Biskka entrou na sala com passos decididos, acompanhada de Kami, a Chunin experiente que sempre foi sua parceira de treinos e missões. Ao seu lado, um outro Genin que ela ainda não conhecia parecia igualmente ansioso, porém mais reservado. Seus olhos se encontraram brevemente antes de se voltarem para a figura de um Jounin imponente que os aguardava atrás de uma mesa abarrotada de documentos e pergaminhos.O Jounin tinha uma postura rígida e expressão séria, refletindo a gravidade da situação. Ele observou os três por um momento, avaliando-os em silêncio antes de iniciar a explicação.

— Bom, a missão de hoje é diferente de tudo o que já enfrentaram até agora. — começou ele, sem rodeios. — Será a primeira vez que vocês participarão de uma missão de Rank B.

Ela manteve o olhar firme, sentindo um misto de nervosismo e excitação correr pelo corpo. Sabia que missões desse nível envolviam um risco considerável. Seu treinamento intenso no deserto e as incontáveis horas de prática com suas técnicas Yōton e Katon a prepararam para situações desafiadoras, mas ainda assim, enfrentar algo dessa magnitude a deixava tensa. Kami, ao lado dela, também ouvia atentamente, com a postura sempre serena e calculista, transmitindo uma confiança inabalável. O Jounin ergueu um pergaminho selado, desenrolando-o sobre a mesa para revelar um mapa detalhado do País do Vento. Ele indicou um ponto específico, em uma região remota no deserto, longe de qualquer rota comercial principal.

Considerações:

— O objetivo da missão é resgatar um Alto Oficial do País do Vento, que responde diretamente ao Senhor Feudal. Ele foi sequestrado por um grupo de mercenários, o mesmo que tem causado problemas para a nossa vila há algum tempo. A localização da base deles foi confirmada, mas ainda não conseguimos determinar o número exato de inimigos presentes ou o grau de dificuldade do resgate. — A voz dele era firme e incisiva. — Vocês devem não apenas resgatar o oficial, mas também, se possível, coletar informações valiosas sobre as atividades do grupo. Precisamos entender a extensão das operações deles e desmantelar a organização.

O outro Genin parecia segurar a respiração, o corpo ligeiramente tenso. Biskka se perguntava se ele estaria preparado para algo tão arriscado. Mas não havia tempo para dúvidas agora. Ela endireitou a postura e olhou fixamente para o Jounin.

— E qual é a nossa estratégia inicial? — perguntou ela, quebrando o silêncio na sala.

O Jounin assentiu, como se já esperasse aquela pergunta.

— Vamos partir ao amanhecer. Não podemos ir de imediato. Essa operação envolve muito mais do que simples força bruta. — disse o Jounin num tom firme, enquanto seus olhos percorriam pelos três alunos em sua frente. — Quero todos aqui na primeira hora da manhã, preparados e sem reclamações. — concluiu.

Biskka inclinou levemente a cabeça, um sorriso travesso dançando em seus lábios. Seu entusiasmo era quase palpável, mesmo depois das instruções claras do Jounin para descansarem e se prepararem para a missão no dia seguinte. Kami já conhecia aquela expressão bem demais, e um suspiro resignado escapou de seus lábios.

— Ah, qual é, Biskka! Não me diga que você está pensando em... — começou Kami, sem conseguir completar a frase. Ela sabia que a amiga tinha uma tendência incorrigível de querer testar os próprios limites, ainda mais quando uma missão importante estava envolvida.
— Não me olha assim, Kami. — Biskka riu baixinho, os olhos ainda brilhando de animação. — Acha que eu vou mesmo arriscar a minha vida para tentar lutar sozinha contra uma organização inteira apenas pela emoção da batalha e testar minha força? — Ela deu de ombros, como se fosse uma ideia totalmente inocente, porém, carregada de ironia.
— Sinceramente? Acho. — repetiu Kami, cruzando os braços e estreitando os olhos para a amiga.
— Kiahahah! Você me conhece tão bem. — gargalhou Biskka. — Mas não se preocupe, eu não pretendo fazer algo tão estúpido. — garantiu.

Kami permaneceu de braços cruzados, observando a amiga sair da sala com passos ligeiros. Biskka ainda mantinha aquele sorriso confiante nos lábios, e a expressão travessa nos olhos que Kami conhecia bem demais. Algo na maneira como ela se despedia — uma última olhada por cima do ombro, um aceno despreocupado — fez com que a Chunin estreitasse os olhos, desconfiada. Aquela promessa de “não fazer nada estúpido” não era suficiente para tranquilizá-la.
— Você nunca faz exatamente o que diz, não é? — murmurou Kami para si mesma, soltando um suspiro pesado.

Ela ficou ali, parada por mais alguns segundos, a mente dividida entre querer confiar na palavra da amiga e a certeza de que Biskka jamais seguiria fielmente um plano tão simples. Conhecia o suficiente sobre sua impulsividade e sua sede por lutar para saber que ela, com certeza, faria algo fora do esperado.

Considerações:

O sol começava a se pôr no horizonte, tingindo o céu do Deserto do Vento com tons dourados e laranjas. A luz suave e difusa cobria as dunas com sombras alongadas, como se o próprio deserto estivesse sussurrando segredos para aqueles que se aventuravam em suas areias traiçoeiras. E era exatamente para lá que Biskka se dirigia. Em seu quarto, o espaço simples e modesto, ela se movia com uma calma quase ensaiada, apesar da inquietação evidente em seus olhos. Cada movimento era meticuloso enquanto arrumava seus equipamentos: as kunais bem afiadas, as shurikens perfeitamente equilibradas, fios de aço, sua Tantö, pílulas de Hyōrōgan e Zōketsugan. Ajustou as bolsas de armas em ambas as pernas, certificando-se de que tudo estivesse em fácil acesso. O pergaminho que trazia lacrado no cinto continha informações que ela mesmo escreveu mais cedo quando tudo era fresco em sua mente. Ela havia planejado ser rápida, quase como uma sombra espreitando pelo deserto.

Enquanto apertava a última tira de couro do cinto, Biskka lançou um último olhar pela janela de seu quarto. Os edifícios de Sunagakure, de paredes de pedra e areia, refletiam a luz do crepúsculo como sentinelas silenciosos. O ambiente ao redor de sua casa, tão familiar e seguro, parecia paradoxalmente distante e estranho. Ela sabia que, ao partir naquela noite, estaria quebrando a regra imposta pelo Jounin. Mas também sabia que isso não a impediria. Não agora.

— Não posso apenas esperar. — pensou, com determinação renovada. — Se eu puder chegar antes, entender a situação e observar os movimentos dos inimigos, será uma vantagem. Kami vai me dar um sermão depois, mas eu aguento. —

Com uma última olhada no quarto, ela apagou as luzes e saiu, fechando a porta atrás de si. No instante em que os pés tocaram as ruas vazias de Sunagakure, Biskka desapareceu em um borrão de movimento, o corpo delgado e ágil deslizando entre os becos com uma velocidade surpreendente. Seu coração batia rápido, mas sua mente permanecia clara. O percurso até os portões da vila foi feito sem interrupções — uma vantagem de ser uma Genin desconhecida.

Considerações:

Uma vez fora das muralhas de Suna, os ventos fortes do deserto a cumprimentaram. Ela ajustou o seu colete, protegendo-se do frio que se intensificava à medida que o sol afundava mais no horizonte. Biskka respirou fundo, sentindo a areia fina se erguer e dançar ao seu redor. Cada grão parecia carregado de eletricidade, ecoando a energia nervosa e ansiosa que a movia. Era o momento perfeito para avançar. O esconderijo dos mercenários havia sido localizado em uma formação rochosa a noroeste, não muito longe de uma antiga rota comercial abandonada. Os detalhes exatos do percurso haviam sido compartilhados pelo Jounin durante a reunião, e Biskka, assim como qualquer Shinobi bem treinado, tinha memória suficiente para lembrar-se. Sua mente repassava cada curva, cada ponto de referência que encontraria pelo caminho. Ela sabia que seria difícil percorrer aquela distância durante a noite, mas isso não a deteria.

— Eles estão perto de uma das antigas ruínas, usando as pedras como cobertura e as cavernas como base… Se eu chegar pelo lado sul, posso ter um ponto de observaçãos mais privilegiado. Eles não estão esperando ninguém aparecer, de qualquer maneira. — calculou enquanto acelerava o passo, sentindo a energia de seu chakra fluindo mais forte, alimentando seus músculos.

A lua já estava alta quando Biskka finalmente chegou a uma pequena elevação, permitindo-lhe uma visão clara do terreno à frente. Lá embaixo, ainda distante, ela avistou as formações rochosas mencionadas pelo Jounin. Mesmo de longe, pôde notar as pequenas luzes dançantes — tochas acesas por guardas ou mercenários, provavelmente. O ar estava tenso. Sabia que, em missões como essa, a paciência seria sua maior aliada. Desceu lentamente a duna, os pés quase flutuando sobre a areia fofa, e se escondeu atrás de uma das pedras próximas, que a protegia do vento constante que soprava em rajadas fortes. Os olhos afiados de Biskka tentavam captar qualquer movimento anormal. Havia, de fato, sentinelas nas entradas das cavernas e dois homens armados circulando ao redor das formações rochosas. Eles pareciam despreocupados, mas Biskka sabia que isso não significava nada.

Considerações:

Os dois guardas na entrada das cavernas pareciam relaxados, como se não esperassem que alguém ousasse se aproximar durante a noite. Uma análise superficial poderia levá-los a acreditar que eram apenas vigias de baixa patente, mas ela não subestimava ninguém. Cada adversário, por mais despretensioso que fosse, poderia ser um obstáculo fatal se ela agisse sem cuidado. Silenciosamente, a Shinobi ajustou sua posição atrás de uma rocha e tomou um último fôlego para acalmar a mente. Suas mãos ágeis deslizaram até o coldre, puxando uma kunai com firmeza. O brilho fraco da lâmina sob a luz do luar foi a última coisa que os homens teriam visto, caso estivessem mais atentos. Em um movimento fluido e mortal, Biskka deixou a cobertura das pedras, contornando pelas sombras até se posicionar à esquerda do grupo. O vento do deserto, ainda constante e violento, mascarava os sons de seus passos, permitindo que ela se aproximasse sem ser percebida. Cada fibra de seu corpo estava em estado de alerta, cada músculo, preparado para o impacto iminente. Então, ela se lançou para frente, movendo-se com a velocidade de um raio. A lâmina cortou o ar e, em um instante, perfurou a lateral do pescoço do primeiro guarda, atingindo com precisão a artéria. O sangue jorrou em um arco rubro e quente, pintando a areia dourada com salpicos carmesins. O homem sequer teve tempo de emitir um som — o olhar surpreso e incrédulo congelado em seus olhos enquanto a vida se esvaía rapidamente. Biskka manteve o aperto firme na kunai por mais um segundo, para garantir que o golpe fosse letal.

No entanto, ela não parou por ali. Aproveitando o impulso do ataque, soltou o corpo inerte do primeiro guarda, girando em um movimento contínuo e fluido. Com um flick habilidoso do pulso, ela lançou duas shurikens que giraram no ar como estrelas cadentes, indo em direção ao rosto do segundo guarda. A expressão de pavor dele era evidente quando viu os projéteis de metal se aproximando, mas não teve tempo de reagir. As shurikens se cravaram na lateral da face e no olho direito, arrancando um grito de dor que ecoou pela noite silenciosa. O guarda cambaleou para trás, os braços levantados em um reflexo inútil para se proteger, mas Biskka já estava em cima dele antes que ele pudesse recuperar o equilíbrio. Ela saltou para frente com uma agilidade impressionante, colocando todo o peso de seu corpo sobre ele. Seu ombro colidiu com o peito do homem, derrubando-o contra o chão com um baque surdo. A areia se ergueu ao redor dos dois, um turbilhão de poeira dourada envolto em caos. Em um movimento feroz, Biskka agarrou a cabeça do inimigo, segurando-a com ambas as mãos enquanto usava o peso do corpo para prendê-lo ao chão.

— Shhh... Se entregue, deixe rolar... Você já está morto. — murmurou ela, fria e calma, pressionando a cabeça do homem contra a areia com força.

Ele se debatia, as mãos ainda tentando lutar contra o inevitável, mas ela era implacável. Com um golpe brusco, ela torceu o pescoço dele, um estalo audível ecoando pelo deserto vazio. O corpo sob ela ficou mole, os músculos relaxando em um espasmo final enquanto a vida se esvaía.

Considerações:

Agora com a passagem para adentrar a caverna livre, ela avançou para dentro. Olhou em volta com olhos afiados e avaliativos assim que adentrou a caverna. O ar ali dentro era denso e carregado com o cheiro de poeira e óleo, misturado ao leve odor metálico de sangue ressecado. A iluminação era escassa, com apenas algumas tochas presas nas paredes rochosas lançando sombras dançantes e alongadas, como se a própria caverna estivesse viva e espreitasse cada movimento. Avançou com cautela, os passos silenciosos como os de um predador calculista. Cada fibra de seu ser estava em alerta máximo. O corredor se alargava, revelando um espaço vasto e aberto com várias câmaras conectadas. Seu olhar rapidamente captou detalhes espalhados pelo ambiente: pergaminhos grandes empilhados em cantos, armas ninjas organizadas em suportes rudimentares, e caixas e caixotes abarrotados de ouro e moedas de ryous. Ali, naquele refúgio escondido, a gangue de mercenários havia acumulado uma riqueza imensa, fruto de saques e pilhagens.

— Então é isso… — murmurou Biskka, mais para si mesma do que para qualquer outra pessoa. — Saqueadores. Mas... não acho que seja simples assim.

Ela se aproximou de um dos caixotes de madeira, tocando-o com a ponta dos dedos e sentindo o peso do ouro por baixo da tampa. A ideia de mercenários colecionando uma fortuna tão vasta a intrigava. Não era comum uma gangue como aquela ser tão organizada ou ter um esconderijo tão bem preparado. Algo ou alguém devia estar apoiando-os, e esse alguém deveria estar se beneficiando bastante dos saques. Biskka percorreu o espaço com os olhos, parando por um momento diante de um suporte cheio de kunais e shurikens cuidadosamente afiadas e empilhadas. Elas não eram apenas saqueadores; estavam preparados para combates longos e talvez até mesmo para enfrentar shinobis como ela. Aquele lugar não era apenas um depósito, mas um verdadeiro arsenal. Sabia que deveria focar em achar o oficial sequestrado, mas, ao mesmo tempo, não podia deixar de sentir um arrepio de curiosidade e ansiedade. Se pudesse coletar informações ou mesmo dar um grande golpe na estrutura de apoio daquele grupo, suas ações ali teriam um impacto significativo.

— É uma quantidade anormal de ouro e arma, não acho que eles estejam estocando ou será... — franziu um pouco a testa e um pensamento invadiu a sua mente como um clarão. — Eles querem invadir Sunagakure! — concluiu.

Considerações:

Movendo-se com precisão, ela decidiu explorar uma das câmaras à esquerda. Assim que atravessou a entrada, foi surpreendida pela quantidade de pergaminhos ali armazenados. Eram grandes e pareciam conter informações valiosas. Pôde ver marcas de selos e inscrições de técnicas avançadas que faziam seu coração bater mais rápido. Alguma coisa naquele lugar não se encaixava — bandidos comuns não possuíam acesso a jutsus tão complexos, nem mesmo a tanto conhecimento em forma de pergaminhos.

— Será que há algum ninja superior envolvido nisso? — pensou, franzindo o cenho. Deveria voltar com essas informações para Kami e o Jounin, mas, ao mesmo tempo, precisava descobrir mais.

Ao se aproximar das caixas na extremidade da câmara, percebeu um leve som abafado vindo de trás de algumas pilhas de pergaminhos. Biskka se agachou, movendo-se com cautela e silenciando cada passo. Estava a poucos metros de uma pequena cela improvisada feita de grades de metal. Dentro da cela, um homem de meia-idade, com cabelos grisalhos e roupas esfarrapadas, estava encostado contra a parede. Mesmo de longe, ela podia ver marcas de tortura e exaustão em seu rosto. Seus olhos semiabertos mal a perceberam.

— É o alvo! — murmurou Biskka, finalmente encontrando o alvo de sua missão. Ele estava em um estado deplorável, mas vivo. A garota respirou fundo. Tinha que pensar rápido. Libertá-lo agora poderia atrair a atenção dos mercenários espalhados pela caverna, mas deixá-lo ali por mais tempo significava correr o risco de perder a oportunidade de resgatá-lo. Ela se aproximou da cela e, rapidamente, inspecionou a fechadura. Ela reforçou uma Kunai que retirou da bolsa de armas com Chakra Nagashi e a forçou contra o cadeado deixando o som metálico e faíscas no ar.

— Senhor, eu vim em nome de Sunagakure. — sussurrou para ele, mantendo a voz baixa para não alertar ninguém. — Vamos tirá-lo daqui, mas preciso que coopere comigo. — Os olhos dele se arregalaram levemente, como se a esperança tivesse sido reacendida. Ele assentiu lentamente, e Biskka começou a trabalhar para abrir a fechadura. A adrenalina corria por suas veias, mas ela manteve a calma e a precisão. Ouviu um pequeno clique, e a porta da cela se abriu suavemente. Antes que pudesse ajudar o homem a se levantar, passos pesados ecoaram pelo corredor principal da caverna. Biskka se virou bruscamente, observando a entrada da câmara. Um grupo de mercenários — pelo menos cinco homens armados até os dentes — se aproximava rapidamente.

— Droga! — Biskka murmurou entre dentes. Precisava proteger o oficial a qualquer custo. Ela não tinha para onde ir ou se esconder, estava numa câmara de uma só entrada e saída de modo que estaria encurralada em poucos segundos. Talvez conseguisse fugir se fosse necessário, mas executar a missão com êxito era sua maior prioridade e honra à Sunagakure. Assim, ela orientou que o mais velho se escondesse atrás de alguns caixotes e assim ele o fez, sem questionar. Biskka tinha sua Tantö em mãos, deixando a lâmina à paralela a linha do seu nariz, aguardando o exato momento para atacar sem avisos ademais.

Considerações:

Os cinco guardas mal tiveram tempo de entender o que estavam vendo quando adentraram a câmara. A iluminação bruxuleante das tochas lançou sombras assustadoras nas paredes, fazendo com que os reflexos de metal das armas de Biskka brilhassem intensamente. Eles se entreolharam, confusos, e depois voltaram a atenção para a jovem shinobi que se mantinha ali, no centro da sala, encarando-os como se os estivesse aguardando. Um sorriso largo e feroz iluminava o rosto de Biskka, e a intensidade em seu olhar fez com que um calafrio percorresse a espinha de pelo menos dois deles.

— Quem diabos é você?! — gritou um dos guardas, dando um passo hesitante para frente. Mas ele mal teve tempo de completar a frase.

Num piscar de olhos, Biskka desapareceu do campo de visão deles, movendo-se com uma velocidade impressionante. Ela se materializou bem diante do primeiro guarda, a lâmina curta de seu tantö já reluzindo em sua mão direita. Antes que o homem pudesse reagir, ela atacou. O tantö cortou o ar em um movimento rápido e preciso, e a lâmina atravessou o peitoral do homem, penetrando sua armadura improvisada e cravando-se no ponto entre as costelas, logo abaixo do coração. O sangue jorrou imediatamente, tingindo a camisa esgarçada dele de vermelho, enquanto Biskka pressionava a arma com força, empurrando-o para trás. Um gemido abafado escapou dos lábios dele, e os olhos se reviraram em choque e dor. Ela torceu a lâmina em um giro calculado e mortal, sentindo o corpo dele se contorcer e ficar mole sob a pressão. Dessa vez, ela deu um salto, girando no ar. Sua velocidade e precisão eram impressionantes, e em um movimento fluido, deslizou a lâmina horizontalmente na altura do pescoço do guarda. O tantö atravessou a pele e músculos com facilidade, e o homem arregalou os olhos, soltando um som gorgolejante quando tentou gritar. A cabeça pendeu para o lado em um ângulo impossível, e o corpo caiu logo em seguida, enquanto o sangue escorria em filetes pelo chão de pedra.

Os três restantes começaram a se movimentar de forma desesperada. Um deles tentou sacar uma kunai de sua bolsa ninja, enquanto o outro se preparava para um contra-ataque mais direto, mas Biskka já estava em cima do terceiro. Suas pernas dobraram-se enquanto ela se lançava para frente, colocando o peso do corpo em um impulso ágil e certeiro.

— Não se mexam tanto... Só vai tornar isso mais doloroso para vocês. Kiahahah! — A voz dela ecoou pela câmara, ressoando como uma advertência mórbida.

Considerações:

A garota agarrou o pulso do terceiro guarda antes que ele pudesse erguer a espada, imobilizando-o com uma força inesperada para alguém de sua estatura. O choque transpareceu nos olhos dele por um breve segundo, antes de ela cravar o tantö em sua lateral, perfurando o fígado. Com um movimento firme e decidido, ela empurrou a lâmina mais fundo, enquanto torcia o corpo para jogar o homem contra a parede. O impacto reverberou pela câmara, e o guarda soltou um grito curto e agonizante antes de se silenciar para sempre. Biskka manteve a postura agressiva, o olhar fixo nos dois restantes. Com um giro ágil, retirou a lâmina ensanguentada do corpo do homem e apontou para os outros dois, o sorriso agora mais largo e repleto de excitação.

— Quem é o próximo? — Ela sussurrou, a voz carregada de uma confiança quase insana. Os dois guardas se entre-olharam.

Havia um dos homens que parecia se destacar dos demais; não havia medo ou hesitação perante a presença de Biskka ali, pelo contrário. Ele parecia mais confiante, mais resoluto, e sua postura era a de alguém que sabia exatamente o que estava fazendo. Os olhos dele a fitavam com frieza, e quando ele abriu a boca para falar, a voz era firme e controlada:

— Vá. Avise ao chefe que temos uma intrusa. — ordenou ele ao guarda ao lado.

O segundo homem, ainda atordoado pela ferocidade dos ataques de Biskka, hesitou por um breve instante, mas então acenou com a cabeça e começou a correr em direção à saída da caverna.

— Ei! — Biskka rosnou, os músculos se preparando para saltar e interceptá-lo. Não podia deixar que alguém alertasse o chefe dos mercenários tão cedo. Se eles entrassem em alerta máximo, o resgate se tornaria ainda mais complicado. A garota flexionou os joelhos e disparou para frente, mas, antes que pudesse sequer sair do lugar, sentiu um impacto devastador em seu peito. O mundo ao seu redor girou. Um segundo antes, ela estava prestes a avançar; no próximo, sentia-se sendo arrastada para trás por uma força irresistível. O golpe fora tão rápido e inesperado que mal teve tempo de reagir. Foi arremessada por vários metros, voando pelo ar até se chocar contra uma das colunas rochosas da caverna. O impacto ressoou em seu corpo como uma onda de choque, fazendo com que soltasse um grunhido abafado ao bater as costas contra a superfície dura.

— Ugh...! — ela engasgou, sentindo a dor se espalhar como uma corrente elétrica pelo corpo. O ar foi arrancado de seus pulmões, e por um instante, ela perdeu a visão periférica.

Ela tombou no chão, mas rapidamente se levantou, ofegante e com o olhar feroz fixo no homem que a havia atacado. Uma dor surda pulsava em seu peito, mas a adrenalina mantinha seus sentidos aguçados. O guarda que ficara para trás avançava lentamente em sua direção, o punho ainda estendido após o golpe.

— Surpresa? — O tom dele era zombeteiro, e um sorriso cruel desenhava-se em seus lábios. — Não pense que vou pegar leve só porque você é apenas uma jovem.

Biskka forçou um sorriso desafiador, o brilho selvagem em seus olhos não diminuindo. Respirou fundo, controlando o fluxo de chakra para manter o corpo firme, ignorando a dor. Aquele homem era diferente dos outros; ela podia sentir. Havia algo em sua postura, na maneira como se movia, que indicava treinamento e experiência.

— Hah! Eu vou te matar...! — a voz num tom quase insano saia por entre dentes abertos que preenchiam um largo sorriso eufórico, enquanto mantinha uma postura selvagem tal como um felino prestes a atacar, já que não possuía mais a Tantö naquele momento.

Considerações:

A jovem Gennin sentiu a euforia queimar como um fogo selvagem dentro de seu peito enquanto se preparava para o confronto. O homem à sua frente manteve a guarda alta, as pernas afastadas e bem firmes no chão, pronto para reagir a qualquer ataque. Ele parecia avaliar cada movimento da jovem shinobi, procurando por aberturas, como um predador observando sua presa. Ela foi a primeira a avançar, o sorriso ainda estampado no rosto. Sem sua tantö, ela dependia de sua habilidade no taijutsu, mas isso não a intimidava. Saltou para a frente, girando o corpo para aplicar um chute alto, mirando a lateral da cabeça do homem. O adversário reagiu com rapidez, levantando o antebraço para bloquear o ataque. O impacto reverberou, mas ele manteve a postura firme. Aproveitando o momento, Biskka impulsionou o corpo para baixo e desferiu um soco em arco em direção ao abdômen dele.

— Você culhões, admito.— grunhiu o homem, desviando para o lado e pegando o punho de Biskka com a mão. Com um movimento habilidoso, ele torceu o braço dela para trás, tentando imobilizá-la. A dor irradiou pelo braço da garota, mas ela reagiu instintivamente. Usando o peso do próprio corpo, girou para trás, escorregando para fora do alcance dele e acertando um chute na lateral do joelho do oponente. O homem cambaleou levemente, mas se recuperou, aproveitando a proximidade para acertar um gancho de esquerda no rosto dela.

— Ngh! — Biskka recuou, o impacto fazendo-a ver estrelas por um instante. O gosto metálico do sangue preencheu sua boca, e ela cuspiu para o lado, limpando o canto dos lábios com as costas da mão. O homem sorriu, avançando mais uma vez. Desta vez, ele usou uma sequência de socos rápidos, mirando os pontos vitais no peito e nas costelas dela. A garota ergueu os braços, bloqueando como pôde, mas os golpes tinham uma força tremenda. Cada impacto era como se uma onda de choque ressoasse por seu corpo. Ela tentou contra-atacar com um chute lateral, mas ele agarrou seu tornozelo, torcendo o pé com brutalidade e jogando-a ao chão.

Biskka rolou para o lado, recuperando-se rapidamente e saltando de volta aos pés, mas o homem estava sobre ela novamente. Ele desferiu um soco direto que acertou em cheio seu ombro, jogando-a para trás. Sentiu a dor explodir no braço, mas não teve tempo de processar antes de receber um chute giratório no estômago, que a lançou para trás mais uma vez. Ela voou alguns metros, o corpo colidindo violentamente contra uma pilha de caixotes. Madeira e metal se espalharam pelo chão da caverna, criando uma nuvem de poeira e destroços que pairou no ar. O homem permaneceu onde estava, observando com olhos atentos, aguardando o próximo movimento da shinobi.

A poeira se ergueu em redemoinhos, obscurecendo a visão do adversário por alguns instantes. Um silêncio estranho tomou conta do ambiente, e ele estreitou os olhos, tentando localizar Biskka em meio ao caos. De repente, ele sentiu uma pressão súbita na atmosfera, como se algo estivesse se preparando para acontecer.

— Onde você se meteu, menina? — murmurou ele, com os punhos ainda cerrados e a respiração controlada.

Então, como um vulto, ela havia usado a sua técnica Shunshin no Jutsu ao executar o Selo do Carneiro ainda em meio a poeira. Seu corpo desapareceu e reapareceu em um piscar de olhos, movendo-se com uma velocidade quase impossível. Ele girou o corpo para se defender, mas era tarde demais.

— Katon: Gōkakyū no Jutsu! — gritou ela, completando os selos de mão em um instante.

Uma esfera colossal de chamas se formou ao redor dela, alimentada pelo chakra inflamado em sua boca. A bola de fogo cresceu rapidamente, envolvendo o homem em um turbilhão de calor abrasador. As chamas dançaram e rodopiaram, iluminando a caverna com um brilho avermelhado e intenso. O calor era tão feroz que o ar pareceu ondular ao redor. O homem mal teve tempo de reagir antes de ser engolfado pelo fogo. Ele soltou um grito de dor e surpresa, os braços se erguendo para proteger o rosto do calor mortal. As chamas envolveram seu corpo, queimando a carne e a roupa. Mas logo o seu sofrimento acabou e o que restou foi o cheiro de carne queimada no ar, juntamente com um corpo carbonizado que jazia no chão inerte e derrotado.

Considerações:

O resultado do rápido, porém intenso, embate de ainda há pouco resultou em algumas escoriações e machucados, além de marcas de sangue, mas nada que a impedesse de se mover ou de continuar a sua missão. Aquele lugar já estava demasiado perigoso, tinha que retirar o mais velho que ainda se escondia dali o quanto antes, mas antes que pudesse racionar o que quer que fosse, foi surpreendida por uma voz grave e extremamente calma que lhe dizia. Ela se virou bruscamente, a respiração ainda acelerada pelo combate recente. Seus olhos arregalaram-se ao ver a figura que surgira à sua frente. O homem era alto e magro, a silhueta esguia se destacando em contraste com as sombras da caverna. Vestia um poncho marrom, o tecido grosso e desgastado caindo de forma desalinhada ao redor de seu corpo. A máscara branca que cobria seu rosto era inexpressiva, sem detalhes que denunciassem emoções ou intenções. Apenas duas aberturas pequenas e escuras deixavam à mostra olhos que brilhavam com uma calma inquietante.

— Você causou bastante alvoroço por aqui, garotinha. — disse a figura, a voz soando profunda e quase preguiçosa, como se a presença de Biskka ali não fosse mais do que uma inconveniência trivial. Ele deu um passo à frente, as botas rangendo suavemente sobre as pedras da caverna. — Esperava encontrar alguém mais... — ele fez uma pausa, os olhos a observando dos pés à cabeça, como se ponderasse cada palavra — ...competente.

O sangue de Biskka ferveu de imediato. A insolência e desdém na voz daquele homem fizeram sua raiva borbulhar, mas ela sabia que reagir sem pensar seria um erro fatal. Respirou fundo, controlando o fluxo de chakra em seu corpo para não deixar a dor dos ferimentos tomar conta de sua concentração.  — Então o Big Boss apareceu, uh?! — zombou, ainda que estivesse inquieta pela sua sede de batalha e pela ofensa que lhe fora proferida.

— Quem é você e o que pretende fazer com essa tentativa inútil de sequestro? — perguntou de forma incisiva.
— Eu sou aquele que garantirá que ele continue fora do alcance de pirralhas intrometidas como você. — Ele inclinou a cabeça para o lado, como se estivesse genuinamente curioso. — Mas me diga, como se sente sendo apenas uma marionete na mão de Sunagakure? Arriscando uma vida tão jovem e próspera assim a troco de alguém que não conhece? Você é descartável para eles.

Biskka rangeu os dentes. A dor de seus ferimentos, os arranhões e hematomas pelo corpo, pareciam insignificantes perante o desprezo implícito nas palavras daquele homem. Seus músculos estavam tensos, cada fibra de seu ser clamando para atacar, para arrancar aquela máscara e ver o verdadeiro rosto daquele que ousava provocá-la. Mas algo nela a fez hesitar. Havia um perigo sutil e palpável em cada movimento daquele homem, em cada palavra dita de maneira calculada.

— Além do mais, ele tem informações que... — ela começou, mas parou, percebendo tarde demais o que estava prestes a dizer. Aquilo era uma distração. O homem estava tentando arrancar informações dela.
O mascarado soltou um riso baixo e seco.
— Ah, eu entendo. Então você não é só uma pirralha intrometida, mas também uma idiota. — Ele suspirou teatralmente, como se lamentasse a situação. — Que desperdício de energia. Eu devia acabar com você aqui e agora...

Antes que Biskka pudesse reagir, ele desapareceu.

Seu corpo congelou por um instante. A velocidade com que ele se moveu foi assombrosa, muito além do que ela havia enfrentado até então. Seus sentidos entraram em alerta máximo. O coração disparou, batendo como um tambor frenético dentro do peito. Seu corpo girou instintivamente para trás, o braço erguido para defender. Mas não foi o suficiente. A mão do homem agarrou seu pulso com uma força avassaladora, parando o movimento no meio do caminho. Ela sentiu os ossos quase estalarem sob a pressão, mas ele não aplicou força suficiente para quebrá-los. Apenas para imobilizá-la.

— Tão previsível... — ele murmurou, a voz reverberando atrás da máscara. — Você é forte, mas age como uma criança impulsiva. Não se esqueça, não sou como os outros. Eu sou... diferente.

Ele a empurrou para trás com um movimento brusco. Biskka tropeçou, recuperando o equilíbrio a tempo, mas a pressão que emanava daquele homem era esmagadora. Respirou fundo, a adrenalina percorrendo suas veias como fogo líquido. A garota estreitou os olhos, tentando avaliar a situação. Ele parecia estar brincando com ela, testando-a, e isso só a enfurecia mais.

— Diferente... Hah! Não me faça rir. — ela cuspiu no chão, encarando-o com olhar selvagem e largo sorriso. — Vamos lutar ou você ainda tem mais falatório? — perguntou ela abrindo uma certa distância do agressor enquanto empunha uma kunai à frente do rosto.

O homem inclinou a cabeça para trás, soltando uma risada abafada.

Considerações:

O som dos golpes reverberava pela caverna como trovões distantes. Cada impacto fazia o corpo de Biskka estremecer, e o gosto amargo de sangue preenchia sua boca. Ela já não conseguia distinguir quais dores vinham dos cortes profundos e quais eram o resultado dos ossos quebrados. O homem mascarado se movia com uma precisão letal, seus golpes atingindo pontos vulneráveis com a exatidão de um predador dissecando sua presa. Ela tentava reagir, mas ele era rápido. Rápido demais. Cada tentativa de ataque de sua parte era imediatamente interrompida por um bloqueio ou contra-ataque. Um soco atingiu sua costela, o baque profundo ecoando em seus ouvidos. O mundo girou quando um chute a lançou para trás, o ar escapando de seus pulmões de uma só vez. Ela rolou no chão, sentindo os músculos latejarem e queimarem como se estivessem em chamas. O homem avançou impiedosamente, sem lhe dar chance de se recompor. Outro golpe cortou o ar e acertou seu rosto. Ela mal teve tempo de levantar os braços para proteger o queixo antes de ser novamente erguida do solo por um chute ascendente, o corpo sendo jogado para cima como um boneco de trapos. Seu corpo encontrou o chão com violência, a dor irradiando como uma corrente elétrica por toda a sua coluna.

Quando Biskka reapareceu atrás do homem mascarado, seus movimentos pareciam hesitantes e trêmulos, dando a impressão de que o próximo ataque seria facilmente previsível. O oponente manteve a calma, analisando cada detalhe, pronto para bloquear ou esquivar do que fosse. Mas, em vez de um jutsu explosivo ou de tentar apunhalá-lo com uma kunai, Biskka ergueu algo minúsculo, quase insignificante — uma pequena esfera de papel que segurava firmemente entre os dedos. Sem tempo para pensar ou reagir, ele viu a mão da garota se erguer na altura dos rostos de ambos. Antes que pudesse compreender o que aquilo significava, ela apertou a esfera.

Um clarão intenso explodiu de súbito, como se o próprio sol tivesse irrompido dentro da caverna. A luz ofuscante iluminou cada centímetro do ambiente, banhando as rochas e sombras em um branco absoluto. O homem soltou um grunhido surpreso, instintivamente recuando e levantando o braço para proteger os olhos, mas era tarde demais. A luz cegante invadiu sua visão como uma lâmina incandescente, queimando sua retina e transformando tudo em trevas e manchas de cores indistintas.

Biskka já sabia o que viria e, no instante em que ativou a esfera de luz, virou rapidamente o rosto e apertou os olhos. Mesmo assim, as pálpebras pareciam ser incapazes de bloquear completamente o brilho feroz, e o clarão deixou rastros coloridos dançando em sua visão. O mascarado cambaleou para frente, a postura rígida se desfazendo enquanto levava as mãos ao rosto em uma tentativa desesperada de recuperar a visão. O corpo dele estava agora vulnerável, exposto, uma brecha perfeita. Sem perder um segundo sequer, Biskka respirou fundo, sentindo o chakra fervilhar dentro de seu corpo. A dor e o cansaço desapareciam momentaneamente, substituídos por uma sensação quente e poderosa que preenchia cada fibra de seu ser. Ela moldou o chakra em sua garganta, misturando-o com a natureza corrosiva e ardente de sua Kekkei Genkai, e então abriu a boca.

— Yōton: Funkyūgan no Jutsu!

Uma torrente de lava espessa e escaldante explodiu de seus lábios, a substância fervente rodopiando pelo ar em um fluxo contínuo e devastador. A caverna inteira pareceu tremer com o calor extremo que emanava da técnica, e o ambiente foi preenchido com o som borbulhante e mortal da lava derretendo o chão e tudo ao redor. O mascarado tentou reagir. Mesmo cego, ele se moveu com instinto, os pés tentando se arrastar para fora do caminho. Mas era tarde demais. A onda de lava atingiu seu torso com força, o calor abrasador imediatamente devorando as roupas e queimando a carne. Ele soltou um grito gutural de agonia, o corpo tremendo convulsivamente enquanto a lava viscosa se espalhava, aderindo a sua pele e ossos como uma armadilha mortal.q

Considerações:

Biskka ofegava pesadamente, cada respiração um esforço excruciante que fazia seu peito arder. O corpo inteiro latejava com uma mistura de dor e exaustão. Sem conseguir se manter de pé por mais tempo, os joelhos cederam, e ela se ajoelhou, ofegante. A caverna ao seu redor estava iluminada por resquícios de chamas, sombras dançantes projetando-se nas paredes. O cheiro acre de carne queimada e suor preenchia o ar, sufocando os pulmões já cansados da shinobi. Seu oponente, agora um amontoado de carne derretida e trapos de roupa, ainda se debatia no chão. A visão era perturbadora — o lado direito do corpo dele estava irreconhecível, misturado com a lava endurecida que ainda soltava pequenos estalos enquanto esfriava. Mas ela não se preocupou em finalizar o serviço. Biskka virou-lhe as costas e começou a avançar, os passos pesados e vacilantes, quase se arrastando em direção ao canto mais afastado da caverna. Cada movimento enviava ondas de dor por suas articulações. O ombro direito doía, e cortes profundos pulsavam com um calor insuportável, mas ela apertou os dentes, forçando-se a continuar. Ao longe, num canto quase invisível entre pilhas de caixotes e rochas soltas, ela avistou o velho, agachado e tremendo. Os olhos dele, arregalados e cheios de pavor, a observavam como se ela fosse algum tipo de predador selvagem. Ela não conseguiu reunir energia suficiente para acalmá-lo ou para mostrar algum sinal de que estava ali para ajudá-lo. Simplesmente se arrastou mais para perto, passos trôpegos que pareciam ecoar na caverna como sinos fúnebres. Mas antes que pudesse alcançar o homem, uma dor súbita, aguda e lacinante perfurou seu corpo.

— Aah! — O grito de Biskka ecoou, misturado ao som de metal cortando carne. A dor explodiu no ombro esquerdo, irrompendo por sua coluna como uma onda de choque. Os olhos dela se arregalaram, e, num movimento involuntário, o corpo inteiro se enrijeceu. Ela mal teve tempo de perceber o que acontecia antes que um jorro de sangue escapasse de sua boca. Sentiu os músculos travarem, as pernas perderam completamente a força e o corpo tombou para frente. A shinobi, ainda trêmula, levantou o olhar em desespero e o virou para trás. A visão que encontrou era quase irreal, como se estivesse presa em um pesadelo horrendo.

Seu adversário estava de pé. Ou, pelo menos, o que restava dele. O lado direito do corpo estava em frangalhos — pele derretida, carne queimada e ossos visíveis emergindo de um líquido negro que ainda escorria. Metade do rosto estava desfigurado, um olho cego e opaco a fitava de forma perturbadora. Mesmo assim, ele mantinha-se erguido, como um cadáver ambulante que se recusava a cair. Na mão esquerda, parcialmente derretida e com dedos torcidos, ele segurava uma corrente longa e resistente. A corrente se estendia até Biskka, a lâmina de uma kusarigama brilhando com o vermelho de seu sangue. A lâmina atravessava seu ombro esquerdo, perfurando-a de lado a lado. O peso da corrente a puxava para trás, a dor sendo insuportável.

O homem, ainda de pé, olhou-a com um misto de ódio e desespero. Ele fez um último esforço, cambaleando alguns passos para frente enquanto tentava arrastar a corrente, como se quisesse puxá-la para perto e acabar com aquilo de uma vez por todas. Mas o corpo dele não aguentou. Com um som seco e grotesco, ele desabou no chão, a respiração fraca e entrecortada. O cadáver ainda se movia de forma errática, como se pequenos espasmos percorressem os nervos destruídos, mas estava acabado. A última tentativa desesperada de matá-la não fora suficiente. Biskka observou a cena com um misto de alívio e descrença. Sentiu as pernas cederem mais uma vez, e, num movimento lento e desajeitado, soltou a corrente, arrancando a lâmina de seu ombro com um grunhido de dor. Cambaleou, o sangue escorrendo pelo braço e peito, até que as costas encontraram o apoio de um dos caixotes. Ela deslizou até sentar-se no chão, a cabeça tombando para trás. O corpo inteiro estava um caos de dor. O pulso parecia fraco, e a consciência ameaçava se esvair a qualquer momento. Ainda assim, ela precisava garantir que a missão fosse completada. Os olhos semicerrados de Biskka procuraram pelo velho, que, hesitante, saiu lentamente de trás das caixas. Ele a observou por um momento, os olhos cheios de gratidão, mas também de pânico. Aproximou-se com passos cuidadosos e quase caiu de joelhos diante dela.

— V-vá... e... peça... ajuda... — murmurou a garota, a voz saindo como um sussurro fraco, mal audível. As palavras soaram arrastadas, carregadas de um peso que ia além da dor física. O velho assentiu freneticamente, os lábios balbuciando agradecimentos e promessas. Com uma reverência apressada, ele se virou e correu, desaparecendo por entre as sombras da caverna. Biskka o observou até perder de vista, os olhos pesados ameaçando se fechar. Não podia confiar completamente nele. Ele poderia abandoná-la ali ou sequer voltar. Mas, naquele estado, ela não tinha mais opções.

Considerações:

As sombras da caverna pareciam se alongar e se contrair ao seu redor, como se a própria escuridão estivesse prestes a engoli-la. A cada segundo que passava, a consciência dela ameaçava se esvair. Se o velho não voltasse — ou se encontrasse algum perigo no caminho — ninguém saberia que ela estava ali, ferida e à beira do colapso. Não. Ela não podia contar apenas com ele. Precisava tomar uma atitude por conta própria. Respirando fundo, sentiu o peito arder, e com um esforço que fez todo o seu corpo protestar, Biskka ergueu a mão trêmula até a bolsa presa ao cinto. Seus dedos buscaram, tateando até encontrar o que procurava: um pequeno pergaminho, discreto e resistente. Ela o puxou para fora e o desenrolou lentamente, cada movimento enviando ondas de dor pelos músculos fatigados. O pergaminho se abriu sobre o chão empoeirado, revelando um círculo desenhado no centro, repleto de marcas intricadas e palavras em kanji que indicavam a natureza da técnica. A visão de Biskka oscilava, mas ela manteve a concentração. Não havia margem para erros. Murmurando uma prece silenciosa, ela mordeu o polegar já ferido e enfiou o dedo indicador na pequena poça de sangue que se formou. Os lábios dela se contraíram em um esgar de dor ao pressionar o dedo contra o pergaminho. Com um traço hesitante, começou a escrever as palavras, o sangue fresco misturando-se às inscrições com um brilho suave.

Sua mente flutuava em um vazio silencioso, onde a dor e a exaustão não tinham significado. Tudo era escuridão e calma, como se estivesse submersa em um mar de inconsciência profunda. Não sabia se minutos ou horas haviam passado; o tempo não fazia sentido naquele lugar sem forma. Então, lentamente, uma sensação começou a emergir, um pulsar tênue que ecoava em seu corpo ferido. Ela sentiu algo como um puxão distante, como se uma mão invisível a estivesse tentando trazer de volta à superfície. Uma voz se formou nas sombras, suave no início, mas insistente. Familiar.

“Biskka? Biskka! Me escuta! Ei, Biskka!”