Tensai — 天才

Os dias após o velório de sua mãe transformaram-se em um nevoeiro denso e sufocante para o Senju. A rotina de Sunagakure prosseguia indiferente, mas para ele, o tempo parecia ter estagnado, preso em um ciclo interminável de luto e dor. Cada despertar era um enfrentamento com a realidade cruel de sua perda, e os treinos automáticos e as reuniões impessoais pouco faziam para dissipar a névoa que obscurecia sua mente. Naquela manhã, a luz suave do amanhecer infiltrou-se pelas cortinas do quarto do rapaz, banhando-o em um brilho pálido. Sentado na borda da cama, ele permitiu que os primeiros raios de sol aquecessem sua pele, enquanto a lembrança de sua mãe emergia, vívida e dolorosa. A dor era uma companheira implacável, sempre presente, sempre espreitando. Precisava enfrentar essa sombra, transformar sua tristeza em força, mas não sabia por onde começar.

Vestiu-se lentamente, cada peça de roupa sentindo-se como uma armadura contra o mundo exterior. Caminhou até a sala de estar, onde o retrato de sua mãe parecia observá-lo com uma ternura eterna. Respirou fundo, decidido a enfrentar seus demônios internos. Com um simples pensamento, Maeda mergulhou em seu subconsciente, encontrando-se na familiar floresta mental onde habitava Kurama. A grande raposa de nove caudas estava deitada, observando-o com olhos penetrantes e cheios de sabedoria.

— Vejo que finalmente decidiu vir até aqui, garoto — disse, sua voz grave reverberando pelo espaço, carregada de uma sabedoria antiga.

O menino assentiu, aproximando-se da raposa. — Eu preciso superar isso, Kurama. Preciso encontrar uma maneira de seguir em frente.

Kurama se levantou lentamente, suas caudas balançando com um poder contido. — O luto é uma jornada. Não há atalhos. Mas estou aqui para ajudar.

A raposa o guiou até uma clareira, onde uma árvore imensa e antiga se erguia, suas folhas brilhando com uma luz dourada. Kurama explicou que aquela árvore representava a vida e a morte, um ciclo eterno que todos os seres vivos devem enfrentar.

— Sente-se aqui. Concentre-se em sua respiração e permita-se sentir tudo o que está reprimindo. Deixe que a dor flua através de você e, em seguida, libere-a — instruiu Kurama, sua voz firme mas compassiva.

Ele seguiu as palavras da raposa, sentando-se aos pés da árvore. Fechou os olhos e começou a respirar profundamente, cada exalação trazendo à tona memórias de sua mãe. A dor era intensa, como se cada respiração fosse um golpe em seu coração. Mas ele não se afastou, não se escondeu. Enfrentou a dor de frente, deixando que cada lágrima caísse livremente. As horas passaram sem que ele percebesse. O céu mental acima deles mudou de cor, refletindo o tumulto interno de Maeda. Quando finalmente abriu os olhos, sentiu-se mais leve, como se um peso invisível tivesse sido retirado de seus ombros.

— Você fez bem. Aceitar a dor é o primeiro passo para superá-la — disse Kurama, sua voz agora mais suave, um toque de orgulho evidente.

Ele olhou para a raposa, sentindo uma gratidão profunda. — Obrigado, Kurama. Eu precisava disso.

Kurama inclinou a cabeça. — Lembre-se, garoto, sua mãe sempre estará com você, em suas memórias e em seu coração. Use a dor para se tornar mais forte, para honrá-la em tudo o que fizer.

Em resposta assentiu. Voltou ao mundo real com uma clareza renovada, decidido a continuar sua jornada com a memória de sua mãe como uma fonte de força, não de tristeza.