Cidadela do Deserto

De volta à cidadela, Haku viu-se completamente absorto em um turbilhão de pensamentos. A tentativa de assassinado da qual havia se esquivado era um sinal preocupante. Mas, ao mesmo tempo, também uma janela de oportunidade para trazer mais à tona acerca daquele caso envolvendo o clã Hōki. Afinal, por mais que já soubessem do envolvimento do clã em atividades escusas, que ameaçavam a estabilidade de suna, provas ainda eram necessárias. Se a opinião pública ficasse demais contra a atual administração, ainda que de forma totalmente equivocada, o fato de ser certo ou errado não importaria tanto assim. E a chance de Sagishi conseguir subir ao poder se tornariam muito mais reais. Algo que seria péssimo, já que as chances dele estar relacionado aos laços de seu clã com os Akagi eram muito altas.


Com a intenção de colocar as ideias no lugar, Haku prontamente havia se dirigido à biblioteca da propriedade. Lá, ele puxou sua cadeira e, diante de sua escrivaninha, apoiou os cotovelos à mesa e cruzou os dedos à frente da boca em um semblante pensativo. Estava ansioso, mas graças aos treinamentos recentes, ainda conseguia manter plenamente a calma e pensar direito naquela situação.

Decidiu tomar algumas notas. Afinal, não queria esquecer nenhum dos detalhes do que havia visto. Ainda não tinha ideias de como proceder naquela investigação. Por isso, precisava de tempo. E, para o futuro, anotações eram necessárias para que não se esquecesse dos detalhes.

Enquanto isso, não pode deixar de pensar o quão silenciosa Nanabi estivera nos últimos tempos.

Palavras: 254

Cidadela do Deserto

Enquanto colocava algumas de suas ideias no papel, Haku perguntava-se o motivo de tanto silêncio. Ele e Nanabi não conversavam direito desde a ocasião em que resgatara aquele jovem genin com o Chakura Mōdo. E, considerando que ainda outro resgate havia acontecido recentemente, talvez pudesse haver um padrão nisso. De qualquer forma, Kin não queria incomodá-lo e, por isso, apenas continuou silenciosamente com seus afazeres.

Foi então que pode ouvir um suspiro pesado do fundo de sua mente.

"Certo, certo. Você venceu, Hakuryū" — prosseguiu em um tom cansado, como se finalmente tivesse cedido de algo.

Aparentemente, a sensação de que, mesmo com o trato de antes, Nanabi ainda desconfiava das suas palavras tinha algum fundo de verdade. Afinal, Kin não conseguia pensar em outra alternativa para explicar a certa sensação de falta de obstáculos no uso dos poderes da besta. O manto de chakra que havia aprendido tinha muitos benefícios. Todavia, também era bastante arriscado de se usar. Se o prolongasse demais, pelas suas estimativas, a besta acabaria por tomar todo o seu chakra, dominando seu corpo, saindo do controle e matando-o no processo. Um prospecto um tanto ruim para uma habilidade nascida após um trato de suposta colaboração. Todavia, Haku tinha sentido verdade na situação da colaboração e, por isso, não pode deixar de pensar se alguns fatores além do controle de Nanabi, como o modo que seu inconsciente se sentia em relação a Haku, não interferia no processo.

Palavras: 240

Cidadela do Deserto

"Vou acreditar na sua palavra daqui em diante" — a besta logo continuou, mudando o tom para algo menos cansado.

Haku elevou as sobrancelhas. Não sabia bem o que comentar naquele tipo de situação. Aquele tipo de habilidade não era o seu forte. Mas, de certa forma, tinha uma noção de qual era a questão que Nanabi havia enfrentado. Por vezes, fechar tratos não significava estar totalmente crente de que alguém o honraria. Principalmente quando o discurso da outra parte parecia surreal demais. E, considerando a opinião prévia que Nanabi tinha da humanidade — algo, de certa forma, compreensível — era de se esperar que ela não fosse confiar na palavra de um humano que fosse razoável com ela logo de cara.

"Huh… É?" — Surpreso e ligeiramente debochado, Haku prontamente indagou.

"Você não é tão ruim assim, mas não tente testar sua sorte" — levemente indignado, Nanabi retorquiu. — "Enfim, acho que começamos com o pé esquerdo…" — trocando para um tom mais sem graça, o sete-caudas continuou. — "Acho melhor recomeçarmos isso direito… A sorte de começar com o pé direito é sempre melhor" — após explicar-se pausadamente, a besta limpou a garganta por puro hábito. — "Pode me chamar de Chōmei, o número sete da sorte" — subitamente mais bem-humorado, a besta pronunciou finalmente o seu nome. — "Espero que possamos nos dar bem daqui em diante, Hakuryū" — ele finalizou, numa virada inesperada.

Quase boquiaberto, Haku demorou alguns instantes para responder. Não só porque não esperava que Chōmei pudesse ser alguém tão amigável, mas também porque tinha ouvido seu nome pela primeira vez.

Desde o começo fora uma diretriz sua tentar não se referir ao… "Colega de corpo" como uma besta, animal ou algo desumano. Não que a Bijū fosse de fato humana — e ela talvez nem gostasse de ser referida como algo do gênero —, entretanto para outros seres sencientes parecia ser o mínimo aquele tipo de tratamento. E, como desde o começo não tivera oportunidade de conhecer o nome dele, optou por esquivar-se de situações que pedissem o nome do que chamá-lo de “sete-caudas” ou algo do tipo. Mas, também, reconhecia que tudo isso poderia não ter passado de mais uma de suas neuroses.

"É um prazer, Chōmei-san. Igualmente espero que possamos nos dar bem daqui para frente" — na força do hábito, fez uma breve reverência com a cabeça, ainda que não tivesse ninguém conversando fisicamente com ele. — "Sou grato por poder contar com você daqui para frente. São tempos meio estranhos, sabe…" — transitando para uma expressão mais preocupada ao pensar em tudo que vinha acontecendo, envolvendo os Hōki e, até mesmo, a Bōryokudan, Haku acabou não conseguindo evitar fazê-lo.

"Não sou chamado de sortudo à toa" — recusando o tom desesperançoso, respondeu com bom humor. — "Não vai sobrar um" — ligeiramente convencido do seu poder, mas também jocoso, Chōmei completou.

Em resposta, Haku sorriu. Até então, a ideia de ter alguém com uma personalidade tão oposta à sua dentro de si o preocupava. Duvidava que pudesse se dar minimamente bem ou engrenar qualquer assunto que fosse. Não descartava a possibilidade de serem um pouco constrangedores juntos, mas percebeu estar passando a apreciar mais aquele tipo de presença. Talvez fosse adequado ter um contraponto aos seus receios.

Sentindo, então, que um laço muito mais estreito havia sido firmado entre os dois, Haku não pode deixar de pensar no Chakura Mōdo. Afinal, após aquela conversa, estranhamente sentia como se toda e qualquer dissonância tivesse simplesmente nunca existido.

Naturalmente, com certeza testaria ativar o manto mais tarde.

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