Nathaniel recebeu uma mensagem naquela noite para se encontrar com Katsuhiro. Particularmente, não gostava da personalidade daquele homem que, por ser bilionário, achava que tinha um poder sobre as pessoas, porém não podia negar que ele era um aliado em potencial, alguém que, por mais estranho que parecesse, tinha os mesmos ideais e os mesmos inimigos que o elfo, então precisava dar um voto de confiança para o mesmo. Por isso rumou para o restaurante, que naquele momento estava fechado para eles, caminhando até a mesa onde o bilionário tomava um copo de whisky, comendo um prato de carne.

— Sabe, é estranho comer tranquilamente quando tem um cara mau-encarado e que pode acabar com a sua vida em um piscar de olhos te encarando. Pode se sentar, garoto prateado, o nosso convidado está tirando água do joelho. — ironizou, oferecendo um lugar para que ele se sentasse. O Yondaime rapidamente puxou a cadeira e cruzou os braços.
— Quem é esse seu contato? — olhou para o homem sentado na mesa.
— Alguém que te conhece muito bem, e quer ajudar você na sua empreitada. Ele diz que é um admirador da sua causa, e alguém que não lhe fez nenhum mal.
— Por que esse mistério todo? — ficou impaciente com o joguinho de Katsuhiro.
— Porque a vida não tem graça quando se sabe das coisas antecipadamente. As vezes, um pouco de mistério se torna como um açucar, tornando as coisas mais saborosas. Mas o mistério agora se desfaz. Olhe. — ele apontou para frente.

De repente, um homem caminhou pelo recinto com o seu cabelo grande e esbranquiçado, o tapa-olho e a roupa de couro preto, com detalhes dourados, e um tapa-olho em seu rosto. Parecia mais um guerreiro do que um homem de negócios, mas essa era a natureza dos Hikaris. Aquele homem era Hikari Magnus, um homem que conheceu em um passado distante, quando ainda era um carteiro em começo de carreira. Dele, partiu a primeira missão de Nathaniel fora de Konoha, uma missão como carteiro em Amegakure no Sato, uma missão que moldou a mente do elfo e o transformou em um líder com visões revolucionárias [1]. Ao vê-lo se aproximar e se sentar na cadeira onde havia um prato na sua frente, o elfo julgou que havia entendido o porquê dele estar lhe ajudando.

— Nathaniel Grey, é bom revê-lo depois de tantos anos. — ele falou com um sorriso. — Nós não nos falamos desde o casamento da minha filha [2], e agora aqui estamos.
— É uma surpresa encontrá-lo aqui, Magnus, mas não entendo a razão dessa reunião. —
— Essa é uma reunião de negócios, Nathaniel, uma que vai nos beneficiar. Você está enfrentando familias nobres do País do Fogo, e essa não é uma guerra que vai vencer soltando bolas de fogo e Rasengan. Você precisará de apoio em todas as camadas da sociedade, não só entre a classe trabalhadora. — Katsuhiro começou a explicação.
— E nós estamos dispostos a te dar isso. Eu estou. De fato, você deve perguntar o porquê, e essa é a resposta: a alta sociedade do País do Fogo é muito restritiva, e não demorará muito para que expulsem aqueles que não são nascidos daqui, sendo nobres ou não, e isso inclui eu e você. Eles toleraram a minha família aqui durante todo esse tempo por conta das minhas posses e da minhas habilidade shinobis, mas conforme vou envelhecendo, minhas forças diminuem. Ainda precisaria de alguns anos para treinar o meu sobrinho para torná-lo o meu sucessor, mas não haverá algo para ele administrar se formos banidos daqui, e meu tempo nesse mundo não é tão longo. — Magnus serviu-se do seu whisky.
— A guerra entre os Shimura e os Sarutobi está tomando maiores proporções, mais do que você consegue enxergar. Eles estão recrutando mercenários, nukenins, toda a laia para lutarem ao lado deles. Uma guerra civil pode acontecer a qualquer momento, e essa bomba estourará em sua mão. Em épocas de guerra, somos dominados pelo extremismo, e nada de bom vem depois disso. Sua guerra existe em várias linhas, precisamos vencer em todas elas, ou então o País do Fogo inteiro sofrerá. —
— E se isso acontecer, nossos planos para o futuro estarão comprometidos. — Magnus finalizou.
— Não querendo faltar com o respeito, Magnus. — fez questão de olhar para Katsuhiro, deixando bem claro que o tratamento para com o pai de Reina era diferente do dele. — Mas acredito que aquilo que almejamos estão em escalas completamente diferentes.
— Oh, claro que não… — ele riu, olhando para o elfo. — Eu jamais compararia os nossos objetivos com os seus, Nathaniel. Os nossos, comparados ao seu, são ínfimos.
— Está aí uma coisa que eu jamais esperaria ouvir do senhor, Magnus-sama! — Katsuhiro permaneceu surpreso.
— Você não conhece os Greys tão bem quanto eu conheço, Katsuhiro. Eu já realizei negócios com alguns deles, e digo a você que cada elfo nesse mundo é como uma singularidade. Nós somos reles humanos, correndo atrás de dinheiro, ouro, terras e templos ao redor do mundo, em nome de nossas crenças ou do nosso ego. Eles não… Sendo amados ou odiados, admirados ou temidos, cada elfo nesse mundo tem um só objetivo: poder. Cada um deles acumula conhecimento e poder ao longo da sua vida, desejando saber até onde conseguem ir, buscando cada vez mais, até que esse poder os leve aos lugares onde nós, meros mortais, jamais alcançaremos. Essa é a virtude e a maldição dos Greys, a busca incessante pela resposta da pergunta que talvez jamais seja respondida: “Qual é o nosso limite?” Eu te digo, Katsuhiro, que esse homem viu coisas que jamais sonhamos em ver, e é por isso que devemos apoiá-lo. Sua revolução é a materialização da sua essência… — falou para Katsuhiro, mas apontando para Nathaniel, virando-se para o líder da vila rapidamente. — E é exatamente por isso que eu fico feliz de não ter casado com minha filha. Não me entenda mal, você é um homem bom, mas o seu caminho é um caminho solitário. Mesmo que tivesse casado e com filhos, você continuaria sua jornada até o desconhecido, porque essa é a sua natureza.

Nathaniel se sentiu como se estivesse sendo analisado, tendo um breve conhecimento sobre si mesmo sob a perspectiva de Magnus, algo que lhe trazia mais clareza sobre sua própria mente. De repente, conseguiu lembrar-se de Katsura, uma das divindades do seu clã, e de como ela era extremamente poderosa. Queria ser como ela, tal como Azshara, que mesmo em sua vilania, moldou o mundo como eles conheciam. Até mesmo Shion que, por ter sangue Grey em suas veias, tornou-se muito mais forte. Pela óptica de Magnus, conseguia compreender a sua ânsia por aventuras, por viajar o mundo em missões, o desejo pelas grandes batalhas e o completo tédio quando estava em reuniões em seu gabinete ou assinando documentos. Mas mesmo que estivesse lisonjeado com aquelas palavras, exceto as últimas, Nate foi direto ao assunto.

— Eu entendo que mesmo que admire minha pessoa, esse apoio não virá de graça, então me diga, Magnus: qual é o seu desejo?
— Esse. — ele colocou um pergaminho em cima da mesa, deslizando até o Yondaime. — Há muitos anos atrás, quando subiu na hierarquia dos carteiros, Reina viu em você um grande potencial, por isso me pediu para colocá-lo naquela missão em Amegakure, uma prova de sua força. Hoje, eu venho com a mesma missão, mas com um grau maior de dificuldade. — ele suspirou, olhando para Nate. — Minha saúde está debilitada, garoto, e a doença que se alastra sobre o meu corpo me impede de agir de forma mais ativa nos negócios. Minha filha Reina deve desfazer do matrimônio com Hikari Uther retornar imediatamente.
— Fará com que sua filha abandone o marido para retornar a vila? — questionou-o incrédulo com tamanha frieza, sem saber o motivo.
— Hikari Uther não é o homem que se apresentou na minha frente e pediu a mão da minha filha em matrimônio. Ele perverteu a filosofia do nosso clã e a usou para ganhos próprios. Você marchará até Eichenwalde e entregará esse pergaminho para a minha Reina, e isso terminará com o legado dele sendo destruído e minha filha retornando para Konoha para apoiá-lo.
— Eu não trabalho mais como carteiro há muito tempo. Devem ter muitos outros capazes de fazer isso. — garantiu o elfo.
— Não existe nenhum mensageiro nesse mundo como você, Nathaniel. — afirmou com tamanha convicção que deixou Nate surpreso.
— Afinal de contas, você é o Mensageiro do Caos, o Mestre das Informações. — Katsuhiro falou com um certo tom de ironia, ciente de que uma nova aventura esperava pelo Yondaime.