Senju Maeda

— Acha que é a melhor opção? —, a voz rouca da mãe de Maeda quebrava o silêncio, enquanto ao longe se delineava o contorno de dunas de areia. Eles se aproximavam de Sunagakure no Sato, no país do Vento, a futura residência da família Senju. Maeda, liderando o caminho, revivia mentalmente o diálogo recente com os quatro líderes do clã na Névoa. Naquela reunião, como em tantas outras, foi cercado pelos anciãos que introduziram um tópico político de natureza complexa.


— Você será enviado, junto a alguns membros do clã, para o país do Vento na quarta-feira —, Nani havia declarado. A expressão de Maeda, marcada pela surpresa e dúvida, indicava sua hesitação em aceitar sem questionar. Todou, antecipando as preocupações do jovem, explicou:


— Precisamos estabelecer uma base firme em outro lugar. Após analisar a situação atual dos países, concluímos que o melhor ponto de partida é Sunagakure no Sato, que recentemente enfrentou tempos sombrios. Lá, especialmente você, pode ajudar a vila a se recuperar. Ao mesmo tempo, estabeleceremos laços fortes, assim como os Senju uma vez tiveram com Konohagakure no Sato. Isso nos permitirá, eventualmente, migrar nossa linhagem para o deserto com segurança.


A explicação de Todou, embora detalhada, deixava Maeda cético quanto à natureza dessa missão, percebendo-a como mais um intrincado jogo político.


— Estão me oferecendo uma escolha ou me impondo uma missão? —, Maeda questionou com firmeza, buscando clareza sobre sua autonomia na decisão. Este momento não apenas revelava a profundidade das estratégias políticas do clã mas também colocava Maeda diante de um futuro incerto, desafiando-o a navegar por essa transição com sabedoria e coragem.


Os olhares compartilhados pelos quatro líderes quase se transformaram em sorrisos, numa aparente zombaria diante da questão de Maeda. Nesse instante, o jovem percebeu que não teria a liberdade de escolher seu próprio caminho, sentindo-se compelido a acatar as decisões impostas pela liderança de seu clã. Internamente, ele ponderou sobre os possíveis benefícios dessa mudança forçada para seu crescimento pessoal. Apesar da saudade que sentiria do familiar, havia a esperança de que, distante das intrigas do clã Senju, encontraria espaço para amadurecer individualmente.


Voltando-se para o recesso de sua mente, Maeda encontrou a Kyūbi sorrindo com escárnio. — O que te deixou tão animada? —, indagou.


A resposta veio na forma de uma risada penetrante que reverberou pelo espaço mental compartilhado. — Você nunca toma suas próprias decisões, não é mesmo? Vai permitir que escolham por você pelo resto de sua vida? Que tal me deixar tomar algumas decisões também? Liberte-me e permita-me punir esses tolos, — provocou a besta das nove caudas.


As palavras da Kyūbi provocaram um calafrio em Maeda, fazendo-o ponderar, ainda que por um breve instante, a tentadora proposta de retaliação. Contudo, consciente das consequências, ele acabou assentindo para os quatro líderes no mundo físico, concordando com o plano estabelecido. Com passos resignados, dirigiu-se à sua residência para começar os preparativos da mudança e comunicar a sua mãe sobre a decisão, sabendo que ela não hesitaria em apoiá-lo, dada a sua lealdade inabalável ao clã.


Dentro do modesto lar, Maeda vivenciou um momento de despedida que balançou suas emoções, levando-o à beira das lágrimas. Contudo, firmou-se na resiliência que sua condição de shinobi exigia. Com a mão direita, ele tocou suavemente as paredes de madeira da casa, traçando o caminho até a porta de saída, num último gesto de adeus ao lugar que compartilhava com sua mãe. Ao vê-la na cozinha, cuidando dos afazeres domésticos, o jovem foi recebido com um sorriso caloroso e o oferecimento de uma maçã verde, símbolo de um carinho materno incondicional. Maeda, contudo, recusou gentilmente. Sua expressão sombria ao se sentar à mesa foi o suficiente para despertar a preocupação e curiosidade de sua mãe, que, ao aproximar-se e acariciar seus cabelos, perguntou sobre o que o afligia. Diante do questionamento, Maeda desabafou sobre os recentes acontecimentos e as decisões que mudariam o curso de suas vidas. O desconforto da mãe era palpável, mas ela logo se mostrou resiliente. Com determinação, foi até o quarto e retornou com as malas prontas, proclamando — Nossa casa é onde estivermos juntos — uma frase que trouxe conforto e alívio ao coração de Maeda. Inspirado pela força e sabedoria materna, o menino decidiu seguir o exemplo. Rapidamente, as malas de ambos encontraram-se à porta, prontas para a partida. Eles aguardavam a carroça que os levaria, juntamente com outros membros do clã, rumo a uma nova vida em Sunagakure no Sato.


Durante a viagem, um silêncio pensativo tomou conta dos viajantes, proporcionando uma transição suave, ainda que carregada de uma melancolia reflexiva, para os novos nômades. A resistência do ambiente em mudar ofereceu um conforto estranho, aliviando a tensão da grande tarefa que Maeda carregava: a responsabilidade de fortalecer os alicerces do clã Senju no país do Vento. Enquanto o cenário permanecia quase inalterado, os pensamentos tumultuados do garoto giravam em torno do futuro, gerando uma ansiedade que pouco tinha de empolgante. O som monótono e o movimento irregular da carroça sobre o terreno rochoso desviaram, por momentos, a atenção de Maeda para fora. Ao espreitar pela janela, ele se deparou com a imensidão do deserto que agora adentravam, uma vastidão que parecia consumir todo o horizonte. Foi neste momento que ele compartilhou com sua mãe, sua voz emanando firmeza misturada a uma calma forçada — Foi a única opção que nos deram — A constante luta contra o vento forte, que fazia as coberturas da carroça ondularem e ameaçava encher seus olhos de areia, servia como um lembrete constante de sua chegada a um território desconhecido. À medida que se aproximavam dos limites de Sunagakure no Sato, a realidade de sua nova vida começava a se materializar, marcada pela adversidade do ambiente, mas também pela promessa de novos começos e a oportunidade de crescer longe das sombras das expectativas do clã na Névoa.


Assim que Maeda desceu da carroça, um toque gélido de aço encontrou seu pescoço, uma saudação inesperada que desencadeou uma corrente de arrepio por sua espinha. A silhueta de uma mulher emergiu das sombras projetadas pelo sol poente, a espada em sua mão um claro aviso.


— Então você é o tal do Maeda? — A voz dela, carregada de autoridade, trespassou o silêncio como uma lâmina afiada. Maeda, apesar do início tenso, manteve-se notavelmente calmo.


— Foi o que me disseram — respondeu, seus olhos encontrando os dela enquanto finalmente se libertava da confinação da carroça.


A mulher, se apresentando como Tamayo, baixou sua arma e se revelou ser a enviada dos anciãos para recepcioná-lo, mudando o tom da interação. Guiado por Tamayo, Maeda atravessou os portões de Sunagakure no Sato, cada passo levando-o mais fundo nas entranhas da aldeia esculpida pela areia e pelo tempo. As ruas, um labirinto de pedra e calor, fervilhavam com a vida cotidiana dos habitantes, que lançavam olhares curiosos e especulativos em sua direção. A desconfiança e o mistério eram palpáveis no ar, como se a própria areia carregasse perguntas sobre o recém-chegado.


No coração da aldeia, uma estrutura monumental capturou sua atenção, um colosso de pedra que dominava o horizonte, claramente o epicentro do poder local. A sala para a qual foi conduzido carregava a atmosfera de decisões cruciais, a mesa redonda ecoando as reuniões secretas de seu clã anterior, um lembrete de que a política e a estratégia eram universais. Um dos anfitriões, sem a menor cerimônia, questionou a intenção de paz de Maeda, uma pergunta que o deixou visivelmente desconfortável.


— Se não tivéssemos vindo em paz, eu não teria entrado pela porta da frente — respondeu Maeda, sua voz tingida com um leve traço de indignação.


A tensão dissipou-se com promessas de boas-vindas e assegurações de que sua chegada era um motivo de celebração. Aliviado, mas ainda cauteloso, Maeda retirou-se, dirigindo-se ao lugar designado para ele e sua mãe. Era mais do que uma residência; era um refúgio, um oásis dentro do deserto. Árvores e plantas formavam um véu verdejante em torno do pátio, um contraste vívido com o deserto lá fora. A água murmurava em um pequeno lago, refletindo o céu crepuscular. Sua mãe o esperava, um sorriso acolhedor em seus lábios, reafirmando a verdade em suas palavras: não importava onde estivessem, desde que juntos, estariam em casa. Exausto da longa jornada, Maeda sentiu a necessidade premente de descanso. O quarto, que lhe fora designado, oferecia um santuário de tranquilidade e conforto, distante das incertezas e da estranheza de uma nova vida em Sunagakure no Sato. Ele se permitiu sucumbir ao cansaço, buscando repouso sobre o travesseiro de cetim, cuja suavidade prometia aliviar o peso da viagem e das responsabilidades que o aguardavam. A janela de seu quarto emoldurava uma vista serena: uma palmeira solitária erguia-se majestosa no jardim, cercada por um lago artificial que refletia o céu azul e as formas dançantes das folhas ao vento. A água, com seu movimento suave, entoava uma melodia calma, transformando o espaço ao redor em um refúgio que contrastava com o vasto deserto além dos muros da aldeia.


— Vai encontrar a paz que tanto procura? — a voz maligna da Raposa ecoou pela mente do garoto.


— Eu sinceramente espero que sim — finalizou, de olhos fechados a se perder em sua mente.