No topo do maior prédio de toda a Iwagakure, com um jornal escancarado aos seus pés, Ethan fazia frente aos ventos acentuados de inverno que tentavam levá-lo pelos ares, com a destra apoiada sobre o topo da cabeça, segurando os cabelos. Enquanto encarava o horizonte, absorto, vendo a imensidão se esconder covardemente atrás do véu da noite, ao mesmo tempo que as luzes artificiais de Iwa eram projetadas em seu rosto, refletia sobre o que acabara de ler. O jornal que acidentalmente havia sido deixado naquele telhado, estirado sobre o concreto aos montes como se fosse lixo, trazia um presságio do futuro, ou melhor, relembrava o Hattori sobre a incerteza do mesmo. Devido as mudanças que aconteciam pelo mundo, não foi difícil concluir o óbvio: a partir do momento que lendas caem, dando seus últimos suspiros, uma nova era tinha início. Ao olhar para o horizonte, imerso nos próprios questionamentos, de maneira simbólica, à espera de um fenômeno astral, esperava conseguir enxergar através da escuridão, tendo um vislumbre do futuro, aguardando alguma resposta que satisfizesse as dúvidas que cresciam em seu âmago, torturando-o. Realmente estava pronto para encarar o desconhecido? Assim que os alarmes soassem e o pânico se instaurasse, estaria pronto para encarar os inimigos com um sorriso no rosto? Por último, e mais importante, será que conseguiria se divertir com as batalhas futuras, seja contra a resistência, ou então contra outro inimigo? Se perguntava, obscurecendo as feições, incomodado. Entretanto, o olhar permanecia o mesmo, os ventos não cediam, o vilarejo continuava igual visto de cima; até o momento, aproveitava uma paz efêmera, tão frágil quanto o vidro, que conseguia lhe entediar de formas inimagináveis.

As preocupações de Ethan, embora pertinentes, não vinham em resposta ao medo. Na verdade, todo o momento reflexivo e melancólico foi motivado por uma questão particular, que tirava, aos poucos, seu sono. Mesmo não sabendo explicar em detalhes a sensação que se abatia sobre si, Ethan podia afirmar com certeza que algo havia mudado. Por isso, ao se deparar com mudanças tão significativas no globo, traçou um paralelo com a situação que vivenciava. No fim, tudo se resumia àquilo: a forma como encarava o mundo, e a forma como a nova percepção alterava as formas e o significado de tudo. Ao tatear vagarosamente o chão sobre seus pés, além das vibrações corriqueiras que bombardeavam seu cérebro com diversas informações, uma outra energia reagia ao toque, revelando uma ressonância singular com a terra. Depois de sofrer por algum tempo com o chamado indescritível e indecifrável, enquanto o seu olhar objetivava o futuro, um júbilo repentino tomou seu rosto. Ethan sorria de maneira espontânea e calorosa, como há muito não fazia. Incialmente, precisou de muitos sinais para interpretar a mensagem enraizada em sua pele, mas assim como um autêntico ninja de Iwagakure, não negaria mais o chamado latente da terra sob seus pés, que era como uma mãe para todos que residiam no país. Desse modo, faria questão de gravar bem a sensação incomoda que, na verdade, era uma benção disfarçada.

— Consegue ouvir? — questionou-se em um sussurro inaudível. Ainda sorria, animado com a visão diante dos olhos — Não há mais volta, as engrenagens já começaram a girar. O início de uma “nova era”, agora, tornou-se inevitável, inquestionável. A queda dos heróis do passado irá inspirar toda uma nova geração, dando forma a uma onda implacável que abalará as estruturas do mundo.

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