Os dias de trabalho estavam menos trabalhosos, e Nathaniel já não era muito visto nas ruas desde que as rondas estavam suspensas. Enquanto estava no gabinete, tratava somente de assuntos mais burocráticos, evitando encontros diplomáticos e visitas dos poucos amigos que ainda tinha. Eram dias difíceis para alguém que tinha visto alguém que o admirava morrer, então suas palavras se tornavam escassas. Evitava sair de casa quando não tinha nada para fazer, não fazendo nenhum plano com os amigos e tentando ignorar um evento que tinha sido marcado a vários anos atrás, quando ainda era um adolescente que acreditava nas promessas vazias dos outros.

Porém, naquele começo de noite, um homem usando trajes típicos de Silvermoon, caminhou para dentro do Templo da Fênix, sendo interceptado por Ezekiel. Não demorou para que Nathaniel tomasse conhecimento do fato, encontrando-se com o homem no bar de sua casa. O jovem de cabelos longos e loiros chegou sorridente e com uma postura enérgica, contrastando com o olhar distante de Nate, sentado em uma cadeira. O estrangeiro encarou Ezekiel por alguns segundos, medindo-o e o rotulando com os olhos, mudando sua postura quando ficou frente a frente com o Arauto da Fênix, que fazia o mesmo com ele, mas usando diferentes critérios.

— Nathaniel-sama, é uma honra estar na sua presença. Me chamo Edwin, e trago notícias de Silvermoon para o senhor dos oligarcas do nosso país, e um pergaminho no meu bolso, um que contém promessas de um futuro brilhante para todos nós. — o aviso do jovem fez com que Ezekiel fizesse um movimento de sair pela porta, mas Nathaniel fez um gesto que foi interceptado pelos seus olhos, fazendo seu irmão adotivo dar meia-volta e puxasse uma cadeira.
— Pois cumpra com o seu objetivo aqui, Edwin. — cruzou os braços, mas não sem antes fazer um sinal para Ezekiel pegar uma garrafa de whisky que estava ali na mesa.
— Nossos opressores recuaram. Eles parecem não ter mais interesse em nos perseguir com os seus arautos. Nossos informantes dizem que eles não estão mais entre nós, e nossos conselheiros acreditam que eles já não possuem interesse nesse planeta, ou que acreditam que o fim dela é inevitável, e que não devem fazer tanto esforço para levá-lo ao fim. — começou explicando. Ezekiel colocou um copo de whisky na mesa, servindo Nathaniel, mas o mensageiro recusou a bebida, então o Hokage pegou o copo cheio dele e encheu o seu, bebendo tudo em um único gole, batendo com o copo na mesa, assustando o estrangeiro. — É… Também foi confirmado o seu parentesco com Meredith Grey, filha do falecido Haldir Grey. Ele era um homem da alta sociedade, possessor de muitas terras e recursos, que viriam ser seus por direito, se o senhor os reivindicasse.
— Eu não tenho nenhum interesse em grandes fortunas e terras. De fato, eu já tenho tudo o que eu preciso. — olhou diretamente para Edwin, mas virou o rosto de relance para Ezekiel, que estava boquiaberto por não acreditar na sua recusa. — Faça o seguinte: aquilo que eu tiver por direito, dêem aos templos que ajudam os desafortunados de Silvermoon, aqueles que os seus senhores mantém na pobreza, para que eles possam se sentir superiores.
— Seu pedido e suas palavras nos ofendem, Nathaniel-sama. — ele mordeu os lábios, tentando conter a sua ira, observando Nathaniel puxar um cigarro do bolso.
— Mas eu não pretendia ofendê-lo, e sim aos seus mestres. — acendeu o cigarro rapidamente, puxando um trago.
— Eu, assim como outros, os represento, tornando-me uma extensão das suas vontades. — abriu os seus braços, buscando mostrar uma posição que não existia na mente de Nate.
— Eu vi como você olhou para o meu irmão quando entrou aqui, medindo-o de cima a baixo. Você olhou para as vestes simples dele e desdenhou da sua posição, mas ele é importante para mim e para este local, enquanto você é só um garoto de recados dos poderosos. Seu terno bonito e feito a mão é, de acordo com você mesmo, uma extensão do poder deles, mas não a essência, então não superestime a sua posição e cumpra com o seu dever aqui.

Demorou alguns segundos para Nathaniel murchar a animosidade do mensageiro, atacando-o no ponto fraco de quase todos os Greys: o ego. Edwin ficou em silêncio, levando a mão para dentro do bolso, parecendo retirar algo. Ezekiel, alerta, levantou-se e sacou uma kunai rapidamente, mas Nathaniel esticou a mão, sinalizando para que ele não agisse precipitadamente. O estrangeiro colocou um envelope bordô em cima da mesa, com o brasão dos Greys em tom avermelhado, deslizando lentamente para perto do Yondaime, que virou lentamente o rosto e olhou para o mensageiro dos oligarcas com os olhos semicerrados. Curioso, Nathaniel levou sua mão ao envelope, abrindo-o cuidadosamente, puxando um papel dobrado ali dentro, abrindo-o e não encontrando nada, nem mesmo uma simples letra, virando a folha do outro lado e não encontrando absolutamente nada, voltando a olhar para Edwin.

— Os oligarcas oferecem a você algo que nunca foi oferecido antes: uma oportunidade de alterar a sua realidade completamente, ou uma parte dela. Você pode escolher viver uma vida completamente diferente da que tem hoje, qualquer coisa que quiser, com exceção de reviver membros do clã Grey. Sabemos que você perdeu muitas pessoas, e teve muitas decepções nessa vida. Eles podem mudar isso. — pareceu ter o poder da barganha novamente.
— Como? — olhou para a folha em branco novamente.
— Você não precisa saber dos detalhes, porque nem eu mesmo sei, mas o que é impossível para nós, Greys? — colocou um sorriso no rosto, mas não recebeu nenhum de volta.
— E o que vocês querem em troca? —
— O Templo da Fênix. — sua revelação pegou Nate e Ezekiel de surpresa. — Se eu fosse opinar, é o maior investimento do mundo. O que é um local como esses comparado a possibilidade de reescrever a sua história?
— É tentador, muito tentador… — Nate continuou fumando, olhando para Edwin. — Bom, eu queria lhe dar uma resposta agora, mas confesso que já bebi demais hoje, e não gosto de tomar decisões alcoolizado. Ainda por cima, preciso conversar com os outros moradores da casa. Eu precisarei de 3 dias para pensar sobre o assunto. Não se preocupe em esperar pela resposta, eu enviarei um falcão mensageiro para Silvermoon com a resposta. Existe algo a mais que devemos tratar? —
— Acredito que não, senhor. —
— Então, se suas previsões estão certas, você deveria procurar um local para ficar essa noite, um que atenda aos seus desejos. —


[...] Depois do jantar, as notícias da reunião correram pela casa entre os familiares e os empregados que viviam nas adjacências do Templo da Fênix. Até mesmo River e Kimiko, hóspedes que mais pareciam moradores da casa, sabiam o que estava acontecendo, saindo não muito tarde do local, com certeza indo contar tudo para B.A. Quando todos terminaram de comer, Nathaniel foi até o quarto de Rachel, que estava dentro do seu closet, experimentando as muitas roupas chiques que tinha para um evento que acontecer no dia seguinte, um em que ambos iriam juntos. Nate, sentado em um puff, tentado a declinar da promessa que tinha feito, já não aceitando muito bem a ideia de usar um traje diferente para a ocasião, que exigia o uso de roupas sociais mais elegantes. Além de odiar trajes finos, sabia que aquele reencontro serviria somente para arranhar os muros que ergueu em sua mente para tapar as velhas feridas.

— Você não pode recusar o convite! Eles eram seus amigos na adolescência, afinal de contas. Mesmo que tenha sido a 13 anos atrás, todos vocês fizeram uma promessa de se encontrarem quando o Castelo de Fukashi fosse reformado. Era o sonho de vocês verem aquele lugar reformado, não é? Pelo que a Naomi contou, todo mundo confirmou presença na abertura lá, e todos receberam convite, principalmente você. Lembre-se que vocês prometeram contar o pedido que fizeram para as estrelas cadentes. — ela saiu do closet com um vestido branco bem conservador e um sobretudo preto com o símbolo dos Greys banhado em vermelho nas costas. — Não vai me dizer que ainda guarda rancor dela?
— Minha vida não se resume a uma coisa ruim do passado, Rachel. Quantas coisas me ocorreram depois disso? Agora tenho coisas mais importantes para me preocupar do que esse evento. — suas palavras soaram verdadeiras, impressionando Rachel.
— Ezekiel contou o que houve. Eu fiquei pensando: se os oligarcas supostamente podem alterar a realidade e fazer as mudanças que eles quiserem, por que eles simplesmente não moldam a realidade para uma em que eles se tornam donos do Templo da Fênix? — questionou a menina, colocando o dedo em sua boca, ficando pensativa.
— Porque eles tentaram fazer isso uma vez, e falharam em sua tarefa, agora eles querem barganhar. A questão é que quando a oferta parece ser muito boa para ser verdade, é porque geralmente é. —
— Mas por que eles querem tanto o nosso templo? —
— Bom, Rachel… Essa é uma pergunta para o qual teremos que descobrir a resposta, nem que seja pela força.. — segurou o envelope enviado por Silvermoon na mão, mergulhando em seus pensamentos.

O Castelo de Fukashi ficava na área mais nobre de Konoha, onde tinha sido a hospedagem de lordes feudais, celebridades internacionais e líderes de nações há muitos anos atrás, mas que tinha sido deteriorada com o passar das gerações. Por ser um local tão nobre e com muitas histórias, muitos moradores tinham o sonho de visitar aquele castelo pelo menos uma vez, mas conforme os anos se passavam, mais esquecido ele se tornava. Seus donos, a família Fukashi, em declínio financeiro, vendeu a posse do castelo para a família Tsukumo a 10 anos atrás, diante da promessa de investimentos numa reforma no edifício para fazê-la retornar aos seus tempos de glória. Infelizmente, a família Tsukumo também experimentou o evaporação de seus recursos financeiros devido a tragédias familiares. Tudo começou quando um jovem chamado Nathaniel Grey matou um dos seus herdeiros, de nome Takafumi, desenterrando diversos segredos obscuros da família, terminando na morte prematura de todos os membros, provocadas pela mão de um dos seus filhos desgarrados. Seiki, como era chamado, se uniu a outros que também odiavam o Mensageiro do Caos, e juntos tentaram matá-lo em diversas oportunidades, mas todos eles estavam mortos, e Nate permanecia de pé.

O Yondaime Hokage chegou ao castelo de manhã numa carruagem, acompanhado de Rachel. Os dois desceram, e seus pertences foram levados para o lado de dentro, onde cada um teria um quarto apropriado. Como animais selvagens não eram permitidos dentro do castelo sem autorização prévia, Kiara não poderia estar com eles. Eles seguiram para os seus aposentos, mas no meio do caminho, o governante da casa informou ao Grey mais velho que o novo proprietário do castelo gostaria de vê-lo. Nate então seguiu pelos corredores, podendo ver os amigos de adolescência reunidos não muito longe, conversando entre si, reparando como todos eles tinham mudado, seguindo o seu caminho. Enquanto seguia, algo aconteceu: ao virar em um dos corredores a esquerda, seu olhar se cruzou com o de Edwin, o mensageiro dos oligarcas. Quando isso ocorreu, pode reparar o sorriso no rosto do loiro, demonstrando desprezo a ele e continuando a andar, até que foi levado a uma varanda, onde um homem de terno cinza e uma blusa social branca o esperava. Tinha cabelo negro e bem cortado, a barba bem desenhada, olhando o horizonte que era muito mais bonito dali, longe das construções humanas. O mordomo anunciou a chegada de Nate e se retirou, deixando os dois homens a sós.

— Nathaniel Grey, o Yondaime Hokage, entre outras alcunhas. Um prazer conhecê-lo. Meu nome é Katsuhiro, da família Morimoto. Sim, minha família é bilionária, com uma fortuna de várias gerações passadas, mas não vamos se apegue a valores agora, ok? Garanto que um dia você gostará de mim. — ele olhou diretamente para o elfo, depois para o cenário a frente deles, enquanto o elfo o encarava. Devia ter, no máximo, uns quarenta anos.
— Parece pouco provável. — o elfo cruzou os braços, encarando-o com os olhos semicerrados.
— Esse lugar aqui é realmente magnífico, e tem uma energia incrivelmente tranquila. Seus amigos tinham razão em querer ver esse local reformado. Não importa a época, investir em imóveis sempre parece um bom negócio. — só ali Nathaniel reparou que havia uma taça de vinho próximo da borda da varanda, uma que o dono do local pegou e tomou um gole. — Sabe, o seu consanguíneo falou muito sobre você, o tal Edwin. Primeiro, ele me bajulou por conta da fortuna da minha família, depois disse que você era alguém cuja visão é atrofiada pelas próprias ideologias. Depois, ele te chamou de invejoso e disse que Konoha deveria escolher um líder a altura da vila.
— Aposto que ele disse para você manter essas informações em sigilo, não é? — descruzou os braços, olhando para o cenário.
— Informação é poder, Nathaniel, e uma forma de construir pontes. Você não sabe, mas temos interesses em comum. Mais do que isso, os seus inimigos também são meus inimigos. — ele olhou para o Yondaime. — Você acredita em expiação?
— Nem mais, nem menos que uma pessoa comum.
— Eu não acreditava nisso. Eu fui criado e treinado para manter os negócios da família, mantendo forjas e lojas de armas por todo o País do Fogo, e nas suas colônias. Muitas kunais e shurikens que atravessam os corpos de jovens e velhos shinobis no mundo inteiro tinham as digitais da família Morimoto. Aconteceram coisas comigo, coisas que não estou pronto para compartilhar, mas quando minha mente clareou, eu decidi que era hora da família Morimoto seguir por novos caminhos. Eu abandonei o legado da nossa família e o transformei em algo benéfico para a sociedade. Até mesmo passei um bom tempo em Nakashima para aprender sobre novas tecnologias. Sabe o que aconteceu? Outras famílias assumiram o negócio, passaram a fornecer suas armas para as nações, e o legado de violência continuou.
— Você foi ingênuo em acreditar que as guerras acabariam por causa da sua benevolência.
— Exatamente o ponto onde eu quero chegar. Você não gosta dos lordes feudais e dos detentores de grandes fortunas, por acreditar que eles obtém tanto dinheiro e poder explorando as classes menos favorecidas, e até aí você tem razão. Mas se tem uma coisa que aprendi é que abrir mão das suas conquistas, por mais que suas formas de obtê-las tenha sido horrendas, não é nada altruísta, e sim ingenuidade e um pouco de tolice. Se eu doar toda minha fortuna aos pobres, eles inevitavelmente voltarão as mãos dos meus rivais, e se eu doar meus recursos e meios de produção, eles serão igualmente combatidos e tomados. Os fracos justificam os fortes, os pequenos justificam os grandes. — ele bebeu todo o vinho, virando o corpo para Nathaniel.
— Se o seu objetivo é tentar justificar os seus atos e a sua necessidade de manter os seus luxos e privilégios, escolheu a pessoa errada. Apesar de sua explicação fazer sentido, de nada adianta para mim.
— Não vim atrás de sua piedade, e sim de uma aliança. — o homem respondeu seriamente. — Byakuya está trilhando por caminhos sombrios em busca de poder e vingança. Ele planeja um golpe de estado contra você, e irá usar tudo o que tiver ao alcance dele para concluir os seus objetivos. Eu estou aqui porque quero impedir que a nação mais antiga do mundo se torne uma grande distopia! — suas palavras alcançaram o interesse do elfo. — Como prova disso, eu venho lhe trazer uma informação que consegui de seu primo de 79º grau: o motivo pelo qual os senhores de Silvermoon desejam adquirir o Templo da Fênix tem a ver com os segredos que envolvem o seu clã. Ele não sabe mais do que isso, mas acredito que isso lhes dará mais poder.

Nathaniel ficou surpreso com aquela revelação, algo que já tinha passado por sua mente, enquanto discordava do grau de parentesco que eles exerciam. “Quando algo parece bom demais para ser verdade, é porque geralmente é.”. Isso valia tanto para os Greys quanto para aquele homem, que se revelava no primeiro encontro. Lembrou-se do papel em branco que tinha em um envelope dentro do seu quarto, um que supostamente lhe dava a capacidade alterar a sua história, ou uma parte dela. Odiava a sensação de caminhar para dentro de um território desconhecido, mas parecia que aquilo se tornava inevitável na posição em que estava. Ele colocou os dois braços atrás das costas, um movimento diplomático, que sinalizava paz (pelo menos em sua cabeça).

— O que deseja em troca dessa informação, Katsuhiro?
— Que trabalhemos juntos, a minha equipe a sua. Podemos ter métodos diferentes, mas obtemos o resultado que queremos, à nossa maneira. — ele propôs, mantendo uma postura mais amigável, surpreendendo Nate.
— Eu não tenho nenhuma equipe. — mentiu.
— Sabe, Nathaniel, o Clubinho dos Bilionários é um clube beeeem fechado, e nos eventos luxuosos que frequentamos ao redor do mundo, as notícias correm, e nós nem precisamos nos esforçar para isso. Nossos informantes trabalham muito duro para que a gente fique atualizado. Você anda com a mesma galera a mais de dez anos, muito diferente dos seus amigos do passado, e tem testemunhas em vários lugares dizendo que vocês viviam juntos em um bar chamado Seven Dragons, além de uma operação não autorizada em que vocês salvaram Konoha de uma invasão, não fazendo sentido tentar ludibriá-lo. — o bilionário excêntrico revelou tudo o que sabia para o elfo. — Então, qual o nome do grupo mesmo?
— Os Garotos. —
— Soa bem idiota, se você quer saber, mas é bem único. — elogiou o homem. — Quer saber mais um segredo, Nathaniel? — ele ofereceu mais uma informação. — Um dos seus amigos de longa data me incentivaram a comprar esse lugar, dizendo que seria um ótimo investimento. Talvez você descubra mais tarde, agora devemos nos preparar. Hoje a noite será muito longa, e você precisa pensar em minha oferta.

[...] Anoiteceu em Konoha, e o frio tomou conta da região. As nuvens preenchiam o céu, escondendo as estrelas acima dela, mas não impediam o brilho do astro lunar. Antes de se arrumar com os trajes apropriados que aquela ocasião pedia, Nathaniel rumou para o quarto de Rachel, batendo três vezes na porta, ouvindo algumas vozes femininas do lado de dentro, indicando que as moças resolviam se vestir juntas. Uma voz do lado de dentro que não pertencia a sua irmã ordenava que ele virasse de costas antes que a porta fosse aberta, e assim ele o fez. Rachel saiu rapidamente, fechando a porta, usando um sobretudo que lhe cobria o corpo, estando quase pronta para partir.

— Por que você ainda não está pronto? Você passou horas sumido, e o evento já começou! — ela cruzou os braços, visivelmente emburrada.
— Ao contrário de vocês, mulheres, eu não preciso de três horas para me arrumar. — de costas para ela, o elfo pode ouvir a mais nova bufando. — Eu preciso de um favor: vá até Naomi em segredo, e diga a ela exatamente as seguintes palavras: “Quando Nathaniel lhe chamar, diga exatamente essas palavras.”
— Que palavras? — ela ficou curiosa, então Nate chegou perto do seu ouvido, sussurrando o que deveria ser dito, fazendo Rachel ficar com os olhos arregalados. — O-O que? Por que ela deveria falar isso?
— Porque ela me deve um favor. Só faça o que eu mandei. — ele caminhou de volta ao quarto, fechando a porta.

[...] O evento daquela noite contava com pelo menos 250 convidados, a maioria da alta sociedade do País do Fogo, entre algumas autoridades militares e alguns outros convidados, muitos chegando ao vilarejo naquele mesmo dia, hospedando-se em templos e mansões próximos. Quando finalmente se arrumaram, Nathaniel e Rachel chegaram ao salão principal acompanhados juntos, ela usando um vestido vermelho e um casaco de pele branco, enquanto o Hokage usava uma blusa social preta e um sobretudo longo, da mesma cor. Eles subiam as escadas para o salão de festas, acompanhando uma fila de pessoas que chegavam ao evento, enquanto alguns seguranças, todos trajando uniformes pretos, faziam a proteção das pessoas. Um jornalista acabou conseguindo furar a barreira que impedia pessoas não autorizadas a entrarem no recinto, chamando por Nathaniel e afirmando ser do Jornal de Konoha. Os elfos viraram na direção do jornalista, ao passo em que os seguranças tentaram guiá-los para dentro, mas Nate rapidamente fez um movimento brusco com o braço, seguido de um “Sai fora, porra!” que saiu instintivamente de sua boca.

— Deixem ele entrar por um momento, eu responderei a sua pergunta. — apontou o dedo na direção do jornalista, que era segurado por dois seguranças.
— O que um socialista faz numa festa cheia de bilionários e senhores de terras, Nathaniel-sama? — o jornalista foi rápido em interrogá-lo, pegando um bloco de papel para anotar tudo.
— Eu recebi o convite do anfitrião da casa, além do mais, eu fiz uma promessa junto a outras pessoas há muito tempo atrás de estar presente no dia da reinauguração desse local. Como um líder, acho que tão importante quanto manter os seus valores, é manter as suas promessas. Tenha uma boa noite. — ele virou-se e continuou a sua caminhada, guiando Rachel para dentro do salão principal, enquanto o jornalista era conduzido para fora. Enquanto subia, pode ver Katsuhiro numa roda junto com outros homens, e seus olhares se cruzaram por um momento, até Nate partir.

Em poucos minutos, Nathaniel e Rachel estava na companhia daqueles que um dia ele chamou de amigos, e a partir dali, sua mente já não conseguia mais memorizar as suas palavras, decidindo por tornar aquele momento um espetáculo vazio, algo sem nenhum significado mais profundo. Enquanto respondia as bajulações e a falsidade das pessoas ali da mesma forma, o Yondaime analisava cada um deles. A maioria deles tinha mudado bastante com o passar do tempo, mas na essência, eram as mesmas pessoas a quem não dava para confiar. Lembrava-se das noites que passava com eles, vivendo a vida como se fossem príncipes do mundo, numa época de fome e guerra, acreditando que essas pragas nunca chegariam a eles. Pelo menos um deles estava enganado quanto a uma dessas coisas.

Hayate, que sempre se fez de amigo e era o galã da turma, deixava de ser um ruivo galanteador para se tornar um homem calvo e gorducho, trabalhando nos negócios do pai. Yamato, o seu mais fiel bajulador, se tornava um advogado renomado, conseguindo reduzir as penas dos piores criminosos com os métodos mais obscuros, estando com sua esposa. Karui se tornou uma mulher de corpo esbelto e realizou o seu sonho de ser modelo, casando-se com o herdeiro de um grande império, depois se divorciando dele e casando com um ator internacionalmente famoso, que não estava presente. Akio, um cara de cabelo castanho e olhos verdes, da altura de Nate, se tornou um palestrante motivacional, fazendo muitas viagens ao redor do mundo com os discursos que o Grey considerava vazios. Sua irmã gêmea, Akemi, que era sua versão feminina, só que mais robusta, abriu diversos restaurantes ao redor do mundo. Setsuna vivia uma vida luxuosa, pois o seu pai ainda era vivo e bancava todos os seus luxos e Naomi, na última vez que ele a viu, estava casada com um homem importante em outro país. Na ocasião, ela estava acompanhada do seu esposo.

— Acho que, tirando a Misa, que morreu na “Noite do Meteoro” e o Daichi, que quer passar longe da gente por ser um fracassado, acho que estamos todos aqui, não é? — Akemi, de maneira inconveniente, como sempre, disse enquanto se reuniam em volta de uma mesa redonda, entre as várias espalhadas no local, todos com champanhes. — Um brinde a todos nós, principalmente a Karui, por ter convencido o ex dela a comprar esse local antes de se divorciar dele e ficar com metade das suas coisas. — e então, todos brindaram, inclusive o elfo, que virou a champanhe em um gole. — Agora chegou a hora que contamos o que pedimos para a estrela cadente. Eu começo: eu pedi para ser dona do meu próprio negócio.

E então, depois de mais de dez anos, Nathaniel finalmente descobriu o que cada um deles pediu na fatídica noite em que prometeram estar naquele lugar quando ele fosse reformado, numa noite de muitas estrelas cadentes no céu. Hayate pediu para que ele fosse o único herdeiro dos negócios do seu pai, o que de certa forma acontece quando seu irmão mais velho morreu quando os monstros verdes invadiram a vila. Yamato pediu para realizar o sonho de ser advogado, e assim o fez, mas usando os seus próprios métodos para isso. Karui queria ser adorada pelo mundo inteiro, e acabou fazendo isso com muito louvor. Akio queria descobrir uma forma de ganhar dinheiro fácil, e assim viajar o mundo inteiro. Setsuna pediu que o seu pai vivesse por muito tempo, para que assim não precisasse trabalhar.

— Sua vez, Naomi. O que você pediu para a estrela cadente? — Akemi apontou para a amiga.
— É… — ela ficou nervosa em contar, respirando fundo e revelando. — Eu pedi para conhecer um grande amor, um homem que me desse uma vida fantástica.
— Parece que a estrela cadente demorou para realizar o seu sonho, não é, meu amor? — o seu marido falou com um sorriso no rosto, lhe acariciando a fase.
— Mas você não estava namorando o Nathan naquela época? — Akemi foi rápida em lembrar o fato, fazendo todos olharem para o elfo. Seu irmão foi rápido em quebrar o clima ruim na mesa.
— Então, Nathan, qual foi o seu pedido? — ele o chamou por um apelido que não ouvia a muito tempo.
— Eu pedi para me tornar uma grande estrela do rock, e… Construir uma família com a garota que eu gostava. — pigarreou, olhando para todos os presentes.
— Então você foi o único que não realizou o seu sonho, né? Quer dizer, não dá pra saber os pedidos da Misa e do Daichi, então… — Akemi disse rindo, sendo repreendida por Karui e Yamato.
— É verdade, Akemi, eu não realizei meu sonho, pois não tive tempo ou oportunidade para isso. Vocês, por outro lado, tiveram todo o tempo e todas as oportunidades do mundo. Depois que vocês decidiram que eu não era bom o bastante para andar com vocês, nem mesmo para ter um relacionamento com a garota que eu amava, eu entrei em depressão, engordei e muitas das vezes eu desejei morrer. Mas eu evolui, conheci pessoas legais, me graduei como shinobi e lutei em muitas batalhas, algumas pessoais, outras que envolviam o destino do mundo. Enquanto vocês viviam as suas vidas confortáveis, eu lutei contra muitos inimigos, viajando ao mundo para cumprir com o meu dever. Os Zetsus Brancos, em Konoha; Kenpachi, o Estripador, em Eichenwalde; Azshara Grey, na Lua; o meteoro que caiu na vila e Kaguya Ootsutsuki, em Oto. E essas são as histórias que as pessoas conhecem. Eu tive que abrir mão dos meus sonhos para ir atrás de vingança, e garantir que todos os cidadãos do mundo pudessem correr atrás dos seus desejos, por mais fúteis que fossem, então… De nada. — ele olhou firme para todos ali, pegando um cigarro e o acendendo. — Além do mais, ninguém me chama de Nathan a mais de dez anos, e Nate é somente para pessoas do meu convívio diário. Minhas alcunhas agora são outras… enquanto Nate fumava, ele sentia o clima ali ficando cada vez mais tenso, até que olhou para a pessoa na sua frente. — Você deseja dizer alguma coisa, Naomi? — os seus olhares se cruzaram por um momento, e então ela se levantou.
— Na verdade, eu quero sim. — ela olhou para todos ali, e repetiu palavras que não eram delas, mas que a partir dali, passaram a ser. — Acho que todos devemos ser gratos a Nathaniel, e doarmos uma parte do que conquistamos para os desafortunados de Konoha, afinal, se somos todos privilegiados, então temos dever de ajudar aqueles que não podem fazer isso por si mesmo.  —

O silêncio tomou conta do recinto, enquanto as pessoas ali trocavam olhares uns com os outros. Nathaniel era o único que permanecia fumando o seu cigarro, concentrando-se em seu paliativo, sentindo-se vencedor: depois de muitos anos guardando rancor contra aquelas pessoas, ele finalmente sentia-se vingado. Sabia muito bem que nenhum deles doaria uma moeda para a sua causa, e só fariam alguma doação para os menos afortunados se fosse para aliviar as suas consciências pesadas, enquanto permitiam que os seus bajuladores elevassem o seu ego. Não precisava dizer aquilo, porque todos ali sabiam, através do seu olhar e da sua postura, o que ele pensava sobre eles. Ele fez um sinal para Naomi, como se aquele fosse o momento certo para ela se sentar na cadeira, enquanto retirava um pedaço de papel do bolso.

— É muito bom estar aqui nesse lugar, depois de tantos anos, onde posso finalmente me desgarrar da promessa que fiz no passado, o que significa que não tenho mais nenhuma obrigação com nenhum de vocês. Mas antes de eu ir embora, eu vou contar uma história para vocês, algo que envolve o meu clã: ontem, um mensageiro de Silvermoon, a terra do meu clã, esteve na minha casa, dizendo falar em nome dos líderes do local. Disseram que eu poderia fazer mudanças em minha história, corrigir erros ocorridos, mudar alguns fatos, até reviver pessoas, e tudo o que eu deveria fazer era escrever todos os meus pedidos nesse papel branco.— ele olhou para todos, percebendo que estavam curiosos e perplexos com isso.
— Isso é impossível, não é? — Hayate questionou.
— Nada é impossível para nós, Greys. Mas eles queriam algo em troca: o Templo da Fênix. Confesso que eu poderia fazer grandes mudanças, e encontrar finalmente a paz que eu finalmente quis. Eu poderia até mesmo realizar o meu sonho de ser um rockstar, viver uma vida luxuosa, me casar com uma boa mulher, uma em quem eu possa confiar… — nesse momento, mesmo que não fosse intencional, Nate fez com que Naomi virasse o olhar, ficando envergonhada. — Eu não sou como vocês, eu nunca fui como vocês, e nem mesmo sou como os Greys de Silvermoon. Essa terra me transformou em um trabalhador, e para mim, não faz sentido que eu possa realizar meu sonho, se os meus irmãos de batalha e as pessoas que vivem ao nosso redor não podem. Se querem saber minha opinião… — ele pegou o isqueiro do bolso e o acendeu, colocando o papel em cima da pequena chama. — Almejar uma vida perfeita, quando o mundo tá cheio de merda e mergulhado no caos, é uma forma de mascarar a covardia. — ele observou a folha sendo consumida pela chama, enquanto virou o rosto para o lado, reparando que Edwin Grey o fitava com raiva.

[...] Dois dias depois, numa tarde fria em Konoha, Nathaniel estava em seu templo dando um tempo do Gabinete, tocando algumas notas de piano no seu bar, pegando um copo de whisky e tomando um gole. Pelo que Rachel lhe contava, todos os seus antigos amigos, exceto por Naomi, guardavam muito rancor da sua postura no jantar, sentindo-se desonrados e humilhados por suas palavras “grosseiras”. Ele não ligava muito para aquilo, deixando para eles um recado que poderia alcançar outros como eles. Enquanto tocava as notas, Katsuhiro entrou no recinto e se aproximou lentamente, mantendo uma postura sorridente. Os dois tinham um encontro marcado desde que sairam do templo, para tratarem de uma aliança que repercutiria em toda a vila.

— Sabe o que é pior do que uma ex-esposa louca? Uma ex-esposa louca e vingativa. É o tipo de coisa que você não quer para a sua vida. — ele parou perto do piano, falando de forma irônica.
— Eu não tenho uma ex-esposa.
— A minha ex-mulher quer acabar com a sua reputação, pelo que você fez a ela. Pode ter certeza que ela falará coisas bem ruins sobre você nos jornais e revistas. Você fez um discurso em tanto, não é? Acho que seus amigos não gostaram muito.
— Imagina quando ela souber que o ex-namorado dela fugiu da prisão de Konoha, tendo prometido matar ela e os outros por terem abandonado ele passado? — ele parou de tocar o piano, pegando a pasta que estava em cima dela, entregando para ele. — Ele se juntou a um grupo de mercenários e nukenins, gente que faz qualquer coisa por dinheiro.
— Existem muitos grupos se formando. Não vai demorar até alguém pagar uma bolada para te tirar do jogo. — ele levou os arquivos, colocando-o em cima da mesa. — Mas eu e minha equipe cuidaremos disso quando o dia chegar, não se preocupe com isso?
— Você também tem uma equipe de mercenários?
— Eu não diria mercenários… Mas você verá, no momento certo. — ele piscou para o homem, saindo em direção a porta do bar. — Você fez bem, sobre os seus parentes. A perfeição é superestimada… Mas tente pegar mais leve na próxima. — ele acenou para o elfo, que repetiu o gesto, observando ele partir.

Quando o local estava vazio, Nathaniel pegou um envelope, o mesmo que lhe foi entregue por Edwin noites anteriores, não sendo o mesmo que tinha queimado no Castelo de Fukashi. Aquilo era mais do que uma simples oferta que não tinha propriamente recusado, e sim uma vantagem, algo que poderia usar contra os seus próprios inimigos, quando o momento certo chegasse. Ele passou muito tempo na defensiva, evitando e lidando com os ataques dos seus adversários, mas agora, era o momento de virar o jogo. Sabia que podia contar com os Garotos para isso, mas sabia também que o grupo estava desfalcado. Nate poderia convocar antigos membros, mas entendia que o momento deles já tinha encerrado. Em seu coração, não havia dúvidas sobre quem escolher para assumir o legado de Ryuuzaki, e quando ele saiu do bar e ficou a uns 50 metros de distância da lápide do antigo líder do grupo, ele observava o seu possível sucessor e filho.