A forja do Dragão Flamejante está situada em uma vasta caverna subterrânea, esculpida nas profundezas de uma formação rochosa–arenosa imponente. As paredes de pedra escura são iluminadas pelo brilho alaranjado das fornalhas em funcionamento contínuo, conferindo ao ambiente uma atmosfera mística e imponente. A forja é um complexo arquitetônico magnífico, composto por várias plataformas e edifícios conectados por pontes e escadas de pedra intricadamente trabalhadas. As construções principais são feitas de pedra negra polida, adornadas com detalhes metálicos dourados que refletem a luz das chamas das fornalhas, criando um contraste visual impressionante. As fornalhas são o coração da forja, situadas em plataformas elevadas, onde o calor intenso é canalizado por canais de lava líquida que fluem pelo complexo, proporcionando a energia necessária para o trabalho incessante dos ferreiros. Cada fornalha é equipada com equipamentos modernos, forjados e mantidos com extremo cuidado para garantir a máxima eficiência e precisão. Próximo às fornalhas, existem laboratórios de infusão onde materiais raros, como Hyōrinmaru, devem ser tratados e combinados com outros elementos. Essas áreas são equipadas com instrumentos precisos para a infusão de chakra nas armas, um processo que exige concentração e habilidade dos ferreiros mestres.

Em um nível superior, acessível por uma escadaria majestosa, estão as salas de planejamento e design. Ali, os ferreiros podem se reunir para discutir novos projetos e inovar nas técnicas de forjamento. As paredes dessas salas estão cobertas por diagramas detalhados e esboços de armas variadas. Nos níveis inferiores, localizam-se os armazéns onde os materiais brutos e as armas acabadas são armazenados. Cada depósito é cuidadosamente organizado, garantindo que os ferreiros tenham acesso rápido aos recursos necessários para suas criações. A caverna em si é um espetáculo à parte, com estalactites e estalagmites que adicionam um toque natural ao ambiente industrial. O som constante do martelar do metal, o crepitar das chamas e o fluxo de lava criam uma sinfonia rítmica que ressoa por toda a caverna.

Após ouvir a negativa do ferreiro e a corroboração do investigador, o jovem Kaguya ficou decepcionado com os colegas. Ele queria, de alguma forma, encontrar algo que fortalecesse seu clã, em especial o shikotsumyaku que os Kaguyas carregam em seus corpos, O baile de debutantes tinha lhe causado um impacto e tanto o baile quanto o treinamento com Albeda do Kotsuzui Iwai fizeram com que o Kazekage se conectasse de maneira mais profunda com seu clã:

- É, talvez seja muito complexo pra você fazer. Se você conseguisse criar algo capaz de fazer o metal se moldar aos meus ossos ao meu bel prazer, vocÇe seria o maior ferreiro de todos os tempos né? Ferreiro faz uma arma e a arma fica naquele formato pra sempre… Não vou desistir dessa ideia, só não sei como eu faria isso funcionar. - respondeu com pouca esperança - Arrepiante? São só ossos, todo mundo tem, eu acho. - fez uma pequena pausa, absorvendo as ideias de Kin - Alguém como a Unohana, você diz? Desse jeito eu quase me arrependo de termos mandado ela pra vala, poderíamos ter deixado ela presa prestando serviços para o Vilarejo. Espero que alguém da vila se interesse pelo campo de conhecimento dela no futuro. Se puder não ser uma traficante dissimulada querendo tomar o poder por aqui, melhor ainda.

Maeda ofereceu café, mas Ken fez que não com a cabeça, não tomaria aquilo sem leite, havia aprendido algo da última vez. Após ouvir o anfitrião falar sobre sua rotina, Ken decidiu falar um pouco sobre as últimas coisas que fez:

- Alguém tem que trabalhar nesse vilarejo, espero que esteja satisfeito com suas novas funções. Eu, particularmente, tive alguns compromissos com meu clã. Devido a pouca longevidade dos Kaguyas, o Clã por aqui organiza um baile de debutantes para os jovens se conhecerem e encontrarem pares. A maioria dos debutantes estava desacompanhado de seus pais, a nossa doença doença nos leva muito cedo… Não devo ser Kazekage por muito tempo por esse motivo, melhor deixar outra pessoa assumir antes que a doença me consuma…

O som do recipiente onde a água era aquecida ressoava pela forja, um chiado agudo que se intensificava à medida que a água atingia seu ponto de ebulição. O vapor escapava pelas pequenas fissuras na tampa de ferro, assobiando e sibilando como uma serpente irritada. O metal crepitava e estalava, ecoando pelo ambiente cavernoso e misturando-se ao constante murmúrio da lava que fluía nas proximidades. O Empalador observou atentamente o processo, sabendo que aquele som inconfundível indicava que a água estava pronta. Ele retirou a chaleira do braço de lava, segurando-a firmemente pela alça com uma barra de ferro para evitar queimaduras. O chiado cessou abruptamente, substituído pelo som suave da água fervente borbulhando levemente dentro do recipiente.

Ele dirigiu-se até uma bancada próxima, onde estavam dispostos os utensílios para coar o café. A bancada, feita de madeira escura e polida pelo uso constante, exalava um ar de funcionalidade robusta. Maeda pegou um coador de metal, posicionando-o sobre um recipiente cilíndrico de cerâmica, cujas laterais apresentavam delicadas gravações em relevo, representando cenas da vida na aldeia da Areia. Com um gesto fluido, ele começou a despejar a água quente sobre o pó de café, que estava cuidadosamente medido no coador. O aroma intenso e terroso do líquido fresco encheu o ar, criando um contraste agradável com o ambiente metálico da forja. Ele observava a água escura gotejar pelo coador, formando lentamente uma poça aromática no fundo do recipiente. Enquanto se dedicava ao ritual de preparar o café, ouviu a pergunta de Hakuryū sobre qualquer coisa digna de nota que ele pudesse ter visto nas missões recentes. A questão fez Maeda revirar em sua mente, buscando por algo que se destacasse.

— Na verdade, não vi nada fora do normal — respondeu ele, com um tom cheio de bom humor e um toque de ironia. — Passei por algumas situações que me fizeram ficar cara a cara com a morte, mas nada que me levasse a pensar “nossa, que anormal”.

Enquanto falava, despejava um punhado generoso de café em um recipiente de cerâmica esmaltada, de cor verde musgo, adornado com padrões geométricos intricados. Esse era o café destinado ao Escudo de Ouro, e o Prodígio Senju sabia bem do gosto peculiar do amigo. Lembrando-se do encontro anterior, decidiu adicionar um toque especial. Ele pegou um pequeno pote de mel, cuidadosamente guardado em uma prateleira ao lado da bancada, algo adicionado à forja após eventos passados. O mel, dourado e viscoso, refletia a luz das tochas enquanto o Anbu o despejava generosamente na bebida do amigo. O líquido âmbar se misturava ao café, criando um aroma doce.

Ouviu Harikēn mencionar Unohana. A lembrança do confronto com ela trouxe um sorriso a seus lábios. A ideia de mantê-la viva e a serviço do vilarejo parecia-lhe quase cômica, considerando o quão feroz ela havia sido. Nisso soltou um riso anasalado, quase imperceptível, enquanto adicionava três torrões de açúcar na segunda xícara, ignorando a recusa do líder.

— Não pense que me esqueci do seu amor por leitinho — disse ele, destacando uma jarra de vidro com leite quente no balcão, o vapor subindo em finas espirais.

Se virou para os dois, estendendo as xícaras de café. Enquanto o fazia, ouviu a sequência das palavras de Harikēn, agora falando sobre assuntos familiares. O que chamou a atenção do Senju foi a menção à pouca longevidade dos Kaguya, algo que até então desconhecia. As palavras da Sombra do Vento ressoaram em sua mente, e ele se espantou ao descobrir tal fato. Pondo café para si mesmo, refletiu profundamente sobre a implicação daquilo, sentindo um peso inusitado em seu coração.

— Nem terminamos com os Hōki e já está com essa conversa sobre aposentadoria? — brincou, tentando manter o tom leve, mas em seu íntimo estava pensativo, uma preocupação que ele não fazia questão de esconder.

Ele puxou um pequeno banco debaixo do balcão, sentando-se com as pernas abertas. Apoiou a destra na perna direita, soprando o café na xícara que segurava na esquerda. A expressão em seu rosto mostrava claramente que estava imerso em pensamentos.

— Está falando de uma doença que mata jovens em um clã. Isso parece algo que membros inteligentes buscariam tratar, talvez achar uma cura. Não sabe de nada sobre isso, imagino, mas talvez você possa fazer algo a respeito — concluiu, dando um gole no café, sentindo o calor reconfortante espalhar-se por seu corpo.

Ele olhou para Hakuryū, os olhos brilhando com um desafio silencioso.

— Não digo achar uma cura. Mas talvez achar alguém inteligente o suficiente para fazê-lo por você — continuou, o tom agora mais sério, a sugestão clara no ar. Era uma semente.

Maeda Senju era insistente. Após a recusa do Kazekage, o ferreiro serviu café como se seu superior não houvesse negado, acrescentando açúcar a xícara. Num ato de consideração pelo amigo e colega de equipe, Maeda mostrou a Ken que não havia esquecido de suas preferências, servindo, junto do café, leite quente para que o Algoz dos Ossos se servisse à vontade:

- Olha que se você ficar me desrespeitando assim... Vai acabar preso, hein? - o Kaguya riu logo depois de fazer a ameaça vazia ao Senju. Colocava leite no café preto e misturava café, leite e açúcar até ficar com cor de cedro, como preferia - O cara usa madeira e, invés de tomar café na cor do seu mokuton, toma café preto puro. - Ken assoprou a xícara delicadamente e, em seguida tomou o primeiro gole- Bem melhor, muito melhor que da última vez.

Os colegas demonstraram certa preocupação com a doença do seu Clã. Ken pensou que já tivesse comentado com os colegas sobre a situação de saúde que afetava todos os Kaguyas, mas, dada as reações, percebeu que nunca tinha comentado com os companheiros:

- Não é questão de pensar em aposentadoria, mas de querer o melhor pro Vilarejo. Uma sombra doente e decrépita não adiciona nada a Vila. - Disse em resposta ao Senju - Eu nunca tinha falado da Fibrodisplasia Ossificante? Ela vai deteriorando nossa saúde ao longo da vida, diminui nossa imunidade, afeta nosso coração, etc. Eu, particularmente, nunca conheci ninguém do meu clã com mais de 30 anos, parece ser nosso prazo de validade. - tomou mais um gole do café com leite - Então, dizem que dá pra parar o avanço da doença, mas não sei dizer como... Se você conseguir achar um Kaguya com mais de 30 anos, Kin, acho que através dele você conseguiria respostas sobre minha doença.

O jovem Kaguya seguiu tomando seu café com os olhos distantes, sem muita esperança de que o investigador realmente achasse algo que poderia livrá-lo da sua idade limite.

Era um sorriso discreto, quase imperceptível, que se formava nos cantos de sua boca e se revelava num leve som nasal. Ele ergueu a caneca, uma peça robusta de cerâmica decorada com intrincados entalhes em espiral e uma alça bem delineada, confortável ao toque. A caneca, de um verde musgo envelhecido, exalava uma elegância rústica que combinava perfeitamente com o ambiente da forja. Era sua resposta a provocação de Harikēn. Levando a caneca aos lábios, o Senju tomou um gole prolongado, permitindo que o calor do líquido se espalhasse por seu corpo, esvaziando rapidamente o conteúdo. Sentindo a necessidade de reabastecer, dirigiu sua canhota novamente à bancada e encheu a caneca com o café fresco, cujo aroma robusto preenchia o ar. Soprou a superfície escura, criando pequenas ondas no líquido, enquanto ouvia atentamente as palavras de seus amigos. Quando o líder mencionou a doença Fibrodisplasia Ossificante, repetiu mentalmente o nome, fixando-o em sua memória. Em sua mente, buscava referências anatômicas que pudessem elucidar a natureza desta enfermidade. A ideia de ossos se transformando de maneira descontrolada era tanto perturbadora quanto fascinante.

— Parece uma desculpa excelente para enviar um corvo à Aldeia da Névoa — disse, seus pensamentos voltando-se para Nobara, a ninja médica com quem havia estabelecido uma relação complexa e enigmática. Sentia sua falta frequentemente e sabia que ela poderia ser crucial nessa questão.


— Afinal, não temos uma Unohana ao nosso lado, mas Nobara mostrou-se inclinada a ajudar em questões como essa, visto o transplante deste que vos fala — continuou, com um toque de humor. Destacou com um movimento ágil da perna direita a região que havia sido usada no transplante. Levantou levemente a perna, apontando para a área com precisão, sem deixar margem para dúvidas sobre a seriedade e a importância do procedimento que havia realizado.

Dando outro gole no café, permitiu que o calor reconfortante se espalhasse pelo corpo, antes de coçar a garganta com um discreto pigarreio — hrmm — para clarear a voz.

— Entretanto, é bem provável que iremos precisar de uma relação mais estreita com o País da Água. A neutralidade não me parece suficiente para abusar do ofício alheio — afirmou, a seriedade em seu tom evidenciando a complexidade política da situação.

Após se abrir com os amigos do Kinkotsu no Mori sobre a situação de saúde delicada que tinha que lidar desde o berço, Ken obteve suporte dos companheiros. O prodígio Senju sugeriu enviar um corvo para a Vila Oculta da Névoa, pois conhecia alguém com de lá capaz de fazer tratamentos médicos, citando o transplante que o mesmo passou com a ajuda da kunoichi Nobara. Mas também pontuou que seria de bom tom ter uma relação mais próxima do que a neutralidade atual:

- Eu preciso enviar mesmo, mas também tenho nos próximos dias uma audiência com o Lorde Feudal Ishtar, esse negócio de ser Sombra de Vilarejo suga a gente, sempre tem alguma coisa pra fazer. E provavelmente nem será o Senhor Ishitar, provavelmente será com o seu representante tatuado que esteve na cerimônia de posse. - continuou tomando seu café com leite açucarado - Mas sim, alguém como ela deve ser capaz de me ajudar nisso, mas não sei se ela sabe qual o tratamento para interromper a progressão da fibrodisplasia ossificante. - mais um gole do café com leite desceu pela garganta do Kazekage, agora bem mais frio, como preferia - Se fosse um tratamento tão simples e difundido, imagino que meus familiares não estariam aceitando seu destino tão facilmente.

Kinsetsu se propôs a procurar por algum Kaguya mais velho, algum sobrevivente da doença que assolava o Clã. Grato com a prestatividade e proatividade do amigo, o Algoz dos Ossos abriu um sorriso, que só não foi mais largo por receio de Haku não conseguir a informação que o Kaguya precisava:

- Com você investigando, tenho certeza que teremos uma resposta sobre o tratamento - Ken tentava ser otimista com base nas capacidades investigativas de Kin, apesar de achar que a cura não seria tão simples - Não posso falar nada das ombreiras, nem do meu pedido maluco, mas o café estava bem melhor que da última vez, parabéns, Maeda. - Tomou o último gole do café com leite adoçado - Vou indo também, muito obrigado pela hospitalidade, amigo - Fez uma reverência para o dono da forja.

Ken esperaria por um “tchau” do Senju por alguns segundos antes de se encaminhar para a saída da caverna onde a forja que estava se encontrava. Caminharia de volta para a casa de sua mãe pensando nos afazeres que tinha enquanto tentava não se imaginar livre dos efeitos da doença do seu Clã. O medo de criar expectativas e não conseguir cumprí-las era substancial.

O Algoz dos Ossos mencionou uma reunião iminente com o líder do país, e naquilo o Anbu captou a importância da ocasião, tentando compreender as implicações mais profundas. Ao receber os agradecimentos pelo café, inclinou levemente a cabeça, esboçando um sorriso de canto que refletia orgulho e satisfação. O gesto era discreto, mas carregava um significado de reconhecimento mútuo. Ao ouvir a despedida de ambos seus irmãos, uma melancolia sutil o invadiu. Ele se levantou lentamente, sentindo o peso da partida iminente. Notou quando Hakuryū adotou uma postura ereta, pronta para sair, mas julgou que havia um pesar em seus gestos, uma lamentação silenciosa pelo término do encontro.

— Uma pena nossos encontros serem tão breves. Aprecio a companhia de vocês — disse o Senju, sua voz carregada de uma sinceridade melancólica. Esses raros momentos de camaradagem eram preciosos para ele.

O Prodígio do Clã Senju acompanhou a dupla até a entrada. Ao chegarem à mesma, ele se despediu com um aceno, observando enquanto os dois se afastavam. Permaneceu ali por um momento, contemplando a vastidão do deserto que se estendia diante da caverna, o céu tingido por tons alaranjados do crepúsculo. Com um suspiro profundo, voltou-se para o interior da formação montanhosa, a caverna que se tornara sua forja. A familiar atmosfera o envolveu novamente, o calor e o som constante do metal sendo moldado oferecendo uma estranha sensação de consolo. Ele sabia que logo estaria imerso novamente em seus trabalhos e responsabilidades, mas por um breve instante, permitiu-se apreciar a calma que ainda pairava no ar.