O amanhecer trouxe consigo uma sensação de inquietude, como se as sombras das dunas de Suna fossem mais longas e escuras do que de costume. O Senju acordou com uma sensação pesada no peito, algo que não conseguia definir, mas que sabia ser consequência dos caminhos que começava a trilhar. O jovem de dezesseis anos, já conhecido por sua inteligência e destreza, se levantou lentamente, deixando que seus pés descalços tocassem o chão frio de madeira. Ele vestiu suas roupas de treino em silêncio, preparando-se para mais um dia que, embora comum, parecia carregado de presságios. Maeda saiu de casa e sentiu a brisa fria da manhã envolvê-lo. As ruas estavam desertas, e apenas o som do vento atravessando as dunas e o canto distante de alguns pássaros matinais quebravam o silêncio. O caminho até o dojo dos fundos foi feito em uma calmaria que contrastava com a tempestade de pensamentos em sua mente. Ao entrar no dojo, foi recebido pelo familiar cheiro de tatame e madeira polida, um refúgio de disciplina e concentração.

No centro do dojo, várias armas descansavam em suportes de madeira, cada uma esperando para ser empunhada. Seus olhos foram atraídos por um nunchaku, uma arma que ele conhecia, mas nunca havia dominado completamente. Sem uma intenção prévia, pegou o nunchaku nas mãos, sentindo o peso equilibrado e a textura fria da corrente. Algo na simplicidade e na complexidade da arma chamou sua atenção, um reflexo do próprio conflito interno que sentia. Maeda começou a girar o nunchaku, experimentando movimentos básicos. Os giros iniciais eram desajeitados, os golpes erráticos. A arma parecia ter uma vida própria, desafiando-o a dominá-la. Cada movimento era acompanhado pelo som cortante da corrente no ar, uma melodia que começava a ressoar com o tumulto dentro de si. Ele persistia, ajustando a posição das mãos, a força dos golpes, buscando a fluidez que sabia ser essencial. Enquanto treinava, pensamentos sombrios permeavam sua mente. A responsabilidade que carregava, as expectativas de seu clã, e os caminhos obscuros que começava a trilhar.

O Senju não conseguia afastar os pensamentos que o perturbavam. A pressão de ser um prodígio, a expectativa de sempre ser o melhor, começavam a pesar mais do que nunca. Ele girava o nunchaku com mais força, cada golpe uma tentativa de silenciar as vozes em sua cabeça. Será que eu sou apenas uma ferramenta?, se perguntava. O eco de suas dúvidas refletia no som da arma cortando o ar. A maestria do nunchaku não era apenas sobre técnica, mas também sobre controle mental. Cada movimento deveria ser uma expressão de sua vontade, uma manifestação física de sua determinação. O dojo começava a se aquecer com o sol da manhã, e Maeda intensificou seu treino. Os movimentos tornaram-se mais rápidos e precisos, os golpes mais contundentes. Ele praticava combinações complexas, integrando saltos, giros e esquivas. O dojo tornava-se um campo de batalha, onde cada movimento era uma luta contra seus próprios limites.

A exaustão física começava a se instalar, mas ele ignorava o cansaço. A dor nos músculos, as gotas de suor que escorriam pelo rosto, tudo era secundário. Ele estava determinado a dominar a arma, a transformar suas fraquezas em forças. Cada erro, cada golpe mal executado, era uma lição, uma oportunidade de melhoria. Em meio ao treinamento intenso, a porta do dojo se abriu e uma figura entrou silenciosamente. Era Hiroshi, um mestre de armas e um dos poucos que Maeda respeitava profundamente. O mais velho observou Tensai por alguns minutos, seus olhos avaliando cada movimento, cada erro e acerto.

— Está indo bem, Maeda — disse Hiroshi, sua voz grave ecoando pelo dojo — Mas ainda há muito a aprender.

Ele parou, respirando pesadamente, e olhou para o mentor.

— Preciso dominar isso, Hiroshi. Não posso me permitir falhar.

Hiroshi se aproximou, pegando outro nunchaku de um suporte na parede.

— Então vamos trabalhar juntos. O nunchaku não é apenas uma arma; é uma extensão de sua vontade. Domine a si mesmo, e dominará a arma.

Os dois começaram a treinar juntos, Hiroshi guiando Maeda com movimentos precisos e comentários incisivos. Cada correção era uma revelação, cada demonstração uma aula. Maeda seguia os movimentos de Hiroshi, tentando imitar a fluidez e a precisão do mestre. O treinamento tornou-se mais intenso, mais focado. Hiroshi não apenas ensinava técnica, mas também a filosofia por trás do manuseio da arma.

As horas passavam e a exaustão física atingia seu ápice. Maeda sentia os músculos tremerem de cansaço, mas sua mente estava mais clara do que nunca. Hiroshi parou por um momento, observando Maeda com um olhar avaliativo.

— Chegamos ao limite físico — disse — Agora é o momento de ultrapassar. Encontre a força dentro de você, Maeda. Não é apenas sobre o corpo, mas sobre a mente.

Maeda fechou os olhos, concentrando-se na respiração. Sentia a dor nos músculos, o cansaço, mas também sentia uma convicção inabalável. Ele sabia que dominar o nunchaku era mais do que um exercício físico; era uma prova de sua força de vontade, de sua capacidade de enfrentar a escuridão interna.