Uma casa pequena, um quarto único sem porta, uma sala com uma cozinha conjugada. Pela casa há varias fotos de membros de uma família, e de um casal em específico. Fotos o suficiente para mostrar eles envelhecendo. Nas fotos mais recentes da família, o homem do casal, agora velho, está sem sua parceira. Dentro do quarto um homem velho está deitado na cama, acordado. Em frente ao fogão uma menina jovem está ocupada.
"São aqueles malditos ninjas da névoa!"
Miri pacientemente escuta o Sr. Taka falar enquanto prepara uma refeição para ele. Em sua velhice sua mobilidade ficou reduzida, e tarefas que antes eram simples se tornaram muito mais difíceis. Miri não se importa, e fica feliz em ter escolhido essa missão no quadro de missões. Ela mistura alguns temperos com um molho de iogurte e prepara os vegetais. Coloca todos na mesma frigideira, bota algum sal e óleo de gergelim e prova. Menos salgado do que ela normalmente gosta, mas considerando a idade do Sr. Taka, colocar sal de menos é o ideal, pois é fácil desenvolver problemas de pressão em sua idade.
"É mesmo?", ela responde de maneira neutra. Talvez realmente sejam ninjas da névoa, ela pensa, mas mais provavelmente não. Não há um grande objetivo político a ser alcançado ao se fazer desaparecer civis aleatórios da vila.
"Marque minhas palavras", o Sr. Taka resmunga, "Eles ainda guardam um desejo revanchista por termos nos libertado. Não querem nada mais do que voltar aos 'bons e velhos tempos'! Hah! Como se fôssemos deixá-los!"
Ele se ajusta em sua cama, e cheira o ar.
"O almoço está com um cheiro bom, o que é?", ele pergunta, curioso.
"Curry de vegetais, pouca pimenta para não atacar o seu estômago", Miri responde, mexendo na frigideira.
"Hah! Pode colocar mais pimenta, adoro pimenta! Tenho o estômago de um urso!"
"Não é bom exagerar na sua idade, senhor, e ursos normalmente não gostam de pimenta. Só humanos e pássaros, pelo que eu saiba."
"Bah!", ele resmunga, mais para continuar a interação do que qualquer real discordância.
Miri termina o prato e serve uma porção para o Sr. Taka. Ele vai começar a comer mas pausa.
"Não vai servir um prato pra si mesma, garota?"
"Não sei se devo, isso tecnicamente é uma missão", Miri confessa.
"Bah! Quando vocês ninjas vão passar noites fora do vilarejo vocês levam comida consigo e comem sem problema! Pode comer! Você está crescendo!"
"Certo, muito obrigada senhor."
Miri vai fazer o seu prato, enquanto Sr. Taka começa já a comer sentado em sua cama. Miri volta e come perto dele.
"Muito bem feito, quantos anos você tem?"
"11"
"E já sabe cozinhar muito bem... quem te ensinou?"
"Aprendi sozinha, minha mãe me ensinou o básico quando pequena, mas aprendi minhas receitas em livros."
"Se ser ninja não funcionar você pode virar cozinheira"
Miri ri.
"Espero que eu consiga continuar a ser ninja, senhor. Mas manterei isso em mente caso precise de um plano B"
"Eu tenho uma neta da sua idade. Não conte pra ela, mas eu tive de me forçar a comer o que ela fez da última vez."
"Levarei seu segredo ao meu túmulo."
Os dois terminam de comer e Miri recolhe e lava os pratos, tira o lixo da casa e faz uma faxina leve. No meio da faxina Sr. Taka a chama.
"Garota, você sabe jogar Go?"
"Um pouco. Quer jogar?"
"Tenho ficado tão preso dentro de casa ultimamente que raramente tenho a chance. Você me daria a honra de algumas partidas?"
Miri sorri, e se vira para o Sr. Taka, que está com sua mão no peito e o sorriso de alguém que sabe que vai vencer. Ela concorda com a cabeça, lava as mãos, e pega o tabuleiro e peças sob a direção do Sr. Taka. Ele deixa começá-la, e os dois conversam mais enquanto jogam. Volta e meia os dedos de sua mão esquerda se movem de maneira idiossincrática.
"E a sua família? Não joga?", Miri pergunta, fazendo sua jogada.
"Meu filho não joga, minha filha joga e vem visitar uma vez por semana, mas não veio essa semana."
"Quer que eu vá chamá-la quando meu turno acabar?"
"Hm. Você joga bem, mas ainda é muito jovem!"
Sr. Taka faz uma jogada, e Miri pisca lentamente, em 5 movimentos ela perderá a região. Hora de focar em outra. Ele jogam em silêncio por um tempo, competindo por território. Eventualmente Sr. Taka volta a falar.
"Eu acho que eu gostaria disso... só pra saber se ela está bem, entende? Ela tem a própria vida, não quero que se sinta culpada por não visitar um fóssil como eu."
"Senhor... por favor, não se refira a si mesmo desse jeito."
"Bah! Eu sei que meu tempo passou, se ela quiser seguir a vida dela sem mim-"
"Se valorize um pouco mais, senhor. Pelo que você me disse vocês têm uma boa relação, por que ela não iria querer passar tempo contigo?"
Sr. Taka resmunga um pouco, Miri tenta entender o que se passa com ele, sem sucesso. Ela inclina sua cabeça para o lado. A filha dele provavelmente seria uma pessoa melhor para lidar... com o que quer que seja isso.
"Qual o nome da sua filha, senhor?"
"Minako. Você vai tentar visitá-la?"
"Sim. Qual o endereço dela?"
"Umas quatro quadras daqui..."
Ele passa as direções para ela. Ela anota em um pequeno caderno que carrega consigo, e volta a jogar. Eventualmente ela perde o jogo.
"Ah. Parece que perdi, bom jogo."
"Você é muito boa na sua idade, melhor do que eu era, mas experiência tem que ser útil para algo."
Ele pausa, e olha para a janela, o sol está se pondo.
"Acho que o seu turno está para acabar. Gostou de jogar Go?"
Miri sorri.
"Sim, senhor"
Ele aponta para uma estante dentro de seu quarto.
"Aquele livro amarelo é um bom livro para iniciantes. Pode levá-lo, não me é mais útil e nenhum dos meus netos gosta do jogo. Não me entenda errado, eu só quero aumentar o nível de minha oponente, se precisa de duas pessoas para se ter um bom jogo de Go."
Miri vai até a estante e acha o livro, coloca dentro de sua mochila, sendo pequeno o suficiente para caber.
"Muito obrigada, senhor."
"Bah, só não seja morta enquanto tenta ser ninja"
"Essa é uma das minhas prioridades, não se preocupe."
Sr. Taka ri, e Miri inclina sua cabeça ao lado, sem entender o porquê. Ela se curva em despedida e Sr. Taka faz um gesto de chispa com a mão. Ela anda até o lado de fora, está no crepúsculo, e a cada momento a luz diminui ainda mais, mas por enquanto a cor rica laranja-vermelha parece encher as ruas antes familiares com uma beleza própria. Talvez Miri comece a pintar, seria útil para passar a impressão de momentos como estes e para decorar suas bonecas com padrões mais elaborados... mas primeiro ela tem de checar a filha do Sr. Taka.
Seguindo as direções dada pelo Sr. Taka, Miri chega na casa de Minako. Ela bate na porta. Nenhuma resposta. Ela checa a janela. ninguém dentro da casa, pelo que ela possa ver. Ela pausa, se perguntando o que deve fazer nessa situação. Ela decide em tentar a casa ao lado, bate na porta, e alguém atende, um homem com uma barba por fazer.
"Sim? Alguma entrega ou algo do gênero?", o homem pergunta.
"Não, senhor, eu estava procurando por Minako, sua vizinha do lado. Que horas ela normalmente volta?"
"Ela... já deveria estar de volta. Pensando bem eu não a vejo faz alguns dias, ela costumava visitar, trocávamos vegetais de nossos quintais..."
"Há quanto tempo ela não vem, senhor?"
"Alguns dias... três, acho. Entenda, ela não vem todo dia, e eu pensei que talvez ela só estivesse doente e acamada, ou algo do gênero. Ela não está em casa?"
"Não"
A boca do homem tensiona. Miri pisca lentamente, expressão neutra.
"Mais... Mais uma para a lista de desaparecidos..."
Ele fala, como se tivese pouco ar dentro de seu peito. Miri pisca, preocupada, mas sem demonstrar em sua expressão. Ele concorda com a cabeça.
"Certo. Eu vou entrar na casa dela, para procurar por pistas. Você sabe onde ela trabalha?"
"Uma floricultura aqui perto."
"Ela trabalha sozinha?"
"Não, ela tem uma parceira que trabalha com ela."
"Muito obrigada. Voltarei caso precise de mais informações que possa saber."
Miri se vira e começa a ir em direção à casa de Minako para procurar pistas. O homem solta um xingamento e vai atrás dela.
"Ei, menina, espere!"
Ela se vira para olhar o homem.
"Quantos anos você tem, menina?"
"11"
"Desgraça, você é jovem demais para isso. Não é melhor chamarmos as autoridades para isso?"
"Boa ideia. Você faça isso, eu sou uma ninja, e lembro de ver no quadro de missões uma missão rank D para investigar os desaparecimentos na vila. Eu não sei se a Minako desaparecer tenha algo a ver com esses outros desaparecimentos, mas como uma Genin eu sou capaz de fazer essas missões de rank baixo."
"E se alguém te atacar, como uma menina de 11 anos vai se defender? Isso é uma péssima ideia, garota, na sua idade até os ninjas só ajudam nas colheitas ou algo do gênero!"
Miri mostra para o homem 4 selos de explosão e uma kunai de sua bolsa de armas. Ele dá um passo para trás, rosto pálido.
"Eu estou armada, senhor, não se preocupe. Eu agradeço você querer o melhor para mim, mas eu tenho isso sob controle."
Antes que ele pudesse falar mais ela vai até a casa da Minako e testa a maçaneta. Trancada. Ela procura nos vasos de planta ao redor e eventualmente acha uma chave, presumidamente uma chave reserva. Ela abre a porta com sucesso. É uma casa simples, com poucas fotos, algumas em família, e uma com uma outra mulher. A casa está arrumada, sem marcas de luta ou de fuga. Ela vai até a cozinha, e abre a geladeira. O leite está para vencer, mas fora isso nada fora do normal. Ela checa o quintal do fundos, achando o seu jardim. Pequenas ervas daninhas estão nascendo. Ela mede o tamanho delas por seu olho.
"Um ou dois dias. Com certeza menos de 3 dias."
Sem encontrar pistas maiores, ela sai da casa, devolve a chave ao seu lugar de origem e vai para a floricultura perto dali. Com sorte é a floricultura que o senhor vizinho da Minako se referia. Chegando lá, ela vê uma moça a fechando. É a mesma moça da única foto em que Minako não estava com sua família. Parceiras de negócio? Algo mais?
"Boa noite", diz Miri à mulher.
"Boa noite! Já estamos fechados, se quiser comprar quaisquer plantas terá de vir amanhã, receio."
"Eu estou procurando por Minako."
A expressão no rosto da mulher muda de uma expressão normal de sorriso para o consumidor para uma de choque. Pesar? Tristeza?
"Eu não a vejo há 2 dias, desde que... bem. Não importa. Por que você pergunta?"
"O seu vizinho não a vê há dias, ela não veio visitar o seu pai essa semana, seu jardim mostra sinais de descuido recente. Tudo indica-"
"Que ela desapareceu.", a moça interrompe, com algo em sua voz. Choque? Miri não sabe, mas concorda com a cabeça.
"Sim, que ela desapareceu. Ela trabalhava aqui, e tinha fotos dela contigo. Poderia me dizer qual foi a última vez que a viu?"
"Sim, claro... você está investigando isso?"
"Sim, sou uma ninja, e estou em missão."
A mulher olha para Miri por alguns momentos antes de suspirar. Seus ombros ficam mais baixos, em desânimo, ou desesperança. Miri não sabe, mas mantém seu silêncio
"Certo... eu juro, vocês ninjas estão ficando cada vez mais jovens. Mas qualquer ajuda para chegar ao fundo disso é bem vinda."
"Se quiser ir para as autoridades, para pedir um suporte maior a isso, é bem vinda. Por enquanto eu seguirei com minha investigação. Qual foi a última vez que a viu, senhora... ?"
"Meu nome é Aria, e eu a vi dois dias atrás. Nós... tivemos uma discussão. Quando não a vi ontem ou hoje eu pensei que ela só estivesse... afastada. Eu ia visitá-la amanhã."
Aria pausa quando diz isso, e bate a mão em sua própria testa, em autorrecriminação. Sua respiração fica cada vez mais mais laboriosa. Miri espera. Aria força as próximas palavras fora.
"Eu ia checá-la amanhã, eu pensei que ela só queria espaço, como eu pude ser tão burra-"
"Senhora Aria", Miri a interrompe, e Aria olha para ela como se tivesse se esquecido que Miri estava ali. "Por favor, mantenha a calma, eu farei o meu melhor para achá-la, e para isso eu preciso que você ainda responda algumas perguntas."
A boca de Aria tensiona, e ela olha para Miri com alguma intensidade. Algo se passa por debaixo de seu olhar, mas Miri não consegue identificar o que é. O que quer que tenha se passado na mente de Aria faz com que ela concorde em responder mais perguntas com um balançar de sua cabeça.
"Serei rápida. Ela veio trabalhar então dois dias atrás?"
"Sim."
"Ela terminou o seu turno?"
"Sim"
"Que horas o turno dela termina?"
"Sete horas da noite."
"Qual era o estado emocional dela?"
Aria engole em seco, tentando controlar sua respiração.
"Irritado"
"Ela tem alguma atividade que ela faça quando está irritada para acalmar-se?"
"Ela... Gosta de ir pra cima do muro do vilarejo e tacar pedras de lá para fora. Às vezes ela bebe quando vai fazer isso."
Miri analisa as informações que recebeu em sua mente e decide ir até a passagem para o topo do muro mais próxima. Ela ouve o som de choro atrás dela, provavelmente Aria.
Mais e mais ela sente a pressão para encontrar Minako. Sua mão se move como se fosse controlar uma marionete para se acalmar. Ela tenta se convencer que tudo dará certo. Chegando na passagem mais próxima ela cumprimenta os guardas e pergunta se Minako apareceu aqui dois dias atrás. Eles respondem que sim, o que é promissor. Ela pergunta se alguém a viu descer de volta depois de subir. Após perguntar a todos os guardas descobrem que não. Isso é muito menos promissor.
Ela sobe pessoalmente até o topo do muro enquanto os guardas tentam achar entre si o que teria acontecido com Minako. Depois de achar um trecho ela acha algumas garrafinhas de bebida vazias. Provavelmente pertencentes à Minako. Estão todas vazias, e não há nenhuma pedra, isso indica que ela não foi interrompida enquanto fazia sua atividade. Não há sangue no chão, ou garrafas quebradas, então não há sinais de luta. Ela passa o dedo no chão, e pausa. Uma região do chão tem menos areia acumulada do que as outras. Ela usa o seu dedo para se guiar lentamente, seguindo o que agora ela percebe que é um rastro para fora dali. Um rastro... alguém arrastou o corpo de Minako para longe? Por quê? O rastro continua até de volta para a parte interna da muralha, onde ele some pela ausência de areia. Miri começa a abrir as portas ao seu redor, procurando por qualquer coisa que faça continuar esse rastro. Nenhuma sorte. Mas ninguém viu Minako sair da muralha, de acordo com os guardas, então ela ainda tem de estar ali. Se ela ainda está ali, e foi arrastada por alguém, então ela está morta ou desacordada. Não havia rastros de sangue em nenhum lugar, então Miri em seu coração torce para Minako estar desacordada, mas deu um jeito ou de outro a implicação é que Minako seria então um corpo a ser escondido. Por que razão? Miri confessa a si mesma que não faz ideia. Ela tenta pensar que lugares seriam ideais para esconder um corpo, e começa a procurar por eles. Armários, debaixo de estantes e camas, lixos.
Finalmente, dentro de um saco de lixo que ela nota tem furos, está o corpo amarrado e desacordado de Minako. Em seu pescoço estão senbons. O trabalho de um ninja, mas pelos furos um que não desejava matar Minako? Miri grita, chamando os guardas e um médica, e tenta sentir o pulso de Minako. Talvez por seu pânico ela não consegue sentir.
Miri sente lágrimas descendo por seu rosto. Os guardas chegam, e logo um ninja médico, e a afastam de Minako, ou do que resta dela. Finalmente o médico ninja declara que ela está em um estado de falsa morte. Viva. Minako está viva. Um peso sai dos ombros de Miri sem perceber, embora ainda tenha muitas perguntas. Minako claramente foi desabilitada por um ninja, e escapou com vida. Algum infiltrador de outro vilarejo, talvez? Por que ele iria poupar a vida de uma civil de Suna? Para o seu próprio choque, Miri começa a pensar que talvez a teoria do Sr. Taka tenha alguma base na realidade.
Ela comunica os seus achados para o centro de missões, e volta para sua casa. Ela relaxa lendo o livro sobre Go.
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