Já é a sétima vez, penso enquanto arrumo meu penteado pela sétima vez. Decido, com aquela percepção, que não há muito o que fazer para melhorar a aparência do meu cabelo. Mas de onde veio toda aquela preocupação? — era um questionamento retórico, já que o batimento acelerado em meu peito evidenciava o que eu tentava esconder.

Quando ele vai chegar? Espera, o combinado era eu chegar primeiro, certo? Sim, era isso. Ou não? Ele tá me esperando em algum lugar? Meus olhos correm pelo cais com uma preocupação súbita. Não, não, é aqui mesmo. É só esperar. Respiro fundo. Minha mente repassa todas as informações daquela missão com o objetivo de não passar vergonha na frente de Sum. Espécie perigosa... aquática... algo envolvendo camarões de meio metro... pegaremos um barco de carona até a caverna perto de uma enseada onde os bichos estão... ah, elogiar a roupa do Sum, isso também...

O roteiro parece muito claro, decorado e ensaiado em minha cabeça. Assim que Sum aparecesse, entretanto, o que vocifero é:

— S-S-Sum! C-camarões grandes n-no barco. A ca-caverna fica n-na enseada e vamos m-matar os bichos — digo tudo num fôlego só. Numa tentativa vã de consertar aquele constrangimento, adiciono: — B-bonita r-roupa.

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• Obs: Apenas post introdutório.
  

O elogio retribuído é o suficiente para me deixar atordoado conforme seguimos para o barco. Você quem o convidou, não foi? Uma missão com alguém fora do meu time para firmar laços de apoio dentro da força militar do vilarejo. Apenas isso, minto. Não é hora para nervosismo, não é hora para me envergonhar na frente dele — especialmente dele. Faça o seu modesto currículo de missões concluídas valer de alguma coisa. Felizmente, Sum segue demonstrando sua peculiar elegância ao pedir minhas sugestões.

— E-então, sobre eletrocutá-los... — Raiton? O pensamento me é engraçado, pois era um elemento recém-adquirido por mim. Combinamos... Estamos sentados na proa, sendo alvo de olhares curiosos para o chifre de Sum e envolvidos pelo aroma salgado do mar. — Eu não queria... não queria matá-los. Q-quer dizer, eu sei que é exatamente o que a missão nos pede! M-mas... — Cruzo as mãos sobre o colo e encaro o chão. Bem, se o objetivo era não parecer um fracote... — O que quero dizer é... vamos matá-los, sim. Pelo que entendi, são uma espécie parasítica que tá envenenando os peixes da região. Só que esses bichos foram trazidos pela troca de marés da estação, sabe? Então esse nem é o habitat natural deles... — Suspiro. Tomo coragem para olhar Sum nos olhos. — Eu só queria que... não fosse sofrido — me aproximo e digo baixinho, para que os pescadores não nos ouvissem. Fito seu rosto. Quando percebo que estou me demorando demais analisando os detalhes de sua expressão e como seus longos fios brancos delineiam um caminho brilhante contra o sol matutino, desvio. Dou uma tossida. — E-então a-acho que sua ideia de eletrocutá-los p-parece boa. Eu posso usar a liberação de água para conduzi-la e assim terminamos o serviço rápido.

Me ponho de pé bruscamente, em parte pelo nervosismo voltando, e também porque já estamos quase chegando — os parasitas foram encontrados em uma enseada há cinco minutos do cais. Um trabalho rápido, repito, apesar de todo o resto estar querendo fazer aquele tempo com Sum durar o máximo que posso.

— V-você gosta do mar, Sum? — me pegaria indagando-o enquanto estivéssemos descendo do barco. — Eu... adoro o mar. Apesar de ficar enjoado com longas viagens de barco... — Eu daria um riso sem jeito pela ironia, dada a habilidade do meu clã. Que ele já conhece, pensaria e sentiria as bochechas corando, lembrando de nosso momento na mercearia da minha mãe.

De frente para a caverna, seria o momento de aguardar as investidas de Sum para que agíssemos em sintonia — apesar da estratégia indolor, não dava para garantir como tudo correria já que as criaturas eram sabidas por não serem dóceis. A quantidade também seria um problema...

• Palavras: 380
  
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• Obs: post 2/5
  

Pode me chamar de Nari, eu penso, mas as palavras não saem. A peculiar maneira que Sum tinha de me chamar pelo nome completo era divertida e curiosa, a cadência de cada sílaba tamborilava em meus ouvidos toda vez. Ainda assim, parecia representar uma formalidade que, por algum motivo, me entristecia — uma barreira a ser cruzada. Ou talvez ele só me chame assim? Se aquilo era algo só nosso... Outro sentimento estranho agora fazia meu coração acelerar de novo.

Acorda! Foco! Assisto Sum, sem cerimônias, realizar sua técnica elétrica. Fascinado, observo-o invocar eletricidade na forma de serpentes e atirá-las para dentro da caverna. Naquele curto momento, era quase possível imaginá-lo como alguém de ranque acima do meu. A postura, a elegância e certa austereza em usar a técnica, além do fato de ser mais velho.

Ainda assim, é minha chance de cooperar. Tomo um rápido gole de água do cantil para saciar o vício e me posiciono. Realizo os selos de mão necessários e canalizo meu Chakra na umidade ao redor — felizmente, ela é abundante. Os fluxos de água começam a rodopiar em minha volta, e assim os direciono para a caverna. O resultado é o esperado: a junção daquele par de elementos é impetuosa. Finalmente, damos de cara com as criaturas que começam a escorregar para fora do ninho graças à corrente líquida que agora os expulsa — são crustáceos grandiosos e de carapaças multicoloridas. Assustadores, penso. Os animais estão atordoados e trêmulos; não mortos, mas anestesiados pelo golpe de Sum. Ele realmente os poupou, olho-o de soslaio.

Ainda manipulando a água, agora preciso focar minhas energias em montar uma correnteza que carregue os bichos para outra foz.

— Vamos, vamos... saiam... nadem para casa... de volta para casa... — sem perceber, estou murmurando para os animais. Quando me dou conta que estou ali, ao lado de Sum, me interrompo. Nosso sistema segue assim, limpando o ninho de forma não-letal, quase como uma dança de naturezas. Não dá para saber o quanto ainda falta, mas estou feliz de não estar lidando com aquilo sozinho. Sem ousar olhar para o Ōtsutsuki, digo sem saber se serei ouvido além do ruído ou do borbulhar da água: — Obrigado.

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• Obs: post 3/5. Sem desconto de ST, em nenhum momento me movi rapidamente.
  

Finalizado o serviço, estou ofegante. Tento me conter para não passar uma impressão de fragilidade para Sum, mas a imunidade baixa do meu corpo tira o melhor de mim. Respiro fundo e dou uma última inspeção naquele ninho, identificando alguns ovos colocados pelos crustáceos.

De volta ao barco, aviso ao capitão para que reúna os marinheiros necessários para recolher aqueles espólios — diferente da espécie, os ovos não eram venenosos e podiam ou abastecer os estoques de Kiri ou serem vendidos como uma exótica iguaria. Ainda é um fim triste para os bichos, concluo com certo amargor, mas seus pais ao menos estão vivos e a salvo...

O convite de Sum pelo meu primeiro nome me chama atenção. Marcho obedientemente até o seu lado, admirando sua pose de pernas cruzadas e sorriso misterioso. Mas qualquer que fosse a surpresa que eu estivesse esperando, nada me preparou para aquilo.

— C-como... c-como v-você... — gaguejo, incrédulo. Outro Hōzuki? Não, não poderia ser. Aquele chifre não era uma característica do clã, e Sum não tinha dentes afiados; n-não que eu tivesse passado certos segundos analisando sua boca. Continuo olhando maravilhado quando ele desfaz a técnica. — V-você... você é... você é tão estranho... Sum Ōtsutsuki — As palavras me escapam e, quando percebo, estou rindo. Uma risada genuína que cubro com as mãos. Que rapaz cheio de surpresas...

E então, uma pequena pontada de angústia me acerta. Ele só se aproximou de mim para...? Balanço a cabeça. Bem, o que eu estava esperando? A tal beleza das coisas... Eu que inventei de achar que ele estava falando sobre mim. Olho para o mar ao nosso redor, que tanto admiro, e sinto a brisa que faz vergastar seus cabelos brancos. Me lembro de seu comentário sobre apreciar o vento...

— Um completa o outro — sussurro. — O mar e a brisa. O mar só consegue ser calmo ou revolto graças ao vento que dá forma para as ondas... — E quem era quem naquela analogia? Sum tinha sido o criador de uma miríade de sentimentos dentro de mim, mas agora minha essência também havia sido acrescentada ao seu arsenal.

Enquanto o barco nos leva de volta, percebo que o final daquela missão se aproxima e aquilo me entristece. Tão breve...

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• Obs: post 4/5. Sem desconto de ST, em nenhum momento me movi rapidamente.
  

B-Beijo? Estremeço com aquela sugestão. Ele fala sério? Não. Está caçoando da minha timidez, certo? Aquilo me deixa atônito  e sem reação. Felizmente, Sum volta a falar, explicando sobre a habilidade secreta de sua linhagem. Copiar habilidades secretas, contemplo com fascínio. Era uma possibilidade incrível. Então Hakari-sensei também é capaz disso?

Ouvi-lo sobre seu anseio em me mostrar a técnica copiada ajuda a acalmar meu coração. Ele vê isso como uma espécie de "elogio", afinal? É o que concluo. Talvez, então... não tenha se aproximado de mim só para isso. Não posso evitar de sorrir. Sum Ōtsutsuki  era peculiar de inúmeras maneiras, desde o jeito de falar, com a postura sempre elegante, até a seriedade em serviço, como bem me lembro de sua expressão séria enquanto convocava raios pelas mãos. Essa composição o deixava nada menos que fascinante.

— Então q-queria me reencontrar — me pego murmurando. Seu olhos estão vidrados nos meus, o que só posso considerar como um desafio. Decido reunir a coragem que me resta para devolver-lhe a encarada. — Bem... p-pois eu tenho mais coisas debaixo da minha manga, sabia? Há mais de mim para absorver do que a água... e talvez... — Com a ajuda do balançar do barco, me inclino para frente, me aproximando mais ainda de Sum. Acalme-se. Está tão perto que poderia sentir sua respiração tocar minha pele. O que sai é outro sussurro: — ... t-talvez... na pr-próxima... eu não recue...

É o máximo que consigo. Ao dizer aquilo, me afasto rapidamente e levanto de prontidão, cobrindo as brechas deixadas. Obrigado, digo mentalmente ao capitão que nos avisa sobre o final da viagem. Assim, eu marcharia para fora da embarcação para esperar Sum lá embaixo, caso não fosse interceptado pelo mesmo, aproveitando para analisar o que raios eu tinha acabado de fazer. Quando o visse novamente, sob o sol veranil, seria hora da partida.

— E-eu... agradeço por ter vindo comigo, Sum — diria-lhe. Seria tão constrangedor quanto nossa despedida da mercearia; onde pôr as mãos? O que dizer? Por fim, sem conhecer outra opção, eu estenderia-lhe um aperto gentil e respeitoso. — Fico feliz em saber que agora tenho um companheiro de missões além do meu time... Um tão habilidoso e capaz como você.

Daria-lhe um sorriso tímido, sem olhá-lo nos olhos depois do acontecimento de minutos atrás, e aguardaria sua reação para que enfim encerrássemos aquele trabalho.

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