O sol abrasador pairava alto sobre o deserto, projetando sombras curtas e afiadas sob as dunas irregulares de Sunagakure. O calor seco dominava o ar, criando ondulações tênues na paisagem, mas nada disso intimidava Biskka. Como uma filha do deserto, ela havia crescido nesse ambiente implacável, e o calor escaldante era apenas mais um obstáculo que ela estava disposta a enfrentar. A Genin se encontrava isolada, nas bordas de uma antiga formação rochosa, longe o suficiente para evitar distrações, mas ainda ao alcance da vila. O objetivo de hoje era claro: treinar sua força física até o limite. Seu corpo, atlético e moldado por anos de treinamento, estava preparado para o desafio, mas ela sabia que, se quisesse se tornar mais útil para proteger os seus, precisaria de mais poder.

— Beleza, hoje o dia vai ser bom... — disse ela de olhos fechados enquanto alongava os braços ao mesmo tempo que caminhava pelo local. Vestia-se apenas com uma faixa que cobria os seus seios e uma calça num tom de marrom mais escuro, além de suas sandálias. O Sol massageava as duas costas graças ao penteado de coque no alto da cabeça que permitia isso.

A jovem genin começou seu treino erguendo grandes rochas. Eles estavam ali, dispostos pelo local de maneira desordenada, dos mais variados tamanho e formas, cada um mais pesado que o anterior. Biskka arqueou suas costas, pegou a primeira rocha com ambas as mãos, e sentiu o peso puxá-la levemente para baixo. Com um movimento firme, ergueu-a sobre seus ombros e começou a andar. Cada passo na areia era uma batalha, os grãos finos deslizavam sob seus pés, roubando-lhe o equilíbrio, enquanto os músculos de suas pernas queimavam. Mas ela continuava, focada em cada movimento, em cada contração muscular, ciente de que o controle do próprio corpo era tão importante quanto a força bruta. O suor escorria por sua pele morena, misturando-se ao pó do deserto enquanto ela lutava para chegar no topo de uma duna onde a primeira rocha foi depositada após um baque surdo dela na areia. Era somente a primeira. De lá ela viu uma pedra um pouco maior e tratou de ir até lá após secar o suor da testa com a parte detrás da mão direita.

Posicionou-se firmemente diante dela, flexionou os joelhos e agarrou a pedra com ambas as mãos. Sentiu a aspereza da rocha contra sua pele e, com um grito abafado de esforço, começou a levantá-la. Seus braços tremeram, os músculos do abdômen e das costas se contraíram, mas lentamente, a pedra começou a se erguer do chão. Cada movimento exigia concentração total. O peso da rocha, combinado com o terreno irregular, fazia com que cada passo fosse um teste de equilíbrio e força. A areia não ajudava, tornando o chão instável, forçando-a a reajustar constantemente seu centro de gravidade. Mas isso fazia parte do treino. Quanto mais ela lutasse contra o terreno, mais seus músculos se fortaleceriam. Após o que pareceram horas infinitas, ela soltou a última rocha no chão junto com dezenas de outras que já estavam ali. Seus pulmões queimavam, e ela respirou fundo, o coração martelando contra o peito. O calor do sol parecia dobrar, intensificando o cansaço que sentia, mas ela não parou. Ofegante, rangiu os dentes e voltou para o seu treinamento: Agora seria uma escalada.

Uma formação rochosa, irregular e traiçoeira erguia-se à sua frente, desafiando seus limites físicos. Ela respirou fundo, encarando o obstáculo. O vento árido soprou, carregando grãos de areia que arranharam sua pele exposta. Seus músculos já estavam cansados do treino, mas a determinação de superar cada desafio que Sunagakure lhe impunha era maior que o desgaste. Sem usar o chakra nos pés, a garota avançou na escalada apenas com sua força física, agarrando-se com força às fendas estreitas nas rochas. Cada nova pegada era uma batalha. Seus dedos, já marcados pela aspereza da pedra, cravavam-se nas saliências irregulares, os nós dos dedos ficando esbranquiçados de tanto esforço. A superfície da rocha era quente, abrasiva. A pele fina das suas mãos começava a se romper nas áreas mais sensíveis. O sangue brotou discretamente, misturando-se ao suor que já escorria pelo seu corpo, e logo seus dedos estavam sujos de uma mistura de areia, sangue e água salgada.

A cada impulso que fazia, seus antebraços queimavam com intensidade crescente. Os músculos, fatigados, gritavam por descanso, mas Biskka se recusava a parar. A força que ela estava cultivando não era apenas física; era mental, uma prova de sua resiliência e de sua capacidade de ignorar a dor para alcançar um objetivo maior. A rocha escorregadia sob o calor do sol exigia cuidado. Qualquer movimento em falso poderia significar uma queda dolorosa, mas ela se movia com foco absoluto. Conforme subia, o vento aumentava, e a areia fina, levada pelas rajadas, batia contra seu rosto e entrava nos olhos. Ela apertou as pálpebras por um momento, sentindo a areia se misturar ao suor que escorria pelas suas têmporas, deixando riscos brilhantes em sua pele morena. Seu cabelo ondulado, empapado de suor, grudava no rosto e no pescoço, atrapalhando sua visão, mas ela não podia parar para arrumá-lo.

— Eu não quero... continuar com um nível tão... baixo! — Falava consigo mesma em meio a quase um rosnado.

Seu coração martelava no peito, pulsando de esforço. Cada vez que ela puxava seu corpo para cima, sentia os ombros tensionados, as costas curvadas e o abdômen travado, suportando o peso e a gravidade que a puxava para baixo. O gosto amargo de areia e sangue se espalhava em sua boca. Suas mãos, já crivadas de pequenos cortes, deslizavam nas superfícies mais lisas, obrigando-a a segurar com mais força. As fendas nas rochas pareciam cada vez mais distantes umas das outras, e suas unhas arranhavam o granito áspero, arrancando pedaços pequenos de pele. Quando finalmente alcançou um ponto mais alto da formação, suas mãos estavam cobertas de sangue, e a areia grudada nas palmas aumentava a dor nos cortes abertos. Os braços e ombros tremiam com o esforço, e seus pulmões pareciam queimar com o ar quente e seco. Mas ela não se permitiu fraquejar. Sentada em uma pequena saliência na rocha, olhou para suas mãos e viu as marcas do esforço: cortes, calos e o sangue misturado à areia. Ao longe, ela viu a imensidão do deserto que se estendia em todas as direções e, apesar do ambiente hostil, sentiu-se extremamente conectada. O calor, a areia, o sangue - todos eram parte do treinamento, uma extensão de sua própria vontade de continuar. E mesmo com a dor latente em cada músculo. Ela sorriu.

— Certo, e agora como faço para descer?

Considerações: