審判のカード

Parecia só mais um dia ruim dentro dos muros de Shimogakure. Hiei estava imerso em pensamentos, relembrando todo o sofrimento diante do treinamento que Kurei impôs a ele quando criança. O clima antes ameno tornava-se caloroso com o passar das horas. O silêncio foi quebrado na medida em que duas batidas ocas puderam ser escutadas vindas da porta principal do pequeno dormitório. Ele se dirigiu até a porta, imaginando que seria sua mãe, em mais um dia em que ela tivesse esquecido a chave ou o bento. Quando girou a gélida maçaneta metálica, percebeu a presença de outro ninja trajando as cores e o símbolo do vilarejo estampado sobre a testa. Antes que pudesse indagar sobre o motivo de estar ali, ele se pronunciou.

— Hiei, certo? O responsável pelas missões de baixa patente está lhe convocando. Ele quer que seja rápido, existem algumas missões para serem realizadas e você foi escalado. — antes que pudesse contestar algo, ele sumiu, como em um passe de mágica, realizando um simples selo de mãos. Hiei suspirou firme, dando de ombros. Sua vontade era não realizar missão alguma, entretanto, por ser ordem de um superior, não havia outra opção.

De frente ao grandioso prédio, sem cerimônias, adentrou a instalação, observando um senhor por detrás de um longo balcão, repleto de papeis empilhados. Ele o recebeu com um sorriso e obteve, em resposta, o mesmo desdém característico da personalidade do jovem marionetista.

— Bom… já haviam me avisado sobre sua personalidade. Pois bem, Hiei, pegue esses cinco pergaminhos e complete cada missão descrita em cada um deles, sem exceção. Espero que todas as missões estejam feitas ao final do dia. — as ordens do velho, demonstrando o ar de superioridade, fizeram com que o semblante de Hiei mudasse completamente. O desdém deu lugar ao ódio, representado ao arquear a sobrancelha. Um único suspiro que se sucedeu fez com que o ódio se esvaísse de seu corpo, enquanto ele se dirigia ao balcão, recolhendo os cinco pergaminhos apontados pelo velho representante.


"Entregas", repetiu mentalmente ao ler o conteúdo do primeiro pergaminho. A missão rank D não parecia ser difícil, principalmente ao julgar seu físico. Utilizar a velocidade para percorrer Shimogakure inteira, entregando encomendas importantes no menor tempo possível seria mais fácil do que lutar contra um lobo selvagem.

Para começar, entretanto, precisou se dirigir até o centro de carteiros do vilarejo, onde um dos responsáveis apontou quais encomendas deveriam ser entregues, avisando também que cada uma continha o endereço do local a serem entregues. Sendo assim, começou, correndo de um lado para outro dentro do vilarejo, desde o subúrbio, que conhecia como a palma da sua própria mão, por morar por lá, até a parte rica, onde diversas casas de três andares e mansões ficavam.

Algumas entregas demoravam mais do que outras, principalmente quando não tinha ninguém para receber a encomenda. Perdeu cerca de meia hora ou um pouco mais para realizar nove das dez entregas, faltando, então, a última; uma caixa quase do seu tamanho, tão pesada quanto qualquer urso selvagem. Carregá-la foi um trabalho árduo; inclusive, para alguém que não possuísse seu físico, seria impossível. Ainda assim, conseguiu e, portanto, com um sorriso sobre o rosto, sabendo que a primeira missão havia sido concluída com perfeição, dirigiu-se até o centro dos carteiros, mostrando que havia entregado tudo, recebendo palavras de agradecimento, concluindo a primeira das cinco missões.


Hiei dirigiu-se ao local destinado ao treinamento das habilidades fundamentais, um espaço que conhecia como extensão do seu ser. A jornada do aprendizado ninja moldou sua essência, e aquele local era o palco onde as páginas da sua evolução se desenrolavam.

Ao chegar, deparou-se com a atmosfera familiar de um campo de treinamento, onde a prática de golpes físicos tornava-se uma expressão do seu aprimoramento constante. Entre os pesos, cordas e obstáculos dispostos, revivia momentos em que cada soco, chute e bloqueio eram a ponte que o conectava a uma maestria mais profunda.

Subiu ao topo de um pequeno monte de treinamento, utilizando acrobacias aprendidas ao longo dos anos para alcançar a visão privilegiada. A destreza e fluidez dos movimentos eram um testemunho das horas dedicadas a aperfeiçoar cada detalhe. Dali, observando o campo de treinamento, rememorou os desafios enfrentados para fortalecer seus golpes e técnicas de defesa pessoal.

Cada sequência de movimentos era uma dança que ecoava a melodia do treinamento intenso. Desviava de obstáculos imaginários, recordando das vezes em que sua resistência foi forjada nos momentos de esforço extremo. O suor escorria, mas o compromisso com o seu próprio desenvolvimento impelia-o a continuar.

Os golpes físicos tornaram-se uma linguagem, uma narrativa que contava a história do seu crescimento como ninja. Cada soco desferido e cada esquiva realizada eram capítulos entrelaçados, conduzindo-o a uma compreensão mais profunda das artes marciais.

Ao concluir o treinamento, ciente de que cada gota de suor era um tributo ao seu aprimoramento, Hiei reconheceu que não havia tempo a perder e focou em partir para a próxima missão.


Hiei foi até as áreas públicas designadas para a limpeza, onde as praças e parques de Shimo aguardavam serem cuidados. A tarefa de preservar esses espaços, tão caros aos moradores da vila, era uma missão que transcendia a arte das sombras e se conectava diretamente com a essência de sua responsabilidade, mesmo que ele odiasse todos esses lugares, cercados por felicidade.

Ao chegar, deparou-se com a paisagem salpicada de detritos e folhas, clamando por restauração. Uma sinfonia de cores e texturas transformadas pela negligência, que agora demandava sua atenção. Pegou um saco de lixo e uma vassoura, ciente de que essa missão não era apenas uma obrigação, mas uma expressão tangível do amor que deveria ter pelo vilarejo, coisa que, obviamente, não tinha.

Cada passo ao recolher o lixo era um gesto de comprometimento com a beleza e ordem de Shimo. As folhas varridas formavam trilhas que guiavam os moradores pelos parques, resgatando o esplendor original daqueles espaços públicos. O ato de limpeza tornou-se uma dança, onde cada movimento era um elo entre ele e o ambiente ao redor.

Observando o resultado do seu esforço, percebeu que a missão não era apenas sobre a remoção física do lixo, mas uma celebração da responsabilidade compartilhada por manter Shimo impecável. Cada pedaço de lixo recolhido era um passo em direção a uma vila mais vibrante e acolhedora.

Com o término da limpeza, Hiei sabia que restava continuar as missões.


Era hora de arrumar, limpar e realizar a manutenção da Academia Ninja. Não havia tempo para queixas, nem deveria haver, afinal, se a intenção era galgar novas graduações, naturalmente, precisava passar por missões fúteis e insignificantes como essa.

De frente ao grande prédio, cuja fachada imponente declarava ser a academia, Hiei lembrou-se de seus dias como aluno, frequentando o lugar com a esperança de se graduar um dia. Ao entrar, foi abordado por um dos professores, que, inclusive, fora seu mentor naquela época.

— Hiei, que bom vê-lo aqui. Posso te ajudar? — perguntou o professor, direto ao ponto, ocupado com algo.

— É, claro… vim fazer a limpeza e manutenção da academia. — Hiei mostrou o pergaminho da missão, deixando que o mais velho lesse. Ele consentiu com a cabeça, orientando-o a começar na principal sala da academia. Lembrando-se exatamente de onde ficava, Hiei foi sem esperar novas instruções.

Começou pegando um esfregão e um balde d’água, limpando o chão de madeira da gigantesca sala, visando tirar qualquer resquício de sujeira, assim como marcas no piso. Depois, recolheu os gizes, guardando-os dentro de uma caixa, e limpou o quadro negro. Em seguida, arrumou as cadeiras e mesas, deixando-as uniformes, uma ao lado da outra, em cerca de cinco fileiras.

Após mais de uma hora arrumando as coisas, aproximou-se do professor, mostrando que estava tudo pronto e limpo. O professor agradeceu, carimbando mais uma missão. Agora, faltava apenas uma e, com um sorriso sobre o próprio rosto, Hiei continuou.


Hiei caminhou até a parte periférica do vilarejo, conhecendo-a como a palma das próprias mãos. Crescera entre vielas pútridas, brincando e se divertindo como uma criança normal antes do acontecido que mudou sua personalidade. Com base no conhecimento que possuía do local, escolheu o melhor ponto para a patrulha: de cima, com visão para todos os lados da periferia, ou quase isso.

Ao chegar, avistou o maior prédio da região, subindo até ele a partir de outros telhados ao redor, com pulos conscientes. Dali, como imaginou, teria o melhor visual da periferia, suas vielas, pequenos comércios, prédios antigos e afins.

Ficou observando a movimentação intensa do alto do prédio, próximo ao parapeito, usando sua percepção para detectar qualquer atividade suspeita. Com o passar dos minutos, notou algumas crianças agindo de maneira estranha em grupo, próximas de uma venda de frutas. Sabia que crianças roubavam diariamente, às vezes para sobreviver, outras por simples prazer. Movimentou-se rapidamente, descendo do prédio em direção ao grupo, utilizando a máxima velocidade pertinente naquele momento.

Ao chegar, testemunhou o ato do roubo, onde uma das crianças pegava duas maçãs enquanto outras distraíam a vendedora. Estendeu a mão, interrompendo o movimento dela em guardar as frutas, mantendo seu semblante frio característico.

— Devolva isso. — ordenou, fazendo com que outras crianças olhassem para ele, assim como a própria vendedora.

— Vamos, saiam todos daqui, caso não queiram responder pelo crime de vocês. — Com a segunda ordem, todos fugiram, enquanto a vendedora agradecia com um sorriso estampado no rosto.

Voltou para o local de vigília, quando foi prontamente abordado por um superior, requisitando o relatório da missão.

— Não houve nenhum roubo ou movimento suspeito. — foi sucinto, pegando o pergaminho, entregando-o para o superior carimbar e guardando-o em seguida, enquanto ele sumia de vista. Com a missão concluída, era hora de partir para a próxima.


As missões simples, porém tediosas, estavam finalmente concluídas. Hiei sabia que esses pequenos deveres eram passos necessários para alcançar seu objetivo maior. Com um olhar determinado e um suspiro de alívio, ele se dirigiu ao dormitório, pronto para encarar novos desafios que certamente viriam.