Hatake Raiden

Com passos silenciosos e mãos cautelosas, a porta envelhecida rangeu levemente ao ser empurrada, em um sussurro metálico que ressoou pelo cômodo escuro. A hesitação contida entre o primeiro ranger e o movimento contínuo do segundo abriu espaço o bastante para que uma figura magra e ágil deslizasse para dentro. Fechando a porta devagar, o intruso suspirou, relaxando os ombros com a falsa impressão de ter conseguido se esgueirar despercebido.

Ao virar-se, no entanto, um susto seco o fez congelar. Sentado, como se fosse parte da escuridão, um homem grisalho aguardava, com a postura implacável de sempre, as mãos firmes sobre o cabo de uma espada de bambu. O olhar de Retsu refletia uma calma austera, mas não menos incisiva.

— O que estava fazendo? — A voz dele quebrou o silêncio, num tom plano, sem raiva, sem afeto, apenas o peso de uma pergunta que deixava clara sua indiferença às desculpas.

O jovem visitante, revelado agora como Raiden, abriu a boca, mas qualquer desculpa morreu antes de ser dita. Retsu, com um toque de espada contra o chão, interrompeu antes que a resposta surgisse.

— Não precisa me explicar, já sei o que anda tramando — afirmou, numa frieza calculada. — Tenho visto suas escapadas... e seus treinamentos com o raio. Não sou tão fácil de enganar quanto acredita.

Perplexo, Raiden ficou parado, absorvendo as palavras. A convicção de suas escapadas discretas desfazia-se com o peso da vigilância silenciosa do pai, que, afinal, o observava esse tempo todo.

— Às vezes, desejaria que fosse um pouco mais… paciente. Ou talvez, obediente.

O grisalho deixou as palavras fluírem, frias como aço. Elas cortaram o ar e pousaram entre eles como uma sombra. Raiden manteve-se impassível, o rosto mascarando qualquer indício de seus sentimentos, mas por dentro, uma pequena faísca de ironia brilhou. Obediente? Sentia que obedecia desde sempre, desde que era capaz de lembrar. Mas preferiu o silêncio, pois sabia que qualquer resposta apenas o envolveria ainda mais em um emaranhado de cobranças.

Sem outro aviso, Retsu estendeu a mão para algo sobre a mesa — um pergaminho, cuja superfície enrugada indicava algo que havia sido repassado. Num gesto rápido e controlado, o atirou na direção do filho, que, com um leve toque de cautela, o segurou. O albino lançou um olhar homem em sua frente, intrigado, mas encontrou apenas uma expressão impenetrável. Decidiu abrir o pergaminho lentamente, atento, desconfiado, como se o que estivesse dentro pudesse transformar tudo ao redor. À medida que lia, seus olhos se iluminaram com um brilho intenso.

— Leia — repetiu Retsu, a voz baixa mas firme, carregada. — E diga-me o que acha. Se for o que deseja, faremos agora.

A técnica contida naquilo era um dom raro: permitiria ao usuário condensar o poder dos raios em sua forma mais pura e escura, amplificando a força em um outro patamar. Uma marca — uma cicatriz de energia — seria colocada em seu ombro, tornando-o catalizador dessa habilidade única.

Retsu o observava, atento, a expressão séria, mas algo cintilava no fundo de seus olhos.

— Ainda acho cedo para isso — murmurou, mais para si mesmo do que para o filho. — Mas se esse é o seu caminho, que assim seja. Vou lhe passar a minha marca. Entenda que isso não será simples; será doloroso.

— Sim, senhor! — respondeu Raiden, a voz demonstrava claramente que não conseguia conter sua ansiedade, quase falhando em agudos.

O velho shinobi, com toda a sua dureza, compreendia que, mais do que restringir, precisava libertar o potencial de Raiden. Ele sabia que, se aquele garoto era como um raio, também era algo imenso, incontrolável e pronto para se expandir.

Como dito pelo homem, assim o fez. Marcou o ombro direito do garoto, onde a dor foi contida pela empolgação. Raiden não teve muitas dificuldades em destrinchar o poder, seja pelo seu lado prodígio ou até mesmo pela facilidade que continha agora com o controle seu chakra. De qualquer forma, ele tinha alcançado um novo nível em seu elemento.