A alvorada trouxe consigo uma luz difusa que se espalhava pelas dunas de Suna, tingindo o deserto com um véu etéreo. Maeda Senju despertou com uma inquietação profunda, uma sensação que parecia se enraizar em seu âmago. Levantou-se lentamente, permitindo que os primeiros raios de sol penetrassem pela janela de papel e iluminassem seu quarto austero. Vestiu-se com a precisão meticulosa de um shinobi experiente, cada movimento uma dança de disciplina e controle. Havia algo no ar, uma expectativa silenciosa de que aquele dia seria singularmente diferente. Caminhou até a porta, sentindo a brisa matinal acariciar seu rosto, um toque efêmero que trazia consigo promessas veladas. As ruas desertas de Suna estavam banhadas em uma calma espectral, amplificando a sensação de algo iminente. Seus pensamentos eram consumidos por antigas lendas, histórias que falavam de criaturas místicas e poderes ancestrais. Uma lenda em particular havia capturado sua atenção: a de Suzaku, o Pássaro Vermelhão, guardião do fogo e símbolo de renovação. Não sabia exatamente por que, mas sentia uma atração irresistível por essa lenda, como se fosse chamado por uma força além de sua compreensão.

Seguiu para o oásis nos arredores da vila, um refúgio de vida em meio ao deserto árido. O caminho era longo e árduo, mas Maeda avançava com determinação inabalável, seus passos firmes e decididos deixando rastros efêmeros na areia escaldante. O calor do deserto começava a aumentar, mas ele ignorava a exaustão, focado apenas em seu destino. Quando finalmente chegou ao oásis, as palmeiras verdes e as águas cristalinas ofereceram-lhe um momento de alívio, um contraste refrescante ao ardor de seus pensamentos inquietos. Ajoelhou-se junto à beira da água, permitindo que a frescura acalmasse seu espírito tumultuado, os dedos traçando círculos lentos na superfície límpida. De dentro de suas vestes, retirou um pergaminho antigo que havia encontrado nos arquivos da vila. Os símbolos gravados no pergaminho pareciam pulsar com uma energia própria, convidando-o a decifrá-los. Sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao desenrolar o pergaminho, percebendo que se tratava de um ritual de invocação. Suzaku. O nome ressoava em sua mente como um chamado ancestral, uma promessa de poder e responsabilidade.

O Senju começou a preparar o local para o ritual, desenhando um grande círculo na areia com um galho seco. Cada símbolo e cada linha eram traçados com precisão, seguindo as instruções detalhadas do pergaminho. No centro do círculo, ele acendeu uma pequena chama, que dançava suavemente ao vento, alimentada por um pouco de óleo que carregava consigo. Sabia que o fogo era essencial para chamar Suzaku, pois a ave era o próprio espírito das chamas. Sentou-se no centro do círculo, fechando os olhos e respirando profundamente. Sentiu o calor do sol em sua pele, o murmúrio da brisa e o sussurro das folhas das palmeiras. Começou a recitar as antigas palavras do ritual, sua voz baixa e firme, cada sílaba carregada de poder. À medida que as palavras fluíam, a pequena chama no centro do círculo começou a crescer, suas cores intensificando-se até se tornarem um brilho escarlate. O ar ao redor de Maeda parecia vibrar com uma energia intensa, e ele abriu os olhos para ver uma figura majestosa emergindo do fogo.

Suzaku estava diante dele. Suas plumas vermelhas e douradas brilhavam com uma intensidade quase insuportável, e seus olhos inteligentes e antigos pareciam sondar a alma de Maeda.

— Maeda Senju, por que você me chamou? — a voz de Suzaku era como o crepitar do fogo, ressoando pelo oásis.

Maeda engoliu em seco, mas manteve o olhar firme — Eu busco formar o pacto, Suzaku-sama. Desejo sua orientação e poder para proteger minha vila e meu clã.

Suzaku inclinou a cabeça, avaliando-o — Muitos desejam meu poder, mas poucos entendem o verdadeiro custo. O fogo pode renovar, mas também pode destruir. Você está preparado para assumir essa responsabilidade?

Sem hesitar, Maeda cortou a palma da mão com uma lâmina, deixando o sangue pingar na areia — Estou preparado.

Suzaku abriu as asas majestosas, e a chama no centro do círculo explodiu em uma coluna de fogo que envolveu Tensai. O calor abrasador envolveu seu corpo, uma dor excruciante que parecia consumir até sua alma, mas ele manteve-se firme. A agonia era intensa, quase insuportável, mas junto com ela veio uma sensação de renovação, como se um poder antigo estivesse despertando dentro dele. A marca do pacto começou a se formar em seu âmago, irradiando uma luz vermelha intensa que cortava a escuridão do oásis com um brilho incandescente. Quando o fogo finalmente se dissipou, Maeda quase pode sentir uma nova energia pulsando em suas veias. Suzaku desapareceu em um turbilhão de chamas, mas a conexão entre eles estava firmemente estabelecida. Ele sabia que, a partir daquele momento, poderia invocar a majestosa ave em momentos de necessidade. O pacto com Suzaku não era apenas uma adição de poder; era uma responsabilidade imensa. Sentia-se mais forte, mas também mais consciente do peso que agora carregava. As palavras de Suzaku ecoavam em sua mente, um lembrete constante do equilíbrio entre criação e destruição. Cada passo que dava era uma afirmação de sua determinação em usar seu novo poder com sabedoria.

Chegando ao templo das areias, sentiu-se compelido a orar em agradecimento. O ambiente silencioso e sagrado proporcionava um contraste perfeito ao calor implacável do deserto. As colunas de arenito, esculpidas com figuras ancestrais, pareciam observá-lo com olhos eternos enquanto ele se ajoelhava diante do altar, a marca de Suzaku ainda ardendo em seu braço como um selo de fogo divino. Com os olhos fechados, ele murmurou uma prece silenciosa, sentindo uma serenidade que não experimentava há muito tempo. A quietude do templo, combinada com a intensidade recente do ritual, proporcionava uma paz profunda, um alívio do peso constante de suas responsabilidades. Ao sair do templo, o céu começava a escurecer, as estrelas emergindo uma a uma na vasta tapeçaria celestial. A brisa noturna trouxe um alívio bem-vindo ao calor do dia, um sopro de tranquilidade que Maeda absorveu com gratidão. Sentia-se renovado, não apenas em poder, mas em propósito. A conexão com Suzaku era um pacto de fogo e espírito, um vínculo que prometia tanto poder quanto responsabilidade.