O vento frio das montanhas de Iwagakure acariciava o rosto de Munashi enquanto ele permanecia imóvel sobre uma formação rochosa. As primeiras luzes da aurora tingiam o horizonte com tons de laranja e púrpura, e refletiam nos olhos brancos que encaravam o infinito. Abaixo, a vila despertava lentamente, mas Munashi buscava algo além das paisagens conhecidas.

As mãos calejadas repousavam sobre os joelhos, e a respiração profunda acompanhava o ritmo sereno do coração. Desde que recebera a máscara de pedra, símbolo da nova posição como Chūnin, uma inquietação sutil instalara-se em seu espírito. Havia superado desafios, enfrentado perigos mortais e emergido vitorioso, mas uma voz interna sussurrava que ainda não era suficiente.

"Tenho força e velocidade, mas isso não basta", refletiu, ao sentir o peso invisível das responsabilidades que agora carregava. Foi então que recordou-se dos confrontos recentes, das ameaças que quase escaparam por entre os dedos. A lembrança dos inimigos que não pôde deter completamente atiçava uma chama de determinação em seu peito.

Levantou-se com um movimento fluido. Os músculos responderam prontamente ao comando. Observou as próprias mãos, notou as cicatrizes e a potência que continham. Contudo, faltava algo. A letalidade precisa que poderia fazer a diferença entre a vitória e a derrota ou, até mesmo, entre a vida e a morte de seus companheiros.

"Conheça a si mesmo e conhecerá o inimigo", pensou, ao recordar as palavras de Hana, a ninja médica que tanto o auxiliara. Assim, decidiu, naquele momento, que aprofundaria seu entendimento sobre a anatomia humana. Não bastava apenas golpear forte; era necessário golpear de forma eficaz.

Com essa resolução, desceu da montanha com passos firmes,  e dirigiu-se à biblioteca de Iwagakure. O edifício erguia-se imponente, feito da mesma pedra que compunha a essência da vila. Ao adentrar o salão principal, o aroma de pergaminhos antigos e livros encadernados envolveu-no. As prateleiras altas guardavam séculos de conhecimento, e Munashi sentiu-se pequeno diante da vastidão que ali se apresentava.

Escolheu alguns volumes sobre anatomia e técnicas de combate avançadas, e sentou-se próximo a uma janela, onde a luz natural facilitava a leitura. As páginas estavam repletas de ilustrações detalhadas, termos complexos e descrições minuciosas. Franziu a testa ao tentar decifrar os conceitos; a compreensão escapava como areia entre os dedos.

Horas transformaram-se em dias, e dias em semanas. Mantinha uma rotina rigorosa: treinamentos físicos ao amanhecer, seguidos de longas sessões de estudo. Muitas vezes, era o último a deixar a biblioteca, com olhos cansados e a mente saturada. As palavras tremiam diante dos olhos brancos, mas a determinação impedia que desistisse.

Em uma dessas noites silenciosas, enquanto a lua cheia iluminava as ruas de pedra, Munashi saiu da biblioteca com um livro pesado nos braços. Sentou-se na escadaria e observou as estrelas.

"Se puder entender como o corpo funciona, poderei protegê-los melhor", murmurou, ao pensar em Tama e Ura. Uma brisa suave trouxe consigo o som distante de risos infantis. Lembrou-se dos tempos no circo, das adversidades superadas e das promessas que fizera. Fechou os olhos por um momento, como se para permitir que a nostalgia fortalecesse sua resolução.

No dia seguinte, procurou Hana no hospital. Pediu orientação sobre os pontos vitais, sobre como a medicina poderia complementar suas habilidades em combate. Surpresa com o pedido, mas vendo a sinceridade em seu olhar, ela concordou em auxiliá-lo. As sessões com Hana abriram novas perspectivas, e, aos poucos, os mistérios do corpo humano começaram a se revelar.

"Não é sobre ferir ou ser Letal, Munashi, é mais sobre compreender a complexidade do corpo humano", explicou ela, ao desdobrar um diagrama muscular. Munashi absorvia cada informação, mesmo que com dificuldade. Esforçava-se para memorizar os nomes, as funções, as interações entre os sistemas. Sua mente, antes voltada apenas para a força bruta, expandia-se para novas formas de conhecimento.

Os meses passaram depressa. A combinação de estudo e prática começou a dar frutos. Durante os treinamentos, aplicava os conceitos aprendidos, e notava a eficácia de golpes direcionados a articulações e nervos específicos. Notava como pequenos ajustes na posição das mãos ou na força aplicada resultavam em impactos significativos.

Certa manhã, durante um exercício com outros Chūnins, conseguiu desarmar um oponente com um movimento  discreto e preciso, ao atingir um ponto estratégico no antebraço. O colega recuou, surpreso com a técnica.

"Onde aprendeu isso?", perguntou o companheiro, massageando o local atingido.

Munashi esboçou um leve sorriso. "A pedra esconde mais do que aparenta", respondeu, enigmático.

Ao cair da noite, retornou ao topo da montanha onde tudo começara. Sentiu o vento frio novamente, mas, desta vez, uma sensação de completude o preenchia.

"Minha força não está apenas nos músculos, mas também na minha capacidade de aprendizado", pensou, com os punhos cerrados.

Munashi: HP [1025|1025]; CK [1400|1400]; [16m/s de 18m/s]; [00|08];

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