A cegueira não é para ser um empecilho na vida de uma ninja, ao menos eu esperava não deixá-la ser. Meditando sob as águas do salão de banho da casa Abusaki, focava meus sentidos no próprio corpo, mas além da carne e ossos que sustentam o físico, buscando além, no próprio espírito. A energia vital que rege a vida, mas também permite manifestações surreais ao mundo físico, algo realmente surreal e surpreendente, o chakra. O ar enche os pulmões e a energia borbulha em ansiedade, desejando ser expelida, mas sendo continuamente retida pela pele. Se quisesse melhorar meu controle sobre as técnicas ninja, deveria aprender a usar adequadamente minha própria energia e ser talvez mais ágil ao tecer os selos para acelerar todo o processo.


Tateando o caminho até o antigo campo de treinamento, esperava que houvesse tranquilidade para colocar um exercício antigo em prática. Era óbvio que apenas meditar e rezar pela melhora não traria resultados, mas a experiência o faria. Não eram muitas as técnicas à minha disposição, mas alguma delas serviria para drenar meu chakra e forçá-lo a se fortalecer. Uma vez que me acostumasse a utilizar minha energia, esperava que meu controle melhorasse e minha aptidão crescesse, assim como foi na infância.

Sentia o vento batendo em meu rosto, bagunçando meus cabelos e tocando o corpo, lembrando da última vez em que utilizei deles para algo — Já faz um bom tempo. — Sussurrei para ele, tecendo selos da maneira que me lembrava de ter aprendido na academia, controlando o chakra para fora do corpo, transformando-o em brisas rápidas e poderosas, empurrando o vento natural para longe, bagunçando um pouco o cenário, provavelmente. Senti certa paz momentânea, alguns segundos de silêncio, antes que a brisa retornasse ao seu caminho natural. Ao menos tinha a certeza de que ainda sabia utilizar jutsu, algo que sentia certa saudade, mas que esperava que o tempo fosse capaz de me fazer voltar à atividade em breve.

Me sentei sobre a grama macia com cautela, focando outra vez na energia interior, buscando compreendê-la melhor que da última vez, no salão de banho. Continuei a fazer os mesmos selos, buscando ser cada vez mais veloz do que da vez anterior, acumulando a energia nos pulmões, soprando e manipulando o ar para criar cada vez mais movimento, mais mudança, mais energia. Com as costas no solo, mirando os céus desta vez, para não acabar por destruir algo por acidente, novos selos se formavam de minhas frágeis mãos, conforme o restante do chakra era amassado nos pulmões, a boca se abria para absorver o máximo de ar, para expelir tudo como uma enorme torrente de vento em direção aos céus, criando um som forte e “pesado”. Sem mais energia para continuar treinando, apenas respirei fundo e esperei ter alguma força de vontade para me levantar e voltar para casa. Provavelmente precisaria de outro banho após tudo isso.