O Senju caminhava pelas ruas de Sunagakure no Sato, imerso em reflexões profundas sobre seu recente encontro com Karma. O firmamento noturno estendia-se como um vasto manto de veludo, salpicado de estrelas que cintilavam como sentinelas antigas e silenciosas. A brisa quente do deserto acariciava seu rosto, trazendo consigo os aromas característicos do vilarejo: a fragrância terrosa da areia, o perfume sutil das plantas resilientes ao clima árido e, ocasionalmente, o odor acre de fumaça proveniente de uma fogueira distante. As ruas estavam tranquilas, uma serenidade que contrastava com a tensão que ainda reverberava em seu corpo após a conversa. Seus passos eram firmes, mas a mente divagava, processando cada palavra proferida por Karma. O brilho suave das lâmpadas a óleo nas janelas das casas projetava sombras longas e distorcidas no chão de pedra, criando um balé de luz e escuridão que acompanhava o ritmo de suas ponderações.

Kurama, em seu subconsciente, estava inquieta. A presença da besta, sempre perceptível, agora era uma companhia silenciosa, seus pensamentos um turbilhão de memórias antigas e novas preocupações.

— O que pensa de tudo isso? — Maeda perguntou mentalmente, aguardando uma resposta que talvez não viesse de imediato.

— Ele está certo em alguns pontos. Mas atacar primeiro — a voz de Kurama era um rosnado baixo e ponderado. — Pode ser necessário, mas não é uma decisão a ser tomada levianamente.

Tensai assentiu levemente, concordando internamente. A vida de um shinobi estava repleta de escolhas árduas, e ele estava mais do que acostumado a carregar o fardo de suas decisões.

Enquanto caminhava, notava as nuances mais sutis ao seu redor. Sentia a textura áspera da areia que se infiltrava sob suas botas, um lembrete constante do ambiente árido em que vivia. O farfalhar das folhas secas nas poucas árvores que se erguiam corajosamente no vilarejo soava como um sussurro de resistência, enquanto o som distante de uma melodia triste tocada em um shamisen adicionava uma camada melancólica à noite silenciosa, perdendo-se na vastidão do deserto. Cada detalhe parecia mais nítido, mais vibrante, como se seus sentidos estivessem amplificados pela recente conversa e pela adrenalina que ainda pulsava em suas veias.

A zona residencial se aproximava, e com ela, a familiaridade das casas onde tantos de seus amigos e companheiros de batalha residiam. A arquitetura de Sunagakure era uma ode à simplicidade e funcionalidade. As edificações de adobe e pedra ofereciam uma fortaleza contra o calor implacável do deserto durante o dia e o frio cortante da noite. Os telhados planos eram adornados com vasos de plantas que floresciam em cores vibrantes, contrastando com o tom pálido das paredes. Cada casa, com sua simplicidade encantadora, era um testemunho da resiliência e adaptabilidade dos aldeões, que haviam aprendido a domar o ambiente hostil em que viviam. As cores vivas das flores nos telhados pareciam gritar em desafio ao deserto estéril, uma prova de vida em um mar de areia.

Foi então que, sem aviso, um estrondo retumbante cortou o ar, vindo da direção do setor dos Hōki. O Senju parou abruptamente, seus sentidos em alerta máximo. O som era profundo e ameaçador, reverberando através das ruas e ecoando nas paredes das casas ao redor. Ele não estava sozinho em sua reação; janelas se abriram, rostos ansiosos e curiosos surgiram, e murmúrios preocupados começaram a se espalhar.

— O que foi isso? — perguntou uma mulher idosa, seus olhos arregalados de medo enquanto segurava um lenço contra o peito trêmulo.

— Fiquem dentro de casa! — Maeda ordenou, sua voz firme e autoritária, enquanto começava a correr na direção do som.

À medida que se aproximava, a intensidade do caos aumentava exponencialmente. Pessoas corriam em pânico, seus gritos de terror misturando-se em uma cacofonia angustiante. A poeira, levantada pelo colapso da estrutura, formava uma cortina espessa que bloqueava a visão, tornando difícil discernir o que realmente estava acontecendo. O ar estava carregado de tensão e partículas sufocantes, dificultando a respiração.

— Por aqui! — gritou um homem, sua voz rouca e desesperada, acenando freneticamente enquanto carregava uma criança pequena nos braços, o rosto sujo de poeira e suor.

Maeda desviou dos civis em fuga, sentindo cada batida frenética de seus corações ao passar. Cada passo era firme e determinado, o som de suas botas ecoando surdamente contra o chão de pedra. Quando ele chegou mais perto, uma pressão quase palpável encheu o ar, como se a própria atmosfera estivesse saturada de malícia e perigo iminente. Seus músculos se retesaram e ele sentiu um frio gélido percorrer sua espinha. Era como se o próprio desespero do ambiente o estivesse envolvendo, apertando seu peito com mãos invisíveis. Precisava reagir rápido. Com um esforço consciente, retomou o controle de seus movimentos, evadindo-se num salto desajeitado para a direita. No último segundo, vislumbrou o emergir de um enorme bloco de concreto da cortina de poeira, passando perigosamente perto de onde ele estava. A visão foi rápida, mas o suficiente para sentir o peso da morte iminente.

— Maldição! — exclamou, sentindo a adrenalina pulsar violentamente em suas veias enquanto rolava no chão, o impacto doloroso contra a terra dura levantando mais poeira. Levantou-se rapidamente, os olhos ardendo com a poeira, mas a mente focada na necessidade de ação imediata.

Da cortina de poeira, uma criatura monstruosa emergiu. Seu corpo era coberto por uma carapaça óssea, com músculos protuberantes e veias pulsantes que pareciam prestes a explodir. Os olhos, cheios de uma fúria descontrolada, brilhavam intensamente. O Senju não conseguia identificar o que era aquela coisa, mas sabia que estava diante de um inimigo. A criatura soltou um rugido gutural, um som que parecia reverberar diretamente na alma de Maeda. Era um som primitivo, quase sobrenatural, que fazia o ar ao redor vibrar e causava um calafrio profundo em sua espinha. Suas garras, afiadas como lâminas, refletiam a luz tênue das lâmpadas de óleo, criando um espetáculo assustador de sombras dançantes nas paredes de pedra ao redor. O monstro avançou com uma velocidade surpreendente, seus movimentos eram uma combinação de força bruta e agilidade animalesca que não combinavam com seu tamanho descomunal.

O jōnin mal teve tempo de erguer a guarda quando o primeiro golpe veio. A força do impacto reverberou por todo o seu corpo, fazendo seus ossos tremerem sob a pressão. Ele deslizou alguns metros para trás, levantando uma nuvem de poeira ao frear sua trajetória. O impacto foi tão forte que ele sentiu seus músculos protestarem, e a dor irradiou por seus braços enquanto ele tentava manter o equilíbrio — Isso vai ser complicado — murmurou, seu rosto uma máscara de concentração enquanto avaliava seu oponente. Seus olhos se estreitaram, analisando cada movimento da criatura, buscando uma fraqueza. A atmosfera ao seu redor parecia pesar mais, como se o próprio ar estivesse contra ele.

A criatura não deu tempo para Maeda recuperar o fôlego. Avançou novamente, suas garras desferindo golpes rápidos e mortais. Cada movimento da criatura era uma exibição aterrorizante de poder bruto e velocidade. Ele esquivou-se com dificuldade, sentindo o ar cortado pelas garras próximas, cada movimento calculado para evitar ser atingido. Cada golpe trocado era uma luta pela sobrevivência, um teste de habilidades e resistência onde um único erro poderia ser fatal. O jōnin aproveitava cada abertura, desferindo golpes precisos. Seu corpo movia-se com uma graça fluida, uma dança mortal que misturava força e agilidade. Ele sentia o calor crescente em seus músculos, a tensão queimando enquanto seus reflexos se elevavam. Cada golpe desferido era acompanhado por um rugido interno, uma manifestação física de sua força espiritual e da adrenalina que corria por suas veias.

O Senju analisou a criatura enquanto esquivava-se de mais um golpe. Havia algo na maneira como se movia, uma rigidez nos seus movimentos, um padrão que revelava uma possível fraqueza. Ele precisava encontrar uma maneira de explorar isso, uma abertura que pudesse usar a seu favor. O estudo de cada movimento da criatura tornou-se uma dança intricada de análise e ação, um balé brutal de sobrevivência e estratégia onde cada segundo contava. Os minutos se transformavam em horas, o tempo parecia esticar-se enquanto a batalha prosseguia. Maeda sentia o suor escorrer por sua testa, misturando-se com a poeira e o sangue que manchavam sua pele. Seus músculos estavam exaustos, cada fibra protestando contra o esforço contínuo, mas ele não podia se permitir parar. A criatura avançava novamente, suas garras brilhando à luz das lâmpadas de óleo, uma visão que se tornou um símbolo de desafio contínuo.

O jōnin esquivou-se por um triz, sentindo o ar cortante das garras passando perigosamente perto de seu rosto, quase como lâminas invisíveis. Ele aproveitou a abertura, desferindo um golpe poderoso no ponto que havia identificado como uma possível fraqueza. O som do impacto reverberou, um estalo seco que ecoou pelo campo de batalha. A criatura rugiu de dor, seu corpo tremendo violentamente com o impacto, os músculos se contraindo em espasmos descontrolados.

A criatura não se deu por vencida. Ergueu-se com um rugido ensurdecedor, um som que parecia rasgar o próprio ar ao redor, avançando sobre Maeda com uma fúria redobrada. Seus golpes tornaram-se mais frenéticos, cada um carregando uma intensidade avassaladora, como se cada movimento fosse destinado a destruir tudo em seu caminho. O Senju percebeu que precisava mudar sua abordagem; força bruta não seria suficiente contra tal adversário.

Ele começou a estudar cada movimento da criatura, os olhos atentos a cada mínimo detalhe, procurando padrões, qualquer indício de previsibilidade. Notou que a criatura hesitava ligeiramente antes de cada investida, um momento quase imperceptível onde seu corpo descomunal parecia precisar reunir energia. Era uma janela estreita, mas Maeda decidiu aproveitá-la. Antes de mais nada, levou uma bala de café à boca, em virtude do vício, o sabor amargo e familiar trazendo-lhe um foco renovado.

Num dos ataques seguintes, o Senju esquivou-se para o lado, quase sentindo as garras rasgarem o ar ao seu lado, o som agudo e cortante soando em seus ouvidos como uma lâmina afiada. Em vez de recuar, ele avançou, aproximando-se perigosamente da criatura, seu coração batendo em um ritmo frenético, cada batida ecoando em seus ouvidos. Usou o próprio impulso da besta contra ela, aplicando uma chave de braço que a desestabilizou momentaneamente. O impacto reverberou pelo corpo da criatura, fazendo-a cambalear, seus ossos e músculos emitindo um som de fricção sinistro.

— Peguei você — sussurrou Tensai, seu olhar afiado como uma lâmina, o brilho intenso de seus olhos refletindo a urgência da situação.

Aproveitando a abertura, Maeda desferiu uma série de golpes precisos nas articulações da criatura. Os impactos eram calculados para maximizar o dano, visando enfraquecer os pontos de sustentação do monstro. Os punhos do jōnin encontravam seus alvos com uma precisão letal, os impactos emitindo um som surdo e ressonante, como um martelo atingindo carne e osso. A criatura rugia e se debatia, os rugidos transformando-se em gritos de dor e frustração, mas os movimentos de Maeda eram rápidos e implacáveis, uma dança mortal de técnica e força, fluindo com uma graça feroz e inabalável.

O combate continuou, um balé brutal de força e estratégia, onde cada movimento tinha um propósito mortal. O Senju sentia as fibras de seu corpo queimarem, os músculos protestando contra o esforço contínuo, mas sua mente permanecia clara, focada na tarefa. Os golpes que desferia, as esquivas, os movimentos eram executados com precisão cirúrgica, como se estivesse dissecando a própria essência da batalha. Ele sabia que não poderia manter aquele ritmo para sempre, a exaustão começava a se acumular, mas também sabia que não precisava. Bastava encontrar a fraqueza, o ponto de ruptura, o momento decisivo.

Após longos minutos que pareciam horas, Maeda finalmente identificou um padrão crítico. A criatura protegia com uma frequência marcante uma área próxima ao peito, onde a carapaça óssea era mais fina, como se aquele ponto fosse sua maior vulnerabilidade. Era uma fraqueza pequena, mas significativa, um ponto de inflexão que poderia virar o curso da batalha.

— É agora ou nunca — esbravejou Maeda, sentindo a tensão acumulada em seus músculos enquanto concentrava todas as suas forças em um golpe final. Sua respiração era pesada, cada exalação carregava a determinação e a esperança de que aquele seria o movimento decisivo. Precisa ser, pensou consigo mesmo, rogando aos céus pelo fim daquele confronto sem demasiados problemas.

Com uma velocidade quase equiparável à um relâmpago, ele desviou de mais uma investida da criatura e lançou-se em um salto acrobático, o corpo movendo-se com uma precisão quase sobrenatural. Desferiu um golpe direto no ponto vulnerável. O impacto foi devastador, ressoando como um trovão. A criatura urrou de dor, um som gutural que reverberou no silêncio da noite, seu corpo tremendo violentamente antes de cair pesadamente no chão, levantando uma nuvem de poeira fina. Respirando pesadamente, o peito subindo e descendo como um fole, Maeda observou com cautela enquanto a criatura começava a se transformar. A carapaça óssea retraiu-se com um som de estalos, os músculos protuberantes diminuíram, murchando como balões esvaziados, e diante dele, o que restava era apenas um homem. Um simples homem, sujo e sem vida, cuja identidade estava perdida.

— Isso… isso é… —[//b] tentou processar o que estava vendo, os olhos arregalados em descrença, mas a exaustão era grande demais, pesando sobre seus ombros como um manto de chumbo.

Ele recolheu o corpo, sentindo o peso dele como um fardo tanto físico quanto emocional, seus passos uma luta contra a fadiga que ameaçava derrubá-lo. Aproveitando que já estava na zona residencial, dirigir-se-ia ao local onde poderia armazenar o corpo devidamente. Precisava de respostas, e este homem, ou o que restava dele, poderia fornecer alguma. O silêncio ao seu redor era apenas quebrado pelo som de sua respiração ofegante e o ocasional gemido distante de um aldeão perturbado pelo conflito.

O Senju finalmente chegou ao local, suas mãos firmes enquanto acomodava o homem com cuidado, sentindo o peso morto sob seus dedos. A sala era fria e silenciosa, com paredes de pedra que reverberavam o som de seus movimentos. Precisava de respostas, e sabia que a jornada para obtê-las estava apenas no início.

— Não podemos permitir que isso aconteça novamente — resmungou, seu olhar fixo no horizonte, onde o céu começava a tingir-se com as primeiras luzes da madrugada, o ar ainda carregado com a poeira da batalha recente. enquanto refletia sobre os eventos que se desenrolaram.

Kurama, em seu interior, assentiu silenciosamente, uma presença constante e vigilante, seus pensamentos um turbilhão, ciente do peso das palavras de Maeda. A luta estava longe de terminar, e ambos sabiam que teriam que estar preparados para o que viesse a seguir, a escuridão ainda pairando sobre eles como uma ameaça constante. Com um suspiro pesado, voltou seus passos para a noite, as estrelas acima observando silenciosamente, brilhando como testemunhas mudas, seus pés movendo-se lentamente pelo terreno áspero, enquanto ele se preparava para enfrentar o futuro incerto que se desenhava diante dele. O ar noturno estava frio e claro, um contraste marcante com a tensão quente da batalha recente, e cada respiração parecia encher seus pulmões de uma promessa de renovo.