Era uma madrugada abafada quando um ninja ensanguentado e com as roupas rasgadas corria na direção dos portões de Iwagakure. Nas suas costas, pendendo para os lados à medida que os passos trôpegos continuavam ininterruptos, jazia um pergaminho gigantesco. Igualmente, este continha algumas manchas de sangue e rasgos que indicavam cortes superficiais, como se tivessem tentado destruí-lo. O Shinobi em questão custava para manter a consciência diante do seu estado crítico, porém, o forte senso de dever que nutriu durante toda a vida o dava forças para suportar a perda continua de sangue e as dores alucinantes. Ser um ninja vai muito além de utilizar ninjútsus, significa aguentar, aguentar todo o peso do mundo nas costas e continuar seguindo em frente, não importando o que for preciso para tal, ele pensava. A dor não cedia; os músculos pareciam que iriam se partir no meio, rasgando; por fim, os rostos dos companheiros mortos alcançaram seus pensamentos, afinal tudo o que suportava era justamente pelo sacrifício deles. No cumprimento do dever, aqueles homens e mulheres arriscaram tudo o que tinham e colocaram a missão em primeiro lugar, acreditando que seus sacrifícios garantiriam a entrega do pergaminho gigantesco que encontraram em uma caverna mitológica, que era cercada por estórias e lendas milenares.

Embora o Shinobi tivesse arrastado o corpo até os portões do vilarejo, deixando um rastro de sangue pelo caminho e falecendo assim que teve um vislumbre do brilho metálico das bandanas de Iwagakure, aquela missão estava longe de acabar. Trazer os escritos até os domínios da pedra apenas concretizaria a primeira parte da operação, afinal de contas, ninguém ainda parecia ser capaz de decifrar e utilizar o poder contido nele, ou não tinha coragem de o fazer. Era verdade que uma aura de mistério e comentários exagerados envolviam o pergaminho na sala escura em que ele se encontrava, porém, os oficiais da vila sabiam que não poderiam postergar as investigações, considerando a possibilidade de estarem diante de uma arma de poder imensurável. Desse modo, em uma sala mal iluminada, um pequeno grupo de homens de meia-idade traçou um plano para acabar de vez com o problema: usariam o ninja mais problemático e descartável para a segunda parte da missão. No caso de algo dar errado, deixariam um esquadrão de caçadores anbu apostos, prontos para eliminá-lo no menor sinal de perigo.

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Quando o parecer foi passado para um grupo seleto de ninjas, não demorou até a ordem chegar aos caçadores especiais anbu, onde um trio de mascarados ficaram responsáveis pelo Hattori problemáticos, acompanhando-o e garantindo que ele fosse neutralizado ao menor sinal de problemas. E foi o que eles fizeram. Saltando pelos prédios como sombras indistinguíveis, os homens cruzaram todo o caminho até a casa do alvo. Então, ao se depararem com o casebre caindo aos pedaços, com buracos nas paredes e no teto, analisaram os arredores cuidadosamente. Desse modo, atestando que a casa aparentava ser um ponto seguro para invadirem, sem nenhuma armadilha ou contramedida, eles saltaram do topo da casa vizinha e passaram pela janela entreaberta da cozinha. O cheiro ali dentro não era dos melhores, e o mesmo valia para a bagunça e para os entulhos espalhados pelos cômodos, porém, o esquadrão de elite ignorou a displicência do Hattori e seguiu até a sua cama. Assim que isso aconteceu, eles o amararam e cobriram a sua cabeça com um saco preto. No movimento que aconteceu em um piscar de olhos, não houve nenhuma resistência, quase como se Ethan se deixasse ser levado.


O caminho até aquele prédio de fachada, que ficava perto de um dos polos de treinamento, foi turbulento e caótico. Enquanto os ninjas saltavam pelos céus em acrobacias expressivas, o corpo do garoto chacoalhava e, por vezes, quase escapava dos braços corpulentos que o envolviam. Mas, por sorte, o trajeto não se estendeu por muitos minutos, e com isso era apenas uma questão de tempo até se ver livre da situação degradante.

— Será que alguém pode me explicar que merda vocês estão fazendo? — após a última acrobacia do grupo, e após ser arremessado como um saco de lixo no chão, furioso, Ethan questionou os mascarados. Embora a resposta não importasse, o Hattori esbravejou.

— Eles têm um trabalho para você; e o nosso é garantir que você não saia daqui até o terminar. É bem simples, na verdade. Então se apressa e levanta, já sabemos que essas cordas não podem te segurar. Vamos! Não temos a noite toda. — Os olhos do líder do esquadrão se voltaram para Ethan, esperando que ele atendesse a ordem. Porém, encarando a possibilidade de uma recusa, estava a postos para convencê-lo na base de pontapés fortes o suficiente para racharem uma pedra ao meio.

— Que seja. — Um jutsu básico depois, Ethan se libertou do aperto das cordas e se pôs de pé. Dali conseguia ver os sequestradores em volta de uma mesa retangular de madeira que ficava no centro da sala. Já nos arredores, havia vários livros e pergaminhos espalhados pelo chão, esses ficando próximos da parede. Mas o único pergaminho que conseguia prender a atenção dos homens era o que estava em cima da mesa, completamente isolado.

— É isto — outro mascado, o da direita, apontou para o pergaminho gigantesco. — O seu trabalho é descobrir que merda é isso. São as suas ordens; não importava como, apenas faça.

— Vocês entram na minha casa na calada da noite, me arrastando para cá, e isso é tudo o que tem a dizer? Por que caralhos não cospem na minha cara de uma vez? Acho que desse jeito poderiam até pular essa explicação sem pé nem cabeça. Claro, a não ser que estejam mesmo pensando que vou fazer algo após ser tratado assim. “Ordens para cá... Ordens para lá...”, se quer mesmo saber, vocês não passam de uns miseráveis que se aproveitam do fato de não poderem mostrar o rosto.

Ao fim das palavras raivosas do Jounin, um dos mascarados levou a mão até a tanto em suas costas, pronto para avançar e retalhá-lo. Diante tamanho desrespeito, esqueceu-se momentaneamente da missão, porém, logo voltou a si quando o companheiro o segurou pelo pulso.

— Como você mesmo fez questão de pontuar, essa são as ordens. Então já adianto que você não vai sair daqui até acabar o serviço. E, sim, isso é uma ameaça. — O anbu da esquerda também se controlava para não avançar no Hattori, mas, por fim, todos desapareceram em uma cortina de fumaça, tomando uma distância segura daquela sala.

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Ainda inconformado com a situação em que havia se metido, Ethan passou os primeiros minutos pensando em maneiras de fugir. Encarava as marcações do Hiraishin como um meio para para isso, da mesma forma que enxergava a possibilidade de utilizar a própria velocidade corporal, contudo, sabia que não tinha marcas espalhadas pela vila e que não era tão rápido quanto gostaria. Por todos os lados e perspectivas que encarava o cerco dos ninjas de elite, sempre chegava a mesma conclusão: o melhor que podia fazer era cooperar. Claro, não pretendia fazer o sacrifício de bom grado, já que não iria se esforçar de verdade. Caso o plano funcionasse, era apenas uma questão de tempo até perceberem que ele era inútil, um caso perdido.

Tentando apresentar uma atuação convincente para os homens que o observavam, primeiro Ethan fez um clone das sombras, esse que seria responsável por se aproximar do pergaminho e abri-lo. Enquanto isso, o original ficaria o mais distante que conseguisse da mesa, perto da janela. No menor sinal de perigo, no instante em que o lacre fosse rompido, saltaria pela janela. Ethan sabia que a ideia era potencialmente perigosa e inconsequente, podendo até mesmo causar a sua morte. No entanto, ao custo de parecer verdadeiro no cumprimento da missão, aceitou os riscos que a decisão nada assertiva trariam. Naquele instante a sua vida passava diante dos seus olhos, cada momento marcante voltava como um lampejo, mas quando o pergaminho foi finalmente aberto, respirou aliviado, desfazendo o clone na sequência.

Foi então que os problemas reais começaram. Assim que bateu os olhos naquele amontoado de letras, fórmulas e nomes, não podia estar mais confuso, principalmente após ler uma história fantasiosa sobre um animal mitológico que cruzava os céus como um raio. Mas como de praxe, não demorou muito para tirar todo o mérito daquelas palavras emblemáticas que remetiam há tempos remotos. De fato, era incrível estar na presença de um tesouro que permaneceu intacto durante tanto tempo, não havia como negar a sua importância, porém, o pergaminho estava longe de representar uma ameaça para alguém. Decerto, pensou Ethan, aquilo deveria estar exposto em alguma loja de antiguidades ou em algum museu.

Apesar de tudo o que observava até o momento, tudo só começou a fazer sentido quando voltou a atenção para as fórmulas inscritas no pergaminho. Graças ao seu poder ocular, percebia que, na verdade, as fórmulas representavam várias gravuras sobrepostas, que contavam uma história. Pelo que era possível discernir, tratava-se da história de um homem que, após se perder em uma floresta, encontrou um pássaro gigantesco em uma de suas aventuras. Depois do primeiro encontro, ele vagou por diversos lugares, caminhando com um pergaminho nas costas, e sempre que precisava o pássaro o ajudava. Isso até o dia em que o homem percebeu que estava velho demais para continuar viajando pelo mundo. Então, bem no fim da vida, ele se despediu do companheiro alado uma última vez e deixou o pergaminho em uma caverna localizada no topo de uma montanha.

Enquanto lia as gravuras e se deparava com a história de um jovem aventureiro que desbravou o mundo, Ethan associava a habilidade de convocar o pássaro com um jutsu que ouviu falar sobre na academia ninja, o jutsu de invocação. E quanto mais pensava sobre o assunto, mais estava certo de que o homem da história havia assinado um contrato com o animal, deixando o seu nome no pergaminho. Em um impulso, foi exatamente o que Ethan fez. Mordiscou o polegar direito e dedilhou os demais dedos no filete de sangue. Depois, não se aguentando de curiosidade, escreveu o nome no pergaminho.

— Ei, seus covardes! Eu sei que vocês podem me ouvir! — gritava. — Eu já descobri o que é isso. — Os mascarados saíram das posições estratégicas ao redor do prédio abandonado e responderam ao chamado, ambos apreensivos. — Como podem ver — Ethan começou a fazer alguns selos de mão —, isso não passa de um pergaminho para contratos de invocações. O problema é que ele já sofreu demais com a ação do tempo, e por isso toda essa confusão. Se não acreditam, vejam o meu nome escrito nele e olhem isto. — Por fim, utilizou o sangue fresco no polegar e levou a mão até o chão, de onde um falcão de porte comum e coloração marrom surgiu. Na sequência, com o animal apoiado sobre a palma das suas mãos, Ethan saiu da sala enquanto marcava o dorso do animal com uma marcação do Hiraishin no Jutsu.

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