Tudo o que dizia respeito ao “controle” nunca fez parte da vida de Ethan, e isso valia até para as menores coisas. Vivendo da forma como vivia, só podia contar com sentimentos caóticos, como o medo e a incerteza. Por conta disso, sem se dar conta, o Hattori acabou internalizando essa falta de controle em suas técnicas e peripécias ninja. Mas, depois de um tempo atuando como um ninja, pouco a pouco, a sua mentalidade se transformou. Ele ainda continuava o mesmo, em tese, mas ainda assim sentia que algo havia mudado dentro de si.

Querendo entender um pouco mais essas mudanças sutis na forma como encarava os fatos, ele dedicou algum tempo para tal, onde buscaria saber o que de realmente mudaria se começasse a encarrar o mundo com essa nova perspectiva. Sendo assim, logo que o dia começou, ele se levantou e foi direto para a biblioteca. No caminho, fez uma careta característica e franziu o cenho, não acreditando no que estava prestes a fazer. “Livros... ficar silêncio... que chatice.”

Mesmo relutante em seguir com o seu plano, Ethan continuou andando pelas ruas de Iwagakure até se deparar com o prédio em questão. O genin podia não saber de muitas coisas, mas até ele conseguia entender o valor do lugar para todo o vilarejo, e isso teve influência na postura respeitosa que adotou ao chegar. Então, sem dar muita atenção para o que passava pela sua cabeça, engoliu seco e entrou.

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Tendo passado a maior parte da sua vida em Iwa, não era como se Ethan nunca tivesse estado ali, na biblioteca da vila. No entanto, isso também não significava que, dentre todos os lugares do mundo, aquele fosse o seu favorito. Os seus olhos brilharam ao se deparar novamente com uma quantidade assustadora de livros, pergaminhos e afins. Deixando um pouco de lado o choque inicial, que o fez ficar boquiaberto, logo sua cabeça começou a doer. Primeiro, imaginou o trabalho que devia dar manter tudo aquilo em ordem, mentalizando os piores cenários possíveis. Depois, se viu em um limbo, inerte, sem saber por onde começar.

Sentindo que não chegaria a lugar nenhum se continuasse parado, Ethan começou a andar pelos corredores formados pelas estantes repletas de livros, se atentando aos títulos de alguns exemplares enquanto perambulava em meio ao silêncio. Seção após seção, lutando contra o tempo, o genin seguia desnorteado, sem saber pra onde ir, o que fazer, apenas andava sem um rumo. No início, aquilo bastava. Mas, conforme as horas passavam, toda a calma que mantinha foi substituída por uma angustia repentina e voraz. O seu peito, então, começou a doer, como se ficar tanto tempo enclausurado ali o deixasse claustrofóbico. Ethan tentava, com todas as forças, respirar; mas de algum jeito, algo parecia roubar todo o oxigênio para si. Diante disso, antes que tivesse a chance de entender o que estava acontecendo, o Hattori se viu de joelhos no chão, vendo algumas gotas de suor saírem da sua testa e irem de encontro ao chão.

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Observando o seu reflexo no chão, Ethan não gostava daquilo que via. Aquele garoto fraco que o encarava de volta não era ele. Então, tomado pela raiva, se obrigou a ficar de pé. Até esse momento, tudo continuava igual, a dor no peito não havia cedido e seu ar ainda estava sendo roubado. Em condições normais, quando encurralado, Ethan destruiria tudo à sua volta como forma de protesto, mas dessa vez as coisas foram diferentes. Ele precisava mantes a cabeça no lugar, sendo inteligente e retomando o controle.

Enquanto lutava para permanecer em pé, com a visão turva, memórias do dia anterior o invadiram, onde o mesmo quase havia falhado em uma missão devido ao seu temperamento. Por sorte, nada aconteceu, mas ainda assim era humilhante depender da sorte — pelo menos, era o que Ethan pensava. Entendendo isso, foi impossível não procurar formas de contornar o problema. Essa foi a história que o motivou a procurar alternativas para controlar esse seu lado, indo até a biblioteca com esse propósito. Àquela altura, naquele estado, sem ser capaz de apaziguar as suas emoções afloradas por conta própria, o baque que sofreu não poderia ter sido maior. Foi nesse momento que ele teve a certeza de que algo precisava mudar, urgentemente, não importando o que tivesse que sacrificar.

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Ciente de que não poderia seguir da forma como estava, Ethan decidiu enfim tomar uma atitude. Ele ainda não tinha uma ideia muito clara em mente, então o motivo que o levou a respirar profundamente foi aleatório, na verdade, era a sua única opção disponível no momento. Em seguida, tudo se acalmou. Era como se o tempo tivesse parado, não restando nada além daquele momento.

Embora aquele gesto simplório mostrasse resultados, muito positivos por sinal, não demorou muito até o garoto se sentir... estranho. Para alguém que jamais aprendera a recuar, sempre pronto para a próxima pancada que a vida lhe daria, o simples gesto de parar e respirar fundo o deixava incomodado, como se estivesse traindo cada um dos seus princípios. Anos atrás, era exatamente o que Ethan pensaria, porém, ele já não era o mesmo, e como tal a sua forma de pensar também acompanhou a mudança.

Mantendo uma certa calma diante do novo panorama, o genin voltava a si. A dor não o incomodava mais, se tornando apenas mais uma lembrança ruim que carregaria consigo. Ainda confuso com o ocorrido, assim que recuperou a cabeça, não fez questão de passar nem mais um minuto ali, ignorando tudo e todos pelo caminho a fim de encontrar a saída mais próxima.

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Os dias seguintes foram os mais estranhos que Ethan já teve em muito tempo. Enquanto tentava se concentrar no trabalho e em algumas atividades paralelas, como visitar o lugar onde cresceu, ele não conseguia deixar de pensar no dia em que visitou a biblioteca da vila. Mesmo tentando não dar muita atenção para o ocorrido, já que em sua visão “não tinha sido nada”, o genin simplesmente não conseguia parar de pensar naquilo e em como se sentiu quando buscou se acalmar. O pior disso, sem sombra de dúvidas, era a sensação de não saber mais quem era. Às vezes, ele se sentia dessa forma: perdido, sem saber o seu lugar no mundo, confuso sobre as emoções que cresciam dentro de sim; era algo relativamente normal para alguém da sua idade. Contudo, quanto mais pensava sobre aquele fatídico dia, mais tinha a certeza de que algo não estava certo. Amargando a sensação horrível de não se conhecer por completo, Ethan ficou com essas questões martelando na sua cabeça.

Esse episódio de dias atrás deixou muito mais que memórias para serem recordadas. Isso serviu, também, para fazer com que Ethan repensasse o rumo que a sua vida tomava, principalmente se tratando de algumas atitudes suas. No geral, ele seguia irredutível quanto a algumas coisas, como, por exemplo, a sua personalidade e a forma como lidava com os outros. Até aquele ponto, o menor não via problema algum em ser verdadeiro quanto a postura que assumia perante aos demais. Em contrapartida, mudava de ideia quanto a irritação que sempre o acompanhava. De uma forma inusitada, acabou aprendendo uma abordagem que poderia ser útil no decorrer da sua vida; ele aprendeu que nem sempre precisava ser dominado por emoções tão fortes e corrosivas, que o levavam a tomar decisões precipitadas.

A nova visão de mundo adquirida por Ethan não refletiu somente em aspectos mundanos do seu dia a dia, na verdade, as artes ninjas também poderiam ser beneficiadas pela calma e pelo controle. Em um primeiro momento, sem saber muito bem o que fazer, as suas tentativas foram todas frustradas. Mas, desta vez, o tempo estava ao seu lado. Depois de algumas semanas dedicando algum tempo para meditar e entender um pouco mais sobre como o chakra agia no seu corpo, uma compreensão completamente nova nasceu.

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