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[Capítulo] A terceira derrota
[Capítulo] A terceira derrota

Zero

Jōnin

Seg 30 Set 2024 - 16:58

Ethan

"Hesitation is Defeat"

Ethan acordou no mesmo lugar que decidira deixar para trás dias antes, o casebre no topo da montanha onde o monge das histórias vivia. Ainda sem entender o que aconteceu após o fim do confronto com o grupo de bandoleiros, lembrou-se vagamente da forma como seu corpo foi tomado por marcas enegrecidas e dor. Aquela sensação perdurava na sua memória, quase como se tivesse aprendido a apreciá-la. As respostas que procurava, no entanto, não demorariam mais do que alguns instantes para serem parcialmente reveladas, uma vez que começava a olhar em volta. Primeiro, olhou para si e viu faixas brancas cobrindo seu tronco, braços, pernas e pescoço, em uma tentativa desleixada de cobrir seus ferimentos. Logo em seguida, acompanhado de uma pontada de dor repentina, viu o homem das histórias passar pela porta, alguém que Ethan não esperava ver nunca mais na vida. Olhando bem no rosto do sujeito, interpretava as suas expressões, enquanto reorganizava os pensamentos. Foi então que Ethan entendeu o que de fato acontecera, ele havia perdido novamente. Foi então que ele aprendeu que continuar vivo não significava vencer.

— Já que vai ficar me encarando, pelo menos pode me dizer o que aconteceu? — Ethan perguntou, encostando o ombro na parede do seu lado. Naquele momento, sem muitas expectativas, preparava-se silenciosamente para o golpe que sofreria.

— Bom, eu não tenho as respostas que procura. Agora sou apenas um mensageiro, nada mais do que um mero observador. — Antes de responder, o velho se aproximou e colocou uma tigela com bolinhos de arroz ao lado do garoto, junto de uma xícara de água. — Três dias atrás, horas após a sua partida, um rapaz ruivo te trouxe nos ombros até aqui. Ele também estava em um estado deplorável, com os olhos de alguém que havia perdido tudo, fazendo uma força incomensurável para permanecer de pé. Depois, quando te arremessou no chão, esse rapaz pediu para que eu cuidasse de você, dizendo que voltaria em sete dias para terminar o que havia começado. Acho importante mencionar também as suas últimas palavras: “Jamais aceitarei perder para um covarde! Nunca! Diferente dele, eu não hesitarei; se for a minha hora, aceitarei a morte de bom grado”.

— Covarde… — Apesar de tudo o que foi dito, tudo seria facilmente ignorado no momento em que sua honra fosse questionada. Assim, passou a tentar se lembrar daquele dia com o maior número de detalhes possíveis, focando em cada fragmento. Então, Ethan começou a tremer, fechando os punhos, e transpareceu uma feição desolada. Havia se lembrado dos últimos momentos antes de desmaiar, onde avançava uma última vez contra o líder do trio. No entanto, dessa vez conseguia perceber algo que passou despercebido no calor da batalha: naquele momento, estava com medo de morrer. Com isso, entendia que a sua hesitação havia sido a diferença entre a derrota e a vitória, entre a vida e a morte. Foi o medo que conteve seu avanço por um milésimo e o salvou da morte certa ante um adversário mais forte. — Eu sou forte… Eu estava pronto para morrer… Eu estava apenas enganando a mim mesmo? — repetia essas mesmas palavras sem parar, desamparado, sentindo-se a pior pessoa do mundo.

— Não se culpe, garoto. Pode até não parecer, mas entender o significado do medo é uma dádiva, essa é a disciplina da alma. E apesar do que aconteceu, você está no caminho certo. Superar dificuldades, arriscando a própria vida, esse tipo de provação permite a alma crescer e amadurecer. Entenda, não importa o quão forte você seja, uma luta até a morte é uma coisa assustadoramente penosa. Porém, há uma forma de superar esse medo, deixando-o no seu devido lugar. Mas apenas os verdadeiramente fortes podem ter sucesso em fazer isso. — Mesmo não se importando com o garoto desolado, as palavras do monge tinham a intenção de evitar que ele se afundasse ainda mais.

“EU SOU UM FRACASSO”, Ethan, por outro lado, já não se importava com mais nada.

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Zero

Jōnin

Qui 3 Out 2024 - 20:19

Ethan

"Hesitation is Defeat"

Diante do desespero, não tinha mais forças para continuar tentando. Sua mente, entregue, revivia aquele momento repetidas vezes como uma forma de tortura. Era como se ele quisesse de alguma forma voltar no tempo, exatamente no instante em que hesitou, para mudar o que não podia ser desfeito. Talvez, pensava consigo, uma vida tirada injustamente pudesse ser salva, eximindo-o de toda a culpa que nublava sua visão em relação ao futuro. Mas, no fim, sabia que não havia mais um futuro pelo qual valesse viver, afinal, em quatro dias estaria morto. Sua terceira derrota, portanto, acabaria de vez com o flerte que mantinha com a morte, muitas vezes sendo algo que desejava profundamente. Aquela também seria a forma que encontraria para reparar seu erro no país do ferro, onde não tinha o direito de sair com vida. Mais uma vez, como uma piada do destino, a única coisa na qual podia se apegar era o gosto ferroso da derrota impregnando a sua boca.

— Se quiser continuar como um coitado, sugiro que tente comer algo. No seu estado, continuar vivo já deve ser considerado um milagre provido pelos deuses. — O monge interrompeu silêncio recém instaurado, olhando para fora e vendo um bando de aves voar para o oeste. Invejava a liberdade deles, e suspirou quando voltou os pensamentos para o excesso de negatividade exalada pelo Ronin.

— Se vou morrer de qualquer forma, por que isso importaria? — com os lábios ressecados, colando um no outro, o garoto responderia. Tossiu mais uma parcela de sangue em um tom vivaz e voltou a se curvar, querendo simplesmente sumir.

— Como um Samurai, não vejo motivos que o impeçam de pegar essas espadas e cravá-las em si. Porém, a ideia de morrer com um pouco de dignidade não parece ser tão ruim. No pior dos casos, uma morte indolor estará à sua espera. Que curioso, você chegou até aqui como um homem com muitas perguntas, e lhe ofereci um caminho. Nesse exato momento, entretanto, vejo um homem que não pode ser satisfeito com nenhuma resposta, com medo daquilo que pode encontrar caso siga em frente. — Antes de continuar, o velho apontou pela janela em uma direção que parecia levar a um caminho sem saída. — De toda forma, caso reste algum resquício do espírito de luta que um dia já teve, siga nessa direção e encontrará a entrada para um lugar especial. Dizem que as águas dessa gruta, que cintilam em azul e vermelho, podem trazer os mortos de volta. Sendo sincero, eu mesmo nunca entendi o que queriam dizer com isso.

Sem esperanças quanto ao amanhã, Ethan relutou para aceitar a sugestão. Na sua visão, se o resultado permaneceria imutável, não havia motivos para perder tempo com lendas e misticismos, algo que não mudaria o quão podre estava se sentindo. Nada do que fizesse apagaria a sombra monstruosa que o rondeava, engolindo cada centelha de esperança que surgia. No entanto, ainda que tivesse suas ressalvas, tinha o desejo de encontrar o ruivo de outrora; queria olhar no fundo dos seus olhos e sentir o peso de seu julgamento, validando cada pensamento recriminatório que nutria. Acima de tudo, desejava que aquele sujeito fosse o seu carrasco.

Sendo assim, sem motivação ou força alguma para se pôr de pé, rastejou pelo chão até colocar as mãos nas iguarias trazidas pelo monge, onde começaria a devorá-las como um animal, esquecendo até mesmo de mastigar a comida. Também não tinha modos ao tomar a água, derramando filetes pelo canto da boca enquanto agarrava a xícara desesperado, como se aquilo fosse uma ilusão prestes a ser desfeita. Quando terminou, tomou em mãos alguns mantimentos cedidos pelo velho, para que passasse os próximos dias. Por fim, levantou-se e, sem olhar para trás, partiu cambaleando em direção ao local mencionado pelo outro, sem qualquer expectativa acerca do que encontraria, buscando apenas um local silencioso para passar os dias.

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Zero

Jōnin

Sex 4 Out 2024 - 19:27

Ethan

"Hesitation is Defeat"

Prosseguiu por uma trilha não muito promissora e amistosa até se deparar com uma entrada estreita oculta por alguns arbustos secos. Logo que isso aconteceu, não demorou mais do que alguns instantes para começar a descida íngreme que demandava vários e vários minutos para ser concluída, mas o que encontrou no fim do caminho valeu o esforço. O que mais lhe chamava a atenção naquele lugar atípico era o jogo de cores regidos pelas águas. Elas preenchiam as paredes irregulares quase em sua totalidade, exceto por algumas frestas entre os corpos rochosos pontiagudos no teto. Em meio àquela luminescência, com vários níveis, o solo em volta parecia ser fruto de uma miragem, ao passo que a localidade se assemelhava a um pequeno labirinto com suas pilastras largas.

Perdido dentre tantos detalhes a serem observados, duvidando a todo momento daquilo que os olhos flagravam, Ethan pôde esquecer por um segundo de toda a culpa e raiva, pensando em como o mundo podia ser belo à sua maneira. Isso, no entanto, mudou quando se aproximou da borda e viu seu reflexo na água, onde odiou com todas as forças a figura que o encarou de volta. Depois, apenas tirou o manto, a jaqueta, a camisa e as sandálias, sentindo a água fria tocando os dedos do pé. Por fim, com se descesse uma escada a cada passo dado, submergiu na água, sendo completamente tomado pela ideia de que poderia permanecer ali para sempre. Ao emergir, com os cabelos encharcados e com certa dificuldade para respirar, devido às baixas temperaturas, percebeu que tudo continuava igual. Olharia novamente para o seu reflexo e, para sua infelicidade, Ethan ainda existia. A culpa ainda marcava suas feições, assim como sua impureza permanecia intocada. Mesmo com o desapontamento aparente, forçou-se a dar mais um mergulho antes decidir recostar o corpo em uma das paredes da gruta e dormir.

Alheio à passagem do tempo, Ethan não poderia dizer ao certo quantas horas tinham se passado assim que acordou. Ali, onde o clima parecia inalterado, dia e noite não passavam de palavras descartáveis, visto que o lugar o condicionava a não pensar nisso, seduzindo-o. Ainda assim, enquanto encarava fixamente as luzes sendo refletidas nas paredes, era inevitável não pensar em como passaria os próximos dias. Porém, mesmo com todas as tentativas, não conseguia pensar em nada, apenas reparava o quanto a sensação de estar só era recorrente em sua vida, pensando em todos os relacionamentos que estragou por ser quem era. Dentre eles, foi impossível não ver uma imagem de Raizo em sua mente, clara como aquelas águas. E junto disso, dava razão para aquele que um dia já foi seu mentor; ele não estava pronto para o que estava por vir, jamais deveria ter tentado fazer as coisas do seu jeito. Como Raizo gostava de mencionar: “para ser verdadeiramente forte, mente e corpo precisam estar em harmonia, corpo e espada precisam ser um só”. Entretanto, estando a poucos dias da morte, isso não parecia ser relevante, uma vez que Ethan aceitava a ideia de nunca ter conseguido alcançar esse estado de plenitude. Havia raiva injustificada demais dentro dele para que algo assim fosse possível.

Depois de algum tempo, o ócio foi mudando gradualmente a sua forma de pensar. Não ter o que fazer por incontáveis horas era o que motivava seus atos e pensamentos. Portanto, pouco tempo após acordar, pôs-se de frente para o lago e tirou os pés do chão, apoiando todo o peso do corpo no braço esquerdo. Então, repetindo o método de respiração ensinado por Raizo, Ethan fechou os olhos e começou a reviver os acontecimentos dos últimos meses, remoendo cada mácula. Assim treinava a mente, sob estresse. Por sua vez, o exercício cíclico de respiração tinha a intenção de agir sobre o seu corpo, reproduzindo de maneira branda os efeitos de acumulação da Respiração dos Sete Paraísos, impondo uma carga significativa em seus músculos. Isso por si só já era o bastante para fazer com que os ferimentos dos dias anteriores piorassem e sangue e dor vertessem de seu corpo.

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Jōnin

Sáb 5 Out 2024 - 17:18

Ethan

"Hesitation is Defeat"

Ao tentar confrontar o caos instaurado em sua mente, revivendo repetidamente memórias que chegavam a lhe causar dor física, Ethan encontrava fraqueza em si, descobrindo que todos os sacrifícios que realizou até aquele momento não valeram de nada. Junto da revelação, uma onda repentina de dor veio e ele caiu no chão, interrompendo o método repetitivo de respiração. Uma, duas, três vezes, independentemente de quantas vezes encontrasse o chão, sempre utilizava toda aquela raiva desenfreada para se pôr na mesma posição de outrora, onde, apesar dos pesares, tentava recuperar a concentração. A pior parte disso não eram as quedas repetitivas ou a dor, o grande desafio era reviver sem parar cada erro milimétrico cometido durante a sua vida e a frustração decorrente disso, sentindo-se um tolo por já ter se sentido no direito de ser arrogante. Gradualmente, começava a entender o que significava ser “Ethan”, o Ninja, o Ronin, e não gostava das respostas que encontrava. Afinal, a sensação de cair em desgraça, perdendo a fé em si e em suas próprias habilidades, era sem igual; jamais imaginou que tamanha tristeza pudesse assolar uma única pessoa em vida.

Apesar dos pensamentos que faziam com que se sentisse um lixo, aquele não era o único desafio enfrentado pelo garoto, uma vez que o exercício de respiração se provava mais penoso e danoso do que o esperado. Dentre todos os sinais, o que mais lhe chamava a atenção era o aperto no peito ao inspirar e prender a respiração por alguns segundos, além da tontura que fazia com que perdesse o equilíbrio e caísse no chão. No entanto, a vontade de jogar tudo para o alto e desistir sempre era superada pelo medo, que fazia com que se levantasse sempre que necessário. No fim, descobria que mudanças eram incrivelmente assustadoras, sendo uma manifestação incontestável do desconhecido, algo que até o mais corajoso dos homens poderia sentir. Porém, o medo que motivava o Ronin não bebia de uma única fonte, diferente de antes, Ethan apresentava um medo irracional de falhar, seja em um treino, em uma luta ou como pessoa.

Conforme o tempo passava, com dias se transformando em noites, foi uma questão de tempo até todo o turbilhão emocional pelo qual passava se intensificar e ser utilizado como um catalisador para o seu crescimento. Cada pensamento desmotivador, cada erro cometido devido à dor, cada conflito interno não resolvido, no fim, todos os caminhos levavam até o medo desenfreado que o guiava a cada passo dado. Pela primeira vez, Ethan aprendia a enfrentar um inimigo que jamais conseguiria derrotar, afinal de contas, enquanto fosse quem fosse, com toda aquela raiva reprimida que precisava ser direcionada a algo, ele nunca poderia superar a si próprio. A única solução era aprender a conviver com toda aquela infantilidade, aceitando-a, algo que àquela altura parecia ser impossível. Mas, mesmo não conseguindo transpor as barreiras do impossível, esgueirava-se pelas beiradas, desenvolvendo uma sincronia maior entre o corpo, com os exercícios de respirações, e a mente, com o autoconhecimento.

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Jōnin

Dom 6 Out 2024 - 3:06

Ethan

"Hesitation is Defeat"

“Não importa… Se eu não estiver disposto a apostar a minha vida, não há motivos para continuar lutando. Sendo esse o caso, definitivamente não tenho mais razões para viver, e pode apostar que eu mesmo darei um fim nisso se o medo vencer novamente”, quando o dia havia finalmente chegado, Ethan passava seus últimos momentos boiando na água. Além de reafirmar as suas convicções, aproveitava aquele momento para tentar aliviar o estresse no qual seu corpo havia sido exposto nos últimos dias, porém, a tentativa não tinha os resultados desejados.

No instante em que decidiu partir, pronto para encarar o seu destino, era por volta das nove da noite. Após vestir as roupas e se proteger do frio com o manto bege e vermelho, dando o primeiro passo para fora da gruta, foi impossível não perceber a tempestade que assolava a região, com ventos fortes e trovões no céu. Era quase como se os céus chorassem pelo que estava prestes a acontecer, como se não quisessem ver o Ronin lutar naquela noite. No entanto, nada conseguiria impedir o seu regresso, lutando com unhas e dentes para não se afundar na lama que sujava a bainha da calça. E quando teve um vislumbre do casebre do monge, pôde ver o homem de cabelos vermelhos que o esperava sobre o dilúvio. Completamente inerte, ele apenas olhava para cima enquanto esperava o garoto que precisava matar. Não muito longe dele, protegido pelo telhado da varanda, o monge seguia recostado em umas das pilastras da casa, igualmente apreensivo. Embora não tivessem certeza, ambos sabiam que era apenas uma questão de tempo até Ethan retornar.

— Olhos de quem já tinha perdido tudo… — no momento em que encontrou a silhueta do oponente ao longe, Ethan se lembrou das palavras do velho. Mesmo a uma distância considerável, podia confirmar as suas suspeitas, aquele de fato era o homem que havia cruzado o seu caminho dias atrás. Entretanto, dessa vez ele trajava uma armadura preta com algumas extremidades pontiagudas e carregava um pergaminho imenso nas costas, bem ao lado de um bastão dourado. Quando os olhos de ambos se cruzaram, repentinamente, um estrondo ecoou pelos quatro cantos e os céus brilharam em azul por um átimo.

O Jounin, então, percorreu o restante do trajeto até pisar em uma última poça enlameada no chão, parando a 25 metros do adversário. Não obstante, após cessar os passos, sem qualquer aviso, sacou as espadas dos quadris e se colocou em guarda, abrindo os braços e apontando as espadas para cima. Também aproveitou a deixa para banhá-las em um fluxo intermitente de chakra, assim como a postura tinha a intenção de usufruir do estilo de duas espadas, o Nitōryū.

— Raiko e Kyu, você os cortou como se fossem gados! Meu irmão era a melhor pessoa que eu conhecia, e mesmo com nossas divergências, sei que ele nunca se atreveria a fazer algo do tipo com um inimigo. Meu tio faria aniversário na próxima semana, tendo sido tirado dele o direito de ver os filhos crescerem! Se estou aqui hoje, se posso ter forças para lutar, é unicamente para livrar o mundo de um lixo de ser humano como você! — com as roupas encharcadas, gritava. O ruivo jamais havia sentido tanto ódio na vida, e aqueles sentimentos despertaram algo em seu interior. O mundo havia perdido mais um homem bom no momento em que mais uma monstruosidade era criada. Por fim, com as lágrimas sendo ocultadas pela chuva, emitiu uma intenção assassina colossal, tão abrangente e expressiva que havia conseguido afetar o monge.

Apegando-se cegamente à ideia de que não poderia recuar, mesmo com o psicológico em frangalhos, Ethan forçou-se a encarar o inimigo nos olhos, vendo o que as suas ações haviam criado. Mas, ainda que tentasse afastar os pensamentos negativos, foi impossível não se lembrar do que havia acontecido durante o primeiro confronto, visto que os mesmos acontecimentos voltavam a se repetir. Assim como antes, inexplicavelmente, marcas negras emergiram da tatuagem em seu pescoço e envolveram o seu corpo, em uma manifestação de poder súbita que desafiava o senso comum. Porém, após amargar mais uma derrota, simplesmente não podia deixar que as coisas saíssem do controle mais uma vez, simplesmente não podia aceitar que a sua fraqueza o definisse. Por isso, no momento em que viu o ruivo sacar o pergaminho e arremessá-lo no alto, lutou contra a sensação que envolvia seu ser, impondo sua força de vontade contra qualquer resquício de medo. Não satisfeito, sua preparação para fazer o que fosse necessário o obrigou a concentrar quantidades exorbitantes de oxigênio nos pulmões, aumentando suas capacidades físicas em níveis inimagináveis. Os olhos ficaram completamente brancos e uma aura amarela o cercou; os músculos se tornaram acentuados; por fim, sua pele atingiu tons avermelhados.

Quando finalmente se viu livre das amarras do medo, não teve muito tempo para reagir ao ataque que vinha em sua direção. Em um piscar de olhos, o pergaminho sobre a sua cabeça havia trazido à tona uma infinidade de armas, desde shurikens até katanas, onde cada um dos armamentos tinha apenas um alvo, o garoto tomado pela marca maldita. Como resposta, Ethan embainhou as espadas com certa urgência e concentrou uma quantidade massiva de chakra ao desembainhá-las novamente, fazendo com que um tornado maciço surgisse à sua volta e repelisse o ataque. Porém, sem qualquer abertura para se preparar para o que viria a seguir, já estava ao lado do inimigo, onde o mesmo partia em sua direção com o bastão dourado em mãos. Cada ataque banhado em chakra que vinha em sua direção, em sucessão, era repelido por muito pouco com movimentos sincronizado entre as lâminas que se moviam em uníssono, como se uma fosse a sombra da outra.

— Raiko e Kyu, você os cortou como se fossem gados! Meu irmão era a melhor pessoa que eu conhecia, e mesmo com nossas divergências, sei que ele nunca se atreveria a fazer algo do tipo com um inimigo. Meu tio faria aniversário na próxima semana, tendo sido tirado dele o direito de ver os filhos crescerem! Se estou aqui hoje, se posso ter forças para lutar, é unicamente para livrar o mundo de um lixo de ser humano como você! — completamente fora de si, enquanto girava o corpo e o bastão, gritava as mesmas palavras de antes, intensificando o peso de cada uma das vidas perdidas naquele dia.

As investidas intentadas, no entanto, duraram até o momento em que o sujeito percebeu que seria incapaz de sobrepujar as defesas do loiro com ataques normais. Se quisesse concluir a sua vingança, precisaria arriscar tudo em um único golpe. Portanto, ao encontrar uma brecha entre os ataques que realizava, saltou para trás e levantou o bastão, voltando a concentrar o chakra nele. Por sua vez, usava o objeto como uma espécie de para-raios, onde em pouco tempo uma descarga de energia pendeu dos céus.

Da mesma forma como aconteceu durante todo o confronto, Ethan não tinha tempo para colocar as ideias no lugar e planejar seus movimentos, tudo o que podia fazer era reagir às investidas e torcer para os esforços serem o suficiente. O mesmo aconteceu quando viu o algoz levantar os braços e se preparar para seu golpe derradeiro. No momento em que um estrondo anunciou a iminência de um ataque que seria direcionado na sua direção, a única coisa que pôde fazer foi concentrar mais uma parcela de chakra na espada e tentar cortar o ataque ao meio. E foi exatamente o que fez quando precisou usar toda a força para não ser arremessado pelos ares, apegando-se ao cabo da espada como se sua vida dependesse disso. Ciente do que poderia acontecer, não hesitou quando mais uma vez confrontou a morte; estava pronto para morrer.

— DESGRAÇADO!!! — ao ver seu ataque mais poderoso ser repelido pelo corte decrescente como se não fosse nada, o ruivo perdeu o último resquício de sanidade, com os olhos vidrados.

Contudo, antes de iniciar mais um avanço na direção do loiro, foi ele que não teve tempo de dar o próximo passo, visto que o Ronin avançou com toda a velocidade em sua direção. E o avançou com a empunhadura dupla culminou em dois cortes devastadores. O primeiro corte não só havia conseguido partir o bastão ao meio, como também rasgou a armadura entre o ombro direito e o pescoço, deixando um rombo que ia até a cintura. Por fim, o segundo corte foi emendado logo após o primeiro, onde utilizava os estragos causado na armadura para aplicar um golpe mortal do ruivo. Assim, uma ventania composta de sangue, lama e água se expandiu pelos arredores, decretando o fim da luta.

— Você acha mesmo que ganhou? Que piada... — com sangue escorrendo pela boca, o ruivo começava a dizer as suas últimas palavras. — Eu realmente queria estar vivo para ver quando as presas triplas chegassem aqui. Samurai caçando samurai… que irônico. — No seu último suspiro, amaldiçoou a figura do ninja, enquanto o corpo caía sem vida no chão.

De pé, com o olhar perdido, sem saber como reagir e coberto de sangue, Ethan virou o rosto na direção do monge, quase como se esperasse que o velho dissesse que ainda havia salvação para ele. No fundo, só conseguia se odiar pelo que havia feito. Mais uma morte sem sentido havia acontecido, e a culpa era inteiramente sua.

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