Após ter a vida posta em xeque, no momento em que recusou o presente vindo em circunstâncias suspeitas, Ethan não se viu com muitas escolhas. Ou se esforçaria para aprender os inscritos no pergaminho, fazendo com que o deixassem em paz, ou se rebelaria, sendo perseguido e tendo a vida constantemente ameaçada. Diante de uma escolha tão delicada, o Hattori decidiu optar pelo caminho mais fácil. Independente do que estivesse contido no pergaminho que recebeu dias atrás, faria o impossível para tomar o conhecimento para si, em um ato de boa-fé.

O primeiro passo tomado foi abrir o papiro sobre sua cama, tendo um primeiro contato com aquele conceito. Lia com afinco cada uma das palavras sobre a possibilidade de criar pétalas tão afiadas quanto lâminas, cético, duvidando da existência de algo tão surreal, afinal de contas, em que mundo flores seriam usadas com este propósito, se questionou. Falhar não era opção, então, não podia se dar esse luxo, no entanto, quanto mais lia acerca do assunto, mais percebia que encarava um desafio impossível. Mordeu os lábios em resposta, com medo do que aconteceria consigo caso falhasse em aprender a técnica, já que falhar significava fazer uma desfeita com o presente ofertado. Mas, naquele momento, o medo vinha de outro lugar. Ethan tinha medo de não bom o suficiente para fazer o que bem entendesse, temia que cair na mediocridade fosse uma possibilidade crível. Precisava, a todo custo, encontrar uma forma de melhorar uma habilidade da qual já tinha conhecimento, o Hanna Ninpou.

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Preso em um dilema infernal, e com mais perguntas do que respostas, Ethan fez o que qualquer um faria na sua situação, procuraria respostas em um monumento dedicado àquilo, iria até a biblioteca do vilarejo. Antes de sair, com um pouco de pressa, enrolou o pergaminho que seguia estirado na cama e tomou alguns instantes para tirar o lixo, algo que postergava por quase 1 semana. Assim, focado unicamente em descobrir como transformar flores em armas, caminhou rumo à biblioteca.

O dia estava nublado, com nuvens carregadas, criando sombras que cobriam toda a vila. No entanto, as pessoas em volta não desanimaram. Os vendedores continuavam firmes em seus postos, esbanjando o mesmo sorriso de sempre e prontos para converter lábia em lucro. Por outro lado, haviam também aqueles que não conseguiram se manter firmes com a iminência da chuva, fechando as portas antes do horário e se protegendo em suas casas. Em partes, ver essa dualidade fez com que Ethan se questionasse sobre a sua decisão, afinal, com um tempo daqueles, ventando do jeito que ventava, prosseguir com o plano não parecia uma boa ideia. Permaneceu relutante pelo resto do caminho, a um passo de tomar a coragem necessária para dar meia volta, porém, quando se deu conta já havia chegado. Olhou o prédio de cima a baixo pela fachada, contemplando uma prova viva da história, algo que dispensava palavras, até que, enfim, resolveu entrar.

Lá dentro, orientou-se por um mapa na parede, tendo uma visão ampla de cada uma das seções da biblioteca, procurando a que melhor atendia aos seus interesses. Desse modo, não demorou muito, cerca de 25 minutos, até Ethan se sentar em uma das mesas, com uma pilha enorme de livros diante de si. Talvez tivesse exagerado na quantidade, pensou, mas deixando isso de lado, respirou fundo, pegou o livro no topo da pilha e começou a lê-lo. As páginas gastas pela ação do tempo deslizavam pelos seus dedos, criando um som ritmo à medida que progredia na leitura. De certa forma, Ethan voltava a se sentir como a criança curiosa que um dia já fora, onde contemplava pela primeira vez as lições mais básicas sobre o chakra. A nostalgia, no entanto, desapareceu em um piscar de olhos, revelando assim este outro lado do Hattori, que conseguia ser tão frio quanto o zero absoluto.

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— Quem diria... Não sabia livros tinham alguma serventia para idiotas. — Uma voz familiar ecoou, interrompendo a concentração do Jounin. Raizo havia acabado de entrar na biblioteca e, enquanto estava de frente para uma prateleira, dedilhando os livros ali dispostos, não perdeu a oportunidade de provocar o Hattori. Ao contrário das outras vezes que os dois se encontraram, agora, o moreno não estava a trabalho. Naquele momento, não era o porta voz do seu empregador misterioso, aquele que presenteou o Jounin com os pergaminhos. Além disso, aquele homem também era o responsável pelas diversas ameaças que Ethan sofria.

— Qual é o problema agora? — perguntou Ethan, sem tirar os olhos do livro em suas mãos. O olhar continuava vidrado, indo de um lado para o outro, cobria cada milímetro daquela página diante de si. — Se não tem nada a dizer, vê se me deixa em paz. Já não basta essa cobrança ridícula que vocês estão fazendo. — Ao invés de perder tempo com uma conversa que não o levaria a lugar algum, Ethan começou a ignorá-lo. No entanto, a tentativa de continuar focado no que se propusera a fazer foi frustrada por uma pancada na cabeça. Sem mais nem menos, Raizo pegou a espada que sempre levava em mãos, que seguia embainhada, e deu golpe certeiro na cabeça do mais novo, como se pretendesse discipliná-lo.

— O que pensa que está fazendo?! — Raizo já sabia qual seria a resposta do outro, mas mesmo assim se deu o trabalho de indaga-lo.

— Já se esqueceu disto aqui? — Ethan levantou o pergaminho que estava ao seu lado, furioso.

— Deus... Quando penso que você não pode me surpreender mais, uma coisa dessas acontece. Francamente, tanto potencial em alguém como você é um desperdício. — Em um reforço negativo, o espadachim voltou a golpeá-lo na cabeça. — Logo no meu dia de folga... Dane-se, vamos lá. E antes que tente bancar o espertinho, lembre-se que o seu prazo está acabando, e pelo jeito você não fez progresso algum.

Mesmo relutante, Ethan se levantou e começou a segui-lo.

Os dois caminharam por alguns minutos, em meio a uma ventania repentina, até finalmente chegarem em um local deserto. O solo rochoso era irregular, com diversas ondulações, e diversas rochas estavam dispostas em volta da dupla, prendendo-os em um labirinto. Foi então que Raizo parou e abriu a mão, indicando que era para Ethan olhar atentamente para a palma da sua mão, e foi o que o Hattori fez. Nesse momento, primeiro uma flor pousou sobre a destra do sujeito, criada a partir do chakra do mesmo. Depois disso, ele fechou a mão e cobriu a flor com mais uma infusão de chakra, assim lhe conferindo uma coloração rosada e tornando-a tão afiada quando a espada que carregava na canhota. — Viu só? — girou a mão, deixando a pétala escapar da palma, vendo-a dançar no ar. — Você pode continuar tentando aprender sobre o chakra com alguns livros, mas se tratando de efeitos práticos, não tem muito como fugir disso. Limpe a mente e tome o controle. Sem desculpas, apenas foque em melhorar. Então, repita esse mesmo processo 5 mil vezes, até a execução da técnica se tornar tão banal quanto o ato de respira, quando isso acontecer você vai estar pronto. Ou continue fazendo o que lhe der na telha, sinceramente, eu não me importo. É minha folga e não pretendo ser babá de ninguém, não hoje. — Terminando a explicação, deu de ombros, indo embora.

Durante as primeiras horas, sozinho, cercado por uma miríade de rochas pontiagudas, Ethan se perguntava se foi uma boa ideia seguir o velho. Mesmo tentando replicar a demonstração de outrora mais vezes do que conseguia contar, seguia falhando em cada movimento, em cada respiração, em cada pensamento. Nada dava certo. De certo modo, já tinha achado a resposta que procurava: ficar na biblioteca era o certo a se fazer. Mas como já estava ali, resolveu persistir, afinal de contas, não queria continuar arrumando desculpas para desistir. Assim, Ethan seguiu treinando, de pé, cortando as mãos conforme tentava utilizar a técnica, até a noção de tempo não fazer mais diferença. Quando Ethan se deu conta, já estava acampando naquele campo de treinamento. Dia e noite, vivendo do que conseguia caçar, negligenciando os aspectos mais básicos da sua higiene, ele tinha um único objetivo em mente.

O Hattori não demorou mais do que alguns dias para completar as 5 mil tentativas, mas só que ainda não era o suficiente. Dessa forma as 10 mil tentativas se concretizaram após 1 semana, entretanto, o panorama era o mesmo. Foi então que, na tentativa de número 50 mil, quando as suas mãos estavam em carne viva devido aos cortes infligidos por si, ele conseguiu realizar a proeza. As pétalas, em perfeita sintonia, cercavam o seu corpo, em uma dança mortal entre a beleza e o perigo, agindo como uma extensão do corpo do garoto.

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