— Estava estagnado, alheio. Durante os últimos dias, perguntei-me repetidas vezes se sequer havia algo me esperando neste ou no outro mundo. Não importava para onde olhasse, sempre era confrontado com as mesmas conclusões, e um vazio tão sombrio quanto o vácuo que fora herdado pela minha linhagem. A ausência de violência não criava um ambiente de paz, mas de eterna tensão. A mente pesada e paranoica se quebraria caso permanecesse nesta tênue linha durante muito mais tempo. Decidi que era hora de enfrentar estes temores, e me preparar para o pior, antes que fosse tarde demais. Eu sempre abominei a guerra e as lutas sem sentido, mas estava sendo forçado a compadecer com aquilo que por tantos anos julguei como bárbaro. Não havia valores neste mundo, apenas um ciclo vicioso e pessoas com poder. Aqueles que têm força impõem suas vontades sobre os fracos.

- "Serei apenas mais um na pilha de cadáveres se ficar em silêncio." - Pensei, refletindo sobre quem eu era.

Treinar para matar parecia um conceito absurdo durante os primeiros momentos, mas logo viu-se necessário. Um ninja pacifista? Era tão ridículo que soava como uma piada de gosto peculiar. Levantei-me do mausoléu que chamava de residência, as faixas batidas arrastando-se através do solo pecaminoso, empestado pela minha própria existência. Via-me como um produto, um exemplo da guerra. As pessoas olhavam-me não como um pobre coitado, mas como uma abominação. Estava acostumado, mas não conseguia conter a tristeza por muito tempo. Movi-me até os subúrbios da vila, acendendo um cachimbo para acalmar a mente entre os passos largos e cautelosos. Entre uma rua de casas abandonadas há anos, faria um treino meditativo. O corpo frágil tinha fôlego, mas não força. Antes a mente, para depois o físico. Dominar o vento e o vácuo não era uma tarefa trivial. A filosofia dos Shimura pregava muito mais do que técnicas de combate e assassinato. Havia códigos que deveria decifrar ao longo de minha vida.

Somente compreendendo estes dogmas, poderia ter a chance de alcançar o que busco...
... Paz.

Informações:

— Os olhos profundos e opacos buscaram por uma área adequada para o treinamento. Silêncio absoluto como em um vácuo selvagem, distante até mesmo de meus próprios pensamentos. O andar silencioso veio a cessar de encontro com um pátio abandonado de um pequeno edifício local. Ele estava decaindo com o passar dos anos, mas mesmo entre a sujeira, encontrei o meu lugar para iniciar a meditação. Soprei do fundo de meus pulmões, enquanto os olhos lentamente fechavam-se e a mente se esvaziava. Como poderia me tornar um com o vento? Como poderia alcançar os princípios há tanto tempo descritos pelas histórias de meus ancestrais? Eu não sabia, mas deveria tentar. Controlar o vácuo foi o primeiro passo, o desligamento completo de seu corpo com o plano material, entregando-se aos infindáveis enigmas do universo. Não me lembro de quanto tempo passei treinando até conseguir criar o meu primeiro protótipo de vácuo, mas sabia que era instintivo - Como um chamado do sangue Shimura.

Os ventos sopravam como uma brisa leve na calmaria do entardecer, o sol já posto por detrás das montanhas, e os últimos momentos de luz que lentamente regressavam de volta ao nada. Quando me senti completamente vazio e fluido como a água, enxerguei, no fundo de meu ser, as tempestades e conflitos que me assombravam. Como se houvesse sido transportado a um mundo paralelo dentro de minha própria mente, as miragens do passado e presente tomavam formas indescritíveis, horrores além da compreensão de um coração quebrado. Estava preso, imóvel. Os olhos abertos apenas para testemunhar e lamentar, mas nunca agir. Eu queria gritar, mas não poderia. Talvez me libertar destas amarras fosse o processo mais doloroso - A dor de deixar tudo para trás, e esquecer. Memórias repetiam-se como um filme defeituoso, os demônios daquele dia retornavam como um frio na espinha.

- "Não posso deixar a raiva me dominar... Eu sei bem que a escuridão deseja o meu corpo." - Disse a mim mesmo, ainda imóvel - "Mas, não vejo saída neste inferno O que é esta penitência? Me sinto vazio... Sinto que vou desaparecer..." - Continuei, mergulhando nas memórias.

Desaparecer...

Desaparecer...

...

Informações:

— Eu desmaterializei, vagando através do infinito, porém limitado, universo que existia entre a mente e o vácuo superior. Os pulmões, carregados com oxigênio, lentamente quebravam as moléculas do ar vital em componentes mais simples e frágeis, suas fórmulas distorcidas e corrompidas pela vontade do vácuo. Enquanto me sufocava de forma inconsciente, me via preso em uma dimensão de remorsos. Porém, ao invés de contemplar a minha derrota e assumir a fragilidade da carne, decidi erguer-me contra a opressão de um passado malicioso. Dentro de minha mente, eu estava com medo - Mas era uma mera impressão, uma miragem de meu fracasso. Compreendi a fraqueza e a força, bem como o que havia me trazido a este lado de minha vida. Um lado obscuro, porém necessário, para que eu pudesse compreender o meu espaço neste plano. As sombras formaram a silhueta do shinobi que me transformou nesta aberração chamuscada, sorrindo enquanto seus olhos brilhavam e sangravam, um deleite para com o sofrimento.

- "Eu escolho te perdoar." - Eu disse a mim mesmo, enquanto as sombras se intensificavam. - "EU PERDOO VOCÊ!" - Exclamei.

Vi como seus sorrisos se esvaíram. Eles buscavam um homem pecador e blasfemo, com o coração carregado por vingança e ódio. Ao contrário disso, encontraram alguém que escolheu seguir em frente e enterrar as feridas de seu passado. Mesmo com as lágrimas contidas, eu queria me manter no caminho certo e lutar por aquilo que acredito. Suas sombras se dissiparam para dar lugar a uma única fagulha de luz, tão ofuscante, ainda que distante, um espaço indeterminável entre mim e a redenção. O oxigênio então esvaiu-se dos pulmões, minha vida deixando o corpo a cada segundo que se passava. O vácuo me consumia de dentro para fora. A filosofia dos Shimura não aceitaria tamanha insolência.

Meu clã foi construído em sangue. E assim permaneceria.

Informações:

— Até mesmo dentro de um sonho, não estava seguro de minhas próprias incertezas. O Chakra fluía através de mim como uma tempestade que rugia no horizonte, os ventos descontrolados e inconscientemente sendo transformados em uma zona de vácuo ao meu redor que parecia me encapsular em um espaço fora desta realidade. Sentia meu corpo pender, de pouco a pouco, para um dos lados. Minha postura de meditação tornou-se instável e a consciência lentamente se esvaía para algum outro lugar, um plano de escape que eu falhei em reconhecer como uma miragem. Enquanto a luz ofuscante tornava-se negra como a noite e as sombras voltavam a me cercar, havia, enfim, entendido o propósito daquela jornada espiritual. Não era sobre superar meus desafios ou esquecer o passado, era sobre confrontá-lo e destruí-lo. Essa era a filosofia sangrenta que me foi herdada; um destino inescapável pelo qual teria que seguir se quisesse encontrar as respostas para o enigma de minha existência. Levantei-me mais uma vez, concentrando o chakra tempestuoso através de minhas mãos para formar uma esfera de vácuo que usaria para apagar, de uma vez por todas, aquelas lembranças e fantasmas de minha história. A única alternativa era derramar sangue, como sempre.

Mas não poderia ser tão fácil.

- "E-ei! Acorda! Você está bem?!" - Ouço uma voz gritando em meus ouvidos, a consciência sendo lentamente recuperada. - "Céus! Eu pensei que você já estivesse morto! O que diabos você estava fazendo em um lugar como esses?" - Continuou.

Meus olhos se abriram lentamente, o ar retornando aos pulmões com dificuldade, enquanto percebia a destruição que havia causado durante meu ímpeto sonâmbulo. Crateras e cortes ao meu redor, todos moldados pela essência do vácuo selvagem e também criados pela coragem da minha pessoa. Com longos suspiros e enfim retornando aos meus sentidos, ergui a cabeça para contemplar o desconhecido.

- "... Quem?" - Disse, notoriamente exausto.

Era realmente uma pessoa, ou meramente mais um truque de minha mente?

Informações:

— Ela tapeou-me na altura dos ombros, uma vez que ainda não estava completamente desperto. Levantei-me quase de forma instintiva, ainda confuso e com as lembranças trocadas, a imaginação sobrepondo-se sobre ao que estava logo a minha frente. Porém, mais alguns instantes se passaram e eu enfim retornei à realidade e vida da qual tentara me desprender de forma desesperada. Observei aquela que estava ao meu lado - Uma mulher jovem, talvez fosse um pouco mais velha do que eu, e certamente era uma shinobi de patente superior. Possuía uma estatura média, com longos cabelos dourados e olhos profundos de cor castanha. Parecia preocupada, ao mesmo tempo que confusa, pela minha presença naquele cemitério de edifícios. Logo me pus a falar, tentando me relembrar do que ela havia dito a meros segundos atrás.

- "Não é nada, eu estou bem..." - Disse, silenciando-me por alguns segundos. - "Você não têm medo?" - A questionei.

- "Medo? Não estou entendo o que você quer dizer. Eu o vi sozinho e pendendo para os lados, pensei que estivesse convulsionando ou sofrendo de algo pior. Só quis ajudar..." - Respondeu.

Tomei alguns instantes para me recompor e refletir. Pensei que todas as pessoas me vissem como uma abominação a ser evitada e apontada como um pária, mas talvez, no fundo, fosse eu quem estava me rejeitando mais do que todos os outros. As palavras dela me colocaram em silêncio, e eu observei as minhas mãos por alguns instantes, criando ventanias leves, uma brisa gélida que agora voava para o horizonte distante. Qual havia sido a lição, afinal? Antes que pudesse me perguntar ainda mais, ela me fitou aos olhos e continuou a dizer.

- "Eu acho que já vi você antes... Você é de um clã distante, não é? Veja! Se quiser, eu posso te ajudar no que está fazendo!" - Ela exclamou, de forma animada.

Não sabia dizer se estava apenas tentando me consolar ou se realmente era sincera.

- "Estou aqui apenas para meditar e refletir. Se puder se retirar, eu agradecerei." - Respondi com frieza.

Não queria arrastá-la para o mesmo buraco que eu.

Informações:

— Com certeza ela não acreditaria em uma mentira tão esfarrapada. Observou-me da cabeça aos pés, colocando as mãos para trás e assobiando, como se estivesse procurando por algo. Não estava zombando de mim, mas claramente era um ato de insistência. Eu sempre fui um péssimo mentiroso, e não gostaria de colocar outras pessoas no mesmo barco que eu. Estava afundando de pouco a pouco, e ser obrigado a carregar mais fardos só me traria problemas. Pousei ambas as mãos em meus quadris e a observei, esperando que ela dissesse algo ou simplesmente fosse embora.

- "Não me lembro de meditação envolver lâminas de vento e explosões. Bastante curioso." - Ela disse, em um tom irônico. - "Por que está tão hesitante? Eu sou uma ninja, assim como você! Somos companheiros, não somos? Me deixe te ajudar com o seu treinamento, não há vergonha nisso." - Continuou.

Olhei ao redor, percebendo os cortes e rastros de destruição involuntários que havia deixado durante a minha prática interna. Talvez a tensão do meu mundo imaginativo houvesse se manifestado de forma palpável através do meu chakra. Sabia bem que o fluxo de energia de uma pessoa poderia se alterar de acordo com seus estados emocionais, mas não há esse ponto. Não me restavam mais desculpas, então suspirei e joguei olhares para o lado, como se quisesse dispensá-la. Não havia motivos para continuar com aquilo, agora que havia sido interrompido.

- "Não preciso de ajuda. Nem nos conhecemos. É bem suspeito que você veja um desconhecido qualquer na rua e aja dessa forma." - Disse.

- "Oh? Mas também é um dos fundamentos shinobi auxiliar seus colegas em apuros, não é? Vamos, eu vou te mostrar o jeito certo de manipular o seu chakra. Eu também já passei por essa situação, seu bocó! Não adianta pagar de durão, eu sei que você tá molinho por dentro." - E se aproximou novamente, pousando uma das mãos sobre meu ombro direito.

- "... T-tá bom." - Respondi, relutante.

Porra! Agora não dava mais pra voltar atrás.
Mas talvez não fosse de todo mal. Será que estou ficando paranoico demais?

Informações:

— Ela pousou as suas mãos sobre as minhas, em uma posição perpendicular, como se estivesse formando um cilindro imaginário no espaço que existia entre as mãos. Me perguntei o motivo daquela postura, e então ela me disse para tentar concentrar o chakra de um ponto ao outro. Manipulando o vento que fluía e era transformado através do meu corpo, tentava alcançar os extremos de cada lado apontado pela shinobi, incapaz de fazê-lo, mesmo que fosse um adepto ao controle desta energia mística. Me impressionei por não conseguir realizar um feito tão simples, mas logo me pus a questionar a razão por trás da ocorrência.

- "Quer dominar o seu elemento? Concentre-se, aprofunde-se, sinta a energia fluindo de forma harmoniosa e uníssona a você." - Ela deu uma breve pausa, criando, com facilidade, uma torrente de água controlada entre suas mãos. Sequer um centímetro daquela água fora posto para além das delimitações da usuária, que a moldava de forma dançante e suave. - "É mais fácil do que parece. Só basta se tornar um com o seu elemento. Você nasceu com ele, e agora precisará amadurecer junto dele também. Tente!" - Ela exclamou, apontando em minha direção.

Era muito mais fácil falar do que fazer, afinal de contas. Tentei, por algumas vezes, incapaz de ligar os pontos para a concretização do objetivo. A minha mente, turbulenta e insegura, me impedia de concentrar completamente no que estava literalmente em minha frente. Pensava sobre a possibilidade do fracasso, da vergonha, da próxima tentativa, e da desistência. Todos estes pensamentos e sentimentos negativos pesavam sobre mim como rochas sólidas que me aterravam a um solo profundo. Eram correntes que eu seria obrigado a quebrar se desejasse seguir em frente. Foquei o meu espírito, limpando a mente de vertentes maliciosas e desafiando o meu passado por mais uma vez.

Estava na hora de acertar as contas.

Informações:

— Cultivando o sentimento de rancor, dei um passo a frente neste cenário imaginativo. Dancei sobre as nuvens enquanto a suavidade da brisa do horizonte esfriava o meu corpo vazio. As mãos e braços formavam arcos no ar, enquanto as mãos, sempre paralelas, mantinham a distância exata para a formulação da filosofia final dos Shimura. Dentro daquele cenário, me aproximava cada vez mais de um objetivo maior. Senti como se estivesse liberto daquelas amarras pela primeira vez. Enquanto, na realidade, estava a andejar sobre os destroços de antigos edifícios decadentes, eu enxergava os portões de um paraíso bloqueado pelas sombras de um passado distante. Levei as mãos a minha frente, meticulosamente separando os dedos em centímetros equivalentes para a criação de uma lâmina do vácuo. Cada ponto de chakra se abriu e ardeu como chamas reais, moldando tempestades que se transformavam em espaços imateriais. Quando a lâmina do vácuo se formou, a lancei com suavidade, sem colocar pressão ou força sobre o movimento exato.

Seu corpo maleável deformou-se ao deixar os limites de minhas mãos, tornando-se várias lâminas menores em um único ponto. Viajou através do espaço, rasgando as nuvens e cortando uma das sombras pela metade. O vácuo desfez sua composição, absorvendo-o em meu próprio espírito para que eu pudesse compreender e me adaptar. Sombra após sombra, um combate falso e dançante contra silhuetas macabras que se tornou uma valsa etérea, longe de minha própria compreensão. Quando a última silhueta cedeu, o cenário mental se dissipou, e em minha frente, uma série de rochedos e pilares sólidos estavam feitos em pedaços, reduzidos a migalhas pelo poder da manipulação verdadeira do vento. A liberação comum era fraca e defasada - O verdadeiro princípio era se entregar ao vácuo e se tornar apenas um com o vazio imensurável. Compreendi a proposta, e abandonei a minha mente. Me tornei vazio, de corpo e espírito, para abraçar o nada e o tudo.

Por mais uma vez, juntei as mãos, separando-as lentamente enquanto uma serra de ventos violentos girava no espaço entre os membros, rapidamente se transformando em uma serra vaga e translúcida que parecia refletir a luz do sol e se tornar apenas uma com o ambiente. O Vácuo sobrepujou o ar, o domínio havia sido alcançado com a queda da última sombra. Mas ainda havia algo que eu queria fazer, não era o fim da jornada.

Muito pelo contrário, apenas o início. Eu estava longe da perfeição.
Deveria desaparecer novamente. Desaparecer de tudo, e de todos. Me desfazer em nada, retornar ao pó, e me tornar vazio.

Esta era a filosofia dos Shimura. Retorne ao nada, e se torne tudo.

Informações:

— Vi, por um instante, a reflexão de meu eu passado, arrastando-se em busca de ajuda pelas terras abrasadas de minha aldeia. O semblante de alguém no mais profundo estado de desespero foi o que me fez despertar o controle do vácuo para minha própria sobrevivência. Mas agora era diferente: De pé, eu destruiria qualquer adversário que entrasse no meu caminho. Eu odiava lutar, mas não havia outra escolha. Se eu não o fizesse, seria para sempre aquele garoto franzino e fraco. As mãos afastadas deram origem a uma tormenta que tomou uma área de três metros de raio, convergindo o oxigênio do local ao redor ao seu centro para fortalecer o seu potencial de corte. A serra giratória cortou através das rochas e pilares sólidos com tamanha facilidade que parecia estar rasgando meras tiras de papel. Ela, então, como um bumerangue, controlada pela minha vontade e um gesto manual, retornou até minha posição, onde a agarrei de mãos nuas, desfazendo-a somente ao toque. Mais um suspiro, e já podia sentir até a minha própria respiração se tornando uma só com este caminho vazio. Cada centímetro do meu corpo se aproximava do que os Shimura tanto almejaram no passado: A perfeição do nada, a completa decadência de todas as coisas.

- "Entropia." - Disse a mim mesmo, com olhares baixos. - "Esta é a chave. O significado por trás do Vácuo..." - Finalizei.

Gostaria de estar eufórico por desvendar o enigma que por tantos anos me seguira, mas já não mais era capaz de expressar tais sentimentos através deste corpo patético e mente perturbada. Levei uma das mãos ao queixo para pensar a respeito, ainda mantendo o fluxo de chakra ativo, a fim de, a cada segundo, refinar as minhas habilidades com o vento. Até que a liberação elemental se tornasse natural para mim, não reduziria, sequer por um único segundo, o fluxo daquele chakra. Fosse dia, noite, sob o sol ou chuva. Só assim poderia me aproximar da perfeição. Virei a cabeça para visualizar a mulher por mais uma vez. Porém, não havia mais ninguém por ali. Ela havia desaparecido antes que eu pudesse perceber.

- "... Quem era ela, afinal?" - Foram minhas únicas palavras.

Informações:

— Andei até a entrada do prédio abandonado que invadi, olhando ao redor para verificar se havia algum vestígio da presença da mulher misterioso. Ela não havia deixado rastros, e desapareceu tão rápido quanto surgiu. Até quis seguir a fundo e descobrir o motivo de sua intromissão, mas decidi deixar para uma outra hora. Repousei um dos braços sobre uma parede próxima, tão decadente que parecia estar à beira do desabamento. Com um mero mover de minhas mãos, era capaz de gerar e controlar correntes de vento violentas, muito além do poder e força dos genins que conheci na Academia Ninja. O sangue que fluía em minhas veias e minha linhagem aprimoraram suas habilidades a cada novo descendente, e parece que, por mais uma vez, isto se prova verdadeiro. Juntei os dedos da mão destra, e como em uma moção de peteleco, disparei uma pequena lâmina de vento contra a parede de lado oposto. O corte foi pequeno, mas preciso. Porém, o poder descontrolado de um chakra como aquele não poderia se dar por satisfeito apenas daquela maneira. Cortando através do metal sólido, a parede veio abaixo, cortada em blocos com uma única manipulação. Admito que me impressionei, pois nunca antes em minha jornada havia conseguido realizar um feito deste nível de forma tão casual.

Com o corpo franzino, o qual tanto me envergonhava, desferi uma cotovelada contra a parede que estava logo atrás de mim, criando uma pequena explosão de vácuo que implodiu a estrutura, transformando-a em migalhas. Se eu fosse ainda mais preciso, talvez fosse capaz até mesmo de separar as suas moléculas com o vácuo. O impulso, no entanto, me jogou a alguns metros a frente, me fazendo quase perder o equilíbrio. Mesmo que o meu poder e controle sobre o chakra e elemento houvessem sido drasticamente refinados, o meu corpo ainda era fraco e despreparado para conflitos shinobi. Eu não tinha uma força sobrehumana, tampouco habilidade ou talento para empunhar uma lâmina como a maioria dos demais shinobi. Também não era adepto de genjutsus, mesmo possuindo uma inteligência elevada. Eu estava confortável, ainda que decepcionado, no meu próprio mundo. Quando dei o treino enfim por encerrado, deixei a cena sem olhar para trás, mas ainda me refletindo sobre os acontecidos. Será que um dia eu voltaria a me reecontrar com aquela figura misteriosa? Observei as mãos mais uma vez. Ainda manchadas de sangue e gerando brisas gélidas involuntariamente graças ao meu fluxo de chakra constante, pareciam menos pesadas do que o normal.

- "Eu cometi um erro. Eu não deveria te perdoar, Saito. Eu vou te encontrar novamente, algum dia." - Gravei a frase em minhas memórias.

O dia de nosso reencontro estava destinado.
Eu precisava estar preparado para enfrentar estes dogmas e apagar as marcas de meu passado.

Mas, até lá... Eu continuaria vagando como um shinobi solitário, uma pequena nuvem em um vasto horizonte. Eu mesmo precisaria encontrar o meu caminho, e alcançar a redenção que tanto procuro. Eu lavei as minhas mãos por erros e crimes que não cometi, aceitando o fardo. Agora, não mais!

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