Hakuryuu Kinsetsu

Nos dias que se seguiram ao treinamento do Itojutsu, Haku continuou desenvolvendo ainda mais o preceitos básicos do estilo de luta. À altura em que se sentiu finalmente satisfeito, em muito havia avançado no uso dos fios de chakra que o Elo Espiritual com Nanabi havia conferido.

Apesar do bom panorama para o futuro, em meio aos treinos de desenvolvimento do ataque, defesa e, até mesmo, a cirurgia com fios de chakra, Haku acabou por encontrar algumas pistas um tanto preocupantes pelos arredores de sua propriedade.

Fora por acaso que captou um detalhe tão pequeno em uma cidadela tão grande. Porém, como um investigador experiente, bastou um relance para entender que alguém havia se esgueirado por aqueles muros.

E, então, mais consciencioso quanto à presença de alguém rondando a cidadela, Haku começou a pegar cada vez mais pistas de presença indesejada em sua casa. Sendo quem era, não demorou a correlacionar as localidades e as permanências estimadas com sua própria rotina. Estava óbvio que estavam lhe observando em sua própria casa. Todavia, ainda querendo que a mesa virasse, procurou parecer completamente alheio a esse fato.

Não era um simples ladrão. Do contrário, alguém já teria alertado quanto ao desaparecimento de alguns dos bens do Clã Sabaku. E, considerando que o sujeito apenas parecia observar a Haku, estava claro que se tratava de um assassino, espião ou ambos. Kin sabia que precisava tomar medidas quanto a isso, no entanto, também não queria perder sua vantagem do elemento surpresa. Queria que o inimigo achasse que ele não soubesse até o momento do xeque-mate. Foi então que uma batalha invisível começou entre ambos.

A certa altura, o sujeito sequer parecia se ater a espioná-lo nos perímetros da Cidadela do Deserto. Passou a até mesmo acompanhá-lo em seus afazeres no centro de suna. Aparentava ser um sujeito extremamente cauteloso. Certamente estava estudando o comportamento de Haku e todos os possíveis detalhes. Se era para encontrar o melhor momento para o bote fatal ou para relatar à alguém, no entanto, não tinha como saber.

Em contrapartida, Haku também tentava aprender ao máximo sobre o comportamento do sujeito misterioso com base nas pistas que ele deixava. Contudo, percebeu que, se quisesse realmente surpreendê-lo, sua capacidade de Encobrimento teria que melhorar muito mais. Afinal, nos planos dentre planos, nas rajadas invisíveis, que ambos os oponentes trocavam, estivesse o inimigo consciente disso ou não, Haku não demorou a perceber que o despistar era uma tarefa um tanto difícil.

Por isso, nos dias que se seguiram, Haku não fez nada a não ser tentar sutilmente praticar seu Encobrimento.

Começou com o trivial: pegadas. Praticou manter os passos leves, adaptando-se aos diversos tipos de solo e areia para deixar a marca mais sutil ou as ocultar da melhor forma que pudesse. Em dado momento, procurou a desenvolver até mesmo o hábito de caminhar diferente, deformando as marcas de seu calçado de formas diferentes em diferentes períodos.

Eventualmente, percebendo que as pistas do inimigo já não pareciam presentes em todos os locais por onde Kin passava em sua rotina, deu-se por satisfeito.

Em seguida, prosseguiu para melhorar suas capacidades de Encobrimento instantâneo. Deixando de focar tanto em apagar os sinais de sua estada em locais no passado, passou a focar em aprender a encobrir sua presença em locais no presente. Ou seja, prosseguiu para outra habilidade trivial: silenciar seus passos.

Sabia que nem sempre seu espião tinha linha de visão absolutamente limpa de sua posição. Entretanto, havia outros sentidos pelos quais, à distância, ele poderia se guiar e, assim, não perder o monitoramento de Haku em tempo real. O segundo sentido mais importante, após a visão, era a audição. Por isso, estava certo de que, mesmo quando fora de linha de visão, o espião tinha que se manter atento aos seus passos para determinar sua próxima localidade. Sendo assim, nos dias seguintes, Kinsetsu praticou e habituou-se a passadas mais leves e, consequentemente, menos ruidosas. Procurava manter-se sempre atento aos sons produzidos por si próprio. Foi tentando adaptar seus hábitos de caminhada para que cada vez menos pudesse ouvir a si próprio caminhando. Fez isso ao nível que não conseguisse mais se escutar e, então, pudesse adicionar esses hábitos junto aos demais hábitos envolvendo o encobrimento de pegadas.

Certo dia, finalmente percebeu que havia de fato detectado os dois melhores instrumentos de investigação do seu oponente desconhecido: os rastros e a audição. Por sorte, as capacidades de encobrimento do inimigo nem sequer se comparavam às de rastreamento de Kin. Por isso, não foi difícil determinar que, cada vez menos, Haku tinha o sujeito na sua cola.

Foi então que decidiu por seu plano em ação.

Saindo de casa de forma desavisada, finalmente se afrouxou um pouco das exigências autoimpostas no seu treino constante de encobrimento. Só o suficiente para garantir estar sendo seguido. Seguiu para o centro cidade e, então, começou a dar voltas pelas ruas de suna. Queria aparentar estar calmamente passeando, como costumeiramente fazia. No entanto, daquela vez, escolheria trajetos mais recursivos, voltando a pontos iniciais de tempos em tempos para ter certeza de que detectaria os rastros porcamente apagados do seu, àquela altura, admirador secreto.

Kinsetsu não pretendia facilitar e, por isso, o sujeito chegou a demorar alguns minutos para conseguir realmente acompanhá-lo. Porém, assim que Haku constatou sua presença, começou a se dirigir a ruas cada vez menos movimentadas.

Finalmente, então, decidiu aplicar tudo que havia treinado e aprendido naqueles últimos tempos. Avançou em direção a um beco e, então, tornou-se um fantasma ao encobrir seus rastos. Cautelosamente ocultando-se sobre um dos prédios nas cercanias do beco, silenciosamente aguardou que o espião aparecesse, vasculhando seus rastros.

Não demorou mais do que alguns minutos para que o sujeito mordesse a isca.

"Hōki…" — cerrando os olhos ao perceber o brilho do característico piercing em argola dos integrantes do clã, Kin praticamente resmungou mentalmente.

Fazia um tempo que estavam em silêncio. Todavia, fazia sentido que eventualmente enviassem um espião ou assassino em busca de Kin. Fora ele quem pessoalmente investigara o caso envolvendo o usuário de senninka no qual o clã estava cruelmente experimentando. Sendo Hakuryuu, possivelmente, o primeiro e principal perseguidor e infiltrador diretamente conectado ao Kazekage, era natural que quisessem eliminá-lo.

Porém, a mesa tinha efetivamente virado e o enviado do clã Hōki, pego no pulo.

Ao que Kinsetsu graciosamente pousou, em um salto do terraço, atrás do Hōki que vasculhava o beco em sua procura, os olhos do sujeito se arregalaram.

— Por que você só não se entrega, conta o que quero saber? — olhando-o de cima, Haku disparou com nítido tom de desprezo. — Ambos sabemos que você não tem como vencer essa luta. Do contrário, não gastaria dias a fio tentando estudar o melhor momento para me pegar de surpresa, não é? — prosseguiria, crescendo lentamente um sorriso maldoso.

Orgulhosos como nos rumores que já havia ouvido, Hakuryuu não demorou a perceber o ruído de resmungo vindo do Hōki. Para um major, aquela não era nenhuma dedução complexa. E o sujeito parecia um tanto inexperiente naquele tipo de missão. Mas, havia ficado claro que Haku havia realmente acertado precisamente a situação.

Era visível que o Hōki alternava desesperadamente a direção dos olhos em busca de uma rota de fuga. Entretanto, nem tudo estava sob controle do ninja mais experiente. Um som de trinco extremamente próximo foi ouvido por ambos e, em questão de segundos, uma garota desavisada deixou o prédio onde morava pela porta.

O Hōki não hesitou. Estando muito mais próximo dela, agarrou-a e levou a mão esticada em direção ao pescoço da vítima, fazendo fluir uma chakra azul bem conhecido por Haku. Como sabia na prática, o bisturi de chakra era uma técnica extremamente afiada. Bastava um movimento e a garota estaria morta.

Haku visivelmente fraquejou naquele momento.

— Entregue-se você, lixo, e quem sabe eu deixe essa aqui viver — o Hōki sorriu malignamente ao perceber o fato.

Não pretendia deixar a testemunha viva, obviamente. Contudo, conhecendo a reputação do Kintate, deveria supor que Haku não descartaria a vida de um civil tão facilmente.

Então, foi Haku quem se viu em um beco sem saída. Conhecia bem sua velocidade natural máxima e sabia que, àquela distância de ambos, não conseguiria impedir um movimento tão pequeno, quanto o de cortar uma garganta com o bisturi.

O inimigo era mais fraco, menos habilidoso, mas também mais rápido. Precisava de maior velocidade e percepção. E tinha a transformação perfeita para isso.

— Calma. Certo, mas não a machuque… — iniciou lentamente elevando as mãos para distraí-lo.

Ao que ele voltou o rosto para um dos vãos entre os prédios, preparando-se para fugir agarrado à jovem, o manto esbranquiçado do Chakura Mōdo brilhou e as escleras se enegreceram. Em um flash, Haku avançou. Da mão direita, os fios do Itojutsu enrolaram-se no braço emanando o bisturi de chakra, prendendo-o com solidez e impedindo que ele o movesse um milímetro sequer. Da mão esquerda, os fios dispararam contra o Hōki e, numa ironia, usando do conhecimento anatômico, perfuraram diversos dos seus pontos vitais.

Tamanha velocidade de reação de Haku naquele estado, o sujeito caiu sem vida antes que pudesse se dar conta. O Sayoku aproximou-se da garota, checando se ela não havia se ferido. Informou-a da necessidade de ir depor para as autoridades e, carregando o corpo do assassino sobre um dos ombros, foi junto da refém liberta até lá.

Desfeito o manto a certa altura do trajeto, ao que chegou lá, deu seu relatório detalhado, entregou o corpo e deixou a vítima sob cuidados dos demais ninjas.

Sentindo que suas capacidades de encobrimento haviam aumentado significativamente, e que tinha dado outro passo relevante no caso envolvendo o clã Hōki, Hakuryuu retornou satisfeito para casa.

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