Alguns dias se passaram desde o confronto na caverna, e Biskka já conseguia se mover melhor. A recuperação não fora fácil, e as faixas ainda cobriam algumas partes de seu corpo, lembrando-a das feridas que, apesar de cicatrizadas, deixavam marcas. A dor estava mais branda, uma pontada incômoda que ela podia ignorar com esforço. Mesmo assim, sua mente não permitia descanso completo. A batalha havia revelado fraquezas, lacunas em suas habilidades que ela precisava corrigir. Por isso, tão logo conseguiu ficar em pé sem vacilar, Biskka decidiu retomar os treinos. Desta vez, porém, ela se desafiaria de uma maneira diferente. A área escolhida para o treino era um campo isolado, longe da vila e de olhares curiosos. As rochas ásperas e a vegetação escassa ofereciam um cenário perfeito para a concentração total. O sol de Sunagakure castigava a paisagem com seu calor implacável, mas para Biskka, aquilo era quase reconfortante. As ondas de calor que dançavam no horizonte combinavam com o chakra fervente de seu próprio corpo, e a sensação de familiaridade a ajudava a focar.

Respirou fundo, sentindo o ar seco preencher seus pulmões, e ergueu a mão direita, a palma voltada para cima. As bandagens ainda cobriam boa parte de seus dedos e pulso, mas não a impediriam. Desta vez, ela queria algo específico. O objetivo era simples: dominar a execução de selos de mão com apenas uma das mãos. A ideia vinha a martelando desde o confronto, quando perceber que uma única técnica realizada no tempo certo poderia ter virado o jogo a seu favor. Mas ela havia hesitado, limitada pela necessidade de usar ambas as mãos. Ela sabia que shinobis experientes conseguiam manipular chakra e realizar técnicas com uma só mão, um feito que exigia controle e precisão extremos. Essa habilidade poderia lhe garantir uma vantagem significativa em combate, e era nisso que se focaria nos próximos dias, semanas, meses, o tempo que fosse necessário. Sem perder tempo, concentrou-se em acalmar a respiração e estabilizar o fluxo de chakra em seu corpo. Começou com movimentos lentos e calculados, lembrando os selos de mão básicos que havia aprendido na infância. “Bode, Cobra, Macaco, Pássaro…” recitava mentalmente enquanto seus dedos formavam os sinais. Com as duas mãos, aquilo seria automático, quase sem pensar. Mas com apenas uma, sentia cada falha, cada tremor.

A primeira tentativa de executar o selo do Bode com a mão direita a fez hesitar. Seus dedos se encontraram de maneira desajeitada, e o chakra, que deveria fluir com facilidade, oscilou como uma chama vacilante. Um leve formigamento percorreu seu braço, e o chakra escapou de seu controle, dispersando-se em uma onda inofensiva que dissipou no ar quente. Frustrada, fechou o punho e apertou os olhos. As falhas iniciais eram esperadas, mas irritavam mesmo assim. Respirou fundo novamente, acalmando o próprio temperamento. Precisava de paciência. Se deixasse que a frustração tomasse conta, estaria fadada a repetir os mesmos erros. O sol continuava a subir no céu, lançando sombras curtas sobre o campo. O calor se intensificava, fazendo as faixas em seu corpo grudarem ainda mais em sua pele suada. O tempo parecia passar devagar enquanto Biskka repetia os movimentos, sempre corrigindo pequenos desvios e ajustando a postura de seus dedos.

Depois de incontáveis tentativas, ela finalmente sentiu algo mudar. O chakra fluía de maneira mais estável, e a sensação de desequilíbrio que a incomodava estava desaparecendo aos poucos. Ela tentou novamente o selo do Bode, moldando a energia com precisão. Uma pequena centelha de calor surgiu em sua mão, envolvendo-a como uma chama bruxuleante. Não era uma técnica completa, apenas um vestígio de energia, mas era o suficiente para mostrar que estava no caminho certo.

— Concentre-se... — murmurou para si mesma, os olhos semicerrados em determinação.

Agora, tentaria algo mais complexo. Inclinou levemente a cabeça para um lado, e a mão livre fez um movimento sutil, como se estivesse organizando um pensamento invisível. Em seguida, começou a formar uma sequência de selos com a mão dominante, mais rápida e precisa do que antes: Pássaro, Tigre, Rato… Com um estalo, completou o último movimento e canalizou o chakra em um ponto específico à sua frente. Uma pequena esfera de fogo, nada mais do que um brilho incandescente, surgiu no ar a poucos metros dela. O calor irradiava da esfera, distorcendo levemente a visão ao redor. A kunoichi de Suna encarou a chama, o peito arfando com o esforço, mas com uma expressão de triunfo. Um sorriso leve e cansado curvou seus lábios. Não era nada comparado a uma técnica completa de Katon, mas o fato de conseguir produzir algo com apenas uma mão significava que estava progredindo. Passos pequenos, mas essenciais. Sentiu os músculos da mão tremerem e os dedos quase cederem ao cansaço. A dor ainda latejava sob as bandagens, mas ela ignorou. Continuaria. Mais selos, mais chakra, mais controle. O treinamento seria árduo, mas cada gota de suor derramado ali valeria a pena quando, no futuro, ela pudesse executar suas técnicas sem sequer pensar, moldando o próprio chakra com a mesma naturalidade com que respirava.

Considerações: