Ethan estava em um ponto afastado do vilarejo, cercado unicamente por pedras e por alguns animais que se aproximavam vez ou outra. Tirando isso, e também o frio que acometeu as redondezas e afastava tudo o que tentava se aproximar, não havia nada para chamar a atenção do Hattoi ou, no pior dos casos, atrapalhar o seu treino, sendo justamente por isso que escolheu o lugar. Sentia-se seguro para usar cada uma das técnicas com liberdade, sem ter o medo constante de ferir algum curioso por engano, algo que já aconteceu no passado. Naquela época, como o seu domínio sobre os seus poderes era praticamente nulo, o dano que causou àquela Kunoichi não foi nada, no entanto, já não era a mesma criança. Portanto, se alguma pessoa acabasse vindo a ser atingida no fogo cruzado, temia não ser capaz de salvá-la, visto que, às vezes, até ele sofria danos consideráveis ao usar a sua natureza particular. Mas, como tomou os cuidados possíveis, pôde deixar toda a preocupação de outrora para trás, focando apenas no que se dispôs a fazer naquela tarde de outono artificialmente fria.

O corpo de Ethan, levemente inclinado e relaxado, emitia um vapor frio ao passo que uma fina camada branca de cristais de gelo o envolvia (Hyōken Ryū). Até aquele momento, não fazia nada demais usando uma técnica tão básica quanto aquela, pensou consigo. Mas ainda estava longe de alcançar o propósito que foi capaz de fazer alguém como ele se empenhar em uma atividade tão maçante. Dentre todos os motivos e razões cabíveis para desejar ser mais forte, o medo era o porquê de estar ali, buscando levar ao corpo ao limite. Afinal, ter medo de si mesmo era algo horrível, algo que o garoto não desejava nem para o pior inimigo. Não importava aonde ia, o que fazia, o seu humor e nenhum outro fator semelhante, o medo de machucar as pessoas em volta não cessava, sempre dava um passo adiante de cada vez, fazendo com que o Hattori nunca conseguisse se livrar dessa sombra que o rodeava.

Então, antes de continuar com a seção de treino, olhou em volta. Seus olhos afiados, juntamente com os outros sentidos, buscavam qualquer indício que revelasse a presença de alguém. Desse modo, quanto constatou que estava completamente só, preso com os próprios pensamentos e anseios, resolveu cobrir todo o corpo com uma camada fina de cristais de gelo sobre a pele (Hieton: Hyōketsu no Yoroi), formando uma proteção adicional ao corpo. Com o surgimento da técnica, entretanto, ao invés de focar no treino, tentando entender como a Kekkei Genkai agia no seu corpo, Ethan apenas relaxou os ombros e riu. Era engraçado imaginar que mesmo sozinho ali, livre para libertar todo o poder, ainda assim insistia em enclausurar toda a extensão da sua força em uma artimanha com aquela, como se tivesse voltado a ser uma criança assustada que tinha medo de sair debaixo da coberta. No entanto, mesmo se divertindo com a situação, estava longe de chegar em algum lugar. Afinal de contas, sabia que chegaria um momento na vida que ficaria diante de um inimigo tão formidável que não teria outra escolha senão deixar as amarras do medo de lado. Por isso, logo após deixar o riso cessar, entendendo que algo precisava mudar, elevou o chakra a um nível inimaginável.

Nesse meio tempo, sem perceber, havia desativado todas as técnicas ativas até o momento, para então dar vida a uma nova representação dos seus medos. A armadura surgiu rente a pele, tão fria quanto a morte, mas dessa vez não vinha em resposta à fraqueza, agora, surgia em resposta à vontade do Hattori de ser forte, de poder encontrar inimigos cada vez mais fortes e aproveitar a emoção de uma batalha até a morte. No fim, aquela armadura translúcida sobre a pele simbolizava isso, a vontade que ele tinha de aproveitar ao máximo a emoção de uma luta.

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