A confortável cama à qual estava já habituada a dormir foi realmente um alívio após tanto tempo de viagem. Hibiki insistiu em se enrolar em meu braço com a intenção de me acordar, mas após dias tão cansativos, estava exausta e apenas queria continuar um pouco mais de tempo na cama. Talvez o sol já estivesse no ápice de sua trajetória, mas naquele momento, meu único incômodo era com o seu calor. — Que saudade do frio de Kirigakure… — Resmunguei mentalmente, rolando no colchão à procura de alguma parte que não houvesse sido consumida pelas altas temperaturas, me frustrando com a tentativa falha não muito depois.

Okay, hora de recuperar o tempo perdido. — Buscava ânimo ou motivação para me esforçar naquele desconforto térmico tão acentuado, pensando que talvez, se fosse um pouco mais forte, poderiam me convocar para mais missões eventualmente. Mais missões me tornariam mais forte em pouco tempo, então era algo digno de se ansiar. Cumprirei meu papel como uma kunoichi dessa vila, mesmo que isso significasse suar meu corpo ainda mais do que o grande astro no céu já o faria.

Busquei apenas iniciar todo aquele sofrimento com exercícios simples de alongamento, vestindo roupas mais confortáveis e me dirigindo ao salão mais indicado para o treinamento. Descalça no tatami, senti as fibras do material após algum tempo, me lembrando como era agradável me deitar sobre ele durante as tardes quentes da infância, comendo mikans com minha querida avó e observando as flores que desabrochavam no jardim. — Tempos que não voltam mais, não é? — Murmurei para os quatro ventos, sentindo uma pequena brisa que me acompanharia durante aquele momento.

Após esticar os ligamentos e dobrar o corpo para soltar toda a tensão, comecei com exercícios simples de aumento muscular, algumas técnicas simples que havia visto na academia. Sequências de abdominais foram o desafio inicial, com séries de cinco, buscando apenas parar quando houvesse a falha. Talvez estivesse muito confiante em minha capacidade física, pois três séries foram o suficiente para que a falha viesse. — O sedentarismo é realmente complicado. — Talvez fosse melhor respirar um pouco e esperar as forças retornarem, mas ao invés disso, virei minhas costas para o teto, apoiando meu corpo nos cotovelos. — Acho que isso é… o que chamam de prancha. — Já sem muito fôlego, veria até quando estava disposta a me manter naquela posição.

Não fui capaz de cronometrar o tempo com exatidão, já que quando você se encontra nessa postura, tudo parece correr mais lentamente. Também não sabia por quanto tempo havia passado deitada no chão, ofegante, mas como ainda me restava algum tempo até o almoço, passei minhas horas restantes levantando peso. As anilhas disponíveis não eram das mais pesadas, mas fariam diferença no fim.

Deitada sobre o tatame elevado, para não manchar o piso com meu suor, erguia sem parar a barra de ferro com pesos razoavelmente pesados. Talvez aquele período de treinamento houvesse sido um pouco mais longo do que esperava, ou talvez simplesmente possuísse a capacidade de evoluir mais rápido por não possuir qualquer capacidade. A pior parte é sempre encaixar a barra de volta ao seu lugar sem deixá-la escapar, o que sem a visão, se tornava uma aposta arriscada. A respiração regulada e relativa tranquilidade em continuar com a musculação provou que talvez fosse hora de mudar a rotina de treino. — É hora do…

Jovem mestra, já é hora do almoço. — Informou a criada encarregada daquele dia, interrompendo meu raciocínio e concentração com facilidade. Talvez não o susto por sua aparição repentina, mas a fome fosse a real culpada. De qualquer forma, não perdi tempo e me dirigi à cozinha para reabastecer o estômago. Durante algumas horas, aguardaria o decair do sol para prosseguir meu treinamento, uma vez que a segunda parte seria realizada ao lado de fora.

Com o corpo aquecido, alongado e hidratado, comida devidamente digerida e muita força de vontade e disposição, saí de casa com a companhia de Hibiki, largando a bengala de lado após muito tempo. Não busquei apenas acelerar o corpo ao máximo como alguém capaz de ver faria, mas tentei obedecer aos comandos da serpente com agilidade o suficiente para não tropeçar ou colidir com nada. No início foi difícil, claro, mas fiz questão de não ir rápido o suficiente para me machucar.

Os comandos do ofídio se tornavam cada vez mais claros para mim, tornando possível realizar manobras e esquivar de obstáculos que antes seriam impossíveis até mesmo para a Sawako dotada da visão. Talvez apenas desviar e treinar meus reflexos não fossem ser o bastante em uma disputa de velocidade, então me dirigi ao lugar mais deserto que conhecia, o campo de treinamento.

Em um local onde apenas vegetação cerca até onde a vista alcança, teria espaço o suficiente para acelerar sem me preocupar em bater. O fôlego foi testado ao limite, conforme puxei ar para os pulmões e disparei como uma flecha, atravessando o local com a velocidade de uma tartaruga manca. Talvez o tempo fosse tudo que possuísse naquele momento, então faria questão de aproveitá-lo. Senti a brisa gélida se aproximando cada vez mais, sem a certeza de que a noite chegaria sem que houvesse notado ou um temporal se aproximava sorrateiramente. — A senhorita está indo muito bem. Está mais rápida do que antes. — Celebrou a serpente, admirando a vista de meu pescoço, enquanto os ventos cada vez mais fortes se chocavam contra nossos corpos. Sem dúvida, a tartaruga recuperou as suas pernas.