Mais um dia de afazeres em Suna se iniciava e Biskka, assim como outros Shinobis, já se faziam presentes nas primeiras horas da manhã após o Sol nascer, ali, no Quartel General. Um Jounin experiente e de cara fechada estava logo à frente dos Genins e Chunins que se enfileiravam um ao lado do outro aguardando a sua vez. Quando ouvia-se o próprio nome, o Shinobi deveria se dirigir até ele para ser designada uma missão ― coisa que tinha de sobra em Sunagakure.

― Genin Biskka Albarona! ― disse o mais velho num tom alto e grave. Ela não tardou-se e foi até ele com um semblante determinado e largo sorriso.
― Heheh, o que vamos ter hoje? ― perguntou ela tomando para si o papel que ele havia tirado da sua prancheta.
― Aqui estão todas as informações que você precisa saber. Mas existe uma série de desaparecimentos na Vila e sinceramente não precisamos de mais um novo escandalo por aqui. Preciso que resolva e traga isso para o Quartel. Não quero que se precipite em nenhuma hipótese, entendeu bem?!

Mas a jovem parecia não escutar. Os seus olhos percorriam com atenção, lia com certa empolgação. Apesar de amar lutar, gostava de desvendar mistérios e atiçar a sua mente e era o que dizia ali exatamente: "Uma série de desaparecimento vem ocorrendo em Sunagakure e isso tem agitado as pessoas dos suburbíos, local com mais reincidência." E logo a mais havia um mapa onde evidências poderiam ser recolhidas, além da identidade de alguns desaparecidos.  

Considerações:

As horas seguintes foram dedicadas a visitar as famílias das pessoas desaparecidas. Não eram pessoas de grande impacto social em Suna, era verdade, mas ainda eram vidas humanas que deveriam ser preservadas. A jovem percebeu que se tratavam de homens, trabalhadores braçais que ganhavam a vida fazendo transportes entre Sunagakure e vilas e vilarejos ao redor, o que significava que, talvez, o crime não havia acontecido dentro da Vila.
― Já fazem quatro dias... ― dizia uma mulher de semblante cansado e voz chorosa. Biskka havia sido recepcionada pela esposa de Kakugawa, um trabalhador que havia conseguido uma oportunidade de transportar um jogo de porcelanas até a Cidadela da Areia, o cliente pagaria um bom dinheiro. Mas, ele não retornou e, se quer, deu notícias. Igualmente foi assim com Kazuru, Daiki e Shigure, todos eles homens que, em algum momento nos últimos cinco dias, desapaceram.
― Eu agradeço a sua atenção, eu vou me esforçar para saber o que realmente aconteceu com o seu marido. ― disse Biskka num tom consolador enquanto levava sua mão até o ombro da mulher que assentiu com a cabeça.
Enquanto caminhava por entre as pessoas nas ruas de Sunagakure, sua mente trabalhava tentando achar alguma conexão entre os desaparecimentos que, certamente, estavam interligados. Contudo, estava chegando a hora do almoço e ela estava em frente a um dos seus restaurantes preferidos ― daria uma pausa para comer algo enquanto estudava as suas anotações.

Considerações:

Sentada em uma das mesas do pequeno restaurante, Biskka descansava a cabeça sobre uma das mãos enquanto a outra segurava um caderno de anotações. O aroma de carne grelhada e especiarias se misturava ao cheiro característico de areia que sempre estava presente no ar da Vila da Areia. Apesar do ambiente acolhedor e da deliciosa refeição à sua frente, sua mente permanecia ocupada com os desaparecimentos. Ela folheava as páginas rabiscadas, repletas de detalhes sobre cada uma das vítimas: os dias de partida, os horários de saída e os destinos pretendidos. Após revisar cada caso minuciosamente, Biskka parou em uma anotação que passou despercebida até então. Um padrão parecia surgir diante de seus olhos.

Os quatro homens desaparecidos tinham em comum um trajeto específico — todos saíam de Sunagakure e, em algum momento, passavam por um oásis pequeno e isolado, a meio caminho entre a vila e a Cidadela da Areia. Esse ponto de descanso era conhecido por ser uma parada comum para mercadores e transportadores recarregarem suas provisões e darem descanso aos animais, mas também era um local perigoso, alvo de bandidos e ladrões por ser menos vigiado. ― Claro, é o ponto ideal para um ataque! ― ela pensou, os olhos se estreitando enquanto analisava suas anotações. ― Se todos eles passaram pelo oásis e sumiram em algum ponto depois disso... ― refletiu, mordendo levemente o lábio inferior. A hipótese começou a ganhar forma: poderia ser que o desaparecimento não ocorresse dentro de Sunagakure, mas sim naquela área, um território perfeito para emboscadas.

Considerações:

Ela caminhou rapidamente pelas ruas estreitas de Sunagakure, o calor abrasador do deserto refletindo em cada pedra do chão. Sua mente ainda repassava o padrão que identificara — o oásis isolado no meio do deserto, uma parada conveniente e perigosa ao mesmo tempo. Antes que percebesse, já estava diante das portas do Quartel General. O imponente edifício se erguia à sua frente, e ela hesitou por um instante. O plano inicial era simples: relatar suas suspeitas ao Jounin responsável e pedir reforços. Biskka olhou para a entrada movimentada, observando os shinobis indo e vindo, envolvidos em suas próprias missões. Seus dedos tocaram a capa de couro do caderno que trazia consigo, ainda sentindo a urgência do que havia descoberto. Mas então, parou.

Se falasse com o Jounin, talvez a situação se complicasse. Enviar um grupo inteiro para investigar chamaria muita atenção. Além disso, a Shinobi não poderia garantir que os responsáveis estariam no oásis quando a equipe chegasse. Ela também sabia que, se relatasse ao superior, seria retirada da missão por ser apenas uma Genin, e sua intuição não seria suficiente para convencê-los. Ela respirou fundo, sentindo o vento quente acariciar seu rosto. Cada segundo que passava podia significar o destino de mais alguém. ― Não tenho tempo para esperar ordens. ― pensou, voltando os olhos determinados para o horizonte do deserto além dos muros de Suna.

Considerações:

Ela mergulhou no abrasador Deserto do Vento. O calor emanava do solo como uma onda palpável, fazendo o ar vibrar e distorcer as formas ao longe. A areia fina e dourada parecia engolir seus pés a cada passo, resistindo a cada avanço. Contudo, ela seguia determinada, enfrentando o terreno desafiador com a força física que tanto se orgulhava de ter cultivado. Os primeiros quilômetros foram desgastantes, o sol impiedoso castigava suas costas e as roupas colavam-se ao corpo encharcado de suor. A jovem shinobi não vacilava. Seus músculos trabalhavam no limite, cada passo exigindo um esforço extra para manter o ritmo constante. A areia solta dificultava a caminhada, tornando a progressão lenta e extenuante. Cada movimento parecia um teste de resistência, e Biskka mantinha-se focada, ignorando o calor sufocante e a sede que se intensificava a cada instante. O terreno acidentado e irregular exigia mais do que força; exigia precisão. Com movimentos meticulosos, ela subia pequenas dunas e descia em terreno firme, o peso do corpo jogado de um lado para o outro para equilibrar-se. Os olhos varriam o horizonte em busca de marcos que indicassem que estava no caminho certo, enquanto sua respiração se tornava mais profunda, o coração bombeando sangue aos músculos fatigados.

Após várias horas de caminhada, o vento forte trouxe consigo um obstáculo adicional: uma tempestade de areia repentina. O céu límpido escureceu, e as partículas de areia começaram a rodopiar ao redor. Biskka diminuiu o ritmo e cobriu o rosto com um pano, protegendo-se do vento cortante. O tecido fino não impedia a aspereza dos grãos de arranhar sua pele, mas ela não parou. Continuou empurrando o corpo para frente, mesmo que cada passo fosse como mover-se contra uma parede invisível que tentava empurrá-la para trás. Seus pés afundavam e deslizavam na areia, e ela sentia a pressão nos tornozelos e joelhos a cada nova investida. As pernas queimavam, os pulmões ardiam com o ar seco e rarefeito. Biskka mordia os lábios, concentrada em manter o foco. Parar não era uma opção. Ela precisava superar o próprio limite e provar que sua força e resistência não eram meros frutos de treino, mas de uma vontade inabalável. Quando a tempestade se dissipou, ela parou por um instante para recuperar o fôlego. O suor agora misturava-se com a areia, formando crostas sobre a pele morena e brilhante. Seu corpo doía, mas a determinação em seus olhos não vacilava. Olhou ao redor, a visão turva por um momento, até avistar a formação rochosa que indicava a proximidade do oásis.

Sentindo uma nova onda de energia percorrer seus músculos exaustos, ela apertou o passo, empurrando-se além do cansaço que ameaçava tomar conta. Os lábios rachados e a boca seca pareciam pequenos detalhes irrelevantes comparados ao que realmente importava: encontrar as respostas. Cada movimento de seu corpo gritou em protesto, mas ela o forçou a seguir. Quando finalmente chegou às margens do oásis, o que mais a impressionou não foi o reflexo da água clara e límpida, mas o fato de ter suportado a travessia extenuante. Em pé, ofegante, ela abaixou-se para analisar as marcas no chão, confirmando que havia movimento recente. Suas mãos trêmulas de esforço tocaram as pegadas e rastros de rodas, e um sorriso de satisfação surgiu em seu rosto cansado. A resistência que demonstrou até ali não foi apenas física, mas também mental.

Considerações: