. Estou apenas me livrando.

Superar a impulsividade não é uma vitória, nem uma redenção. É um alívio amargo, como soltar um peso que carrego há anos sem perceber. No final, tudo o que sobra é silêncio. Não há espaço para orgulho ou celebração, apenas uma aceitação fria: esse é o caminho que escolhi.

Agora, quando a raiva ameaça me consumir, eu a deixo passar como um vento frio. Não é coragem. Não é evolução. É apenas o entendimento de que não posso mais falhar. Porque se falhar de novo, não sobrará nada.

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