O ar na região periférica de Sunagakure estava denso e carregado de uma energia estranha, como se uma tempestade silenciosa pairasse no horizonte. Biskka sentia o odor amargo e metálico que permeava o ambiente — uma clara indicação de que o veneno das criaturas havia se espalhado. A missão era simples: destruir o ninho e eliminar as ameaças antes que se espalhassem para o centro da vila. Mas, ao ver o tamanho das vespas que zuniam ameaçadoramente ao seu redor, ela sabia que essa tarefa seria tudo, menos fácil. Posicionada sobre uma elevação rochosa, com as mãos formando rapidamente o selo de tigre, Biskka canalizou o chakra em seu estômago. O calor familiar do Katon se acumulou em sua garganta, e ela sentiu a força da técnica crescendo a cada segundo. Seu olhar estava fixo no ninho de vespas gigantes que se aninhava dentro de uma cratera rochosa, parcialmente escondido entre as fendas. Essas criaturas, grandes como lobos, moviam-se em enxames caóticos, protegendo furiosamente a colmeia. Cada uma possuía um ferrão pontiagudo, que gotejava uma substância esverdeada e viscosa. O som das asas das vespas reverberava por todo o lugar, formando um zumbido ensurdecedor. Sem hesitar, Biskka saltou da elevação, pousando alguns metros de distância do ninho. Ela inspirou profundamente e, em um único movimento fluido, soltou uma torrente incandescente de chamas.

— Katon: Gōkakyū no Jutsu! — Exclamou ela após puxar um pouco mais de ar para os pulmões.

Considerações:

A enorme esfera de fogo emergiu com um rugido feroz de sua boca, incendiando o ar ao seu redor e avançando como uma onda destrutiva. O calor era sufocante, e até mesmo a areia sob seus pés começava a se agitar com a força do jutsu. A bola de fogo expandiu-se rapidamente, engolindo as primeiras vespas que se lançaram na direção de Biskka. Elas foram consumidas em segundos, as carapaças queimando e desintegrando-se em cinzas que flutuaram como pequenos flocos negros no vento. O impacto da esfera de fogo contra o ninho foi explosivo. O calor intenso fez o ninho crepitar e se desfazer em chamas. As vespas restantes se agitaram, atacando em todas as direções, mas Biskka já estava um passo à frente. Com um rápido movimento, ela sacou sua kunai, seus reflexos afiados guiando cada golpe enquanto se esquivava dos ataques. O zumbido ameaçador das asas se misturava ao som metálico da lâmina perfurando carapaças. Com precisão, Biskka cortou a primeira vespa que avançou, sua kunai atravessando o tórax da criatura, que caiu ao chão em espasmos. Mais duas vieram pela lateral, os ferrões gotejando veneno em um ataque coordenado. Ela girou o corpo, desviando por pouco e cravando a lâmina em uma das cabeças, arrancando-a de lado. As asas batendo freneticamente e o sangue escorrendo tingiram a areia ao redor.

Considerações:

Ainda recuperando o fôlego, a Shinobi limpou a lâmina da kunai em um pedaço de tecido que havia arrancado da própria roupa durante a batalha. O silêncio envolveu o local, quebrado apenas pelo suave crepitar das chamas remanescentes que ainda queimavam o que sobrara do ninho destruído. Ela observou a devastação ao seu redor — o chão repleto de carapaças destroçadas, ferrões quebrados e o cheiro pungente de veneno misturado ao aroma de carne queimada. As vespas haviam sido derrotadas, e o perigo para Sunagakure, neutralizado. Enquanto respirava fundo e recobrava o foco, Biskka ouviu passos rápidos se aproximando. Virou-se na direção do som e avistou um jovem shinobi, um outro Genin, com a bandana amarrada na testa e o rosto ligeiramente suado, provavelmente devido ao esforço deslocado até ali.

— Você é Biskka, certo? — ele perguntou, com um tom de voz um pouco ofegante.

Ela assentiu, levantando-se devagar e mantendo o olhar atento no mensageiro. Ele parecia hesitante, talvez por não querer interromper a cena de batalha recente. Mesmo assim, o garoto se recompôs e se aproximou, entregando a mensagem com um tom mais firme e formal.

— Você foi requisitada no Quartel General. O pedido veio diretamente de cima. Vá imediatamente.

Biskka ergueu as sobrancelhas, surpresa, mas não deixou transparecer nada além de um aceno de cabeça em concordância. Uma convocação do Quartel General de forma tão repentina? Isso não era comum, ainda mais para uma genin. Algo de importante estava para acontecer, e ela não podia ignorar a curiosidade que começou a borbulhar dentro de si. Guardando a kunai de volta no coldre, ela lançou um último olhar ao campo de batalha antes de seguir o jovem mensageiro.

Considerações:

Biskka atravessou os portões do Quartel General de Sunagakure, seus passos ecoando pelo piso de pedra enquanto ela se movia com determinação pelos corredores. A estrutura robusta e compacta abrigava a essência operacional da vila — um núcleo fervilhante de informações e planejamento estratégico. Shinobis de várias patentes estavam por toda parte, executando tarefas diversas, trocando relatórios ou se preparando para missões. Biskka notou a seriedade nos rostos ao seu redor e o leve murmúrio de conversas técnicas e ordens sussurradas. Não era um lugar para hesitação. Ela sabia exatamente para onde ir. Seu olhar firme se dirigiu até um ponto específico: um jounin mais experiente, com expressão concentrada e uma prancheta em mãos. O homem vestia o colete padrão dos shinobis de alto escalão e tinha uma postura tranquila, mas alertada. Assim que seus olhos encontraram os de Biskka, ele esboçou um leve sorriso de aprovação.

— Chegou rápido, Biskka. — disse ele, sem levantar a voz, mas com uma clareza que atravessava o barulho ambiente. — Isso é bom. Temos algo delicado para você.
— Heh, algo delicado? Espero que eu precise lutar com alguém. — respondeu com um sorriso animado e olhar brilhante.
— Sua missão é escoltar um grupo de comerciantes que acabou de cruzar o Deserto do Vento. Eles solicitaram proteção até a área central da vila, mas… — a voz do jounin ficou mais séria, e ele a encarou diretamente. — Há algo suspeito nos movimentos deles. Há indícios de que carregam algo além de mercadorias comuns. Talvez estejam escondendo informações ou agindo sob disfarce. Precisamos que você os observe de perto, mas sem levantar suspeitas. A ordem é agir como escolta de boa-fé.

A mente de Biskka imediatamente começou a considerar as possíveis implicações. Uma tarefa simples como escoltar poderia se desdobrar em algo muito mais complexo se as suspeitas se confirmassem. Ela sabia que, se a situação evoluísse, teria que tomar decisões rápidas e teria de, talvez, precisar recorrer a violência e uma possível batalha iria se iniciar. O que animou a menina que assentiu com a missão com um forte aceno de cabeça.

Considerações:

Enquanto se dirigia ao portão principal de Sunagakure, onde os comerciantes a aguardavam, sentiu o peso da responsabilidade aumentar. Ser uma genin encarregada de uma missão que envolvia vigilância e espionagem de forma tão sutil não era algo comum. O vento quente do deserto soprou contra seu rosto, carregando consigo partículas de areia que arranhavam levemente sua pele. Ela respirou fundo, sentindo a adrenalina aumentar. Ao longe, Biskka avistou o grupo de comerciantes. Carroças cheias, camelos empacotados e homens trajando roupas típicas do deserto. Seus rostos estavam cobertos por véus de tecido leve, e suas mãos estavam sempre ocupadas ajeitando caixas e sacos de mercadorias. Pareciam cansados, mas não exaustos, o que era suspeito considerando o percurso árduo pelo Deserto do Vento. Ela se aproximou com um sorriso profissional, acenando levemente com a mão enquanto um dos comerciantes, um homem corpulento de meia-idade, levantava o olhar para ela. Seus olhos semicerrados a examinaram por um segundo antes que ele acenasse de volta, tentando transmitir um ar de alívio.

— Ah, a nossa escolta chegou. — disse o homem, num tom amistoso. — Espero que possamos contar com você para o restante do trajeto.

Biskka respondeu com uma reverência educada e um olhar atento, ocultando qualquer sinal de desconfiança. A primeira parte da missão começava ali: ganhar a confiança deles, se integrar ao grupo e, silenciosamente, começar a observar cada movimento, cada troca de olhar e cada palavra dita.

Considerações:

O calor intenso de Sunagakure parecia emanar das próprias pedras que compunham as ruas e edificações da vila, irradiando um calor abrasador que envolvia o ar e tornava a atmosfera quase palpável. Biskka caminhava ao lado do grupo de comerciantes, o suor escorrendo levemente por sua testa, mas ela mantinha a postura relaxada, sem demonstrar desconforto. A viagem pelos primeiros setores da vila foi tranquila, o que lhe permitiu avaliar melhor os homens que escoltava. Eles pareciam experientes, trocando poucas palavras e mantendo um ritmo organizado enquanto levavam as mercadorias de um ponto a outro. O primeiro destino foi uma loja de ervas e remédios naturais. Um dos comerciantes, um homem mais jovem de olhar esquivo, entregou um pacote médio, cuidadosamente embrulhado, à proprietária. Trocaram breves palavras, sorrisos formais, e logo ele retornou para junto do grupo. Em seguida, foram para um depósito de suprimentos. Novamente, um pacote foi entregue, dessa vez a um rapaz que trabalhava como auxiliar. Ele conferiu o item, assentiu rapidamente e aceitou a encomenda. Em nenhum dos locais houve sinais de algo estranho — nada de olhares nervosos, nada de sussurros suspeitos ou mensagens veladas. Apenas negócios comuns.

Biskka os seguiu por mais dois estabelecimentos: uma tenda de roupas onde deixaram um embrulho menor, e uma barraca de armas, onde um comerciante mais idoso recebeu o item com uma risada jovial. Tudo parecia seguir um roteiro normal, sem desvios, sem comportamentos que indicassem algo ilícito. Após várias entregas em sequência, Biskka começou a sentir que algo não se encaixava. Talvez fosse o excesso de normalidade que a deixava em alerta. Qualquer atividade que seguisse padrões tão previsíveis acabava se tornando suspeita por si só. Ainda assim, não podia agir sem um motivo claro. Decidiu que era hora de mudar de abordagem.

— Vou dar algum espaço para ver como agem sem minha presença próxima. — pensou. Biskka fingiu verificar algo na bandana que prendia seu cabelo, depois parou e se virou para os comerciantes com um olhar casual. — Vou checar algo rapidamente. Retorno em alguns minutos. — avisou, deixando que sua voz carregasse uma confiança despreocupada, como se aquilo fosse apenas um procedimento comum.

Considerações:

Biskka observou em silêncio, seus olhos rastreando cada gesto. O líder do grupo, o homem corpulento que havia liderado as interações desde o início, lançou um olhar ao redor, como se verificasse algo. Em seguida, gesticulou para os outros, que começaram a se dividir em pares e caminhar para diferentes direções. A jovem shinobi estreitou os olhos, seu interesse renovado. Um dos pares se dirigiu a um armazém afastado, enquanto outro grupo rumou para uma região de tendas de tecidos finos e tapeçarias. Havia algo de diferente agora — os passos mais apressados, os olhares mais atentos. A aura de rotina começava a se dissipar, revelando um toque de cautela que não havia antes.

Ela os seguiu discretamente, movendo-se pelas coberturas com a leveza de uma folha carregada pelo vento. De cima, acompanhava cada um de seus alvos, sem ser vista, aguardando pacientemente para ver o que fariam. Qualquer sinal, por menor que fosse, poderia revelar a verdade sobre aqueles homens e os misteriosos pacotes que entregavam.

— Vamos lá, me mostrem o que vocês estão escondendo... — pensou consigo mesma, com um sorriso largo no rosto e olhar felino atenta ao grupo logo abaixo. Era quase como um desejo pegá-los no flagra, aquilo certamente iria animar a sua tarde.

Considerações:

Das sombras profundas entre duas construções, um vulto surgiu de maneira quase etérea, como se tivesse brotado das trevas. O homem que apareceu trajava um manto longo e escuro, com um capuz profundo que ocultava parcialmente seu rosto. Sua postura era estranha, desleixada, mas havia algo inquietante nele. A presença daquele estranho era como um peso invisível que deixava o ar mais denso, e até mesmo os comerciantes, que até então pareciam tranquilos, se enrijeceram de leve. Biskka prendeu a respiração, estreitando os olhos para tentar captar melhor a figura misteriosa. A maneira como ele se movia era fluida, sem esforço, e não deixava dúvidas de que não era um civil comum. As mangas longas de seu manto balançavam com o vento, enquanto ele avançava com passos lentos e deliberados em direção ao grupo. Ele parou a poucos metros dos comerciantes, a cabeça ligeiramente inclinada para o lado, como se os estudasse. Quando finalmente falou, sua voz era baixa e rouca, como o sussurro de uma cobra deslizando pela areia.

— Vocês demoraram… — A frase saiu quase como um resmungo, carregada de impaciência e desagrado. — A mercadoria?

O líder corpulento do grupo deu um passo à frente, baixando a cabeça em sinal de respeito. Seu comportamento mudara — a segurança anterior fora substituída por uma cautela quase subserviente. Ele puxou algo do interior de sua túnica: um pequeno pacote, envolto em um tecido escuro. As mãos dele tremeram levemente enquanto o entregava ao homem encapuzado. Biskka fixou o olhar naquele objeto. O que quer que fosse, parecia ser a verdadeira razão por trás da missão de escolta. Sentiu o coração acelerar com a excitação de descobrir algo mais profundo e perigoso. O homem encapuzado estendeu uma mão esquelética, pegando o pacote com dedos longos e magros. Por um momento, ele ficou imóvel, apenas segurando o embrulho, antes de dar um passo para trás.

— Vocês podem ir. — A voz dele cortou o silêncio como um açoite.

Os comerciantes trocaram olhares rápidos e incertos, mas nenhum ousou questioná-lo. Eles fizeram uma breve reverência e começaram a recuar, deixando o estranho sozinho com o embrulho. Com a mesma rapidez com que surgira, ele deu meia-volta e desapareceu nas sombras, como se o ambiente à sua volta o engolisse.

Considerações:

A Shinobi se moveu como um borrão, descendo do edifício com agilidade e precisão. Seus pés mal tocaram o solo quando ela já estava diante do homem encapuzado, sua mão firme e determinada envolvendo o pulso do estranho. O contato trouxe um lampejo de surpresa ao rosto oculto do homem, mas foi rápido demais para ser notado por qualquer um que não fosse um ninja treinado. Os olhos de Biskka brilharam ao perceber que tinha escolhido o momento exato. O movimento súbito fez com que um dos pacotes caísse no chão, espalhando um rolo de pergaminhos amarrados. Os documentos estavam claramente marcados com selos de proteção, indicativos de informações importantes e potencialmente perigosas. O coração dela acelerou. Pergaminhos em uma transação clandestina não eram apenas suspeitos — eram uma ameaça direta à segurança de Sunagakure.

— Tsc, eu sabia que tinha algo errado. — ela murmurou para si mesma, seus dedos apertando com mais força o braço do homem encapuzado. O estranho tentou se desvencilhar, mas Biskka era implacável. Seu chakra fluía pelos músculos, intensificando seu aperto. Enquanto ela o mantinha imobilizado, os comerciantes, alarmados, recuaram. O líder corpulento empalideceu, os olhos arregalados de pavor. Eles trocaram olhares frenéticos e, como um grupo de ratos acuados, giraram nos calcanhares e correram em direções opostas, largando suas cargas e se esgueirando pelas vielas estreitas de Sunagakure.

— Hunf, eles não vão sair de Suna. Eu os pego depois. — Biskka rosnou, o tom carregado de convicção. Sem se preocupar em persegui-los, sua atenção voltou ao homem à sua frente. Havia algo mais importante ali. Ela relaxou o aperto o suficiente para deixá-lo falar, mas não o suficiente para deixá-lo escapar. O homem encapuzado ergueu a cabeça lentamente, deixando que um sorriso macabro se formasse sob o capuz. A atmosfera parecia mudar ao redor deles, um ar denso e ameaçador se espalhou. Não era alguém comum. O simples fato de ter permanecido tão calmo enquanto os outros fugiam dizia muito. Ele inclinou a cabeça, estudando a jovem ninja com interesse, como se estivesse avaliando uma peça de xadrez em pleno movimento.

— Quem é você? — indagou ela, fitando o homem com seriedade.
— Não interessa, garota! — Sibilou o homem que tinha seu rosto completamente corpo, com exceção dos olhos que eram penetrantes e intensos, encarando a Shinobi de volta. E num gesto rápido, ele estourou uma bomba de fumaça no chão, surpreendendo a jovem que deu alguns passos para trás, tossindo enquanto cobria a boca.

A fumaça se dissipou lentamente ao redor de da garota, que ainda tentava recuperar o fôlego. A súbita explosão a havia desorientado por alguns instantes, forçando-a a recuar e cobrir o rosto para evitar respirar o gás. Seus olhos lacrimejaram, mas, mesmo com a visão turva, ela ainda conseguia distinguir que o homem encapuzado havia desaparecido.

— Maldito... — murmurou entre os dentes, limpando o suor misturado com areia da testa. Ainda assim, ao abaixar o olhar, viu que um dos pergaminhos que ele tentara proteger estava ali, caído a alguns metros de distância.

Sem hesitar, Biskka se moveu até o objeto e o pegou com cuidado, sentindo o calor residual do chakra que envolvia o pergaminho. “Pelo menos consegui isso”, pensou. Era um bom começo. O item em suas mãos agora era uma prova concreta de que algo maior estava em curso, e levá-lo ao Quartel General poderia fornecer pistas valiosas sobre quem eram aqueles homens e quais os seus objetivos. Ela deu um último olhar para as sombras ao redor, ainda atenta a qualquer sinal de movimento. Não havia sinal do homem encapuzado. Com certeza ele não se deixaria capturar facilmente e, por ora, havia escapado. Mas os comerciantes... aqueles ela ainda podia rastrear. Eles eram menos treinados, menos experientes, e muito mais desesperados agora que haviam perdido a proteção e orientação de seu líder. A Shinobi guardou o pergaminho em uma pequena bolsa de couro em sua cintura, o coração pulsando com uma sensação mista de frustração e adrenalina. Sua prioridade agora era localizar os comerciantes fugitivos e impedir que a mercadoria que transportavam saísse dos limites de Sunagakure.

Considerações: