Era um final de tarde bastante agitado, manter-se no ar demandava bastante concentração para resistir à ventania forte daquele país. Certamente o clima era algo que não tinha como se acostumar, não em tão pouco tempo. Os céus estavam tingidos de um laranja profundo, as nuvens espessas se movendo rapidamente como sombras fugidias. Ela sentia a tensão de uma possível queda, lutando contra a força dos ventos cortantes.

De repente, um som estridente rasgou o ar. O zumbido agudo de flechas cortando o céu. Seus olhos arregalaram-se ao vislumbrar as setas flamejantes, rastros brilhantes iluminando o crepúsculo. Um grito de alerta saiu de seus lábios, mas o ruído da ventania abafou suas palavras. Inclinou-se, virando bruscamente para desviar do primeiro ataque. As flechas passaram perigosamente próximas, o calor abrasador lambendo sua pele e também ameaçando desfazer a coruja de tinta na qual estava montada. Sabia que precisava se mover, e rápido. O inimigo estava escondido em algum lugar abaixo, tirando proveito do terreno e do caos da tempestade.

Ela mergulhou, descendo em espiral, tentando confundir os arqueiros. Mas eles estavam bastante determinados e não recuaram, pelo contrário, suas ações ganharam cada vez mais confiança. E prevendo cada esquiva da rosada, eles conseguiram derrubá-la após muita luta, destruindo o constructo de tinta e derrubando a kunoichi na areia. A queda foi o suficiente para deixá-la desacordada, o que abriu a brecha para ser levada pelos mascarados.

Não havia transcorrido mais que um punhado de horas desde o melancólico adeus a Nobara e Hakuryū quando uma sombra enegrecida rasgou o véu da janela, trazendo consigo um presságio de incerteza. A ave, desatinada, revoluteou pela sala de estar, suas asas cortando o ar em movimentos frenéticos, até encontrar repouso no parapeito, próximo a Maeda. Seus olhos, negros como a noite mais profunda, refletiam uma urgência silenciosa. O jōnin, cuja postura se enrijeceu ante a inesperada visita, pôde sentir a tensão enraizar-se em seus músculos. Bastou um rápido olhar para discernir o pequeno cilindro metálico atado à uma das patas do mensageiro. Com mãos ágeis e precisas, retirou o objeto, sentindo a frieza do metal contra seus dedos. Desenrolou o papel com cuidado, quase reverência, notando o desgaste nas bordas e as manchas que indicavam o manuseio apressado. As palavras, escritas em uma caligrafia tremida, revelavam a gravidade da situação: um rapto nos arredores do vilarejo, mais um de uma série que aparentemente vinha acontecendo. O tempo parecia se condensar, os segundos tornando-se uma eternidade enquanto o Senju assimilava a mensagem. Sem hesitar, seus músculos se contraíram e, com a agilidade que lhe era característica, lançou-se pela janela de onde o corvo havia ingressado momentos antes. O entardecer envolvia o vilarejo em um manto alaranjado, apenas quebrado pelo brilho tênue do sol que filtrava pelas dunas. A brisa outonal era fresca, carregando consigo o murmúrio das areias.

— Estou com um mal pressentimento — indagou a besta de seu interior.

— Medo? — retrucou Maeda de forma irreverente, tentando disfarçar como era incômodo que a sensação da bijū fosse passada a ele.

— Tenha mais respeito. Eu não sinto medo.

Os seus pés tocaram o solo com a leveza de uma sombra, mal perturbando os grãos dourados. Seus movimentos eram fluidos, quase dançantes, enquanto avançava entre as paredes de adobe. A urgência da convocação, dirigida diretamente a ele, não deixava dúvidas: a situação transcendera as capacidades dos meros chūnin vigilantes que guarneciam os portões. Seus passos eram testemunhos de sua experiência e habilidade, um lembrete de que, mesmo nas sombras, ele era uma força a ser reconhecida.  O vilarejo, quase adormecido e alheio à tensão que se desenrolava, parecia respirar em uníssono com as montanhas de areia ao redor. Não tardou, entretanto, para ver-se diante da guarita onde encontraria a primeira informação crucial acerca da missão ao qual fora encarregado.

Quando despertou, estava atordoada, sem compreender o que sua visão ainda embaçada revelava. Tentou levantar-se, mas sentiu algo lhe puxar para baixo. Seu olhar ainda perdido, vasculhou o que a prendia, encontrando uma corrente presa aos seus pés e braços. Presa? — pensou, sentindo seu coração palpitar cada vez mais rápido.

Sua respiração agora ofegante ritmada com o gotejar de suor que escorria pelo corpo úmido da Uzumaki, que a partir daquele momento compreendia que passava a receber outro adjetivo: prisioneira. Isso desencadeou uma crise de ansiedade, debatendo-se o mais forte que conseguia, procurando se libertar daquelas correntes. Mas não teve sucesso.

Uma risada maliciosa aos poucos se aproximou. — Não adianta! Essas correntes foram feitas com o material especial, além de que depois de ter ingerido nossa droga, moldar chakra não vai ser uma função fácil. — disse a figura, aproximando-se de Nobara e apertando fortemente suas bochechas. Ele sumiu logo em seguida, sendo possível ouvir seus passos largos e pesados, além da risada que parecia ser um acessório extravagante. Contudo, a força foi tanta que a marca dos dedos continuaram, mesmo depois de algum tempo.

Tentou reunir forças para questionar o motivo daquilo tudo, mas sua voz falhou, estava com medo. E agora um pouco mais esperta, percebeu que outras mulheres também se encontravam na mesma condição. A vontade que se reunia em seu peito era apenas uma: gritar o máximo que seus pulmões permitissem, mas ao mesmo tempo precisava tentar se manter calma. Embora estivesse sendo quase impossível, já que ao analisar alguns sinais, seu próprio corpo entregava que temia pela sua vida.

— Relatório — exigiu o Senju, sua voz ressoando como o toque grave de um sino de bronze ao romper a serenidade da noite, enquanto avançava com a autoridade inquestionável de um magistrado prestes a proferir sentença.

Dois chūnin, trajando os uniformes meticulosos da aldeia, ergueram-se prontamente, como marionetes bem adestradas, suas reverências executadas com a precisão de autômatos, refletindo a deferência devida à elevada patente de seu interlocutor.

— Maeda-senpai, — iniciou o mais experiente, sua voz reverberando com a seriedade requerida pelo momento — Reportamos o desaparecimento recente de um número alarmante de aldeões. Notamos a formação de um padrão perturbador: as mulheres são os alvos predominantes.

— Por que a demora em agir? — inquiriu o Empalador, sua tranquilidade inabalável contrastando nitidamente com o pavor que começava a insinuar-se nos semblantes dos subordinados.

— Perdoe-nos, senhor — aventurou-se o mais jovem, a voz carregada de sincera contrição — Demoramos a perceber que algumas das mulheres que saíam não estavam retornando.

— Qual era o destino das que não retornaram? — replicou o Senju, com um desdém apenas velado para com o tratamento formal que lhe causava irritação.

— Leste — respondeu o mais velho, sua voz lacônica, carregada de uma esperança tímida e quase imperceptível, mas profundamente enraizada.

Sem despedidas, sem alarde, sem palavras de encorajamento ou pedidos de desculpas por sua franqueza, Maeda partiu. Portador de uma resolução inexorável e de uma ira meticulosamente controlada, atravessou o portal que circundava a aldeia, dirigindo-se à zona leste do País do Vento, em direção aos arredores da Areia. Sua busca não possuía fronteiras definidas, apenas uma direção vaga, como um farol distante que mal iluminava o caminho a ser seguido. A vastidão do deserto ao entardecer tornava a tarefa ainda mais desafiadora, transformando cada passo em uma jornada através de um mar de areia interminável. Onde está o investigador numa hora dessas? pensou, evocando a figura sempre perspicaz de Hakuryū, cuja presença inspirava um senso de segurança e estratégia. Em seu subconsciente, a besta parecia inquieta. Habitualmente desleixada sobre as próprias patas, agora permanecia ereta, atenta, um reflexo de sua própria ansiedade. A criatura, com olhos flamejantes e corpo musculoso, estava sentada de forma tensa, como se pressentisse o perigo iminente.

— Se ficar nervoso, eu também fico — murmurou o Senju, quase implorando. O vento, carregado de grãos de areia fina, roçava seu rosto, lembrando-lhe da imensidão e da hostilidade do deserto.

— Não estou nervoso. Apenas incomodado. Odeio covardes — retrucou a besta com um tom ríspido, como se cada palavra fosse uma lâmina afiada. Seus olhos, ardendo com uma luz intensa, refletiam o desdém profundo por aqueles que considerava fracos.

— Está falando dos guardas? Olha eles... — começou o Prodígio, apenas para ser abruptamente interrompido.

— Estou falando do responsável pelos sequestros — explicou a criatura com desprezo. — A ideia de escolherem alvos indefesos lhes dá coragem. Gostaria que tivessem sequestrado a mulher errada e que ela lhes desse uma lição inesquecível — Seus dentes brancos brilhavam ameaçadoramente na penumbra da floresta mental, revelando uma ferocidade contida.

— Não seria nada mal — assentiu, com um sorriso sombrio se formando nos lábios enquanto seus olhos se fixavam numa clareira à frente, um presságio de que se aproximava das divisas. A clareira se abriu diante dele como um oásis inesperado em meio ao deserto implacável, uma visão quase surreal contra o pano de fundo do crepúsculo.

Tal clareira se revelou como uma ilha de serenidade em meio ao oceano de areia. O crepúsculo derramava sobre o céu uma paleta de cores gloriosas: laranjas ardentes, vermelhos sangrentos e púrpuras profundos, que se fundiam com o dourado das dunas ao redor. Os últimos raios de sol perfuravam as copas retorcidas das árvores, projetando sombras alongadas e fantasmagóricas sobre o solo arenoso. O calor do dia começava a ceder, substituído pela brisa fresca da noite nascente. O vento vespertino sussurrava através das folhas secas, criando uma melodia triste que ecoava na vastidão. No centro da clareira, a vegetação era uma ode à resiliência. Arbustos espinhosos e cactos robustos erguiam-se do solo como sentinelas, suas formas espinhosas desafiando a austeridade do deserto do País dos Ventos. O chão estava coberto por uma mistura de areia fina e pedras desgastadas, suas superfícies refletindo a luz dourada do entardecer. Pequenos insetos zumbiam ao redor, adaptados à vida no deserto, movendo-se rapidamente entre as sombras. Os cactos, com suas flores raras e belas, pareciam quase mágicos sob a luz do crepúsculo.


Se tenho que começar por algum lugar, que seja por aqui, refletiu, enquanto seus olhos perscrutavam a clareira. A vastidão do deserto ao entardecer era traiçoeira, uma tapeçaria de sombras e luzes que ocultava tanto perigo quanto beleza. Como jōnin experiente, sabia que cada detalhe contava uma história, cada grão de areia podia ser a chave para desvendar o mistério.

Primeiro, ele avistou pegadas na areia fina, impressas como um livro aberto. As marcas eram claras e distintas, e Maeda, com olhos treinados, discerniu rapidamente os detalhes. Agachando-se, ele tocou as pegadas, sentindo a suavidade da areia sob seus dedos. Estas indicavam uma pessoa de estatura média, correndo com urgência. Havia sobreposições nas marcas, sugerindo que mais de uma pessoa havia passado por ali ou que alguém havia retornado pelo mesmo caminho. Enquanto seguia a trilha, notou um galho quebrado pendendo de uma árvore próxima. A quebra era recente; as folhas ainda estavam verdes e a seiva escorria lentamente, brilhando à luz moribunda do sol. Ele tocou o galho, confirmando suas suspeitas, e olhou ao redor, sempre atento a mais sinais. Um leve aroma de madeira queimada chegou às suas narinas, distinto e inconfundível para alguém com seu treinamento. Seguindo o cheiro, encontrou uma pequena depressão no solo, onde os restos de uma fogueira já não mais emitiam calor. As cinzas estavam frias, e nenhuma brasa rubra resistia sob a camada de cinzas.

Nobara tentou colher o máximo de informações possíveis. Mas a baixa iluminação apenas atrapalhou, já que a única saída visível era uma janela que ficava a exatos dez metros acima. Estava de fato confinada, com apenas uma pequena entrada de ar para que pudesse respirar. Desumano — pensou, enquanto tentava forçar as correntes quebrarem, o que foi uma completa perda de tempo! Força bruta nunca foi seu forte e a cada tentativa apenas conseguia ferir seus braços e pernas, que pouco a pouco ficavam marcados.

— Não adianta. — murmurou outra prisioneira. Ela tinha uma aparência desgastada, sua pele estava coberta de terra e poeira. E seu olhar era o de alguém que já havia desistido. — Apenas obedeça e continuará viva. — aconselhou, na tentativa de expor algum falso conforto.

Mas os sentimentos da rosada eram completamente opostos, mesmo sendo algo complicado, acreditava que tudo tratava-se de uma questão de oportunidade. E quando surgisse, iria agarrá-la de alguma forma.

Depois de horas tentando livrar-se daquelas amarras de metal, precisou dar uma pausa, pois seu corpo já não aguentava. Mas para sua surpresa, o mascarado de antes apareceu. Pareceu avaliar as prisioneiras e anotar algo na prancheta em suas mãos. Até que uma segunda pessoa surgiu, este não trajava uma máscara e tinha uma aparência não apenas selvagem como passava a sensação de aspereza.

Seu modo de andar, cuspir e até mesmo o olhar, expressava selvageria demasiada. Urgh, que ogro! — foi o primeiro pensamento que teve ao vê-lo.

O mascarado se aproximou da rosada e com brutalidade a colocou de pé, sem se importar se a machucaria no processo. — Retire as correntes. — disse o brutamontes, aproximando-se. O mascarado obedeceu e primeiro retirou as correntes que encontravam-se nos pés, logo depois removeu as que estavam nos braços. Nobara esperou até o último segundo, garantindo que estaria totalmente livre daquelas amarras antes de reagir.

No instante em que se viu livre, desferiu um soco no rosto do homem mascarado que caiu no chão, correndo em direção ao grandalhão realizando alguns sinais de mão. No entanto, o homem provou ser bastante rápido e logo sumiu da linha de visão dela, aparecendo por trás dela e puxando suas madeixas rosadas. O que atrapalhou a finalização dos selos necessários para seu jutsu.

Não sendo o bastante para ele, que sorria cada vez mais ao ouvir os gritos da kunoichi, a lançou contra o chão com uma força monstruosa. Em sequência, chutou sua barriga a jogando contra a grade.

Com sua tentativa de fuga tendo falhado e com seus novos ferimentos, refletia sobre o que aconteceria daqui pra frente.  

Os dois indivíduos se retiraram logo depois do ocorrido, saíram com uma agressividade em seus passos, esta que poderia ser sentida apenas pela energia que ambos emanavam. Eles tinham um ódio tremendo, algo difícil de ser explicado.

Os sinais dispersos pela clareira, embora evidências claras de passagens recentes, não eram suficientes para alarmar Maeda. Ele lidava com a situação com uma calma e precisão que beiravam a indiferença, uma característica de seu extenso treinamento como jōnin. Essa serenidade, no entanto, incomodava profundamente Kurama, que se remexia inquieto em seu íntimo, como uma fera enjaulada, apesar de a muito não ser.

— Parece estar poupando esforços, garoto. O que sua mãe diria? — a voz da besta ressoou, cortante e sarcástica, reverberando na mente do Senju.

Tais palavras foram como um golpe inesperado. Ele paralisou, suas memórias sendo inundadas por imagens de sua mãe. Lembranças de momentos de carinho e disciplina, a voz suave mas firme que sempre o guiou. O gosto amargo da verdade encheu sua boca; ele sabia que estava sendo complacente, acreditando ser superior o bastante para se poupar.

— Sinto muito por estar tão desleixado. Você tem razão — admitiu, a voz carregada de melancolia e sinceridade, refletindo a dor de reconhecer sua falha.

Fechando os olhos, deu um passo firme, decidindo invocar uma parcela do chakra da criatura. Imediatamente, um manto amarelado e incandescente envolveu seu corpo, irradiando uma aura de poder avassalador. O [Kurama Mōdo] transformava cada fibra do seu ser, e ele sentiu uma onda de energia percorrer suas veias, amplificando seus sentidos e sua força. Com a nova percepção, captou a presença de uma energia maligna nas proximidades [Akui Kanchi]. A sensação era palpável, uma pulsação sinistra que reverberava através do manto de chakra. Seus olhos abriram-se, agora brilhando com a intensidade do poder da besta, captando cada detalhe do ambiente ao seu redor, inclusive o fio avermelhado que fluía da direção que aparentemente a tal intenção maléfica partia. Será que.

Um rastro amarelo incandescente cintilou no ar onde Maeda estivera, como a cauda efêmera de uma estrela cadente. A poeira ergueu-se em uma cortina nebulosa, subindo aos céus em redemoinhos turbulentos com o movimento abrupto [38 m/s] do Senju. O som de sua partida foi um estrondo agudo, reverberando pela clareira com a força de um trovão. As folhas das árvores próximas estremeceram e até os cactos, robustos e espinhosos, penderam sob a intensa vibração do avanço repentino. Ele, envolto pelo manto radiante de chakra, parecia mais uma entidade de luz do que um homem, seus passos se transformando em relâmpagos de velocidade e devastação. Sua figura deslizava pelo deserto como um espectro de fogo, olhos fixos no horizonte onde pressentia a presença de algo ainda desconhecido. O brilho dourado de seu manto iluminava a paisagem desértica, criando sombras dançantes nas dunas ao redor. A clareira, antes silenciosa, agora parecia respirar com vida própria, as partículas de areia vibrando em resposta à passagem do jinchūriki. Ele avançava com uma rapidez estonteante, cortando o ar como uma flecha, seu coração batendo em uníssono com a pulsação do chakra de Kurama. A sensação de energia maligna que sentira antes tornava-se mais palpável a cada passo. O Senju não tinha dúvidas de que estava no caminho certo.

O que acontece, garota? Questionou a criatura que residia no seu interior. Desde quando desiste tão facilmente? Continuou, ele tinha uma certa noção do que acontecia, mas decidiu não intervir anteriormente. Você sabe que meu poder está disponível.

— Não é isso… até quando irei depender de uma força externa? — retrucou. A verdade é que sempre sentiu ser uma pessoa dependente, nunca conseguindo fazer nada de fato sozinha. I-isso só pode ser brincadeira! Mostrou-se incomodado com a perspectiva apresentada pela rosada, ficando agitado e criando uma onda gigantesca, enfatizando sua fúria.

Naquela cela sufocante e empoeirada, ela permanecia jogada no chão, com os braços e pernas acorrentados. O calor abrasador do deserto invadia o ambiente, tornando o ar quase irrespirável. As paredes de barro seco rachavam sob a pressão do calor, e o teto, feito de tábuas velhas e gastas, oferecia pouca proteção contra o sol escaldante que queimava incessantemente lá fora. Ao seu redor, mais quatro mulheres compartilhavam o mesmo destino cruel, suas faces marcadas pelo suor e desespero. O silêncio era interrompido apenas pelo som das correntes e dos gemidos abafados. A luz ofuscante que entrava pelas frestas das tábuas lançava sombras distorcidas nas paredes, aumentando a sensação de sufocamento e desolação.

Ele avançava como um cometa dourado, sua forma transformada pelo acesso ao chakra da besta, atravessando o deserto com uma velocidade que desafiava a percepção – 38 m/s. Cada movimento seu deixava um rastro brilhante no ar, uma linha efêmera de luz que se dissipava quase tão rapidamente quanto surgia. O manto de chakra que o envolvia era como uma armadura incandescente, pulsando com uma energia viva. Ele seguia o fio de chakra avermelhado, uma trilha quase palpável de intenções maliciosas, captadas por sua técnica sensorial passiva. A clareira ficava para trás, uma lembrança distante envolta em sombras. O sol poente tingia o céu com tons de fogo e sangue, lançando um brilho crepuscular sobre os cactos retorcidos e as folhas trêmulas. O ar estava carregado com o aroma terroso da vegetação ressequida e da poeira levantada pela partida abrupta do Senju. A melancolia impregnava o ambiente, uma tristeza não dita, mas sentida, que se infiltrava nos sussurros do vento.

Enquanto avançava, o som do vento cortado por sua velocidade se misturava ao murmúrio constante das dunas, uma canção ancestral. A areia fina levantava-se em espirais delicadas, acariciando sua pele com uma aspereza familiar. No horizonte tingido pelo crepúsculo, avistou um amontoado de ruínas antigas. Surgiam das sombras como sentinelas esquecidas, imponentes e desoladas. As pedras escuras estavam gastas pelo tempo, cobertas de musgo e trepadeiras secas que se agarravam desesperadamente às superfícies ásperas. Arcos quebrados e colunas desmoronadas pontuavam a cena, exalando um cheiro de decadência e umidade. Mas o que é isso? questionou-se. O fio de chakra avermelhado desaparecia debaixo da terra e com isso, ao observar os portais semi-enterrados e os fragmentos de escadas que pareciam levar a lugar nenhum, deduziu que estava diante de um esconderijo subterrâneo. Embora sua primeira intenção fosse procurar uma entrada mais óbvia, a sensação maligna era tão intensa que não se daria ao luxo de hesitar.

Afastando a destra do corpo, concentrou chakra na mão, sentindo o poder fluir e moldar-se em uma esfera giratória de brilho avermelhado – o Rasengan, corrompido pelo chakra de jinchūriki. Flexionando o braço para trás, ele o impulsionou com força contra os blocos das ruínas, mirando o solo com precisão devastadora. A explosão foi cataclísmica. Pedras voaram em todas as direções, poeira subiu em uma nuvem sufocante, e um rombo abriu-se no chão, levando o Empalador e sua falha em calcular o resultado de sua ação, diretamente para o interior de uma catacumba úmida e sombria. Ele, por sorte ou talvez reflexo, aterrissou com a agilidade do jōnin que era, os olhos ajustando-se à escuridão apenas quebrada pelo brilho de seu manto.

O ambiente estava vazio, mas a sensação de uma intenção maligna persistia, enredada nas sombras. Não era medo, nem raiva; era um desejo puro e destilado de causar mal. Nisso respirou fundo, sentindo o cheiro pungente de mofo e terra úmida, enquanto o som das gotas de água ecoava na escuridão. Não é estranho que tenha tanta água assim nos limites do país? questionou, tendo como resposta da besta em seu interior nada mais que um silêncio. Ela reunia mais energia própria, preocupada com o que poderia estar por vir.

Aquela situação já me incomodava há um tempo, eu sentia meu chakra desordenado, como se algo o estivesse mantendo constantemente em desequilíbrio. Moldá-lo me parece um tanto impossível… não, na verdade é apenas complicado. Com meus olhos vasculhei os elementos que compunham aquela cela. Nada parecia ser muito resistente ou com algum valor. Pelo contrário, as grades já estavam bastante surradas e os tijolos das paredes aparentavam bastante desgastados. Foi então que me toquei: as correntes!

Estava na minha cara o tempo inteiro, como pude ser tão besta assim? Isso é um saco. Se eles têm acesso a um dispositivo que perturba o chakra dessa maneira, então devem ter um nível de habilidade um tanto elevado.

A única saída possível era confiar no meu controle de chakra e tentar moldar o suficiente para quebrar aquelas correntes. Não que essa fosse uma tarefa fácil. Por mais que eu tente, o chakra sempre acaba se dissipando, e após minha décima tentativa percebi que não conseguirei moldar nada que tenha uma grande proporção.

Então, pouco a pouco fui utilizando pequenas parcelas do meu chakra para criar pequeninos corais. Inicialmente não deu certo, por isso a noite foi longa, mas os resultados começaram a ser notados, e pouco a pouco as correntes iam sendo cobertas pelos corais.

Avançava com uma velocidade estonteante pelos corredores de pedra – 38 m/s, a luz espectral de seu manto de chakra alaranjado iluminando cada irregularidade das paredes. O solo sob seus pés era uma mistura de terra batida e fragmentos de pedras antigas, que estalavam em protesto sob seu peso. O ar era pesado, impregnado com o odor de mofo e umidade, carregado com a sensação opressiva de tempo parado. À sua frente, o fio de chakra avermelhado serpenteava pelo ar, uma linha etérea guiando-o com quase precisão. Seus olhos treinados buscavam captar cada detalhe do ambiente: marcas de musgo crescendo nas fendas das pedras, vestígios de cerâmica quebrada espalhados pelo chão, indícios de que aquele lugar fora habitado há muito tempo. As sombras lançadas pela luz do manto dançavam nas paredes, criando figuras fantasmagóricas que pareciam sussurrar segredos antigos. Ao virar uma esquina estreita, seus olhos captaram a visão de uma escada de madeira, coberta de limo e visivelmente desgastada pelo tempo. Cada degrau exalava um cheiro pungente de decomposição vegetal, misturado com o ar frio e úmido do subsolo.

Maeda subiu com cautela, os degraus rangendo sob seu peso, os sons amplificados pela acústica natural do lugar. O som abafado de vozes vinha do piso superior, aumentando sua sensação de urgência. Chegando ao topo, deparou-se com uma passagem lacrada, uma barreira de madeira robusta ancorada por terra batida. Ele pressionou o ombro contra a estrutura, aplicando força gradualmente – Força 7, sentindo a resistência obstinada da madeira. A barreira, porém, resistiu firmemente, recusando-se a ceder. A frustração crescia em seu peito, a barreira parecia zombar de sua força. Desceu rapidamente, ignorando os degraus, seu corpo movendo-se ante a gravidade. Pousou no solo com um impacto controlado, a terra cedendo ligeiramente sob seus pés. Flexionou os joelhos, seus músculos tensionando em preparação. Com um impulso explosivo, lançou-se contra a entrada, os punhos colidindo com a barreira. O impacto foi devastador, reverberando pelo corredor. Minúsculos fragmentos de madeira e torrões de terra voaram em todas as direções, criando uma nuvem de poeira que flutuava suavemente no ar iluminado pelo manto de chakra. Irrompeu pelo rombo recém-criado, pousando no piso superior com a força de uma tempestade. Seus olhos ajustaram-se rapidamente à nova escuridão, revelando rostos femininos emergindo das sombras, suas expressões uma mistura de medo e surpresa. O ambiente estava impregnado de uma tensão palpável, o ar vibrando com a energia da sua entrada abrupta. Entre os rostos, um par de olhos verdes destacou-se, familiar e profundamente querido. O manto alaranjado começou a se dissipar lentamente, revelando o semblante, que refletia uma mistura de urgência, alívio e profunda confusão. De seus lábios, apenas uma palavra escapou, carregada de emoção contida.

— Nobara?

A Uzumaki estava se concentrando em seu plano, tentando cobrir as correntes que a mantinham presa com corais criados a partir do seu chakra. Embora fosse algo que talvez só apresentasse resultados a longo prazo, seu espírito agarrava-se naquele pequenino fio de esperança que ainda lhe restava. A cada centímetro que conseguia preencher com seu chakra, uma gota de suor escorria por seu rosto, estava demandando um tremendo esforço. Muito mais do que havia esperado.

No entanto, ao ouvir passos, seu coração começou a palpitar ainda mais rápido. Era o sinal de que a ansiedade tomava conta dos controles do seu corpo, o que infelizmente a fez perder o controle da manipulação do chakra, fazendo-a perder todo o trabalho que teve até aquele momento.

Da ansiedade ao medo, cada passo que ecoava por aquela prisão soava como uma montanha russa emocional. Então, fechou seus olhos, para evitar encarar quem se aproximava. Concentrando-se na sala escura de sua imaginação, uma em que sentia o peso de ter sua liberdade privada.

Em contraste, indo contra tudo de ruim que havia conseguido imaginar, uma voz suave e benquista proferia seu nome. Quando abriu seus olhos, numa cena que pelo menos em sua mente pareceu ter ocorrido em câmera lenta, observando primeiro os pés do Senju que antes estavam cobertos de um amarelo tão intenso quanto o sol. Até que finalmente reconheceu o rosto do Maeda, alguém por qual nutria sentimentos especiais.

Lágrimas começaram a escorrer através dos seus olhos esverdeados, sentindo seu coração parar e só não morrer pois não era a hora. Ele seria capaz de compreender a expressão que se formava no rosto da rosada, a vontade de que fosse real.

— M- aeda - kun?! — perguntou, como se estivesse pedindo para morar na concha do seu abraço com a sensação de que realmente o mundo não era tão grande assim para reencontrá-lo.

O interior da cela era um quadro de desolação e decadência, uma prisão esquecida nas entranhas da terra. As paredes de terra, frias e úmidas, estavam cobertas de musgo e líquen, exalando um odor pungente de mofo. Pequenas rachaduras serpentavam pelas pedras, testemunhos silenciosos do tempo implacável que corroía o local. O chão de terra batida estava irregular, salpicado de manchas escuras e indecifráveis que sussurravam histórias de sofrimento e abandono. O ar era denso e estagnado, carregado com uma mistura de umidade e decomposição. Tochas murchas em suportes de ferro lançavam uma luz bruxuleante, que mal conseguia romper a escuridão reinante. As sombras, projetadas pela chama vacilante, dançavam nas paredes, criando figuras longas e inquietantes que pareciam se mover por conta própria. O ambiente era opressivo, a escuridão e o silêncio interrompidos apenas pelo ocasional gotejar de água de uma fonte invisível.

O Senju estava completamente absorvido pela situação, seus sentidos alarmados, captando cada nuance do ambiente lúgubre. A revelação súbita de Nobara naquela cela começava a alinhar as peças dispersas de sua missão. Tudo começava a fazer sentido, as pistas, as sensações de malícia, a urgência. Sua mente focou-se rapidamente na missão, embora seu coração estivesse profundamente tocado pelo reencontro inesperado. Aproximando-se quase que involuntariamente, viu o brilho das lágrimas em seus olhos verdes, refletindo a luz vacilante das tochas. Com um movimento lento e gentil, ele ergueu a mão direita e usou o polegar para enxugar as lágrimas que escorriam por suas bochechas pálidas. Sua pele era fria ao toque, uma lembrança do ambiente hostil que a cercava. Maeda deixou seus dedos acariciarem suavemente a bochecha de Nobara. Enquanto suas mãos tocavam a face da Uzumaki, deixou que outro braço a envolvesse em um abraço. O ambiente opressivo ao redor parecia desaparecer, deixando apenas a presença deles dois naquela cela sombria. Sua missão, embora clara e urgente, agora tinha um novo propósito, uma motivação profundamente pessoal. — Não é assim que a Areia se despede de seus visitantes — ele precisava quebrar o silêncio, a forma como escolheu fazê-lo sendo uma alternativa bem-humorada demais para a situação delicada na qual estavam, ainda mais por ter usado aquela janela de tempo para guiar até os lábios uma bala de café,  a tentativa de controlar seus impulsos nervosos — O que sabe dos responsáveis?