A placa de madeira esculpida à mão e pendurada por correntes enferrujadas exibia o nome da taverna, o “Javali Dourado”. O estabelecimento é feito de madeira e pedras desgastadas pelas intempéries. A porta dupla de madeira parecia que cairia ao simples toque e rangia ferozmente ao serem abertas. Shinji encarou a entrada por alguns instantes antes de entrar.

O lado interno era aconchegante, iluminado por velas. As janelas eram cobertas por uma tapeçaria antiga e as paredes enfeitadas com cabeças de animais empalhados. O velho piso de madeira rangia sob cada passo dado. As mesas também de madeira tinham cupins em seus pés e as cadeiras, embora confortáveis, não aparentavam aguentar o peso de uma única pessoa.

O balcão era de madeira polida cercado por algumas banquetas e ao fundo prateleiras com garrafas contendo bebidas destiladas. Logo ao lado, havia uma ladeira de pedra que espalhava um calor acolhedor por toda a taverna. O Yamanaka sentou-se próximo a ela e chamou pelo dono do estabelecimento.

— Uma sopa de missô bem quente. — Fez o pedido, esfregando as mãos uma à outra para se aquecer.

Shinji frequentava o Javali Dourado periodicamente e sempre foi um ambiente que poderia aproveitar a calmaria. No entanto, um estranho ar ameaçador pairava pela taverna naquele dia. Receoso, o branco fez um breve selo de mão. “Kanchi no Jutsu!”, murmurou para si mesmo.

Instantes depois, um som de uma lâmina sendo desembainhada e antes que pudesse ter qualquer reação, viu-se com ela no pescoço.

— O mundo é grande e bonito. A maioria de nós vive e morre no mesmo lugar onde nasceu, e nunca chega a ver nada disso. Você quer ser como a maioria? — Disse o sujeito que portava aquela arma, com uma voz tão rouca que mal podia ser ouvida.

“Como?”, o Yamanaka não percebeu a aproximação do sujeito mesmo com a habilidade sensorial ativada. Aquilo o amedrontou e foi o suficiente para que sua concentração se esvaísse e a técnica fosse desativada. Ele colocou as duas mãos sobre o balcão, estava rendido.

— É uma habilidade valiosa, mas tem certeza que está aproveitando o máximo dela? — Ele continuou a falar, tirando a espada do pescoço do jovem e se sentando ao lado dele. O sujeito apenas sinalizou para o dono do restaurante que o trouxe um copo e uma garrafa de whisky. — Você conseguiria se livrar da minha lâmina sem ter acesso à suas mãos, que estavam unidas em um selo?

Shinji olhou lentamente para o homem. Ele estava vestido com roupas negras sob uma capa de mesma cor e cujo capuz cobria parcialmente seu rosto. Do pouco que podia enxergar, via a pele clara e um cavanhaque loiro unido ao bigode. Embora estranho, o sujeito não parecia um inimigo, o que fez o genin se acalmar. “De certa forma, ele tem razão”, pensou.

O Yamanaka refez o selo de mão e ativou a habilidade sensorial novamente. Pontos de energia acenderam-se dentro de um longo raio de distância e Shinji conhecia perfeitamente aquela sensação. Mantendo a concentração, ele desfez o selo de mão e a habilidade foi desativada instantaneamente. “Merda”, reclamou.

— Aqui está. — Disse o barista, ao se aproximar e colocar a sopa do jovem sobre o balcão.

Shinji pouco deu atenção, apenas acenou agradecendo, e retomou as tentativas. Todas falharam. “Tsc!”, reclamou estalando a língua. As mãos unidas no selo do tigre indicavam sempre uma nova ação. Dessa vez, seus olhos estavam fechados e a mente mais concentrada que nunca. Novamente os pontos de energia foram acesos e o branco desfez o selo. Por um breve instante, os pontos continuaram acesos. O estranho sujeito ao seu lado sorriu e se levantou, arrastando a banqueta e tirando a concentração do mais jovem. Após deixar uma nota ao lado da garrafa, saiu do local sem dizer uma palavra.

O apenas sorriu de canto de boca e começou a comer a sopa. Os próximos dias, seriam então dedicados a aprimorar a sensação que havia aprendido ao desfazer o selo de mão quando o Kanchi no Justsu estivesse ativo e não levaria muito tempo para que a ação se tornasse comum.

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Considerações: