幻想の達人

A mão tateou, com a hesitação de quem ainda se encontra à beira do sono, até encontrar a textura fria e familiar da bandana repousada sobre a bancada ao lado da cama. Com um movimento lento e pesado, ergueu o tronco, sentindo a sonolência ainda envolta em seus olhos, como se a manhã relutasse em conceder-lhe a plena consciência. Os primeiros raios de sol, que penetravam com suavidade pela estreita fenda na janela de seu quarto, tocaram a superfície metálica, fazendo o símbolo da Pedra, entalhado com firmeza, brilhar com uma luz quase cerimonial. Por um breve instante, um pensamento cortou a névoa da mente adormecida. “Hoje é o dia”. Aquelas palavras ecoaram com uma solenidade silenciosa, um lembrete de que aquela manhã marcaria o início de algo irrevogável — a primeira missão, o primeiro passo em um caminho anunciado dias antes, quando finalmente se formara na academia.

Do lado de fora, no corredor que se estendia à porta do cômodo, os passos firmes e conhecidos romperam o silêncio da manhã, anunciando que seu pai já estava de pé. Ainda ajustando os calçados, ele se apressou em sair, ansioso por um caloroso “bom dia” ou, quem sabe, por uma palavra de encorajamento que lhe desse forças para o dia que se iniciava. O sorriso, largo e cheio de expectativa, mal se formara em seu rosto quando a voz rouca e fria do pai reverberou pelo corredor, cortante como a lâmina do ceifador que espreita silenciosamente o término dos dias. — Vai se atrasar no primeiro dia? — As palavras, secas e desprovidas de qualquer afeto, dissiparam o sorriso como a névoa sob o sol do meio-dia. O brilho de sua expressão apagou-se instantaneamente, e com a alma pesada, ele permitiu que a porta do quarto se fechasse atrás de si, como se quisesse isolar-se do frio que aquelas palavras haviam trazido. Seus olhos, antes brilhantes de esperança, agora encontravam o chão com um desânimo silencioso. [/i]“Bom dia, pai”[/i], murmurou para si mesmo, como se as palavras tivessem perdido todo o significado.

A tarefa que lhe foi atribuída no posto de atribuição da aldeia não carregava o peso de uma missão grandiosa, mas para aquele menino, esse primeiro passo significava tudo. “Um cão parece ter caído no poço de um dos fazendeiros na zona rural”, ecoou a frase em sua mente enquanto seus pés o levavam ao local designado. Ao chegar, seu olhar, tão azul quanto as águas profundas que guardavam segredos, repousou sobre a cena que se desdobrava diante dele. Um aglomerado de cidadãos formava um círculo ao redor do poço, suas vozes sussurrando teorias sobre o incidente enquanto ao lado, uma menina, apenas alguns anos mais jovem que o Uchiha, se entregava ao choro incontido. “Deve ser dela”, deduziu com a rapidez de um relâmpago em meio a uma tempestade interna. — Com licença, pessoal — tentou ele, sua voz carregando uma tentativa de autoridade recém-descoberta, mas o que recebeu em troca foram olhares repletos de incerteza e dúvida. — Eu sou Gorō Uchiha, e se me derem licença, vou salvar aquele cãozinho! — A confiança em suas palavras mal conseguia conter a ansiedade que borbulhava em seu interior. Esta era sua primeira missão oficial como shinobi, e o desejo de causar uma boa impressão pesava sobre ele como uma armadura. No entanto, o que se seguiu foi um silêncio denso, que parecia sugerir que o mundo esperava algo mais grandioso de um genin.

Engolindo em seco, prendeu uma corda em sua cintura, estendendo a outra ponta para um homem corpulento entre os presentes, cuja robustez o fez parecer o mais adequado para a tarefa. — Segure isso com firmeza; vai precisar me puxar quando eu tiver o cãozinho — instruiu, sua mão firme na borda do poço enquanto se deixava cair na escuridão abaixo, rendendo-se à força implacável da gravidade. O homem, de presença quase tão massiva quanto sua força, fez o que lhe foi pedido, e pouco a pouco, Gorō desceu em direção à penumbra úmida que aguardava no fundo do poço. A água fria se infiltrou em suas botas no instante em que seus pés tocaram o fundo do poço, um toque gélido que contrastava com a agitação frenética do cãozinho. Assustado, o animal debatia-se violentamente, seus movimentos erráticos refletindo o pavor que sentia. Mas, com paciência e delicadeza, o Uchiha envolveu o cão em seus braços. — Pode puxar! — ordenou, e em questão de segundos sentiu o puxão firme que o trouxe de volta à superfície.

Quando emergiu do poço, os tímidos aplausos que o saudaram encheram-no de uma satisfação discreta, mas nada se comparava ao sorriso radiante da menina que, agora, apertava o cãozinho contra o peito com a mesma intensidade com que o loiro desejava que seu pai o fizesse. O peso daquele gesto tocou algo profundo em seu ser, mas ele afastou o pensamento. Agora, só restava buscar a recompensa pelos serviços prestados e se preparar para a próxima tarefa.