Não tardou para mais um dia começar a terminar. Estava anoitecendo rápido, contudo ainda era tempo de pôr em prática algumas tarefas. Brum havia sido designado para uma atividade naquela data e, portanto, não poderia se atrasar para aquela que seria sua primeira missão oficial. Com um bilhete em mãos, seus olhos castanhos aveludados passavam linha após linha, relendo suas instruções. Ela faria uma espécie de ronda noturna nos arredores do vilarejo, buscando encontrar qualquer anormalidade. - Bom, espero que tudo corra bem. - Disse a jovem, ao sair de casa.

Trajava suas roupas ninja costumeiras. Uma jaqueta preta, assim como sua calça e sandálias. O protetor com o símbolo da pedra em sua testa brilhava, refletindo as luzes dos comércios que começavam a aquecer com seu movimento noturno. Era tudo muito lindo, mas não havia tempo para observar alguma coisa por muito tempo. Estava a serviço de sua vila e faria o possível para executar bem suas atividades. - “Poxa. Bem que eu poderia ter saído depois do jantar para essa missão. Uma pena estar com tanta pressa, pois com toda certeza esses doces devem ser uma delícia.” - Ela refletia assim que notou a barraquinha de bolinhos açucarados. Enfim, continuou andando, despreocupada e sempre analisando suas passagens em cada esquina ou beco por onde passava. Estava uma noite deveras agradável em seu vilarejo e, assim como o tempo, seu humor estava muito bom. Naomi estava feliz por finalmente estar fazendo algo e contribuindo para seu vilarejo e, além disso, estava curiosa se seus pais notariam sua ausência quando chegassem em casa após suas respectivas tarefas em suas missões. Ambos eram ninjas de patente alta dentro do corpo da vila, mas a jovem pouco sabia de suas rotinas, uma vez que sempre foram negadas essas informações a respeito deles.

Alguns minutos se passaram desde o início de sua patrulha começou. Naquele momento, Brum não estava mais no centro comercial de sua vila, pois havia chegado às zonas periféricas da cidade, conforme suas instruções.  Não demorou muito para que seus olhos encontrassem outras pessoas, todas elas, com roupas semelhantes às suas, inclusive suas bandanas, simbolizando que eram “aliados da pedra”. Todos eram ninjas de patentes próximas à da Genin e Chunin, pois podia ver claramente que os grupos possuíam rostos familiares aos seus ex-colegas de academia ninja. - “Até aqui eles me olham com desprezo e com ar de superioridade!” - Ela relutou em acreditar no que testemunhava. Era nítido ver que eles conversavam em tom de voz baixo, para que essa não pudesse ouvir e, ainda por cima, alguns cobriam os lábios com as mãos para que, mesmo à luz do luar, ela não pudesse deduzir o que comentavam antes de cair na risada.  - Idiotas! - Bradou irritada. Naquele momento, seu semblante leve mudou para uma expressão de ira e decepção. Era óbvio que riam dela, pois era a única que chegava sozinha e sem nenhum time para executar uma missão.  - “A garota é tão ruim que teve que ser posta em missões sozinha, pois ninguém a quer por perto em um time.” - Citou um rapaz de aproximadamente 14 anos. Era mais velho, mais forte e com certeza da turma anterior à da garota. - Pelo contrário! Eu… Eu sou tão boa que me designaram essa tarefa sozinha, pois sou capaz de lidar com uma área maior. - Ela inflou as bochechas ao dizer tal afirmação. Por dentro, estava muito triste, mas não queria dar o braço a torcer quanto aos comentários maldosos que logo cessaram repentinamente. Sem ao menos pestanejar, o grupo composto por três garotos deu as costas a ela. Não demorou para que estes saíssem, gargalhando e ainda falando entre eles sobre o quanto ela era fracassada por acreditar que aquelas palavras fariam algum sentido. Novamente, ela estava sozinha.

Seu caminhar também começou lentamente, em direção oposta à dos três. O rosto furioso estava firme em sua proposta de não transparecer suas mágoas, embora seu coração estivesse arrasado. Assim que se afastou o suficiente, certificou-se de que estava realmente sozinha, olhando ao redor. Rochas, arbustos e muita pedra de todos os tamanhos e formas, mas felizmente nenhum garoto. - Um dia eles vão querer ser meus amigos. E eu juro que vou dizer que eles não são bons o suficiente para isso. - Naquela altura, falar sozinha era a menor de suas preocupações. Dada a dificuldade em se manter sem chorar. Respirou fundo, engoliu qualquer vestígio de tristeza e começou a verificar sua área, que por sorte era menor. Algumas estacas com bandeiras de coloração azul simbolizam onde era a área de sua ronda, enquanto outras bandeiras delimitaram o espaço de outros times. Fez esse percurso algumas vezes, indo e vindo, levando consigo um cuidado maior que o habitual, para não ter o infortúnio de topar novamente com o time anterior.

Cerca de duas horas se passaram e a escuridão estava mais intensa do que antes, mas não havia qualquer alteração quanto à segurança da vila. Fez o caminho de volta ao centro da vila, agora menos habitado e iluminado pelas lojas, como antes. Tudo caminhava para que o fim do seu expediente fosse tranquilo, então apenas foi para o gabinete para elaborar seu relatório sobre a missão, o que não demorou muito, pois não houve qualquer incidente, fora o outro time lhe confrontar, mas isso ela não mencionaria. Depois de elaborar seu boletim, ela entregaria aos responsáveis e dali partiria para casa, onde tentaria descansar para um novo dia.

Considerações Finais:

Mais uma vez, era uma noite de verão muito agradável. O céu estava estrelado e o movimento de pessoas indo e vindo no centro comercial era abundante. Brum estava andando sozinha, com suas roupas habituais de ninja e o cabelo solto esvoaçando com uma leve brisa fresca. Não era uma caminhada comum usada para espairecer, mas sim uma ida até a academia de Iwagakure, para realizar uma missão entregue naquele mesmo dia, mais cedo. Seus passos eram rápidos, uma vez que teria que correr para aprontar toda a organização das salas das quais foi designada a cuidar. Em um pergaminho lido mais cedo, citavam que havia uma separação de salas designadas em blocos A, B e C, onde cada bloco era subdividido em 1, 2, 3 e 4.  Para seu azar, a mesma havia ficado com o bloco C, sessão 4, sendo esta área composta por uma sala do terceiro andar, longe de tudo mais, e a maior de todas, pois comportava a reunião de várias turmas simultaneamente.

Pouco mais de alguns minutos se passaram e logo estava diante do pátio do colégio que outrora já havia pertencido como aluna. Seus olhos percorriam, sem qualquer nostalgia, os muros, as janelas e quaisquer que fossem os objetos que passavam diante dela ao adentrar nas dependências do bloco A1. Ela não morria de saudades de sua estadia ali, pelo contrário, odiava lembrar que, durante muito tempo, frequentou aquele local à força e passou por poucas e boas nas mãos de outros alunos valentões. Não demoraria para que ela dobrasse alguns corredores e conseguisse ver que alguns genins estavam realizando a mesma tarefa que ela, e mais uma vez, nitidamente, todos estavam em equipes com três integrantes. - “Até quando eu vou ficar sozinha? Se eu não mereço uma equipe, talvez eu devesse desistir de ser uma ninja.” - Pensava consigo mesmo, lembrando da última missão na qual encontrou ex-colegas maldosos. Quando começou a subir as escadas, rumo ao último andar, se deparou com um corredor escuro, com ar bem sombrio. Do nada, mãos pálidas e geladas envolveram seu rosto, cobrindo os olhos da Uchiha de repente, tampando sua visão. Antes que pudesse reagir, uma voz doce e familiar sussurrava em seu ouvido direito. - Você sempre fica pensando no pior quando está sozinha, Brum-chan. - A voz se afastou, soltando lentamente o rosto da garota de cabelos castanhos. - Anda, me diz. Com qual bloco você ficou para organizar? - Questionou com um sorriso no rosto. Era sua amiga de infância, Riko Ayame.

Ambas estavam entre os blocos B3 e C1, já nas escadas para o último andar. A caçula dos Naomi deu um pulo de susto, quase caindo para trás, mas ao ouvir a voz doce de sua amiga, ela relaxou. - Caramba! Mais que susto! Por que não me avisou que estava aí? Sabe que eu não enxergo bem no escuro. - Ironizou. - Bem, eu fiquei com o bloco C4 e você? - Questionou olhando para a jovem. A pouca luz naquele momento poderia ser o suficiente apenas para ver que Ayame estava levemente sem jeito. - Eu fiquei com o C3, mas nós já terminamos. Minha equipe e eu terminamos há alguns minutos e a organização não durou muito, pois um de nós é capaz de realizar clones de estilo Doton. Eu não esperava que viesse para cá, mas já que estou aqui, que tal eu te ajudar a limpar seu bloco? - Deu um peteleco gentil na testa da Uchiha. Suas intenções eram boas, como sempre foram, graças à amizade das duas. - Ah. O seu time está aqui? Eles vão pegar no seu pé por me ajudar. O meu está vindo já, já. Eles vão ficar irritados comigo se eu deixar uma pessoa de fora interferir no nosso trabalho. Portanto, vá descansar, Ayame. Prometo que amanhã vamos nos encontrar na sua casa… - Mentiu. - Sabe que não consegue mentir para mim. Está decidido, eu irei ajudar, quer você queira ou não. Vamos! Não temos a noite toda. - Empurrou gentilmente a amiga para incentivá-la a andar. Ambas foram seguindo em direção ao local da tarefa de Brum.

Assim que começaram a andar, nenhuma das duas falou sequer uma palavra. Brum estava envergonhada, mais uma vez, por tentar esconder sua frustração em ser sempre a largada para trás, se sentia ainda mais culpada por mentir e ter que fazer sua amiga trabalhar dobrado a troco de nada. Por sua vez, Ayame mantinha-se em silêncio para deixar que a amiga se sentisse à vontade e colocasse para fora seus sentimentos. Para ela, não era um fardo, mas sim um prazer ficar com a ruiva. Não demorou muito para que as duas chegassem ao bloco, havia uma única sala, escura, cheirando a poeira e repleta de carteiras quebradas e desgastadas. Sobre a mesa, onde possivelmente o professor usaria para guardar seus pertences e livros, estava um martelo e alguns pregos, para o reparo de qualquer que fosse o objeto destruído naquele grande cômodo. A jovem Naomi começou a realizar a limpeza das estruturas superiores, com um espanador, enquanto sua melhor amiga arrastava as cadeiras e carteiras que precisassem de reparos. O silêncio era interrompido inúmeras vezes, na maioria das vezes, por espirros de Brum, graças ao pó, ou pelas risadas de Ayame toda vez que notava que sua querida amiga estava correndo de uma teia de aranhas aos berros. - Por que você me ajuda desde sempre sabendo que eu sou um estorvo? - A mente da Genin formulava aquela pergunta a Riko. Do nada, finalmente um diálogo voltava a ocorrer. - Porque somos amigas. - Respondeu, batendo alguns pregos com o martelo. - E por que somos amigas? - Olhou por cima de seu ombro, buscando contato visual com a outra. - Não importa o que eu responda. Você nunca vai ver o seu real valor. Seus olhos, bem… Desde o primeiro dia eu pude ver neles, algo que nunca vi em ninguém. Você pode tentar mentir para mim, mas os seus sentimentos dizem que você sofre porque se acha inferior a todos. Você não é! Você só precisa enxergar o mundo de maneira mais leve. - Sorriu, trocando a cadeira que acabou de restaurar por uma nova, ainda aguardando reparos.

O diálogo não continuou depois dali em diante. Marteladas, espirros e muitos sons de arrastar objetos de um lado para o outro, simbolizam que estavam trabalhando duro até tarde. Os olhos da Genin de cabelos ruivos ardiam com o pó, mas logo isso parou. Horas se passaram e finalmente aquele bloco estava limpo, graças ao trabalho das duas. Se Brum fizesse a limpeza sozinha, com toda certeza, não teria conseguido metade do progresso que teve, fazendo a tarefa com sua preciosa amiga. As duas foram embora dali em seguida, rumo ao quartel-general, cada uma para relatar suas missões como concluídas. Quando terminaram de escrever, foram saindo lentamente, até que Brum quebrou o silêncio mais uma vez. - Obrigada. - Disse, olhando para frente enquanto andava. - Me deve um almoço, ok? Agora vê se não chora indo para casa. - Gargalhou Ayame. As duas riram, cada uma à sua maneira, sendo Brum a mais tímida entre elas. Cada um foi para sua casa e descansariam para novas missões futuramente, quem sabe, juntas oficialmente.

Considerações Finais:

O dia estava raiando na vila da Pedra. O calor e uma brisa gélida em seu rosto faziam sua pele clara e macia arder, mas logo ela se acostumou com a sensação, pois já não era seu primeiro outono naquele país. Seus pés calçavam sua sandália habitual, de cor preta e solado antiderrapante. Suas vestes também eram as mesmas de sempre, sem muito destaque, mas parte de seu uniforme ninja. Uma de suas ambições pessoais era que, no futuro, pudesse fazer as próprias roupas para fazer suas missões com estilo, mas como não conseguia, se contentaria como estava. Ela andava em direção aos portões de sua vila, para encontrar duas pessoas, Yan e Kazu, ninjas mensageiros que deveriam levar a Konoha alguma mensagem do Tsuchikage diretamente para o líder da folha. A jovem Naori, estava encarregada de os escoltar e proteger, caso fosse necessário, porém, em seu íntimo, estava na torcida para que não fosse preciso entrar em batalhas. Quando chegou aos portões principais, encontrou duas pessoas. Um homem e uma mulher, cuja descrição física batia com as informações do pergaminho da missão. A mulher, uma jovem linda e delicada, estava com roupas normais e não aparentava ser uma ninja, embora fosse. O rapaz, era um homem forte e muito parecido com a garota, pareciam até irmãos. Curiosa, a garota de cabelos avermelhados foi ao encontro do casal, buscando se aproximar amigavelmente. - Bom dia. Vocês são Yan e Kazu? - Perguntou, timidamente. - Sim, somos nós. Me chamo Kazu e esta é a Yan. Somos irmãos e estamos na mesma missão, afinal de contas. - Disse o homem, sorridente. Ele era mais alto do que Brum poderia imaginar, uma vez que chegou próximo o suficiente deste. A jovem Yan sorriu graciosamente, abrindo um leque com flores de cerejeiras entalhadas em sua superfície. Não demorou muito para que o trio começasse a se preparar, sem muito diálogo, e partisse em silêncio portão afora, buscando ganhar terreno antes que ficasse tarde. A jovem Brum, seguindo os dois de perto, estava sempre atenta a qualquer movimentação suspeita em volta. Os dois conversavam e riam naturalmente, como se nada estivesse acontecendo. O rapaz carregava uma bolsa pequena, como se carregasse apenas alguns pertences pessoais, como roupas e petiscos, enquanto a moça carregava um pergaminho de seda enorme preso às costas. Era sem sombra de dúvidas uma dupla muito comum, mal pareciam  mensageiros em função da vila. A jovem Naomi estava curiosa. - Posso fazer uma pergunta a vocês dois? - Disse, olhando para trás enquanto mantinha a guarda.

O casal de ninjas estava logo à frente e dessa vez, foi a mulher que respondeu à jovem kunoichi. - Pode fazer, querida. - Sorriu. A genin não sabia como reagir ao sorriso gentil, portanto optou por ser mais direta. - Por que vocês estão tão tranquilos em uma missão? É algo muito importante… Essa mensag… - De repente, Kazu surgiu repentinamente atrás da garota, cobrindo-lhe a boca delicadamente com uma de suas mãos. Ele não queria fazer mal à menina, mas tinha que silenciá-la, antes que ela mencionasse o porquê de estarem ali. - Desculpe por isso, não quis te assustar, mas não queria que você revelasse nosso segredo assim, sem cautela. Você é uma jovem cheia de potencial, mas tem que entender que talvez, não estejamos sozinhos de fato. Yan…? - Kazu a soltou suavemente, permitindo que esta pudesse recobrar a fala. A mulher abriu o leque novamente num gesto brusco, quebrando o silêncio que perdurou alguns instantes. Logo ela começou a falar. - Fiquem calmos, estamos sozinhos. Não consigo sentir nenhuma presença além de nós. Enfim, Brum… Somos ninjas. Eu sou especialista em rastreamento e localização por chakra, e meu irmão é especialista em furtividade e assassinatos. Estamos disfarçados como pequenos comerciantes indo fazer uma viagem, o fato de contratarmos uma missão de nível D e escolhermos uma genin, é apenas para não chamar a atenção. - Concluiu, dando um riso baixinho.

Conforme era explicado o real motivo de sua escolha para a missão, Brum não se surpreenderia pelo fato de ser selecionada por sua baixa patente na vila, pois, de certo modo, tudo que os ninjas falaram fazia muito sentido. Os olhos da garota, entretanto, reviraram-se de nervosismo, uma vez que se sentia mais uma vez sendo menosprezada pelos superiores responsáveis por selecioná-la a uma missão. Os três ninjas partiram dali em diante, seguindo o caminho tranquilamente. Yan tentava dar a Brum, alguns conselhos femininos, como kunoichi, mas esta jovem estava irritada o suficiente para sequer dar muita atenção. Não demorou muito para que algumas horas se passassem e a caminhada finalmente os colocaria exatamente no ponto de encontro com a outra equipe.  Assim que chegaram, alguns ninjas saíram de seus esconderijos, desta vez, ninjas com patente elevada. Dali em diante, a genin não poderia mais ser útil, pois já não estaria em terras conhecidas, portanto sua tarefa de escolta estava por fim finalizada. - Não fique triste, Brum. Um dia você será capaz de percorrer o mundo em missões incríveis, aproveite os momentos para desenvolver-se ainda mais e aprimorar, logo estaremos em um time, como ninjas da pedra. - Incentivou, enquanto abanava o leque. Brum sorriu de canto, mas ainda parecia frustrada com o fato de ser deixada para trás dali em diante. Entretanto, assim que virou de costas para o grupo, pode ver que todos desapareceram. Para a jovem Uchiha, sua missão estava quase concluída, uma vez que deveria apenas retornar para o quartel-general, mas para Kazu e Yan, a missão deles estava, de fato, apenas começando. A caçula dos Naori retornou à vila e emitiu seu relatório sobre a escolta até os arredores da vila da pedra, sua missão havia acabado de fato.

Considerações Finais: