Na quietude introspectiva daquela manhã, o Senju não precisava de esforços para discernir o visível desprezo nos olhos da Raposa. Eles estavam ambos posicionados em lótus, frente a frente, separados apenas pela vasta grade que demarcava o palco do subconsciente onde, rotineiramente, se desenrolavam os encontros entre o hospedeiro e sua inquilina enérgica. A Raposa, um ser de poder imensurável, encarava com ceticismo a utilidade de armazenar mero chakra. Para ela, parecia um exercício fútil, especialmente considerando que Maeda, de forma surpreendente e até perturbadora, parecia possuir reservas de energia espiritual que rivalizavam ou até superavam as dela. Isso era algo não apenas incomum, mas genuinamente assustador para a criatura. O jōnin, por sua vez, mantinha-se firme em sua decisão. Ele estava resoluto em acumular qualquer recurso que julgasse necessário, independente de parecer excessivo aos olhos de outros. A prudência e a preparação eram pilares de sua filosofia como shinobi — ele sabia que, em um mundo tão imprevisível quanto o que viviam, cada grão de poder adicional poderia ser decisivo.

A frustração da Raposa culminava em um brado indignado.

— Você precisa parar de me forçar a essas coisas, pirralho! — Sua voz, impregnada de um timbre demoníaco, era suficiente para estremecer os menos resolutos. Contudo, Maeda, longe de se abalar, apenas respondia com um sorriso anasalado.

O propósito daquela sessão intensa de acumulação de chakra não era meramente exercício ou demonstração de poder, mas a criação de uma reserva adicional, prontamente disponível para ser convocada em um instante crítico de necessidade. A dedicação de Maeda ao processo era exemplar, uma manifestação de sua disciplina e compreensão profunda dos mistérios da energia espiritual. Sua concentração se intensificava, focada num ponto imaginário no centro de sua testa. Esse ponto tornava-se o epicentro de seu ser, um local onde mente e espírito convergiam para dar origem ao chakra. Tradicionalmente, o chakra emanava da região do abdômen, mas o controle excepcional que o Senju exercia sobre sua energia espiritual lhe permitia redirecioná-la com uma facilidade que desafiava o comum. Ele mantinha essa energia focalizada no centro da testa, um objetivo que delineava a meta de seu treinamento. Ao seu lado, a Raposa era mais que uma observadora, ela era uma participante ativa nesse processo. A criatura agia como um apoio vital, quase uma muleta espiritual, garantindo que o fluxo de chakra fosse direcionado corretamente. Sua presença, embora imponente e por vezes opressiva, era fundamental para a estabilidade e precisão do exercício.

Ainda assim, em meio ao silêncio contemplativo dessa interação, Maeda sabia que ainda não haviam alcançado o ápice de seu potencial. Ainda não, refletia ele, um pensamento que ressoava com uma mistura de antecipação e preocupação.

Após horas de concentração e dedicação implacáveis, um acontecimento notável e sutil marcou o clímax do treinamento de Maeda. Enquanto o jovem Senju mantinha seu foco intenso no centro da testa, um selo em forma de cristal, tingido de um azul escuro profundo e misterioso, começou a se formar silenciosamente naquela exata localização. Imerso em sua meditação, não notou imediatamente a manifestação desse símbolo de poder acumulado; no entanto, a Kyūbi, com seus sentidos dignos de nota e uma perspectiva única sobre a energia de seu hospedeiro, captou rapidamente a significância do momento.

— Ei, garoto, — interrompeu a besta, sua voz estridente permeando o espaço entre eles, quebrando a serenidade do exercício com a urgência de sua revelação. As patas dianteiras da criatura se moviam sutilmente, uma clara indicação de que ela também estava manipulando seu próprio chakra, talvez em solidariedade ao esforço de Maeda ou simplesmente em preparação para o que viria a seguir — Acho que está bom. A marca do Byakugō surgiu no meio da sua testa. Alcançou seu objetivo mais uma vez — declarou a Raposa, suas palavras carregadas com um raro reconhecimento do domínio e da habilidade do jōnin.

Motivado pela declaração da Kyūbi, Maeda lentamente abriu os olhos, o mundo físico gradualmente entrando em foco à medida que sua consciência retornava do profundo estado meditativo. Ele se levantou com a leveza de quem carrega incontáveis responsabilidades e caminhou até um espelho próximo. A imagem que o refletia revelava mais do que apenas o rosto de um shinobi; mostrava um guerreiro cuja testa agora ostentava uma marca vibrante, pulsante com a promessa de energia adicional e capacidades ampliadas. O selo em sua testa emanava uma luz sutil, quase como se possuísse uma vida própria, vibrando em sintonia com o batimento cardíaco de seu portador. A energia que ele agora sentia era mais que uma reserva de chakra — era uma força viva, uma extensão de seu ser que ele podia sentir pulsando dentro de si, pronta para ser convocada em um momento de necessidade. A sensação era exultante, proporcionando a Maeda não apenas uma maior capacidade de poder, mas também uma conexão mais profunda com as forças internas que regiam seu mundo particular. Ele tocou a marca suavemente com a ponta dos dedos, sentindo a energia pulsar sob sua pele. Era uma sensação de potência e promessa, de portas que se abriam para possibilidades até então inexploradas. Ele sabia que esse novo poder exigiria responsabilidade e controle, mas estava pronto para aceitar esse desafio.