Ethan estava em uma casa de chás muito famosa em Iwagakure. Sentado em uma das mesas que ficavam de frente para a porta do estabelecimento, conseguia ver perfeitamente o vai e vem de pessoas pela rua, que servia justamente para lembrá-lo do quanto o lugar era movimentado. Pela porta entreaberta, deparava-se com todo tipo situação, desde pessoas brigando por futilidades até ninjas no cumprimento do dever, provavelmente se dirigindo para alguma missão. Ethan sabia muito bem como aquilo funcionava, afinal de contas, essa era a sua vida. Desde quando conseguia se lembrar, a sensação estressante que o obrigava a continuar correndo sempre esteve presente, como o pai que nunca teve. Em um passado longínquo, corria por causa dos pequenos delitos que cometia, uma época onde fazia tudo o que julgava necessário. Mas, nos dias de hoje, os seus passos apressados geralmente tinham um propósito maior, assim como percebeu há algumas semanas. Agora, mesmo não simpatizando com a ideia, o bom cumprimento do dever o tornava, indiretamente, um herói. Não importava a ótica aplicada sobre a ideia em questão, de todas as formas ela parecia incabível, pensou consigo.

No entanto, o momento que usava para refletir sobre o questionamento foi interrompido, abruptamente. Um homem com um rabo de cavalo e trajando um Kimono azul, com diversos detalhes em dourado, entrou no recinto. No seu rosto, um sinal claro de insatisfação pôde ser percebido, tendo em vista a forma como o sujeito arqueava as sobrancelhas. Seus sapatos de madeira, conferindo-lhe alguns centímetros de altura, alertavam todos em volta; não havia como não perceber o som que fazia enquanto ia na direção do Hattori. — Você aí! Vem comigo — sem qualquer formalidade ou modos, ele ordenou. — Está na hora de pagar o que nos deve.

Ethan não estranhou as palavras proferidas pelo outro, afinal não era a primeira vez que os credores mandavam alguém atrás dele. Mesmo tendo abandonado a vida de crimes há muito, incrivelmente, a situação era mais recorrente do que gostaria. Portanto, diante do pedido, pagou a conta, deixou algumas notas sobre a mesa e seguiu o moreno.

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Ethan seguiu o homem pelas ruas de Iwagakure, tendo um pouco de dificuldade para acompanhar seu ritmo. Além da irritação, claramente tinha pressa. O Jounin, por sua vez, encarava as costas do moreno, sua postura era perfeita, o peito estufado, a cabeça levantada e as costas perfeitamente retas. Tirando algum tempo para analisá-lo com cautela, atento na forma como se portava e como caminhava, não demorou muito até chegar à conclusão mais óbvia: ele devia ser um militar aposentado. A forma como olhava para os lados periodicamente, em buscas de armadilhas e ou emboscadas, não deixavam espaços para dúvidas. No entanto, Ethan não tinha a menor ideia de como ele havia acabado daquele jeito, tendo que trabalhar como cobrador.

— Bom, podemos começar. — Eles estavam em um lugar remoto, onde pedras eram as únicas coisas em volta. Toda a uniformidade do solo, no entanto, foi quebrada quando aquele homem afastou as pernas e levantou as mãos, erguendo um monólito com 5 metros de altura bem na sua frente. A manipulação era diferente de tudo o que Ethan já tinha visto, mas não tinha como negar o que estava diante dos seus olhos. — Não vamos exigir que você pague o seu debito com dinheiro. Ao invés disso, tudo o que você precisa fazer é quebrar esta estrutura.

— Como? — o Hattori perguntou, confuso.

— Isso mesmo que ouviu. Vamos dizer que você despertou o interesse do meu empregador. Mas, como você ainda não está pronto, me pediram para te ajudar. Então cala a boca e começa logo.

— Sério? Só preciso partir isso ao meio e estou livre? Fácil assim? — Não acreditava que a afirmação fosse verdadeira, mas mesmo assim resolveu concordar com o desafio. Fez um selo de mão, reunido o chakra gélido nos pulmões, e disparou uma rajada contra a estrutura. Entretanto, quando os últimos resquícios do ataque se dissiparam no ar, Ethan viu que não havia causado nem mesmo um único arranhão no monólito.

— Como pensei, você é horrível — vendo a tentativa risória do Jounin, o homem, que agora estava sentado no chão, proferiu. — Parece que muita coisa mudou na vila desde que me aposentei. Não imaginei que estavam tão desesperados a ponto de promoverem amadores.

— Já chega! Não preciso ficar aqui ouvindo seus insultos. — Furioso, e com razão, Ethan deu de ombros e começou a afastar-se do local. — Diga ao seu chefe que vou dar um jeito de conseguir o dinheiro dele.

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Nos próximos dias, algo estranho acontecia. Naturalmente, Ethan seguia a sua rotina, sendo mandado em algumas missões e passando parte do tempo ocioso perambulando pelo vilarejo. Mas, religiosamente, pelo menos uma vez por dia ele simplesmente desaparecia sem deixar rastros. Se tentassem encontrá-lo, seja pelo motivo que fosse, a busca seria em vão. Os seus vizinhos, em tardes quentes e entediantes, comentavam sobre. Vários motivos eram levantados na conversa, porém, nenhum fazia jus à realidade. Pensavam que o menor usava esse tempo para treinar, mas logo a possibilidade era descartada, Ethan não era esse tipo de pessoa, que se esforçava. Também chegaram a cogitar que ele estava indo para algum tipo de missão secreta, mas ao indagarem um oficial de confiança da vila, a suposição caiu por terra. Portanto, ninguém conseguia explicar o que o Hattori fazia neste intervalo de tempo, onde voltava encardido para casa, cheirando mal e coberto de poeira.

O mistério valia também para o cobrador de dívidas que, dia sim, dia não, procurava o Hattori para cobrá-lo. Por isso, quando percorria a vila inteira e não conseguia encontrá-lo, já sabia o motivo, tendo em mente que, naquele momento, não o encontraria. No entanto, enquanto andava rumo ao lugar onde costumava aplicar os seus testes, em busca de novas promessas para o seu empregador, julgou ter descoberto o motivo por trás do sumiço do Jounin. Sendo seguido por um garoto franzino, com sobrancelhas grossas e rosto quadrado, de súbito sentiu um frio atípico, um que não se via muito por ali. Mas foi quando chegou perto do monólito erguido há muito que teve a confirmação de que precisava. A estrutura, outrora forte como o aço, não havia sido partida ao meio, como propusera em vários testes, na verdade, o monólito tinha sido congelado até o ponto em que ele se despedaçou diante de um mero toque. O moreno ficou boquiaberto, tentando imaginar quem faria algo assim. Ignorando o garoto ao seu lado, pensou em cada um dos jovens em que testou nas últimas semanas, contudo, só um nome vinha à mente, Ethan Hattori. Não queria aceitar que o garoto foi capaz de fazer aquilo por conta própria, dessa forma, supôs que a mesmo trapaceou de alguma maneira. Mas no fundo, já se dera por vencido, ele de fato havia se enganado sobre o Hattori. O jovem, embora desleixado e problemático, mostrou um potencial que jamais vira em todos os anos como ninja.

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