Ethan

Após dedicar semanas de sua vida para aprimorar suas bases e corrigir certos aspectos em competências básicas, finalmente achou que seu professor iria instruí-lo na arte da espada. Na sua mente, aquele era o único detalhe que faltava estudar para conseguir enfrentar outros espadachins de igual para igual. Merecia aquilo, ao fazer por onde. As mãos calejadas, os roxos pelo corpo e as cicatrizes comprovavam seu comprometimento. Portanto, ser chamado para a área da casa onde ficava o Dojô construído pelo pai de Raizo apenas servia para alimentar suas esperanças.

— Me chamou? — Ethan já sabia a resposta, mas estava tão contente que arriscava jogar conversa fora. Entrando no Dojô, veria muita poeira em todos os cantos e lençóis brancos cobrindo os suportes para uma quantidade considerável de espadas, assim como cobriam também alguns retratos nas paredes. No centro, Raizo segurava duas espadas de madeira, uma em cada mão.

— Chamei, e pelo visto você ainda não aprendeu a ser pontual — responderia, jogando uma das espadas para o outro.

Ethan, não aguentando a excitação, agarrou a espada com a canhota e entrou em posição de combate. As pernas distantes e os joelhos flexionado. A espada seguiria apontada para o velho, em guarda alta.

— Esquece. Você ainda não está pronto. — No exato momento em que o punho da espada foi envolto pela mão garoto, o velho ficou de costas para ele e saiu por um acesso lateral. Sentaria na varanda e jogaria algumas sementes para os pássaros. Então, o mundo de Ethan desabou.

— Que merda você tá falando? — Correu até ele, cobrando satisfações. Sentia que todo o esforço até o momento não havia valido de nada.

— Se eu cortar seu braço direito fora, você não conseguirá lutar. Nesse caso, não tenho nada mais para te ensinar.

Ethan bufou de raiva, batendo o pé enquanto voltava para dentro de casa, pensando em formas de contornar o problema. Como solução, nos dias seguintes, começou a treinar utilizando apenas a mão esquerda, da mesma forma que as atividades mais básicas do cotidiano seriam realizadas com a canhota. O maior desafio começava com a alimentação. Fazia a maior bagunça ao tentar levar a comida até a boca. Como método de aperfeiçoamento, também tirou alguns minutos do dia para praticar a escrita. Tomou um pergaminho e um pincel, reproduzindo garranchos de todas as formas. Quanto aos treinos, estando proibido de pegar em uma espada até que fosse a hora, se contentava em balançar um galho desengonçadamente de um lado para o outro. Além disso, as flexões com apenas uma das mãos se tornaram mais recorrentes. Não descansava até que 2000 flexões fossem realizadas com a canhota.

Isto, no entanto, não seria um processo rápido. Demandaria esforço e paciência, duas coisas que, indiscutivelmente, Ethan não possuía. A frustração também o acompanhou durante as práticas, onde toda tentativa mal sucedida era encarada como o fim do mundo; ele se culpava, e com razão. Desse modo, perdia as contas de quantas vezes por dia respirava profundamente para não destruir tudo o que via pela frente. Porém, só precisou dar tempo ao tempo até que as coisas começassem a se endireitar. Em determinado momento, comer deixou de ser uma tarefa estressante, ainda que os garranchos continuassem. A coordenação com a canhota também deixava de ser um problema irremediável, uma vez que todo aquele esforço estressante parecia dar resultados.

Muito tempo depois, mais uma vez foi chamado ao Dojô. Da mesma forma que antes, chegou atrasado e foi repreendido, contudo, o velho não deu as costas e o abandonou. Em vez disso, ordenou que Ethan o assistisse brandir a espada. Obviamente, o garoto não ficou feliz com aquele tipo de atividade, pois esperava algo que possibilitasse uma participação mais ativa e dolorida. Porém, dado o esforço realizado para chegar onde estava, guardou as queixas para si, tentando sobreviver ao tédio.