Depois de um dia exaustivo, onde teve que realizar duas missões em tempo recorde, Ethan andava pelo centro de Iwagakure, indo para casa. E em meio a uma quantidade assustadora de pessoas, tentava não dar ouvidos às informações que alguns dos seus sentidos captavam de forma involuntária. No início, foi o que fez, ignorava tudo e todos sem qualquer arrependimento. Queria chegar o mais rápido possível em casa, e ninguém seria capaz de impedi-lo.

— Ei, garoto!! — Ao passar ao lado de um bar de renome no vilarejo, o Hattori foi avistado por um velho na casa dos 60, que começou a gritar, tentando chamar a sua atenção a todo custo.

A princípio, Ethan apenas ignorou o chamado e continuou andando, na esperança de que o tal “garoto” não fosse ele. No entanto, quando sentiu uma mão envolver por completos o seu braço esquerdo, não teve como continuar ignorando-o.

— Es... Me dá só minuto. — Visivelmente cansado, o velho travava uma batalha interna para conseguir dizer o que queria. — Ethan? É você?

— Como?! — Sem paciência alguma para lidar com aquele tipo situação, Ethan continuava sem entender os motivos daquele homem de cabelos grisalhos, não vendo a hora de despachá-lo.

— É isso mesmo que você ouviu. Estou procurando um garoto da sua idade que se chama Ethan, e dizem que ele costuma passar por aqui. Mas então, qual o seu nome, rapazinho?

— Sim, sou eu... — o Hattori respondeu, receoso.

Dentre os vários planos que o Chunin havia feito para o restante do dia, jogar conversa fora no meio da rua não era um deles, no entanto, a sua curiosidade falou mais alto. Afinal, o que aquele velho queria? Era o que esperava descobrir.

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— Ufa... Já estava perdendo as esperanças — tendo uma confirmação por parte de Ethan, o velho comentou. — Antes de começarmos, se incomoda? — Por fim, antes de revelar o seu objetivo, fez um gesto simplório com as mãos, pedindo para que Ethan o acompanhasse até o bar.

— Que seja. Só não posso demorar muito — disse Ethan, coçando a cabeça.

Entrando dentro do estabelecimento e tomando uma mesa para se sentarem, os dois estavam cara a cara agora. Mas antes de ouvir o que o mais velho tinha a ouvir, Ethan reparou em como o ambiente ali dentro era aconchegante, notando que tudo à sua volta, desde a iluminação até a música, foi projetado para prendê-lo ali dentro pelo máximo de tempo possível.

— Bom, antes de mais nada, gostaria de beber algo? — perguntou o velho. Mas ao receber uma negativa do menor, continuou. — Olha, eu sei que você não me conhece e não tem motivos para confiar no que digo, portanto, se recusar a minha proposta, vou entender. Primeiramente, me chamo Riuk e sou um caçador de desafios. Sim, isso mesmo que você ouviu, eu viajo o mundo inteiro em busca de pessoas notáveis como você. — Fazendo uma pausa e colocando uma maleta preta sobre a mesa, encarava o Hattori. — Bom, é verdade que não estou nesse vilarejo há muito, mas já ouvi o suficiente para acreditar que você é a pessoa que procuro.

— Me desculpe, acho que isso foi um mal entendido. De acordo com o que você disse, eu teria que ser um mestre em algum campo para o desafio ser autêntico, porque só assim conseguiria levá-lo ao extremo, proporcionando ao senhor um desafio real.

— Não, meu jovem. Em outras condições, você estaria coberto de razão, mas dessa vez, procuro um mestre sem um trono, alguém que nunca se especializou em nenhum campo, mesmo tendo total condição de o fazer — Riuk complementou.

— Então, em outras palavras, o senhor procura um fracasso, alguém que desperdiçou os seus talentos, correto? — Ethan, por fim, começava a desvendar as reais intenções do velho, não se deixando enganar por meia dúzia de palavras doces.

— É... — Ao ser confrontado de uma forma tão ríspida, Riuk ficou sem constrangido. — Veja bem, eu creio que essas palavras não sejam as melhores para descrever algo tão complexo...

— Aí, velho, não me lave a mal não, mas eu tô sem paciência para ficar com esses joguinhos de palavras. Então, se me dá licença, vou indo nessa.

— Espera! Eu ainda não cheguei na melhor parte: existe uma recompensa em dinheiro para aqueles que conseguirem me vencer! — Desesperado, Riuk usava a sua cartada final.

— Por que não disse antes?! Se eu soubesse que você veio de tão longe para me encontrar, não teria agido dessa forma. Afinal, não é assim que as pessoas daqui recebem as outras — Ethan, tentando disfarçar o seu real interesse, desconversava, mudando completamente a sua postura.

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O velho Riuk, então, começou os preparativos, abrindo a sua maleta. De lá de dentro, tirou algumas peças e um tabuleiro. Ele estava animado, e Ethan notou isso ao vê-lo movimentar algumas das peças por entre os dedos, como se estivesse em algum tipo de ritual particular. Depois que todos os preparativos tinham sido concluídos, Riuk olhou para o Chunin e começou a explicar o que aconteceria a seguir. O primeiro passo era ensinar aquela criança as regras daquele jogo. E foi o que ele faz. Peça a peça, explicava as formas como cada uma se comportava. Em seguida, tomou mais algum tempo para repassar algumas regras básicas com o garoto, salientando quais eram as suas condições de vitória. Por fim, após explicar tudo o que achava pertinente, reservou algum tempo para possíveis perguntas. Como Ethan não se manifestou nesse espaço de tempo, o jogo entre os dois finalmente pôde começar.

Não ter qualquer conhecimento prévio sobre o jogo que jogaria, sem sombras de dúvidas, eram uma desvantagem enorme. Não importava o quão bom pensasse que fosse, esse era um fato que o garoto não podia simplesmente ignorar. Entretanto, Ethan jamais sentiu-se nessa posição; sabia que enfrentaria muitos desafios, e que não tinha muitas chances de vencer, mas mesmo assim não deixou de sorrir, empolgado com a chance de se provar, apostando todas as fichas em si.

Durantes os primeiros movimentos, os dois competidores travaram uma guerra fria, onde ambos tentavam ler os movimentos um do outro. Assim, mantendo um ritmo lento e cauteloso. Os primeiros 5 minutos haviam passado. Nessa hora, quando Ethan começou a ganhar confiança, sentindo pela primeira vez que tinha uma chance real de vencer, ouviu a voz do velho e viu as suas esperanças retornarem ao pó.

— Xeque! — exclamou Riuk, observando atentamente a reação do mais novo.

Ethan tentou não se desesperar, tentou manter a cabeça no lugar, mas aqueles sentimentos eram fortes demais. Mesmo sentindo uma certa urgência para realizar o próximo movimento, não conseguia deixar de se perguntar em que momento tinha desistido.

Depois do ocorrido, Ethan conseguiu se defender, ganhando mais algum tempo. Mas, mesmo tentando não perder aquele jogo mental de provocações e olhares obstinados, já não era mais o mesmo. Agora, o sorriso de outrora se transformaram em expressões de medo e pavor. E não demorou muito até toda a hesitação interferir no seu jogo. Com isso veio uma sequência de pequenas derrotas, onde o Hattori via peças chaves do seu arsenal sendo levadas, uma após a outra.

Enquanto analisava o tabuleiro, imaginando quais eram as alternativas do inimigo e como evitá-las, Ethan chegou a uma conclusão terrível: ele não era capaz de ganhar. Não importava sobre qual ótica encarasse a sua atual situação e os possíveis desfechos, o final era sempre o mesmo, ele seria derrotado em mais alguns movimentos. Então, diante do cenário que estava prestes a se concretizar, Ethan não jogaria mais para ganhar, mas, sim, para diminuir a humilhação. E mais importante do que a forma como jogaria, seriam os seus métodos, já que agora jogaria sob os seus próprios termos, utilizando toda e qualquer artimanha ninja para conseguir alguma vantagem.

Sem conhecer nenhuma técnica de ilusão, a princípio, tudo o que Ethan se dispôs a fazer foi juntar as mãos em um gesto peculiar. Após isso, não fazendo mais questão de inibir cada um dos seus sentidos. Dedicou toda a sua atenção ao velho, ao invés de continuar encarando fixamente o tabuleiro. Utilizava a audição para monitorar os seus batimentos cardíacos, tentando antever alguma jogada importante. Com o seu olfato, esperava medir o nível de estresse do homem, observando as mudanças mais sutis em seu odor, o que poderia indicar a liberação de certos hormônios e da adrenalina, aumentando assim a sua produção de suor. Quanto aos seus olhos, esses fitariam as expressões faciais de Riuk, buscando as mesmas sutilezas que os demais sentidos.

No ápice da sua concentração, o Hattori não dava muita importância para o que acontecia a sua volta, e isso valia para as peças dispostas no tabuleiro. Mas isso não durou por muito tempo, já que um fenômeno inexplicável roubaria toda a sua atenção. Por algum motivo, as peças estavam se movendo sozinhas, e depois de algum tempo, elas se reorganizavam e revelavam mais possibilidades, gerando assim uma quantidade quase infinita de jogadas na mente do Chunin. E uma jogada após a outra, Ethan confiava unicamente nesse grande volume de dados.

No fim, Ethan havia perdido, mas mesmo assim não se zangou tanto. Afinal, estava deslumbrado com aquele fenômeno que continuava a acontecer, no entanto, dessa vez não eram as peças que se mexiam sozinhas no tabuleiro, agora eram as pessoas que adotavam inúmeros padrões pelo salão.

Ethan, então, deu um suspiro, limpou a mente e saiu correndo dali, sem nem mesmo olhar para trás, tão confuso quanto a situação permitia.

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