Fragmentos de estrelas desabaram do firmamento.

Lágrimas cósmicas declaravam que os céus eram apenas um vidro frágil, agora despedaçado, onde, a cada faísca celestial, revelava-se um vazio assombroso.

Neste abismo celestial, Munashi se perdia, com olhos semelhantes a espelhos incandescentes que refletiam meteoros em chamas.

A respiração suspensa flutuava entre o medo e o fascínio. "Será que os deuses estão chorando?" perguntava-se, com uma ingenuidade que refletia sua idade.

Ao redor, a floresta vibrava com vida, como sempre fizera. O aroma doce das flores noturnas enchia o ar, e o zumbido suave dos insetos formava uma sinfonia natural.

A tribo de Munashi, abrigada por árvores centenárias, conduzia um momento sagrado.

Seus pais, os líderes da tribo, comandavam o ritual com mãos firmes e vozes embargadas pelo peso da tradição. Era um rito passado de geração em geração, uma celebração da conexão íntima da tribo com a terra e o céu, uma súplica por bênçãos e proteção.

Hiroshi, com olhos penetrantes e postura firme, e Kaede, com serenidade e voz melodiosa, eram pilares de força e ternura na comunidade. Munashi olhou para eles e lembrou-se de quando ouvia histórias contadas ao redor do fogo.

No entanto, o ritual se transformou em um frenesi de pânico. As vozes que cantavam em uníssono agora gritavam em desespero.

Iluminados pelo brilho tórrido, Hiroshi e Kaede pareceram envelhecer décadas em segundos. Seus rostos marcados, não mais pela sabedoria, mas pelo peso de um mundo que desmoronava sem explicação.

"Por que os deuses, que sempre honramos, agora nos viram as costas?" A pergunta, carregada de uma amargura que se espalhava como veneno, veio do ancião Jirou. A voz grave e antiga reverberou por entre os troncos das árvores, silenciando até o eco dos tambores que antes ressoavam na floresta.

A tradição e a fé, que por tanto tempo haviam sido a espinha dorsal de sua comunidade, agora eram desafiadas por uma realidade que fragmentava não apenas o firmamento, mas a compreensão do mundo.

Nesse exato momento, cortando o ar já tenso, um grito de guerra irrompeu da escuridão da floresta. Era um som que Munashi nunca ouvira antes, mas que reconheceu instintivamente. Era o som do inimigo, o som da morte que se aproximava, fazendo os céus despedaçados parecerem apenas um prelúdio do que estava por vir.

Naquele momento, uma sombra insidiosa começou a eclipsar a lua, como se a própria noite quisesse apagar sua beleza prateada. Munashi sentiu um calafrio percorrer-lhe a espinha. "O que é isso?" pensou, com o coração acelerado em um ritmo frenético.

O menino mal teve tempo para responder à própria questão quando as sombras se materializaram em formas — os Shinobazu.

Emergiram das trevas da floresta, emitindo rugidos guturais que extinguiam os sons da natureza, brandindo lâminas que ceifavam vidas a cada golpe. Assim, sem aviso prévio, rapidamente o doce aroma das flores noturnas foi substituído pelo fedor metálico do sangue.

Vestidos com armaduras escuras e máscaras grotescas que deixavam claras suas intenções, eles eram a personificação do terror. Entre eles, um se destacava: um homem robusto, de cabelo branco, trajando uma máscara adornada com marcas que pareciam ter sido feitas com o sangue das vítimas.

Os guerreiros da tribo, embora surpresos, se mobilizaram com bravura. Escudos erguidos, lanças apontadas, formavam uma barricada em torno dos mais vulneráveis. Mas os Shinobazu eram como uma tempestade, imparáveis e devastadores.

Moviam-se como bestas sanguinárias, um borrão de movimento e ferocidade. A tribo de Munashi, mesmo com toda sua conexão com a terra e o céu, parecia despreparada para a brutalidade que se abatia sobre eles.

No auge do caos, Munashi encontrava-se empoleirado em um galho robusto, com olhos afogados em desespero, mas secos como pedra. Daquela posição elevada, tinha uma visão panorâmica do inferno em que a tribo se tornara. "Eu não posso fazer nada?"

Hiroshi e Kaede, pilares da resistência, agora eram figuras trágicas na tapeçaria da destruição.

O líder, completamente ferido, cortava o ar numa defesa feroz com um machado cerimonial, enquanto sua esposa, em situação igualmente trágica, munida de um cajado incrustado de pedras místicas, entoava palavras ancestrais que faziam os arredores vibrarem. Mas nem a força bruta de Hiroshi nem as técnicas de Kaede podiam conter a maré sombria que engolia a tribo.

Munashi observou seus pais tentarem, de forma desesperada, resistir à invasão, enquanto pequenas palmas envolviam um galho próximo num aperto firme.

Mas mesmo eles caíram, suas vidas extintas sob o aço frio da crueldade.

O olhar de Munashi ficou preso nos corpos dos pais, e uma dor mais cortante do que qualquer lâmina o atingiu. "Eles se foram", disse com dificuldade, sua voz mais próxima de um sussurro.

Do alto da árvore ao lado, uma amiga de infância, Kohana, mantinha a boca aberta num grito silencioso, petrificada pelo medo. Olhava para Munashi com olhos que imploravam por uma resposta.

Ainda atordoado pela morte das pessoas que mais amava, o garoto virou a cabeça lentamente em direção à amiga, apenas para notar uma sombra atrás dela. Munashi ainda abriu a boca para gritar, para avisar a garota de um Shinobazu que se aproximava furtivamente. Mas o grito ficou preso na garganta.

Afinal, sabia, de alguma forma, que mesmo que gritasse, sua voz seria tragada pelo vórtice de ruídos e horrores, inatingível aos ouvidos de quem amava.

Antes que pudesse fazer qualquer coisa, uma única lâmina deu fim ao abismo de desespero que a garota enfrentava.

Munashi olhou para Kohana uma última vez; seus olhos encontraram os dela em um instante que durou uma eternidade.

"Eu tenho que fazer algo. Eu tenho que..." Com a mente em frangalhos, palavras e pensamentos foram sufocados pelo som dos tambores de guerra dos Shinobazu.

Naquele momento, algo emergiu do próprio âmago, manifestando-se na forma de uma decisão desesperada.

Munashi se deixou cair.

Ao atingir o solo, a gravidade o golpeou como uma marreta.

Todos os ossos do corpo estalaram; os músculos pareciam prestes a se partir ao menor movimento. No entanto, ao mesmo tempo, ele se sentiu anestesiado.

Uma dor tão profunda irradiava de seu peito que o deixou alheio a tudo.


Munashi: HP [1025|1025]; CK [1400|1400]; [22m/s]; [00|08];

Adendos: