Tensai — 天才

O vento soprava frio através dos corredores de pedra de Sunagakure no Sato, carregando consigo o aroma seco da areia do deserto e o sussurro de segredos antigos. O Senju movia-se com a graça contida de um predador, seus passos leves e medidos enquanto se dirigia à base de operações do esquadrão. Seus olhos, negros como a noite sem estrelas, varriam o ambiente com uma intensidade quase palpável, visando absorver cada detalhe com a precisão de um falcão em caça. A estrutura que se erguia diante dele era imponente, suas paredes de pedra maciça marcadas pelo desgaste de incontáveis anos. Lanternas lançavam um brilho dourado e espectral sobre os caminhos de metal e pedra, desenhando sombras inquietas que pareciam dançar à beira de sua visão. Ele atravessaria a entrada principal, sentindo olhares invisíveis pesando sobre ele como um manto. A convocação chegara dias antes, uma mensagem lacônica e sem assinatura, típica da ANBU. A carta ordenava sua presença para uma reunião, e Maeda, recém-ingressado, sabia melhor do que questionar tais ordens. O teste que o aceitara na organização fora severo, e o convite era uma extensão desse enigma constante que permeava a vida nas forças especiais.

Ao atravessar uma ponte de madeira simples, mas robusta, vislumbrou uma figura esperando à sua frente. O ancião trajava um kimono negro que exalava uma autoridade silenciosa. A barba grisalha e os olhos profundos falavam de sabedoria acumulada em décadas de experiência. O jōnin parou a alguns metros, seu semblante inalterado, embora dentro dele a besta adormecida estivesse alerta e vigilante.

— Pelo visto, os comentários sobre sua pontualidade eram verdadeiros — a voz do ancião ressoou, profunda e reverberante, quebrando o silêncio com a clareza de uma lâmina atravessando a neblina.

Maeda não se moveu, seu rosto permanecendo impassível. Internamente, ele avaliava cada palavra dita, cada inflexão na voz do ancião, enquanto seus pensamentos giravam freneticamente, tentando desvendar o propósito daquela reunião.

— Bom, eu o convidei aqui para deixar claro que você é bem-vindo. Tive acesso à sua ficha e, sinceramente, há tempos não vejo alguém com suas qualidades. Também li o relatório da sua missão de teste.

O velho parecia sincero, mas havia um ar de mistério que o envolvia como um manto. Sua postura era relaxada, mas os olhos não perdiam um detalhe sequer, como os de um lobo que avalia uma nova adição à sua alcateia.

— Temos uma vaga como capitão de esquadrão, e embora sua entrada na corporação seja recente, venho observando seus passos e sei de suas capacidades. Espero que aceite, com um adendo: não incendeie o hospital..

As palavras do homem soaram firmes e decisivas. O jovem ponderou por um momento, seus pensamentos voltando-se para Kurama, a Raposa de Nove-Caudas que habitava seu subconsciente.

— O que acha? — perguntou silenciosamente.

— Não parece ser o tipo de gente que digere bem uma recusa. Aceite sua nova função — respondeu Kurama, com uma cautela que carregava a sabedoria dos milênios.

Com um movimento deliberado e respeitoso, colocou-se lentamente sobre um joelho, apoiando o braço sobre o outro que permanecia em pé. Seu semblante era sereno, mas sua mente trabalhava incansavelmente, calculando cada possível desdobramento daquela nova posição.

— Será uma honra, senhor — disse Maeda, sua voz firme e controlada, selando assim seu novo destino.

Dois homens mascarados surgiriam silenciosamente, tão furtivos quanto assassinos profissionais. Vestiam-se com os trajes sombrios da ANBU, peças ajustadas perfeitamente aos seus corpos, feitas de um material negro opaco que absorvia a luz. Suas máscaras eram obras de arte macabras, estilizadas com expressões animalescas que disfarçavam completamente suas identidades. Seus movimentos eram executados com precisão letal, uma dança mortal ensaiada por incontáveis horas de treinamento.

— Queira nos acompanhar, capitão — murmurou um dos mascarados, sua voz abafada pela máscara, como um eco distante vindo das profundezas.

Ele não hesitaria. Sem olhar para trás, seguiria os dois homens, deixando o ancião em silêncio. Eles o conduziriam por corredores estreitos e sinuosos, as paredes de pedra fria iluminadas por tochas ocasionais que lançavam sombras vacilantes. Atravessariam portas pesadas de madeira e ferro, até chegarem a uma sala surpreendentemente bem iluminada. A luz ali era forte, refletida nos armários de metal que alinhavam as paredes, cada um marcado com nomes e símbolos dos membros da ANBU. No centro da sala, o Senju encontrou seu próprio armário, o nome gravado em letras precisas. Os dois mascarados se curvaram em silêncio, respeitosamente.

— Após se vestir, queira comparecer ao salão onde irá receber a tatuagem da corporação — disse um dos mascarados antes de se retirarem tão silenciosamente quanto haviam chegado.

Maeda abriria o armário e encontraria o traje. A vestimenta era composta de peças de armadura leve, projetadas para oferecer máxima proteção sem sacrificar a agilidade. A máscara, que o aguardava no topo do traje, era uma peça intimidadora. Ela era branca, adornada com detalhes vermelhos e chifres, o espaço dos olhos transmitindo uma presença ameaçadora. As marcas negras e vermelhas evocavam tanto temor quanto respeito. Ele conhecia o peso simbólico de vestir aquele traje; significava se tornar parte de uma irmandade de guerreiros das sombras, a elite oculta de Sunagakure.

Vestindo-se com cuidado, sentiria o peso da responsabilidade descer sobre seus ombros. A armadura se moldaria perfeitamente ao seu corpo, uma segunda pele que oferecia tanto proteção quanto anonimato. Com o traje completo, ele se dirigiria ao salão designado. A sala era austera, com paredes nuas e chão de pedra, iluminada por lanternas que lançavam um brilho constante e suave. No centro, um homem estava sentado à frente de uma cama almofadada.

— Sente-se, capitão — ordenou o homem, sem levantar o olhar de seus instrumentos.

O Senju abodeceria, sentando-se na cama almofadada. O homem começou a trabalhar, dando início a aplicação da tatuagem, o símbolo de sua nova identidade. A agulha perfuraria sua pele com precisão, cada golpe deixando uma marca indelével. O desenho vermelho e espiralado tomava forma em seu ombro esquerdo, um emblema que o ligaria para sempre à corporação. A dor era intensa, mas não mostraria nenhum sinal de desconforto. Ele sabia que aquela tatuagem representava mais do que um simples desenho; era um juramento silencioso de lealdade e dever, uma marca que ele carregaria para sempre, lembrando-lhe constantemente de seu papel na implacável engrenagem da ANBU.