Shikakku no Harikēn

Uma reunião com o Senhor Feudal do País do Vento foi marcada com uma pequena antecedência, uma semana, pelos subordinados do Senhor Feudal Ishtar. O interlocutor, como esperado para esse tipo de encontro com o financiador da Vila Oculta da Areia e de todo o País, seria o Kazekage, e Mestre da Botânica nas horas vagas, Harikēn Kaguya.

O assunto que seria discutido no encontro, no entanto, não foi informado na mensagem que chegou até o Gabinete da Sombra do Vento marcando a reunião. Por mais que o jovem Kaguya odiasse a torrente constante de informações recebidas pelos relatórios que seu cargo obrigava a ler, a falta de informações e pormenores para se preparar para a reunião era ainda pior pro adolescente que só queria se preparar e manter uma boa relação com seu Lorde Feudal.

Sem poder se preparar aprofundando-se no conteúdo que seria discutido durante a reunião com o Senhor Feudal do País do Vento, Harikēn Kaguya decidiu que a melhor forma de lidar e se preparar para a reunião era trabalhando na forma. Se mostrar confiante e dedicado na proteção e promoção da prosperidade na Vila Oculta da Areia demonstrar completa lealdade ao Senhor Feudal Lorde Ishtar, se colocar numa posição subalterna naquele jogo de poder, mas sem abdicar de sua influência política e militar no processo.

Preparado para o jogo de cena que se sucederia com o Senhor Feudal, Harikēn Kaguya viu toda sua preparação ir por água abaixo quando viu com quem iria conversar naquela reunião. Quem entrou com sua delegação no local do encontro, o restaurante Oásis do Deserto, completamente reservado para que apenas uma mesa fosse atendida, foi o representante o Lorde Ishtar, o mesmo que representou o Senhor Feudal na cerimônia de posse do Algoz dos Ossos. Por um lado, o Mestre da Botânica se sentia frustrado por, mais uma vez, o Lorde Ishtar não fazer uma aparição pública, por outro lado, sentia certo alívio de seu interlocutor também ser novo no que estava fazendo:

- É um prazer revê-lo, Senhor… - fez uma reverência, abaixando a cabeça para o representante do Senhor Feudal - Harikēn Kaguya, Sombra do Vento da Vila Oculta da Areia, ao seu dispor. - disse estendendo o braço para convidar o enviado a se sentar.

”Cacete, como é o nome dele mesmo? Eu já fui apresentado a ele na cerimônia, não fui? Essa reverência era destinada ao Senhor Feudal, será que pega mal fazê-la para um mero assistente? De qualquer forma, será uma reunião engraçada: um adolescente e um assistente, os dois crus.”

- Obrigado pela cordialidade, Kazekage-dono. O seu respeito a hierarquia e aos costumes é apreciado por todos nós.

”Todos nós quem, tatuado? Os lacaios de Ishtar?”

A dupla se sentou à mesa, frente a frente. Não precisaram olhar o cardápio, o chefe havia preparado algo especial para o encontro, usando ingredientes e especiarias locais no preparo, uma celebração ao País do Vento em formato culinário: Posta de Víbora coberta por um queijo de camelo que tentava replicar raclete e temperado com Kouboku no Ki, acrescentando uma picância singular ao prato:

- Espero que esteja gostando do prato, Senhor. - disse o Kazekage, mantendo a cordialidade que havia treinado nos dias anteriores

- Muito gostoso, obrigado por decidir por essa locação para o encontro.

- Era o mínimo que eu podia fazer. Mas… Imagino que o motivo dessa reunião não seja a degustação de pratos regionais da alta gastronomia, correto? - o Kaguya tentava guiar o representante para o assunto que era o motivo daquela reunião

- O motivo da reunião realmente é outro. Karma, que esteve com você no Castelo da Lua, numa outra reunião com os demais Senhores Feudais, que estive representando Lorde Ishtar, nos fez um pedido absurdo: uma operação militar em Takigakure e Tetsu no Kuni. Tudo isso para enfraquecer o País do Relâmpago e o homem que controla a Vila Oculta da Nuvem para, no futuro, instalar o líder de Shimogakure no lugar.

- E eu imagino que a gente aqui no País do Vento tem algo a ver com isso, segundo o Karma?

”Vindo do Karma, não preciso ser um gênio pra assumir que essa operação militar tem alguma relação com a Boryukudan. Por isso ele contatou Maeda um tempo atrás, afinal”

- É… parece estar ligado com os acontecimentos recentes aqui no País do Vento…

- O País tem uma dívida com Karma pelos seus esforços em parar Soramaru… e, Senhor, nós devemos pagá-la. - disse o Mestre da Botânica, fitando os olhos do Representante do Daimyo de maneira incisiva

- Temos um buraco no País que já causou problemas e reclamações demais, não sei se diria que devemos tanto assim a esse homem. Não satisfeito com o prejuízo causado, agora quer que enviemos tropas para uma guerra que não é nossa.

O Kazekage se levantou, o Assistente de Ishtar, confuso com a movimentação de seu interlocutor, também começou a se levantar. Fazendo um sinal de “pare” com sua mão direita e balançando a cabeça, Ken conseguiu fazer com que o Assistente ficasse onde estava. Andando de um lado pro outro, o adolescente de cabelos brancos tentava achar uma solução.

”Mas a guerra também é nossa, seu animal. Todo e qualquer movimento para enfraquecer a Boryukudan é um movimento para preservar o País do Vento. Se não causarmos mais dor de cabeça para eles, essa organização maldita vai voltar a virar os olhos deles pra cá, mandar alguém para substituir Soramaru. Mas a preocupação dele parece estar no escopo financeiro… Acho que sei por onde começar”

- O Senhor tem razão em ver por essa… ótica. Mas da mesma maneira, se essa operação, lá na frente, fizer a balança de poder na Vila Oculta da Nuvem mudar em favor de alguém que nos deve por serviços prestados… pode ser que, financeiramente, essas operações em Takigakure e Tetsu no Kuni acabem sendo lucrativas - disse Harikēn, que continuava de pé andando de um lado para o outro

- Pode ser… realmente, olhando por esse lado, faz sentido. - o representante se lembrou do Karma disse na reunião sobre as colônias sob tutela do País do Relâmpago - Mas não temos termos assinados, garantias de nada. Não tenho como dar esse tiro no escuro. Literalmente, não estou em posição para tomar esse tipo de decisão, não tenho esse poder

Quando ouviu sobre as limitações do assistente, o jovem Kaguya parou de andar de um lado para o outro. Levou sua destra para a franja que tinha em sua testa, penteando-a para trás com seus dedos. Ao fim do movimento, porém, a franja voltou para onde estava.

”Puta que me pariu! E tu só me fala isso agora, seu merda? Me fez perder tempo me preparando, queimar neurônio e gastar saliva com um imprestável desses? Respira fundo, se acalme. Se ele não tem poder e está com escorpião no bolso, só tenho uma opção, mesmo.”

- Bom, se o Senhor não está em condições de tomar essa decisão… Não tome. - o Kazekage voltou a se sentar à mesa, olhando fixamente nos olhos do Assistente - Acompanhe meu raciocínio. É só fazer a mesma coisa que foi feita na sucessão que me colocou nesse cargo: Deixar os shinobis escolherem. - o Kaguya abriu os braços com um sorriso no rosto, como se tivesse resolvido um quebra-cabeças depois de horas de dificuldade - Organizarei a operação por minha conta em risco, financiando-a com recursos do Vilarejo, não do Daimyo.  Funciona para você?

Um “você” escapou da boca do Kazekage. Como era de seu feitio, Harikēn passou a reunião toda tratando o Representante de Ishtar com todo o respeito que alguém que poderia ser útil e que estava numa posição de poder merecia. No instante que o Assistente, aos olhos do Kaguya, foi de alguém importante para um imprestável, sua atitude mudou também.

- Hum… - o Representante refletia enquanto o adolescente musculoso aguardava ansiosamente pela resposta - Bom, acho que, dada a situação do Nosso Senhor Feudal, Lorde Ishtar-sama, essa realmente seja a melhor opção. O que tem em mente? Que forças pretende levar?

- Pensei que tivéssemos concordado que seria uma decisão militar de minha parte? - disse o Kazekage com a intenção não tão sutil de colocar o Assistente em seu devido lugar - Se realmente deseja saber, pretendo enviar Kabane e os membros do Kinkotsu no Mori, Hakuryū Kinsetsu, Maeda Senju e eu, Harikēn Kaguya, para Takigakure. Já os encarregados para a operação em Tetsu no Kuni serão Reshi Doragon, Yukari Miso e Regulus Hikari. Imagino que você não conheça todos os nomes, acho que não faz parte de suas obrigações, mas são todos shinobis capazes.

- Não é perigoso o Kazekage participar de uma operação como essa? A última operação de Karma levou-

- De novo, não era uma decisão minha? - disse Harikēn de maneira calma, porém incisiva, interrompendo o assistente abruptamente antes que o mesmo citasse as perdas da Lua Minguante

- Certo… - o Assistente ficou alguns segundos absorvendo a situação - Então a reunião está encerrada. Foi um prazer, Harikēn-dono.

O Assistente do Daimyo se levantou e fez uma reverência de corpo todo ao Kazekage, já o Líder Militar não disse uma palavra, limitando-se a um aceno com a cabeça. Com a reunião encerrada, o Kazekage se dirigiu para seu gabinete para preparar a papelada das operações em Takigakure e Tetsu no Kuni.