Ethan estava longe de ser uma pessoa simples, tendo em mente as contradições que davam forma a sua persona, lapidando a sua personalidade e guiando as suas escolhas, mas o contrário também era verdade, as suas motivações eram simplistas e infantis. Viver em meio a essa dualidade era a sina do Hattori, que lutava diariamente contra os seus demônios, contra as vozes ensurdecedoras que não o deixavam ter uma noite tranquila de sono. De certa forma, desde Wokka, tudo o que havia feito foi reafirma esse seu lado, carregando a culpa com uma fardo pesado. Não importava o que qualquer um dissesse a respeito, sua visão acerca do caso era apenas uma: o orgulhoso Ethan Hattori era fraco, e a atuação contra o líder da funerária não deixava margem para qualquer interpretação que não fosse essa. No fim, pensou, teve que se sujeitar a uma técnica imperfeita, juntamente com um ataque desesperado e suicida. Ainda que tivesse obtido a vitória, desejava ter perecido naquele lugar, afogado em lama e em insignificância. Mas, agora, preso em uma rotina monótona de missões banais, não se via capaz de obter a redenção que tanto ansiava, provando que a sua existência não era um erro. Como de praxe, manifestando a infantilidade por meio de comportamentos autodestrutivos, remoendo acontecimentos passados, buscava formas para não se sentir tão mal consigo.

Mesmo acreditando cegamente que o poder era a resposta para os seus problemas, recorrendo a lugares e pessoas de índole duvidosa, Ethan seguia sem qualquer resultado. Diante desse cenário, estagnado, descontava toda a frustração nas missões e nos treinos que realizava periodicamente, principalmente nos treinos. Nessas seções extremas, que chegavam durar dias inteiros, Ethan não conseguia esconder as suas reais intenções, onde bastava alguns minutos naquele campo de treinamento deserto para que a verdade viesse à tona. Ele não queria melhorar as suas técnicas, e muito menos pretendia obter poder para ter uma revanche catártica. A dor era a única coisa que importava, era o que o motivava. Mesmo precisando negociar com próprio corpo, exausto e sem forças, insistia com sequências alucinantes de movimentos e selos, soterrando todos os sentimos confusos debaixo de uma espiral caótica de dor, medo, sangue e suor. O fim dos treinos, por sua vez, vinha apenas quando as pernas do Hattori falhavam e o seu rosto encontrava o chão, ao preencher o vazio no peito com mais dor. Assim como um viciado, estava sempre à procura da próxima dose cavalar de dor, que, segundo ele, faria todos os problemas sumirem.

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As práticas nada saudáveis, no entanto, começaram a perder a eficiência com o tempo, revelando um efeito colateral que acompanharia os esforços constantes e exagerados. Para a infelicidade de Ethan, conforme seu corpo se acostumava com a carga imposta diariamente sobre ele, a dor e a fadiga se tornavam uma iguaria rara, sendo preciso mover céus e terras que para que florescessem abaixo da carne, acompanhada da mesma euforia jubilante. Pelo menos no curto espaço de tempo em que o fenômeno ocorria, enquanto a adrenalina atingia o seu pico, Ethan podia sentir que algo na sua vida fazia sentido, funcionando da forma como deveria. A dor, então, cobria todas as lacunas, simplificando todas as questões mal resolvidas e reprimindo a culpa por completo. Porém, por mais que tentasse, os esforços não passavam de uma tentativa fútil de reviver o mesmo momento repetidas vezes, onde se viu diante da morte certa. O sangue, o suor e o desespero voltavam dia após dia, em um ciclo sem fim, revelando as cicatrizes que batalhe em Wokka deixara.

Sem que Ethan tivesse a chance de se dar conta, já estava preso em uma rotina que exigia demais do seu corpo, constantemente o levando ao limite. Mesmo não podendo apontar motivos nobres por trás dos esforços, ainda assim os resultados que surgiam gradativamente eram inegáveis. Isto, por consequência, seria o bastante para que Ethan encontrasse uma forma de validar a sua obsessão, crendo cegamente que os fins justificavam os meios. Entendia, em partes, que estava se matando lentamente, tinha ciência disso. Mas, no meio de todo o caos, era nesta espiral de autodestruição que tudo fazia sentido. E, embora não admitisse, ele gostava da ideia de não ser obrigado a encarar peças de um quebra-cabeça que jamais poderia resolver.

Ainda que as mudanças fossem sutis, em alguns momentos, o Hattori se sentia invencível, como se pudesse lutar por vários dias seguidos sem ao menos suar. A impressões, claro, não condizia com a realidade, haja vista que não passava de uma impressão errônea. No entanto, perante uma sensação era tão vivida e reconfortante, não viu problema em mentir para si a fim de se sentir melhor, afinal de contas, era isso que os outros à sua volta faziam.

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Os treinos que aconteceram durante várias e várias semanas, sempre com as mesmas corridas, acrobacias e técnicas básicas de movimentações, serviram como um marco significativo na vida do Hattori, onde, com isso, ele alcançava os 3 pilares fundamentais para obter equilíbrio. Durante a sua jornada, primeiro buscou controle, tanto da mente quando do chakra, esforçando-se para conter a agressividade e os impulsos que sempre estiveram presentes no decorrer da vida. Depois, colocando um foco maior sobre as suas habilidades, elevou os poderes ninjas ao ápice, aprimorando o controle sobre o frio. Por fim, os treinos que realizava diariamente, juntamente com as missões e outros tipos de esforços, fizeram-no alcançar o terceiro pilar, o controle sobre o próprio corpo. E, claro, boa parte disso vinha do seu próprio esforço, já que precisava superar cada um dos limites para ter o que desejava. Se precisasse ter calma, ficaria exposto a situações estressantes até dominar a mente. Se não era tão bom com ninjutsus, esgotaria as reservas de chakra dia após dia até conseguir congelar o mundo inteiro. E, se não conseguia sustentar uma luta até o fim, faria disso a sua obsessão, perecendo frente à exaustão quantas vezes fosse preciso. Ethan não era um símbolo de esforço e resiliência, longe disso, mas quando precisava, estava disposto a virar o mundo de ponta cabeça se fosse preciso, deixando que as suas ações falassem mais alto do que qualquer outra coisa.

As últimas semanas, apesar de conturbadas, serviram justamente para mostrar do que o Hattori era feito. Não se orgulhava de quem era, sentindo-se um lixo na maior parte do tempo, porém, ainda que tentasse se sabotar, aproveitava a oportunidade para reafirmar a sua determinação. Estava determinado a nunca mais deixar que os acontecimentos em Wokka se repetissem.

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