O dia começou como qualquer outro, com a luz suave do Sol invadindo Kirigakure e a brisa fresca da manhã me dando as boas-vindas no Laboratório. Quer dizer, "Começou como qualquer outro" em partes. Recebi uma notificação logo cedo, enquanto ainda estava tentando sacudir o sono da cabeça. — Fogo, é? Será que me dá um bronze? — Faria piada com meu próprio albinismo. De forma resumida, preciso procurar um piromaníaco maluco que anda causando problemas nos arredores da vila, apesar de eu achar que ser bom com Katon muito difícil no País da Água, sendo um dos motivos de eu admirar bastante o Cavaleiro das Chamas; enfim, preciso ir atrás desse cara antes que ele cause maiores problemas por aí. Talvez seja só uma daquelas missões que eu coloque expectativa na força do inimigo e acabe me desapontando com tamanha fraqueza destes, perdendo a aposta de que me divertiria.

Portanto, logo sairia do Laboratório, deixando-o aos cuidados da minha Assistente como de costume, e rumando os Arredores de Kirigakure em busca do antagonista e utilizando os orbes celestiais para detectá-lo com facilidade. Mais especificamente, procuraria por assinaturas de calor. Ele é um piromaníaco, então... creio ser o caminho mais fácil. Enquanto isso, posso sentir o vento soprando gentilmente, e eu posso ver a energia fluindo nas coisas vivas, o calor irradiando dos pequenos seres, até mesmo os microscópicos, ao meu redor. — Confesso que mesmo que eu tenha me acostumado... ver tudo em preto e branco à todo tempo é um pouco deprimente. — Faria um monólogo interno durante a busca, coçando minha cabeça com certo descontentamento — certamente me referindo ao fato de eu estar vendado e abusar das capacidades do Tenseigan de enxergar o mundo mesmo assim.

Encontrar o antagonista não foi nem um pouco difícil, sendo sincero. Seu Chakra se destaca em um mar de azul, vermelho e laranja, como se o próprio Sol estivesse ali, esperando por mim. Encontrei-o escondido em uma clareira, seus olhos brilhando com uma loucura que só alguém apaixonado pelo caos pode entender. Não faria nem um pouco de questão de esconder minha presença. E, ele estava rindo quando me viu, suas chamas dançando ao redor do corpo como se fossem uma extensão de sua própria alma. — Apostador. Você gosta de apostas, não é? — Ele provocou, suas mãos lançando labaredas em minha direção com a facilidade de quem estende um convite para uma dança, e eu desviaria com a facilidade de alguém que entende o ritmo dos passos. Eu sorri, colocando um pouco de expectativa. — A vida é uma aposta, e eu sou o melhor nisso. — Responderia, deixando-o, aparentemente, satisfeito enquanto eu degustaria um chocolate.

Ele então sem aviso prévio começaria com um ataque direto, as chamas rugindo em minha direção como uma fera faminta. Com um salto, girei no ar, desviando do fogo com uma leveza que parecia mais uma coreografia do que um combate. Senti o calor passar por mim, quase tocando, mas não o suficiente para me queimar. A adrenalina me fez rir, pousando como a leveza de uma pena. O piromaníaco apenas gargalhou, suas chamas se intensificando, transformando a clareira em uma fornalha viva e seguindo com sua sequência de ataques. Rolaria para o lado, evitando um jato de fogo e tentaria encurtar a distância, sem sucesso. — Só segue o ritmo! — Bradaria, desviando de mais uma explosão de fogo, dançando ao som do crepitar das chamas. — Dance enquanto a música tocar e aposte sua vida! — Ele retrucou, as chamas ao seu redor intensificando-se em um espetáculo de luz e calor, aumentando a temperatura ambiente. Ele se lançou para cima de mim, uma coluna de fogo que eu mal consegui evitar. Rolei para longe e, num movimento rápido, impulsionei-me em direção a ele, usando o terreno como um trampolim, mas mais uma vez não consegui encurtar distância e precisei por minha destra sob o chão para frear meu avanço e impedir que eu fosse de cara no fogo.

— Por que gosta tanto do fogo? — Indagaria, bastante curioso. — O que eu amo no fogo? Ele consome e purifica tudo, até a mim. Todos tem um motivo para viver. A graça pra você é a "incerteza" que há em apostar, metafórica e literalmente é o que torna a vida tão bela. — Ele respondeu, basicamente descrevendo minha pessoa com poucas palavras. Sou uma figura conhecida mundialmente, então ele deve saber muito sobre mim, podendo confirmar agora que teve o privilégio de me ver pessoalmente. — Minha única motivação é queimar. — O piromaníaco finalizara, sendo bem breve.

— Pra apostar, você tem que conhecer todos os riscos, Hakari. — Num movimento diferente do repertório que ele havia apresentado durante toda nossa batalha, ele que encurtaria a distância agora, e sentiria uma paralisia acometer todo meu corpo. Uma sensação familiar, Sakki. No entanto, antes que eu pudesse ao menos tentar quebrar a influência da Intenção Assassina, meu sangue espirraria saindo da lateral direita do meu tronco. Havia recebido um golpe não-mortal mas preciso que não esperava. — E essa aposta você perdeu. — Seria a última coisa que eu ouviria conforme sinto minha visão escurecer — Mais do que já está escurecida, haja vista eu enxergar em preto e branco —, com meu corpo caindo no chão, inconsciente.

Talvez seja o meu fim? Não... não parece ser a hora.

Eu me encontrei envolto em uma escuridão silenciosa, uma sensação de vazio se espalhando ao meu redor. A última coisa que lembro era a batalha, o calor do combate, e então... nada. Agora, estou aqui, em um lugar que além da realidade, além do que eu conheço. Aos poucos, a escuridão deu lugar a uma luz suave e etérea, revelando um vasto salão adornado com símbolos antigos e misteriosos. E então me dei conta: É o meu próprio subconsciente. No centro desse lugar surreal, sentado em um trono esculpido em pedra celestial, está ele: Shibai, Deus-Rei.  Sua presença avassaladora como de costume, como se o próprio universo tivesse curvado diante de sua vontade. O brilho pálido de sua pele contrasta com as marcas Kāma, que desceam como uma cascata ao redor de seu corpo. Seus olhos, vazios e infinitos assim como os meus, parecem olhar diretamente para minha alma.

Eu já havia estado aqui antes, nesse mesmo cenário, nesse mesmo confronto; mas desta vez há algo diferente, como se Shibai estivesse esperando por mim, como se ele tivesse algo a dizer. — Sentiu saudades? — Sua voz ressoou pelo salão, reverberando em cada canto, como o eco de trovões distantes. É uma voz calma, mas carregada de uma autoridade inquestionável. — Vejo que continua a desafiar os limites do que é possível, pivete. No final das contas, não me arrependo de ter te revivido. — Ele pontuou, relembrando a batalha contra Soramaru há um certo tempo atrás, em que eu morri, mas, Shibai optou por se sacrificar, morrendo no meu lugar para que eu continuasse me desenvolvendo. Algo que eu nunca imaginaria que ele fizesse por sinal. — E aí, Shibs! Eu morri de novo? Tava lutando contra um cara louco pelo fogo e acordei aqui. Foi mal, acho que eu perdi. E... saudades eu tenho só da Nobara e do Naritoshi. — Me desculparia com Shibai, coçando minha cabeça enquanto ponderaria meu vacilo em não ter levado a luta a sério e finalizado rapidamente. — Você tá vivo. Estou te curando nesse exato momento. Não merece, displicente. — O meu Deus me daria uma bronca, apesar de entender sua preocupação para comigo, haja vista eu ser um "Hospedeiro perfeito" e eu imaginar que ele me enxerga como amigo mesmo que ele tente disfarçar sendo durão.

— Tá bom, aceito o acordo. Só não mata ninguém. Nós somos decentes. — Seria incisivo, bocejando levemente. — Tá cer... Espera, eu nem disse nada. — O Rei me responderia de forma cômica, com seu rosto expressando uma confusão do tipo... "Como assim ele adivinhou o que eu quero?". — Ao invés de 5, vamos por 10 minutos. Divirta-se! Vou descansar um pouco. — Finalizaria sorrindo, concedendo controle parcial do meu corpo ao Rei de bom grado. Não posso negar que senti saudades pra caramba, mas não posso expressar isso. Provavelmente ele me zoaria bastante... — Você é diferente mesmo... — Sua voz novamente ecoaria pelo ambiente, seus lábios formando um sorriso de canto enquanto ele fecharia os olhos, apoiando seu braço sob o trono. Em instantes, todo o ambiente etéreo começaria a sumir aos poucos, até eu me sentir... hibernando.

[...]

O corpo de Hakari daria lugar a uma figura com marcas espalhadas pelo corpo que removeria a venda — Amarrando-as no braço — sob seus orbes celestiais, revelando seu olhar e expressões bem mais ameaçadoras que as do cientista. Em suas mãos, cessaria o uso do Shōsen Jutsu, utilizado por Shibai para curar Hakari após ser atacado, assim como quebrou o Sakki que afligira-o. — É bom estar de volta. — Shibai murmurou, erguendo-se e batendo em suas próprias vestes com a canhota para expulsar a poeira, algo que fez o piromaníaco se virar, assutado com a visão. — Q-qu-quem é v-vo-você? — Ele indagou, nitidamente nervoso e começando a, ironicamente, suar muito. — Eu? Diria que sou o Mensageiro do Além. Agora, me divirta um pouco, humano. Não me decepcione. — Finalizou Shibai, cruzando os braços.

Ele voltou.

Após a fala do Deus Ōtsutsuki, o piromaníaco lançaria um pilar de chamas em direção ao mesmo, que simplesmente sumiria como um vulto, reaparecendo a sua frente e aplicando um soco com força em seu estômago, tamanha a dor que obrigou o renegado a abraçar a si mesmo por reflexo, agonizando. Em seguida, Shibai não mostraria misericórdia. Ele plantou o pé no rosto do piromaníaco com uma força que cravou seu rosto no solo. A pressão fora esmagadora, forçando os ossos do homem a rangerem sob o peso. O piromaníaco tentou se libertar, mas seus esforços eram patéticos, como uma mosca lutando contra a mão de um gigante. Com um movimento casual, Shibai afastou o pé, deixando o renegado tossindo e cuspindo sangue. Antes que ele pudesse se recompor, Shibai o agarrou pelo colarinho e o lançou como se fosse um brinquedo, seu corpo voando pelo ar e colidindo com uma rocha próxima. O impacto rachou a pedra, e o piromaníaco grunhiu em agonia.

— Fraco. — Ele murmurou, nitidamente decepcionado e fitando o inimigo. E, ao passo em que as palavras saíssem da sua boca, o piromaníaco, enquanto tentava se levantar, sangue escorrendo pelo canto da boca, lançou uma desesperada onda de chamas. As labaredas bastante intensas, queimando o ar ao redor, mas para Shibai, são insignificantes. Ele não apenas desviou, mas caminhou através das chamas, como se estivesse passando por uma brisa morna. O fogo lambeu seu corpo, mas não deixou sequer uma marca. Havia aplicado Chakra Nagashi do elemento Doton para encobrir seu corpo e anular o dano. Shibai o ergueria pelo pescoço após alcançá-lo, sua mão apertando com força e fazendo o piromaníaco se debater, tentando desesperadamente puxar o ar. — Eu esperava mais de você, humano. — Da sua boca, um ar de desprezo ecoaria.

Ele jogaria o piromaníaco no chão como um boneco quebrado. O renegado tentou rastejar para longe, mas o Deus Ōtsutsuki não havia terminado. Ele caminhou lentamente até ele, pegando-o pelo tornozelo e girando seu corpo com força, lançando-o novamente no ar. O piromaníaco gritou, mas o grito foi cortado por um chute de Shibai que saltaria e o mandaria de volta ao chão com uma força devastadora. O corpo do renegado colidiu com o solo, levantando uma nuvem de poeira. Ele mal conseguia se mover, seus membros tremendo de completa dor e exaustão. O Rei parou ao lado dele, olhando para o homem caído com frieza absoluta. — No final das contas, você é só uma criança brincando com fogo. — Emitiria, a voz gotejando com desprezo. Shibai se abaixaria novamente, segurando o rosto ensanguentado do piromaníaco e forçando-o a olhar diretamente em seus olhos. A expressão do Deus é de puro desdém, como se o homem em suas mãos não fosse digno de sua atenção. — Para sua sorte, devo respeitar meu contrato. Então você não vai morrer. Não hoje. — Zombaria, antes de jogar o rosto do piromaníaco contra o chão com tanta força que o som de ossos quebrando ecoou pelo campo. Finalmente, Shibai se levantou, limpando as mãos como se estivesse se livrando de algo sujo. Ele olhou para o renegado derrotado, que estava agora inerte, mal respirando, e balançou a cabeça, desapontado. — Hora de voltar, pivete. — Finalizaria a entidade, fechando os olhos e respirando o ar, mesmo que impuro, mais uma vez antes de "sair".

[...]

— Cara, o que aconteceu aqui? — Indagaria, vendo o piromaníaco que antes tinha me dado uma coça estirado no chão e todo quebrado, ao mesmo tempo sentindo as marcas da farpa espalhadas pelo meu corpo.

— Tomei liberdade para recepcionar nosso convidado. Foi uma recepção bem calorosa da minha parte, como pode ver. — A voz estrondosa e grossa de Shibai ecoaria no meu mental, respondendo a duvida feita por mim. — Bom saber que você tá seguindo a regra do "Matar não pode, mas traumatismo craniano tá de boa", Shibs. — Murmuraria, simplesmente normalizando o fato de que estava conseguindo conversar tranquilamente com Deus Ōtsutsuki desde que eu "Morri" contra Shifa após tomar o corpo de Soramaru. Fato é, estava com saudades dessas interações e me sentindo bastante sozinho, tendo como única pessoa na qual tenho contato de forma constante sendo Kirara, haja vista Yami estar de férias por aí e Nobara e Naritoshi estarem seguindo seus próprios caminhos sem mim.

Enfim, desativaria o Kāma, descansando e relaxando meu ser degustando um chocolate amargo agora que não há mais ninguém para lutar contra. Também me vendaria novamente, assim como amarraria o inconsciente corpo do piromaníaco todo detonado pelos golpes do Rei. Em seguida, colocaria seu corpo sob meus ombros, e o levaria até a Polícia de Kirigakure, entregando-o às autoridades locais. Em seguida, completada a missão, trataria de caminhar em direção ao desconhecido, sem nenhum objetivo no momento. — Agora que estamos juntos de novo, que tal... Fazer a Noite do Karaokê de novo? — Indagaria mentalmente, mostrando minha intimidade para com aquele que habita minha psiquê. — Ninguém pode saber da Noite do Karaokê. — Com um pouco de preocupação no seu tom de voz, Shibai responderia.

Dessa vez ele está... sorrindo?